Eu poderia ligar para Alice ou Rose, mas toda essa história me causava um pouco de vergonha. Tudo que eu tinha vivido até este momento, era mentira. Tudo que me foi dito era uma completa mentira que me levaria a este homem. Eu lembrei do meu carro, de como eu tinha agradecido aos meus pais de terem me dado ele, isso agora estava explicado. Se eu pensasse com mais calma eu poderia ser grata a ele pela minha mãe, eu não imaginava minha vida sem ela e nem meu pai sem ela. A verdade é que minha mãe era o sol da vida do meu pai e sem ela eu reconhecia que ele ficava perdido. Respirei fundo e comecei a voltar para casa, não havia jeito, eu estava casada. Eu também poderia voltar, isso poderia ser pior e se eu fosse um pouco mais esperta que ele, poderia voltar com alguma integridade.

– Você voltou... – minha mãe estava sentada na porta chorando. Eu a abracei e sentei do seu lado. Ficamos em silêncio tentando entender, tentando reunir palavras.

– Eu vou mãe, são só dois anos.

– Oh... eu não queria que fosse assim. Não queria que fosse dessa forma, por anos nós pensamos como falar e como... mas o tempo passava e nada parecia ser o certo, achamos melhor esperar até o final... seu pai está arrasado.

– Você precisa se acalmar, olha minha irmã mãe...

– Sim.. eu vou deitar. Você chegou Bella e nós vamos conseguir superar isso, não sei como...

– Vamos pensar nisso depois.

Nós levantamos, entramos. Eu fiz um chá para minha mãe ainda tonta sem saber o que aconteceria. Meu pai estava trancado no escritório e eu o deixaria um pouco ali, conversaríamos mais tarde com minha mãe dormindo. Tinha coisas que só ele poderia me responder. Fiz mamãe deitar e deitei do seu lado, ela dormiu praticamente na mesma hora. Eu levantei e fui até o escritório batendo antes de entrar, ele me olhou cansado e triste e eu o abracei. Meu pai era um homem honesto, ele nunca me venderia como uma mercadoria. As coisas só colaboraram demais para essa situação.

– Eu sinto muito... sinto mesmo...

– Não estou magoada. – falei sendo sincera – Foi um choque pai, eu estou com medo. Uma hora vou precisar ir com esse homem e não sei o que esperar.

– Vai dar tudo certo, se não gostar ele tem a obrigação de mandar você de volta.

– Eu não entendo de leis pai, mas parece que os países de lá não aceitam muito bem o divórcio ou algo assim.

Constatei triste.

– Ele foi criado na Inglaterra, voltou para o país com doze anos. Ele é católico apesar de aceitar bem a religião do país, ele não vai pegar uma outra esposa caso vocês se entendam.

Eu estava ouvindo aquilo e analisando. Daria certo? Eu senti meu corpo todo temer por isso, mas não poderia ser uma histérica revoltada. Meus pais estavam sofrendo demais.

– Como vocês vão ficar? É tudo pago por ele não é mesmo? – era esse assunto que mamãe não poderia me dar tanta informação como meu pai.

– Realmente existem investimentos filha, ele mesmo cuidou de tudo e agora somos praticamente independentes. Eu aprendi a administrar sem riscos futuros. A sua irmã tem também um futuro garantido.

Eu respirei aliviada, se eu pensasse que isso afetaria eles eu não conseguiria assimilar mais nada.

– Eu o amo pai, mamãe também. De alguma forma depois desses dois anos nós superaremos. Não o odeio.

Ele respirou aliviado e me abraçou forte. Eu amava meu pai e tudo que ele fez por mim e pela minha mãe. Nós conseguíramos.Conforme os dias foram passando eu sentia uma tristeza grande, eu iria embora em algum momento que papai não sabia qual, mas sabia que estava próximo.

– Você está estranha. – Alice me olhou comendo sua maça e Rose estava aparentemente prestando atenção em nada além de seu novo namorado. Eles resolveram manter entre eles já que ele era o assistente do professor de Educação Física para garantir boas atividades extras para faculdade e era proibido namoro entre funcionários da escola, seja de qual nível for.

– Estou cansada.

– Você parece que não dormiu a semana toda. – Rose disse ainda olhando para o celular.

– Vou viajar depois que as aulas acabarem. – soltei uma meia verdade.

– Férias! Para onde vamos? – Nós viajávamos juntas nas férias. Éramos inseparáveis até tudo isso acontecer e uma lágrima caiu quando o nó na garganta se tornou insuportável.

– Ai meu Deus o que aconteceu? – Alice falou largando sua maça e se aproximando, Rose deixou o celular e se juntou a mim.

– Eu vou viajar para visitar um parente de meu pai, vou ficar fora até começarem as aulas da faculdade...

Eu nem sabia se faria faculdade. Não sabia de nada depois que chegasse aquele país. Eu tinha medo de engravidar e isso acabar com minhas chances de continuar estudar, eu tinha medo de qualquer coisa que me afastasse de tudo que eu conhecia. Minhas amigas, meus pais e toda cultura em que fui criada.

– Não podemos ir juntas? – Rose perguntou e eu neguei com a cabeça. – Onde infernos esse parente mora Isabella?

– Turcomenistão.

– Essa merda é aonde nesse planeta? – Rose já estava indignada só pelo nome.

– Europa Central. – Alice respondeu. – Por que vocês teriam um parente lá? Casou com um homem rico ou algo assim?

E eu chorei um pouco mais descontrolada. Eu tinha casado na verdade.

– Você não vai. – Rose disse e eu olhei para ela ainda sentindo as lágrimas caírem.

– Vamos fugir! Que emocionante.

Eu sorri pensando que para Alice fugir seria como uma aventura e não exatamente uma fuga. Rose me olhava esperando respostas, mas eu não faria isso. Havia um contrato e com certeza eu estava sendo vigiada para não cometer nenhuma insanidade. Desde que ouvi toda a história de uma coisa eu tinha certeza, aquele homem sabia de cada passo meu e me acharia onde quer que eu fosse. Uma coisa que me ajudava a manter os pés no chão eram meus pais, eles não mereciam um maluco atrás de mim pelo mundo sem notícias se eu estava bem ou mal. Isso acabaria com a felicidade que eles conseguiram construir e traria minha irmã em um clima pesado. Eu não seria egoísta. Eu não conseguiria viver sabendo que fiz tantas pessoas infelizes. Mas eu conseguiria viver infeliz?

– Vou para Oxford. – Rose soltou e nós a olhamos. – Emmett já recebeu sua carta e eu também.

– A minha chegou ontem! – Alice pulou e eu desejei viver aquela emoção.

– A minha também, mas eu... eu.. acho que vou entrar depois... por conta da viagem..

– É por isso que está triste! – Alice exclamou, mas quando eu assenti Rose olhou dentro dos meus olhos e percebeu que não era só isso. Ela sempre foi mais sensitiva que Alice, ela era uma cabeça de vento como costumávamos brincar. – Não se preocupe, meu período só começa no ano que vem e Rose pode apenas namorar até lá, nos formaremos juntas o que acha?

– Perfeito –respondi sem emoção.

Os dias se passaram e com eles o final de tudo que eu conhecia como normal. Eu fui a festa de formatura com meus pais e convidei Mike para me acompanhar. Poderia ser a última vez que eu sairia com alguém e eu queria ter afinal um outro encontro antes de viajar.

– Você está linda! – Alice exclamou quando me viu no salão, não tivemos como nos falar com tantas pessoas e na ordem alfabética ficamos sentadas em lugares separados. O vestido era realmente deslumbrante, de um azul lindo e havia uma flor na cintura pequena e delicada.

– Eu acho que Rose vai casar antes do que imagina. – sorrimos vendo ela e Emmett dançarem juntos e apaixonados. Suspiramos juntas e rimos de nós mesmas.

– Vamos dançar? – Mike perguntou. Ele estava lindo e sorridente. Meus pais e ele se deram muito bem e se não fosse tudo isso, talvez, só talvez nos déssemos bem. Mas era impossível eu sabia.

– Vamos sim.

Nós fomos andando até a pista de dança e junto com outros casais, dançamos uma música lenta e agradável, a iluminação mudou e de repente tudo ficou mais escuro. Mike falava sem parar, mas eu não ouvia. Meus olhos percorreram o salão e eu vi o homem mais uma vez, ele estava parado no fundo nos olhando, seus olhos misteriosos não desviavam do meu e eu senti naquela hora que sabia quem ele era.