O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 27
Capítulo XXVII


Notas iniciais do capítulo

Vigésimo sétimo capítulo dedicado à Ariadne pela recomendação maravilhosa! Espero que goste!
...
Boa leitura!



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O Peregrino

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Capítulo XXVII

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Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

Sakura e eu viajamos por cerca de um quarto de dia antes que decidíssemos fazer uma pequena pausa, às margens de um regato, para reabastecermos nossos cantis, recuperarmos o fôlego e então prosseguirmos viagem.

Eu estive atento a cada movimento dela por toda a manhã, procurando pelo primeiro sinal de que ela se cansaria ou não conseguiria acompanhar meu ritmo. Tive receio de está-la forçando além de qualquer limite, afinal Sakura havia despertado de um coma por exaustão completa de chakra não fazia nem uma semana.

Mas, para o meu alívio, ela se saiu bem. Não só conseguiu me acompanhar enquanto saltávamos pelas árvores, como também o fez com entusiasmo. Mesmo assim eu optei por não arriscar e informei-a de que faríamos uma pequena pausa assim que avistei o riacho límpido correndo entre os seixos, num vau a cerca de quarenta e cinco quilômetros a oeste do rio Kitakamu.

A floresta ao sul de Taki, úmida e densa, estava incomumente silenciosa. Exceto pelo som das águas fluindo nos calhaus, até mesmo as aves e os pequenos roedores pareciam melindrosos naquele início de tarde. Fachos de luz do sol varavam as copas imensas das árvores, fazendo subir a temperatura amena no interior da floresta.

Eu me aproximei de Sakura, que descansava sentada em uma rocha forrada por rosas-de-musgo, à sombra de uma glicínia frondosa. Entreguei o meu cantil a ela, indicando com um gesto para que bebesse; ela o pegou de minha mão e bebeu um único gole. Como não desviei o olhar do seu rosto corado pelo esforço físico, ergueu as sobrancelhas claras para mim e suspirou.

— Eu estou bem, Sasuke-kun — assegurou-me com um sorriso, secando o lábio superior com o dorso da mão. — Se eu sentir que não posso mais acompanhar seu ritmo, prometo que não vou esconder.

Quando tentou me devolver o cantil, entretanto, eu recusei e disse-lhe para beber mais. Afastei-me em seguida para checar o perímetro outra vez e presumir a nossa localização. Estávamos ainda a mais ou menos um dia de viagem de Takigakure e eu sabia que teríamos de acampar na floresta mais tarde, com o cair da noite.

Mas, por ora, eu só me preocuparia em assegurar que Sakura não cometeria nenhum exagero durante a jornada até a vila oculta. Por mais que alegasse que estava bem, eu sabia que ela esconderia qualquer sintoma de exaustão para não sentir que estava defasando nossa missão.

Por falar nela, ela escolheu aquele momento para se aproximar de mim e me devolver o cantil. Espiei sua expressão de viés enquanto o guardava na bolsa pendurada no meu ombro.

— Você parece pensativo — observou, estreitando as sobrancelhas ao passo que seus olhos me perscrutavam. — Aconteceu alguma coisa, Sasuke-kun?

Voltei-me para ela, pronto para expelir uma resposta escusa quando percebi que não resolveria. Sakura saberia que há algo me incomodando ainda que eu omitisse o motivo.

— Há alguns dias, antes de encontrá-la — expliquei o mais sucinto possível —, eu enviei Suigetsu, Karin e Jūgo para que coletassem informações em Takigakure e, assim que as roubassem, avisassem o Kakashi.

“Agora que sei que o plano da Higanbana em conluio com o Lorde Feudal envolve as bijūs, entretanto, eu me pergunto se tomei a decisão certa. Posso tê-los colocado em perigo sem necessidade.

Depois de um tempo, concluí:

— Eles são minha responsabilidade e não quero que se machuquem por minha causa.

Sakura se aproximou ainda mais e pousou uma mão no meu braço, afagando-o por cima do manto num gesto de incentivo.

— Eles devem estar bem. Não se preocupe, Sasuke-kun. Eles sabem se cuidar, não sabem?

Olhei-a incisivamente e Sakura deu de ombros, pragmática.

— Não os conheço pessoalmente, exceto pela garota... Karin, mas li os relatórios no arquivo da Tsunade-sama.

— Você está certa — suspirei um pouco mais aliviado, balançando minha cabeça a fim de desanuviá-la do destino do Taka. — Vamos em frente — disse à Sakura que me ofereceu um sorriso confiante.

Assim, seguimos viagem em direção à Takigakure. Mantivemos um ritmo constante e tranquilo ao atravessarmos a porção mais densa da floresta, com árvores tão grandes e robustas que se perdiam de vista. Sakura não demonstrou dificuldades em me acompanhar mais uma vez e até mesmo assumiu a dianteira por algumas vezes.

Caía o ocaso quando decidimos parar para montar acampamento, entre um trecho menos cerrado da floresta e uma pequena queda d’água, que desaguava em um riacho calmo; acomodamo-nos atrás de um grande rochedo que funcionaria perfeitamente como um quebra-vento para as rajadas de vento.

Eu recolhi a lenha para nossa fogueira, já que pelo visto teríamos uma noite fria e ventosa, enquanto Sakura cuidou do nosso jantar. Ela colheu algumas ervas nas redondezas, que disse serem usadas como condimentos alternativos, e as aqueceu num recipiente pequeno de ferro assim que acendi a fogueira com meu katon.

Nós também comemos algumas frutas que ela colheu ali por perto e, finalmente, assamos os peixes que eu pesquei mais cedo, temperados com as ervas que ela colheu e preparou, espetando-os em galhos ao redor das chamas brandas. Algumas horas mais tarde, comemos nosso jantar enquanto ruídos de bichos e insetos noturnos ecoavam à nossa volta.

— É uma noite bonita — Sakura observou, deixando seu peixe de lado e mirando o céu forrado de estrelas. — Bastante atípica para o inverno.

Havia um manto sobre os seus ombros para protegê-la do vento cortante. Mas mesmo com o calor das chamas da fogueira se derramando ao nosso redor, percebi que a temperatura havia despencado consideravelmente desde que a noite caiu.

— Será primavera em duas semanas — comentei casualmente assim que terminei de mastigar.

O sorriso que Sakura abriu podia ter iluminado todo o céu noturno:

— Ah, é verdade! Eu quase tinha me esquecido! A primavera sempre me traz bons sentimentos — concluiu a fala num sussurro e a nostalgia em seu timbre não me passou despercebida.

Não reuni coragem suficiente para perguntá-la do que se tratava, não quis ser invasivo e achei que, se quisesse, ela própria tomaria a iniciativa de me contar o que estava pensando. Infelizmente ou não, a oportunidade de fazê-lo veio e se foi, depressa.

Depois disso, nós nos aconchegamos em um silêncio incômodo. Apenas o crepitar do fogo e o piar de uma coruja solitária ali por perto rompiam aquela estranha cadência embatucada e ranzinza. Eu não estava cansado, apesar de haver viajado por um dia inteiro, mas Sakura ainda parecia sofrer os efeitos do coma do qual despertou; só de olhá-la, sabia que estava relutando contra a ideia de adormecer, letárgica mas obstinada, encolhida sob o manto que usava.

Ela percebeu meu olhar, um tempo depois, e piscou para mim, aturdida. Em resposta, estendi meu braço, abrindo meu manto e convidando-a a se juntar a mim sem fazer uso de uma única palavra.

Sakura se levantou e veio ao meu encontro, ligeira. Deixei que se acomodasse ao meu lado e lancei meu manto sobre ela, para aquecer a nós dois. Ela pressionou o rosto no meu peito e meu braço se acomodou ao longo da curva da sua cintura. Descansei meu queixo no topo da sua cabeça. Os cabelos dela ainda cheiravam a flores de madressilva.

Se não fosse por sua respiração inconstante e pelo palpitar acelerado do seu coração, pressionado contra as minhas costelas, eu pensaria que ela havia adormecido. Mas, de repente, ela ergueu o rosto para mim, tombando-o para trás no meu ombro; seu olhar me desarmou.

— Antes, quando você mencionou a primavera — ela engoliu em seco e deslizou uma mão pelo meu peito —, eu me lembrei de uma coisa...

— Do quê? — perguntei, erguendo uma sobrancelha; Sakura sorriu.

— Eu me lembrei da primeira vez em que te vi, Sasuke-kun.

— Não foi na Academia? — indaguei, mas dessa vez minhas sobrancelhas caíram sobre os meus olhos, pesando meu olhar, preso ao de Sakura.

Ela negou e o seu sorriso se tornou quase tímido, esmorecendo por um único instante antes de se reafirmar genuinamente nos seus lábios.

— Sasuke-kun sabe que no começo eu não era tão espontânea e corajosa com os meus sentimentos... Eu vivia me escondendo e só sabia chorar quando me insultavam. Isso foi até a Ino me encorajar a me aceitar como eu era e me mostrar que eu não deveria ter medo da opinião dos outros ou sentir pena de mim mesma.

“Ino me dizia naquela época que eu deveria parar de me esconder e de esconder como verdadeiramente me sentia. E eu levei as palavras dela muito a sério. Um dia, enquanto éramos lecionadas a respeito dos princípios de uma Kunoichi numa campina, Ino me comparou a um botão que ainda não havia desabrochado, mas me garantiu que mesmo aquele pequeno e melindroso botãozinho, algum dia, poderia superar a beleza de uma flor Cosmos já desabrochada. Eu entendi o que ela estava tentando me dizer e me senti tão esperançosa... De que algum dia, eu não estaria mais à sombra dela, mas seria semelhante a ela. Essa foi a razão pela qual me declarei como rival dela, alguns anos depois. Nunca quis que as pessoas me olhassem com condescendência.

Sakura expirou lentamente e se fez silêncio por um tempo. Quando achei que não continuaria, ela recomeçou, ainda mais nostálgica:

— Eu esperei durante semanas para que aquele pequeno botãozinho florescesse. Voltei quase todos os dias àquela campina, até que, um dia, na última semana da primavera, o botão finalmente floresceu. E eu me lembro de como me senti feliz por isso e do quanto queria mostrá-lo à Ino.

“Então, eu o colhi e corri de volta para casa, segurando-o bem junto de mim. Foi quando eu te vi, Sasuke-kun.

Ela sustentou seu olhar no meu, mais uma vez.

— Você estava com o seu irmão e, por um breve instante, você também olhou para mim. Eu só me lembro de como você me olhou de volta. Apesar de já ter ouvido muito a seu respeito na Academia e de já ter te visto de relance algumas vezes, aquela foi a primeira vez em que eu verdadeiramente te vi.

“Quando o seu irmão te chamou, você desviou o olhar e correu para alcançá-lo. Mas depois disso, eu passei a te procurar todos os dias na Academia. Eu procurava pelos seus olhos e sempre que os encontrava você me olhava de volta em silêncio e, então, desviava o olhar. Eu dizia a mim mesma que, algum dia, teria coragem para falar com você, para me sentar ao seu lado. Parece bobo, eu sei — Sakura riu baixo, acanhada. — E quando fomos colocados na mesma equipe, eu pensei que era tudo o que eu queria: poder me aproximar de você, estar com você... Mas eu me enganei. Tudo o que eu passei a querer, com o tempo, era te tirar da escuridão, te salvar da sua dor. Eu só queria que você fosse feliz, no fim, mesmo que você nunca pudesse corresponder os meus sentimentos. A sua solidão me feria mais do que tudo, Sasuke-kun. Feria a mim e ao Naruto.

— Eu sei — admiti com pesar.

Porque, no fim, Naruto e Sakura não haviam sido os únicos a sofrer com meu distanciamento. Eu também sofri. Cada dia longe deles havia sido inimaginavelmente doloroso, mas eu me forcei a suportar essa dor a fim de cumprir os meus objetivos. Sozinho.

Acariciei a cintura de Sakura como que para dizê-la que esses dias já haviam terminado e ela pareceu me compreender, ajeitando-se no meu peito, buscando por uma posição mais confortável. Deixei que se acomodasse e, mais cedo do que imaginei, ela adormeceu. Recostado à rocha, protegido do vento, tentei permanecer imóvel para não despertá-la.

Passamos a noite assim, embora eu mesmo tenha pegado no sono em certo ponto. Dormi algumas horas antes que o sol nascesse, a leste, num horizonte desanuviado e de um azul profundo. Quando acordei, Sakura já não estava mais por perto e cozinhava algo nas brasas remanescentes da nossa fogueira.

Eu me levantei um pouco ranzinza e passei por ela, ajoelhada perto da fogueira quase extinta:

— Ah, bom dia, Sasuke-kun!

— Bom dia — respondi-a monocórdio e me ajoelhei à beira do riacho para lavar o torpor excedente do meu rosto.

Sequei-me no meu manto e quando voltei para junto de Sakura, ela me ofereceu o cantil. Tomei um longo gole de água e então senti o cheiro do que ela preparava. Os suprimentos que Ginchiyo nos forneceu durariam por pelo menos três dias, se fôssemos cautelosos.

No desjejum, trocamos poucas palavras: comemos depressa e nos preparamos para continuar seguindo viagem em direção à Takigakure. Sakura pegou sua mochila e recolocou suas luvas com bastante entusiasmo enquanto eu apanhei minha bolsa e minha espada. Assim, nós partimos.

Dessa vez, acelerei um pouco nosso ritmo, certo de que Sakura conseguiria me acompanhar sem dificuldades. Nós nos movemos ora pelo alto, nos galhos robustos das árvores, e ora pelo chão, junto à relva úmida. Mais uma vez, o sol estava a pino num começo de tarde quando decidi que faríamos uma pequena pausa numa clareira.

— Quanto mais tempo até chegarmos à Taki? — Sakura me perguntou assim que se escorou em um tronco apodrecido de árvore, tombada em alguma tempestade certamente; sua pele brilhava sob uma fina camada de suor.

— Mais meio dia de viagem, acredito — disse enquanto analisava o entorno, dessa vez havia aves empoleiradas nos galhos entoando canções afinadas.

— Então vamos em frente, se falta tão pouco — ela disse assim que se levantou, devolvendo-me o cantil.

Estava prestes a retrucá-la quando algo fez disparar todos os meus reflexos. Levei minha mão até a espada, atrelada às minhas costas, e me preparei para desembainhá-la, estendendo um braço à frente de Sakura. No próximo instante, três figuras, entrajadas com vestimentas escuras, pousaram na clareira, a poucos metros de nós dois.

Relaxei assim que os reconheci, aprumando-me.

— Suigetsu, Karin, Jūgo — chamei seus nomes e os três se empertigaram, ainda em formação.

Suigetsu foi o primeiro a se aproximar, e o fez com casualidade. Vi que Karin ajeitou os óculos e lançou um olhar cheio de significados para Sakura, antes que minha atenção se voltasse para o espadachim:

— Enfim te achamos, Sasuke!

Jūgo aquiesceu com um gesto para mim, mas não fez menção de se aproximar. Percebi que ele olhou curiosamente para Sakura, curvando as sobrancelhas grossas, embora não tenha dito uma única palavra sobre a presença dela.

— Dessa vez, você deu um trabalho danado para a Karin — Suigetsu disse num tom brincalhão e mostrou um sorriso cinicamente afiado para ela, que bufou. — Ah, vejo que achou quem estava procurando! — exclamou, olhando para Sakura, que não soube como reagir a ele e me encarou, atônita, levantando os ombros.

Aproximei-me deles, deliberadamente ignorando Suigetsu, enquanto devolvia a espada à sua bainha.

— Por que estavam me procurando? Pensei ter dito para que avisassem ao Kakashi.

Balancei a cabeça, consternado:

— De toda forma, não importa. Já obtive a informação com Sakura — indiquei a Kunoichi a alguns metros de mim. — Ela já me avisou do plano que envolve as bijūs.

— Ah, se fosse apenas isso, meu amigo — Suigetsu lamentou e eu franzi o cenho, aturdido por suas palavras.

— Precisamos conversar, Sasuke — Karin se aproximou de mim, colocando-se ao lado de Suigetsu, sua expressão franzida me deixou intrigado.

— O que houve? — perguntei, dirigindo-me a todos os três e Suigetsu deu de ombros.

— Nós descobrimos algo muito sério, Sasuke, e que envolve a estabilidade política de todo o país da Cachoeira — Karin voltou a se pronunciar, séria. — A aliança entre a Higanbana e o Lorde Feudal não passa de uma fachada para algo muito mais grave.

— Existe uma facção em Taki — Jūgo se manifestou dessa vez, aproximando-se a passos comedidos dos outros dois — que planeja retirar o atual Lorde Feudal do poder e assumir o controle do país.

— Essa facção está tendo o apoio de alguns poucos homens importantes de Taki que não estão satisfeitos com a ascensão de Inoue ao poder. A associação à organização criminosa da Higanbana não passa de um chamariz para que eles executem o Lorde Feudal e assumam o controle — Karin concluiu ao ajeitar seus óculos mais uma vez.

— Como vocês descobriram isso? — perguntei-os, um tanto baqueado por tudo o que disseram; era uma reviravolta e tanto nos nossos planos.

Depois de um tempo, Jūgo respondeu-me:

— Interrogamos muitos Shinobis de Taki, uma pista levou à outra até que tropeçamos nessa facção. A maior parte deles são membros de um clã bastante perigoso pelo que ouvimos falar...

— O clã Mori — Suigetsu o interrompeu, enviesando as sobrancelhas alvas. — Ao que parece, eles tinham uma posição elevada durante a gestão do antigo Lorde Feudal. Mas desde que esse tal Inoeu, primo do antigo Lorde Feudal, assumiu o poder, eles perderam influência e status.

— Sasuke-kun — Sakura se aproximou de mim, chamando-me, mas eu ainda estava absorvendo tantas informações.

Senti sua mão afagar meu braço, ela estava preocupada. Eu só conseguia pensar na familiaridade da situação. Uma nação estava em risco por conta de um clã insatisfeito com sua posição. Isso era tão dolorosamente similar ao que meu clã quase causou... Embora Itachi os tenha impedido a tempo de salvar todo o país do Fogo da destruição.

— Sasuke.

Ouvi a voz de Suigetsu me chamar e o fitei, sobressaltado:

— Se não impedirmos esse tal clã Mori, Takigakure inteira pode ser destruída. Mais do que isso, seria o início de uma guerra civil violenta que mataria milhares e que poderia comprometer a paz entre as grandes nações e os países menores.

— Precisamos deter esse clã e a Higanbana antes que façam o primeiro movimento — Karin concluiu, apoiando uma mão no quadril.

— Precisamos impedir que assassinem o Lorde Feudal — Sakura assentiu, apertando meu braço de leve, como se intentasse me trazer de volta e eu suspirei.

Encarei os três à minha frente e, depois, Sakura ao meu lado. Precisava ter cautela quanto aos nossos próximos passos. Ainda estávamos a meio dia de viagem de Takigakure, mas eu já me sentia tão tenso e sobrecarregado de responsabilidades... O que faríamos?

— Tenho um novo plano — informei-os e foi o bastante para ter a atenção de todos: — Façam exatamente o que eu disser e nada mais — enfatizei a última sentença, acrescentando a ela uma advertência implícita.

Por fim, tomei fôlego e me dirigi aos três Shinobis diante de mim:

— Nós nos dividiremos e seguiremos em dois grupos para a vila; Suigetsu, Karin e Jūgo, eu quero que vocês encontrem o Lorde Feudal e o protejam a qualquer custo, tirem-no da vila se for necessário. Sakura e eu criaremos uma distração para que vocês possam se infiltrar na mansão dele e tirá-lo de lá sem problemas.

Quando olhei para Sakura, ela assentiu; acho que já imaginava o que eu diria a seguir.

— Sakura e eu lidaremos com a Higanbana e com o clã Mori.

— Só vocês dois? — Suigetsu me soou incrédulo.

— Devemos bastar — afirmei e Sakura ecoou meu excesso de confiança com um sorriso incisivo.

— Certo — ele me pareceu conformado, apesar da sua expressão me sugerir o contrário. — Vou deixar toda a ação para você dessa vez, Sasuke.

Karin fez um som de muxoxo e o olhou debochada:

— Fala sério, cabeça de peixe, você só está com medo de ter que precisar lutar contra a Higanbana de novo.

— Do que você está falando, sua bruxa? — ele rebateu com um falso ar de quem havia sido insultado. — Enquanto nós lutávamos contra aqueles caras assustadores tudo o que você fez foi se enfiar embaixo da primeira pedra, como sempre.

— E-eu não estava me escondendo! — ela objetou, afetada, e eu suspirei.

Decidido a evitar futuros aborrecimentos, afastei-me deles com discrição, mesmo que o tom estridente de Karin ao gritar com Suigetsu ainda chegasse aos meus ouvidos, incomodando-me.

— Eu estava apenas me protegendo das explosões, sua ameba desprezível!

Só me detive quando me dei conta de que o silêncio profundo da floresta me rodeava outra vez. Não por muito tempo, é claro; logo, ouvi passos sobre o leito de folhas secas e me virei para ver Sakura se aproximando.

— Você está pensativo de novo — ela observou, franzindo as sobrancelhas ao perscrutar meu rosto.

Balancei a cabeça, era fato de que as informações que o Taka compartilhou haviam trazido um novo e sombrio prospecto; elas também projetaram um cenário desagradável que cutucava fundo uma antiga ferida minha. Como permaneci preso a um silêncio resoluto, ela se aproximou ainda mais e tocou meu rosto.

— Você está pensando no seu clã, não está?

— E ainda diz que nunca sabe o que se passa pela minha cabeça — comentei com sarcasmo, mas isso só fez aprofundar as linhas de preocupação no rosto de Sakura.

— É fácil supor quando algo o está afligindo, ao menos quando se trata da sua família — ela me respondeu soturna.

Expirei o ar lentamente, descomprimindo meus pulmões, mas eu ainda me sentia sufocado.

— O meu clã por pouco não causou uma guerra civil — expeli as palavras que estiveram me estrangulando até então. — Às vezes quero verdadeiramente detestar Itachi por ter escondido tudo de mim — admiti um pouco encabulado. — Ele suportou fardos demais sozinho e me deixou no escuro porque pensava que estava me protegendo.

Sakura se esticou até poder roçar os lábios nos meus, e afastou-se depressa. Seu polegar continuou a acariciar meu rosto, traçando círculos na minha pele.

— Todos cometemos erros com aqueles que amamos, Sasuke-kun. Às vezes, esperamos que nossas boas intenções e bons sentimentos minimizem os danos que causaremos, mas às vezes também isso não será o suficiente. É por isso que só podemos esperar que aqueles que prejudicamos, algum dia, sejam capazes de nos perdoar. É exatamente assim que Itachi deve ter se sentido quando foi forçado a escolher entre a vila e o seu próprio clã. No fim, ele optou por você, optou por salvar a sua vida.

— Houve vezes em que desejei que ele tivesse me matado junto dos nossos pais — confessei e não senti qualquer remorso por admitir isso para Sakura.

— Ele te amava demais para isso — ela rebateu com tamanha sensatez que não pude retrucá-la mais.

Suas mãos deslizaram para os meus ombros e os alisaram afetuosamente.

— Você vai ficar bem com isso?

Eu não tive certeza se ela estava se referindo aos demônios do meu passado com os quais eu ainda convivia ou a atual e crítica situação de Taki. De todo modo, balancei minha cabeça devagar e afirmativamente. Isso trouxe um sorriso de volta aos seus lábios.

— Nós vamos impedi-los, Sasuke-kun.

Assenti para Sakura e deixei que ela me guiasse de volta para onde o Taka ainda nos aguardava. Uma vez lá, discutimos os detalhes finais do meu plano e, ao final, nos separamos, seguindo em direções distintas, embora convergíssemos num mesmo objetivo.

Com Sakura ao meu lado, eu deteria a Higanbana a tempo de evitar o golpe de estado do clã Mori. Eu os impediria a qualquer custo.

⊱❊⊰

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Sakura ter sido a próxima a depor a meu favor foi algo que me surpreendeu. Kakashi não havia mencionado nada para mim, mas creio que ele queria esconder essa informação até o último instante.

Eu a vi se levantar do seu assento e caminhar pelo estrado até estar à minha frente e à frente dos cinco Kages. Ela não se deixou ser intimidada por nenhum deles e, no fim, vi que compartilhou um olhar cúmplice com Kakashi.

— Muito bem, Sakura, como ninja médica, o que pode nos dizer do dia em que encontrou Sasuke no país do Ferro? Como você descreveria seus trejeitos e atitudes? — Kakashi a perguntou e eu lancei a ele um olhar de ódio por forçá-la a reviver os eventos daquele dia.

Pior ainda: fazê-la relatar o que aconteceu para um bando de estranhos.

Mas ao contrário do que qualquer um esperaria — até mesmo eu —, ela não se abalou por isso, manteve a postura firme e o olhar endurecido quando começou a falar:

— Sasuke-kun apresentava claros sinais de perturbação não só mental como também emocional. Os sintomas de que ele não estava cem por cento lúcido eram bem evidentes na verdade.

Kakashi assumiu uma postura quase arrogante, o que irritou o Raikage, pelo que pude ver.

— Pode nos descrever esses sintomas, Sakura? — ele pressionou e ela assentiu vigorosamente.

— Sasuke-kun apresentava alguns tiques como piscar os olhos continuamente, mudanças abruptas de humor, além de rompantes de ira bastante agressivos. As pupilas também estavam bem dilatadas e uma das pálpebras apresentava trismo palpebral. Claros sinais de que um indivíduo está sendo acometido por algum tipo de distúrbio mental ou emocional.

Kakashi descansou ambos os cotovelos sobre a mesa e se empertigou para fazer a próxima pergunta:

— Então você confirma que Sasuke não estava lúcido naquele momento?

Sakura também se empertigou para respondê-lo e seus olhos encontraram os meus por reflexo. Mas ela logo voltou a concentrar sua atenção em Kakashi.

— É difícil afirmar o grau de lucidez dele baseando-me apenas em sintomas superficiais e sem uma avaliação psicológica mais detalhada, mas, sim, eu diria que Sasuke-kun se encontrava em algum estado grave de perturbação mental e emocional.

— E o Sasuke de agora... — Enfim, ele chegou à questão crucial: — Ele apresenta algum desses sintomas?

Sakura não titubeou ao respondê-lo, mais uma vez:

— Não, Kakashi-sensei... Digo, Rokudaime-sama — ela corrigiu-se, encabulada. — Sasuke-kun não apresenta mais nenhum desses sintomas desde aquele dia.

— Obrigado, Sakura, pode se sentar agora — Kakashi a dispensou e ela se retirou com uma reverência, mas ao invés de voltar para o lugar que ocupava, se sentou ao lado de Naruto. Ambos trocaram um olhar significativo, mas breve demais e eu não consegui desvendar seu significado.

Kakashi se levantou em seguida, apoiando ambas as mãos na mesa e declarou para todos os presentes em alto e bom som:

— Bem, acho que é a minha vez então.

Todo o meu futuro dependia da estratégia de Kakashi convencer os demais Kages a não me sentenciarem; eu estava nas mãos dele agora.


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Notas finais do capítulo

Que comece a treta! :v
...
Eu tenho vááááários Headcanons de como a Sakura se apaixonou pelo Sasuke. Kishi disse que evitou escrever sobre isso justamente pelo mangá 693 onde nosso sensei favorito já disse: não precisa de um motivo para se amar alguém, apenas se ama =) Mas eu preciso confessar: o meu Headcanon favorito é aquele que os dois trombam XD Coisa fofa! *-*
...
Pessoas, comentem! Isso me estimula e não permite que eu desanime, ok? Assim, atualizo mais rápido! =) Quando vocês somem, eu tenho impressão de que há algo errado com a Fanfic e aí desanimo D:
...
Nos vemos no próximo!