Posso te contar um segredo? escrita por LittleDreamer


Capítulo 3
Capítulo 3- Não caía com ele


Notas iniciais do capítulo

"Eu sou apenas um mentiroso inútil, eu sou apenas um imbecil. Eu só o complicarei, confie em mim e caia também."

Sober-Tool



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Eu continuava tendo pesadelos e sabia que o motivo era justamente ele, que conseguirá me assustar de verdade. Enquanto dormia, imagens das meninas desaparecidas se passavam em minha mente. Em uma das cenas, ele era quem estava levando-as para um lugar escuro no meio do mato.

Eu acordava e estava tudo bem. Teria que enfrentar o dia normalmente. Fiz minha rotina, tomei meu café e esperei que ele chegasse para que fossemos para o colégio. Ele chegou, cumprimentou minha família e saímos, estava com fones de ouvidos extremamente altos, eu consegui perceber que ele estava ouvindo Sepultura. Aquilo me assustava um pouco, tudo que ele fazia naquele momento me assustava. Acho que ele percebeu que eu ainda estava com medo, pois tirou os fones e começou a conversar comigo

"—Por que ainda está com medo, Ana?Eu não vou machucar você." Eu continuei em silêncio, não sabia o que responder e então ele não disse mais nada.Não conversamos direito naquela ida para o colégio, eu não fazia ideia do porquê de ele não ter saído do meu lado e ir para o colégio sozinho.

"—Sabe, você não precisa voltar comigo depois se voltarmos calados para casa." Ele deu uma risada e entramos no colégio indo em direção ao pátio, ele se encostou-se a uma pilastra no meio do pátio e eu o segui. "—Quer ir a uma festa comigo amanhã?" Ele disse enquanto se aproximava e jogava uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha, eu fiz que sim com a cabeça, ele apenas sorriu me liberando para a aula. Sentei-me novamente com Pedro, que se assustava toda vez que eu tocava no nome do Vinícius.

"—Ele não te assusta, Ana?" Eu fiquei em silêncio. "—Vou entender que isso é um sim."

Depois de uns minutos de silêncio, Pedro mudou para um assunto totalmente diferente sobre o clima do bairro, o dia passou devagar e eu contava as horas para voltar pra casa. O sinal havia finalmente tocado e os alunos estavam saindo de suas salas de aula, o pátio foi ficando cheio aos poucos. Eu estava caminhando com Pedro e ele estava rindo de alguma coisa que um dos seus amigos disse, mas eu não prestei atenção. Estava ocupada demais procurando Vinícius em meio à multidão. "—Ainda não encontrou o seu marginal, Ana?" Lucas, amigo de Pedro, me disse com um sorriso sarcástico no rosto.

"—Ele não é um marginal e eu não estou procurando ele."

"—Como pode ter tanta certeza? Já reparou quantas coisas ruins acontecem quando ele está por perto?" Eu estava tentando colocar em minha cabeça que não devia ouvir ninguém, não tinham motivos para falar dele.

"—Por falar nele..." Lucas se afastou com Pedro e seus amigos enquanto Vinícius chegava perto de mim. Ele me disse oi e eu respondi com um sorriso enquanto caminhávamos para irmos embora. À volta para casa foi mais silenciosa do que a ida. Sem música alta, sem perguntas. Só o silêncio.

Ele me deixou em casa e nos despedimos apenas com um "tchau", eu não sabia se realmente iríamos à festa do dia seguinte. Assim que entrei em casa, senti o cheiro do macarrão que minha mãe fazia. Aquilo me fez esquecer-se de tudo o que falavam sobre Vinícius e dos meus pesadelos.

Eu me senti bem passando um tempo com minha família, ouvindo Clarisse reclamar da escola como sempre e ouvindo minha mãe contar sobre os vizinhos que são extremamente gentis. Estávamos tendo uma tarde ótima, incluindo que Pedro viria até minha casa para estudar e minha mente estaria concentrada em outra coisa.

O dia estava indo tão bem que passou rápido, e Pedro já estava chegando para estudarmos

"—Esse seu amigo é no mínimo bonitinho, Ana?"

Clarisse se jogou na minha cama e me encarou, eu revirei os olhos.

"—Por que se importa com isso? Como se fosse acontecer algo entre você e ele." Eu disse.

Ela deu uma risada e me tacou um travesseiro, o que era pra ser uma discussão acabou virando uma brincadeira que foi interrompida pelo som da campainha.

Estávamos só eu e Clarisse em casa, minha mãe estava na casa da madrinha dela.

"—Acho que é o seu amigo, Ana."

Eu fui até a sala e abri a porta, não era ele. Era Vinícius.

"—O que está fazendo aqui? Pedro vai chegar logo e vamos estudar..."

Ele passou pela porta e olhou na direção da escada.

"—Eu não posso querer estudar com vocês? Aliás, nunca subi as escadas...Acho que vou fazer isso agora"

Enquanto ele subia as escadas e olhava para trás com um sorriso no rosto, eu me senti na obrigação de segui-lo

"-Não tem nada de interessante ai, Vinícius. Já pode ir embora."

"-Uau, nunca vi seu quarto... É bem...bonitinho." Ele deu um sorriso.

"-E olha que legal... Tem a vista perfeita pro meu quarto. Já reparou nisso, Ana?"

Eu corei, assustada com medo de que ele tivesse percebido quando eu o observava.

"-Não. Eu nunca reparei." Menti.

Ele se sentou em minha cama e tirou seus tênis, que estavam sujos de alguma lama. Aquilo me assustava um tanto.

"-Sabe, Ana... Seu quarto é muito bonito!Fico feliz em ser o primeiro garoto que o vê." Ele sorriu e se deitou de vez, deixando seu cheiro em minha cama.

Eu continuei apenas encarando-o, até que reparei em uma presença na porta.

Era Pedro.

"-Oi, estou atrapalhando em alguma coisa?"

A vergonha me consumia, e eu não sabia o que dizer até Vinicius tentar responder por mim.

"-Está tudo bem bichinha, você não atrapalhou em nada. Estávamos te esperando para estudar, que bom que chegou." Vinicius se ajeitou na cama, sentando-se com as pernas

cruzadas nos dando espaço para sentar com ele.

"-Sentem, eu não mordo." Ele me olhou "-Só quando pedem..."

Eu me sentei, Pedro se sentou logo depois, jogando seus materiais em cima da cama.

"-Então, Ana. O que você e seu namoradinho vão estudar?"

"-Não sou o namoradinho dela..." Pedro disse quase que sussurrando.

"-Ah, mas gostaria, não é? Já que você não é bichinha!"

Pedro o encarava com desdém, eu consegui reparar em seu punho fechado apoiado na sua perna prestes a dar diretamente na cara de Vinicius. Eu não poderia deixa-lo se

arriscar desse jeito, Vinicius poderia machuca-lo.

"-Chega! Vinicius, o Pedro veio aqui para estudar história, se você está aqui para provocar uma discussão então é melhor que vá embora!" Eu disse enquanto encarava-o

Vinicius descruzou as pernas e apoiou seus pés no chão novamente.

"-Tudo bem, Ana. Foi mal por isso, Pedro." Ele deu a volta na cama e parou atrás de Pedro, dando-lhe um tapinha gentil nas costas. "-Vou embora, história é a última coisa que eu preciso estudar. Até mais."

Ele se levantou, calçou seus tênis e foi embora. Pedro e eu estudamos normalmente sem tocar no assunto Vinicius em nenhum momento, até ele decidir abrir a boca.

"-Como você consegue ser amiga desse cara, Ana? Ele é um imbecil, você é uma garota tão legal..."

"-Ele consegue ser um cara legal quando quer, Pedro..."

Ele revirou os olhos.

"-Sinceramente, Ana... Eu tomaria mais cuidado se fosse você." Ele se levantou e guardou seus pertences

"-Aonde você vai?"

"-Embora. Estudamos mais outra hora... Até amanhã, Ana." Pedro me deu um beijo na testa e saiu, me deixando sozinha no quarto, novamente pensando em tudo que estava acontecendo.

Minha mãe chegou em casa uma hora depois, eu estava na sala vendo o jornal procurando saber sobre o desaparecimento das meninas desconhecidas quando ela se sentou ao meu lado e começou a falar de todas as conversas que teve com sua madrinha, nós rimos e eu fui me deitar.

Me deitei , tentando não pensar em nada que estava acontecendo, só no dia que viria na manhã seguinte. Dormi, e minha cabeça estava livre de pesadelos naquela noite.


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