Você tem um segredo
O telefone disse:
Um mistério
Perguntei aos vizinhos:
Um mistério
eu reclamei para o céu:
Um mistério

Ding, Dong,
Ding, Dong.

A campainha toca loucamente. Quem seria maligno o bastante para me acordar a esta hora? Quer dizer, não está realmente cedo, mas hoje é sábado e eu finalmente estava tendo meu descanso tão sonhado. Apos descer as escadas abro a porta de casa dando de cara com olhos tão azuis quanto o céu da Califórnia.

–Bom Dia, Srta Hawthorne! - debocha. - Posso entrar? - reviro os olhos dando passagem e fechando a porta.

–Vamos marcar alguns pontos, okay? - ele assente. - Um, eu não sou Hawthorne, meu sobrenome é Everdeen. Dois, era um ótimo dia, antes de você me acordar. Três, o que você faz aqui?

–Okay, okay, Srta. Everdeen! - levanta as mãos se rendendo teatralmente. - Eu vim porque temos um acordo. Eu quero minhas aulas de alemão.

–Mas, só depois que eu conseguir minha vaga na competição de natação da escola, quando você conseguir a minha vaga, eu vou marcar a aula. Mais algo, Mellark? - pergunto e ele sorri torto de uma forma irritante.

–Me deixa falar também, lieben...

–Não me chame de lieben! - rosno interrompendo-o.

Mais uma vez ele ergue as mãos em falso rendimento. Já percebo a dificuldade que vou ter com este garoto. Por que eu aceitei dar essas aulas mesmo? Ah, pela natação... Não! Eu poderia ter conseguido minha vaga sozinha. Eu aceitei porque eu estava frágil, apenas por isto.

–Tudo bem, eu posso resolver isto com o tempo. - reviramos os olhos ao mesmo tempo, mas certamente por motivos diferentes. - A questão é... Você já tem sua vaga, eu quero minhas aulas. Fale com o professor de natação, que eu já resolvi tudo.

–C-Como? Eu já havia tentado, falado com o professor, com a diretora, e nada! - me revolto. Eu tentei durante dias e o garoto consegue em menos de 24 horas.

–Beem... O que dizem de mim não é em falso, - me manda uma piscadinha. - eu sou influente, lieben!

–Não me chame de lieben. - reviro os olhos. - Vá para biblioteca enquanto eu troco de roupa. - ordeno, percebendo que ele não irá desistir.

–Para que trocar de roupa, você está tão bem assim. - sorri torto.

–Babaca... Vá para biblioteca, te encontro lá. - ordeno e sigo para meu quarto, que não está mais rosa Um-bebê-gigante-vomitou-nas-paredes-do-meu-quarto. Clove, Annie e Madge me ajudaram a pintá-lo e colocar papeis de parede, apesar de ter que lutar muito com elas para que minha opinião valesse de algo.

Troco de roupas e faço minha higiene matinal, pensando em que vou começar a ensinar. Desço para meu lugar favorito da casa, vejo o irritante garoto de orbes azuis jogado no sofá, pego alguns livros de alemão, um dicionário alemão/inglês, caderno e canetas. Coloco tudo na mesa e me sento.

–Senta aqui, Mellark.

–Não vem com essa, Everdeen, você só vai me dar aula, não abusará do meu corpo. - reviro os olhos, e ele se senta, contente por conseguir me irritar. - Professora Everdeen, eu escrevi algumas frases em alemão que eu quero saber o que significa, tem como traduzir para mim? - dou de ombros e ele me entrega o papel com três frases escritas:

"Peeta ist lecker

Ich bin verliebt in Peeta Mellark

Schön ist die Peets"

–Peeta é gosto... - olho para ele que exibe um sorriso metido e debochado. Ordinário. Passo para próxima frase. - Eu sou loucamente apaixonada por Pee...

–Continue, não se deixe afetar pela minha beleza. - fala exibindo um sorriso convencido, me fazendo revirar os olhos.

–Foi por isso que trouxe o dicionário, para o caso de você querer saber a tradução de algo, procure!

–Okay, Okay! - ergue as mãos em falso rendimento. Ele para, inclina a cabeça pensativamente e se vira para mim novamente. - Mas, como se fala 'Garota'?

–Mädchen...

–Serio? Que legal! Como se escreve isto? Agora, só vou chamar a Madge assim. - reviro os olhos e escrevo no caderno, e ele logo pega o celular e edita o número de Mad, colocando 'Mädchen'. - Falando nela, cadê seu irmão?

–Obrigou Finnick passar o dia no Shopping com ele comprando um presente de aniversário para Madge.

–Mas, o aniversário dela não é apenas semana que vem?

–É, mas... Segundo ele, escolher um presente perfeito leva tempo. -reviramos os olhos ao mesmo tempo.

–Que maricas, seu irmão!

–Eu odeio, detesto muito, concordar com você, mas desta vez não tenho opção. Que marica, meu irmão.

–Mas, e seu pai, cadê?

–Ah, ele praticamente mora com a loira dos sorrisos. - dou de ombros.

–E, o que você acha disso?

–Virou meu psicólogo? - questiono com as sobrancelhas franzidas, ele ergue as mãos em rendimento.

–Só queria saber, queria ser gentil. - fala de um jeito tão inocente que me faz sentir culpada. Deixe de ser tola, Katniss, você não tem culpa de nada. Ele é um babaca como qualquer outro.

–Enquanto eu não tiver que lavar as cuecas de meu pai e Gale, vou amar a relação deles. - dou de ombros de forma contida.

–E seu pai, o que sente por ela? - ela parece estar analisando, refletindo.

–Ele gosta dela, - dou de ombros. - provavelmente afeto, não sei.

–Eu acho que ele a ama. - me olha cético. - Ela é o amor da vida dele.

–Ele pode até amá-la, ou seja lá o que for. - desdenho irritada. - Mas, duvido que ela seja o suposto amor da vida dele, se é que isto existe. - alerto com lembranças indesejadas começando a brotar.

–E por que duvida? - questiona franzindo as sobrancelhas.

–Se a mulher que foi mãe dos filhos dele, que passou anos e anos de sua vida, desde sua juventude ao seu lado, não foi a mulher de sua vida, isto se ele tiver a amado, como a loira dos sorrisos pode ser a mulher da vida dele?

–Katniss, existe diferença entre amar alguém e a pessoa da sua vida, seu maior amor... - ele tenta me corrigir, reviro os olhos como uma criança mal criada. - Tenho certeza que seu pai amou sua mãe, mas... O que ele sente pela Mary, sem duvidas, é amor, e se você olhar para eles de verdade, sem essa magoa desconhecida que guarda, verá que eles se amam intensamente. Não deixe o que quer que seja atrapalhar a sua relação familiar.

–Okay! - falo apenas, cortando o assunto.

–Então... Como se fala 'gata' em alemão? - questiona, e eu tenho certeza que ele finalmente achou a palavra que desejava.

–Katze.

–Katze? Fantástico! Seu novo apelido, melhor que qualquer outro que já tenha recebido. - afirma empolgado.

Prosseguimos a aula normalmente, entre uma brincadeira ou outra. Peeta realmente não é um mau aluno, ou uma má pessoa, ele é realmente divertido, não que eu falaria isso alto uma vez na vida.

–Então, você já foi à Alemanha, certo? - assinto confirmando. - Você tem uma banda ou musica para indicar?

–Eu não sei... - paro para pensar. - Ah, tem o 'Fertig, Los!', fui ao show deles, são legais.

–Me fale uma musica deles. - pede.

–Tem 'Ein Geheimnis', que significa 'Um mistério'.

–Esse nome tem haver com você, - garante. - uma garota misteriosa.

–Eu não sou misteriosa.

–Oh, não, claro que não! É a irmã do cara que é meu amigo a alguns anos, e eu só soube que existia quando voltou para o país. - começa a contar nos dedos. - Morou durante anos na Inglaterra, sem visitar a família, conhece diversos países, línguas e instrumentos, além de guardar uma magoa secreta... Você certamente é um mistério, Katze!

–Talvez eu seja. - dou de ombros por fim.

–Seu irmão costuma dizer que você não acredita que o amor exista, acabei de perceber que não é isto, - ele me olha como se houvesse descoberto algo incrível, me enchendo de curiosidade. - você sabe que o amor existe, vê ele na vida das pessoas, mas não confia nele. Tem medo de ser abandonada, traída... - ele fala a completa verdade, fazendo com que flashbacks comecem a se manifestar em minha mente, e tudo aquilo que lutei para afastar me ronde.

Graças a Deus, a campainha toca. Me levanto rapidamente, sigo para a sala e atendo a porta, percebendo que o garoto loiro está em meu encalço, quando abro a porta vejo Clove, minha mais nova grande amiga.

Minha relação com Clove é o sonho de qualquer relação, de qualquer pessoa. Mesmo nos conhecendo há tão pouco tempo, temos uma ligação, e uma das melhores partes é que nenhuma de nós nos pressionamos. Ela ainda não me contou porque se cortava, porque estava se matando, e eu não a pressiono, apenas garanto que ela está bem, toda vez que a vejo confiro seus pulsos e converso com ela sobre como está se sentindo. Ela também não me pressiona para saber sobre mim, como conheço tão bem sobre esse lado obscuro, apenas sabe que passei anos na fria Inglaterra e estamos bem assim.

–Kat, Kat... Novidades? - ela sorri maliciosa, olhando além de mim, exatamente para o loiro.

–Nenhuma, Clo! - sou firme na resposta. - Quer entrar? O que faz aqui? - questiono apos ela adentrar a casa, e nós três nos sentarmos.

–Vim fazer planos com você para o aniversario de Mad, comprarmos os presentes de uma vez, mas... Eu atrapalhei algo? - olha de mim para Peeta, voltando para mim.

–Katze estava me ensinando alemão. - o garoto responde antes que eu tenha a oportunidade.

–Katze? - Clo questiona diretamente para mim.

–Aparentemente, meu novo apelido. - encolho os ombros e Peeta solta uma risadinha.

–Ah, sim... Se quiserem, vou embora e vocês continuam a aula.

–Que horas são? - questiono.

–Já são 14h, por quê? - Clove responde.

–Nossa! Perdi a noção do tempo. Nossa aula já acabou, Peeta já estava indo embora. - afirmo, apesar de não ser a verdade, não quero voltar a falar sobre mim.

–Nós podemos ir ao Shopping, compramos o presente e eu posso almoçar, talvez assistimos um filme de ação. Seria bom! - Clove sorri ansiosa, concordando.

–Os Vingadores 2 está em cartaz, o que acha? - assinto aprovando, e me viro para Peeta.

–Então, Peeta, você já tem meu número, pode marcar a próxima aula, agora se puder dar licença! - peço suavemente.

–Claro, claro! Até breve, Mädchen's! - acena antes de ir.

–Mädchen's? - Clove questiona.

–Garotas em alemão. Agora vamos, temos um adorável sábado pela frente. - garanto.

Pelo menos é isto que eu preciso, um dia que me faça esquecer tudo o que voltou a tona hoje, deixar o passado para trás e me fixar nesse ano que passarei na Califórnia da forma mais positiva possível.