CAPÍTULO XV

Dou de ombros e vejo Haymitch ao meu lado, também esperando o elevador. Olho para trás e vejo alguns vencedores conversando entre si e olhando na nossa direção. Então volto a olhar para Haymitch, que não parece estar tão sério quanto antes. Isso me alivia um pouco.

Olho para cima e o visor mostra que o elevador está passando pelo décimo andar.

– É verdade o que estão dizendo? - pergunto, de repente. Haymitch dá de ombros, parecendo mal entendido. - Estão havendo... tumultos?

Percebo que ele me olha de uma maneira diferente e engole em seco.

– Quem disse isso?

– Foi a Miri... A escolta do Distrito 3 - explico. Haymitch dá de ombros e volta a encarar a porta do elevador.

– É verdade - ele diz e fico boquiaberta. Ponho as duas mãos na boca. - Você pode ser pelo menos um pouco discreta? Está chamando a atenção assim!

– Há quanto tempo você sabe disso?

Haymitch leva um ou dois segundos pensando.

– Um pouco depois dos últimos jogos terminarem.

Ele sabia esse tempo todo. Tumultos nos distritos. Contra a Capital.

– Por que não me disse nada?

– Você não iria entender.

Olho para Haymitch rapidamente e suspiro inconformada.

– Você sabe o que isso significa, por acaso? - ele indaga.

– Estão contra a Capital? - arrisco e Haymitch confirma com um menear de cabeça. - Acha que Katniss e Peeta tem... algo a ver com isso?

– É óbvio, Effie - ele responde rispidamente. Haymitch olha para os lados, para saber se alguém o ouviu, e volta-se para mim. Então a porta do elevador é aberta e nós entramos. - Eles começaram com isso - Haymitch prossegue. - A cena das amoras poderia ter sido vista como um ato de amor, mas não foi. As pessoas estavam esperando por isso e agora entenderam como uma rebelião contra a Capital - acrescenta. - Os garotos estão tentando provar que foi por amor, mas nenhum dos dois colabora...

Levo alguns segundos para digerir as informações. Até que olho em direção aos botões do elevador e percebo que, até agora estamos aqui dentro e ele não se moveu. Estico, então, o braço e aperto o botão referente ao décimo segundo andar.

– Bom... - começo a dizer. - Então temos que fazer com que eles colaborem, se eles não conseguem fazer isso sozinhos.

Haymitch me lança um olhar desconfiado. Aproveito para me aproximar um pouco.

– E como faremos isso?

– Eles estão casados, certo? - indago e ele concorda com a cabeça. - Ótimo. Vou conversar com Peeta antes da entrevista com Caesar. Acho que estou com uma ideia para ajudá-los.

– Posso saber o que é?

– No dia você saberá, queridinho - digo enquanto roo uma unha postiça.

– Por que toda essa vontade de ajudar agora?

– Vocês são como uma família para mim - digo suavemente após afastar a unha da minha boca. Me encosto no elevador, ao lado dele. - E não quero que cometam essa injustiça com eles.

– Vamos dar um jeito nisso - diz Haymitch. Dou de ombros e abro um pequeno sorriso que ele acaba retribuindo. Ele desencosta do canto onde estava e se aproxima mais de mim. Suas mãos me envolvem pela cintura e seu rosto se aproxima cada vez mais do meu. Minhas mãos percorrem seus braços até deterem-se no seu rosto, trazendo-o para mim. Toco seus lábios delicadamente, um pouco receosa, pensando na discussão da noite passada. Mas como se tivesse lido os meus pensamentos, Haymitch me responde dando-me espaço e abre um pouco sua boca, deixando-me explorá-la. Ele me abraça e começa a passar as mãos pelas minhas costas, descendo até deterem-se nas minhas nádegas, apertando-as, o que acaba me fazendo arfar. Arrisco abrir os olhos para saber em que andar estamos e, quando vejo que estamos no décimo, interrompo o beijo e tomo um pouco de distância. Haymitch me fita parecendo confuso e o indico o visor em cima da porta, mostrando que estamos agora passando pelo décimo primeiro andar. Entendendo o que quis dizer, ele se afasta ainda mais e então suspiro.

– Vamos dar um jeito nisso - repito.

A porta do elevador se abre e chegamos a cobertura. Encontramos Katniss e Peeta imediatamente quando entramos e eles nos olham de uma forma estranha. Acredito que eu não tenha conseguido tirar o sorriso do rosto desde o beijo. Pigarreio e percebo que Haymitch também estava com uma expressão de satisfação, recompondo-se logo em seguida.

Olho para além de Katniss e percebo um novo avox conosco.

– Parece que eles tem um par formado esse ano - comento e então ela se vira para ver do que se tratava. Katniss passa um ou dois minutos virada, mas não chego a perguntá-la o que houve, pois, logo em seguida, ela dá um passo em direção a eles, mas Haymitch se adianta e a segura pelo pulso. Eles se encaram por um tempo e então ela se solta, marchando em direção ao seu quarto.

Deixo-a ficar sozinha por um bom tempo, pois entendo que ela precisa descansar, principalmente depois de ouvir Peeta nos dizer o que houve no elevador quando eles estavam voltando. Haymitch solta uma piada, dizendo que gostaria de estar presente e lhe lanço um olhar de reprovação que ele entende de imediato.

Após esperar um tempo, bato na porta do quarto de Katniss, chamando-a para o jantar. Ela parece bastante atordoada enquanto estamos comendo e acaba derrubando comida no chão. Um avox vai limpar, mas ela se adianta e começa a fazer o mesmo.

– Isso não é seu trabalho, Katniss - digo e depois ela se recompõe.

Terminamos o jantar e então nos reunimos na sala de estar para assistir ao resumo das cerimônias da noite. Katniss se enfia no sofá, entre Haymitch e Cinna, parecendo chateada. Lanço um olhar rápido para Portia, que parece também não entender. Após a transmissão da cerimônia terminar, lembro aos demais que amanhã deverão acordar cedo para que os garotos possam ir treinar. Katniss se retira da sala e, depois de um tempo, cada um ruma para o seu respectivo quarto.

~*~

Estamos no café da manhã, terminando de comer para que os garotos desçam para treinar. Tento apressá-los, falando sobre a hora, mas eles parecem não dar muita atenção ao que falo. Eles terminam de se arrumar e se reúnem com Haymitch na sala, começando a discutir algo que daqui não posso ouvir. Também percebo sua embriaguez matinal, mas hoje parece estar pior. Então, assim que eles finalizam a conversa, vamos até o elevador.

– Effie, acho melhor deixá-los seguirem sozinhos daqui - Haymitch diz e fico sem entender. - Não vai ajudar na imagem deles se aparecerem com a babá.

Franzo o cenho e o fito desentendida. Ele continua me olhando firmemente, então apenas aperto o botão do elevador, deixando o casal desafortunado seguir. Espero a porta do elevador fechar para falar novamente.

– Você poderia maneirar na bebida de vez em quando - comento, de costas para Haymitch, então começo a andar em direção a sala novamente. - Está fedendo a whisky.

– Mas whisky não fede! - Haymitch tenta se defender, mas não tem sucesso com isso.

– Me poupe, Haymitch!

– Vou dar um prêmio para os dois se ficarem sem brigar por vinte e quatro horas - ouço Cinna comentar do sofá.

– Se passarem doze horas já é lucro, Cinna - Portia comenta ao lado dele.

– Effie - ouço Haymitch dizer quando sua mão segura a minha - que tal irmos para o quarto e terminar o que estávamos fazendo no elevador? - seu tom de voz sai alto e percebo que é apenas para provocar Cinna e Portia, que nos observam com bastante curiosidade.

– Claro, Haymitch - respondo no mesmo tom. Ele me puxa e começamos a andar até chegarmos ao seu quarto e ele tranca a porta após entrarmos. - Acho que eles nunca vão sair do nosso pé - comento.

– Não mesmo - Haymitch diz, vindo na minha direção. Mordo o lábio quando o vejo cada vez mais perto até que ele me envolve em seus braços e me beija. Não penso em recusar, pois já sabia qual era sua real intenção em me trazer aqui. Mesmo tendo falado apenas para provocar Cinna e Portia, que estavam prestes a presenciar mais uma das nossas típicas discussões. Intensifico o beijo e passo os meus braços em volta do seu pescoço, mantendo-o o mais próximo possível. Por um momento percebo que a tensão que me dominava desde o anúncio do massacre desaparece enquanto ele me beija.

Haymitch toma um pouco distância e me fita, levando suas mãos até a minha peruca e tirando-a da minha cabeça com facilidade, jogando-a no chão logo em seguida. Penso em reclamar por ter feito isso, mas não quero. Não agora. Então ele passa a retirar os grampos que seguram os meus cabelos curtos, de um por um, até soltá-los por completo. Suas mãos bagunçam minhas madeixas e um sorriso me escapa. Logo ele me puxa para mais um beijo e eu o abraço pela cintura. Ele dá alguns passos para trás e eu o acompanho, até ele sentar na cama e me colocar no seu colo. Até que interrompe o beijo novamente.

– Você não está bêbada, está? - Haymitch pergunta um pouco receoso. O que me faz lembrar do que aconteceu durante a turnê.

– Não, eu não estou - respondo, prendendo o riso.

– Ótimo - ele diz. - Pelo menos não preciso explicar nada depois.

Rio perante sua piada e trago seu rosto para mim, beijando-o intensamente. Minhas mãos deslizam até a sua camisa, começando a desabotoá-la com certa ansiedade, então percebo Haymitch correr as mãos pelo meu vestido em busca do zíper. Quando o encontra, abre lentamente, tirando meu vestido logo em seguida. Ele me deita na cama delicadamente, ainda me beijando. É quando o cheiro do álcool não me incomoda mais. Aliás, esse é o seu cheiro. Ele acaba me afastando da minha angústia, me deixando totalmente paralela ao que acontece ao nosso redor e me concentro apenasno presente. Talvez seja essa a solução das nossas brigas. Talvez possamos tentar ser um pouco mais do que simples colegas de trabalho. Talvez isso ajude a me livrar dessa tensão que me consome.

Talvez ele seja a minha solução.