O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 16
Capítulo XVI


Notas iniciais do capítulo

Décimo sexto capítulo dedicado à Sakura Lyne pela linda recomendação. Muito obrigada, eu amei! *-*
...
Boa leitura!



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O Peregrino

Capítulo XVI

Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

Há quanto tempo uma batalha não me empolgava assim? Honestamente, eu não sabia a resposta. Desde o fim da quarta guerra, sentia-me num nível diferente de poder — graças a Hagoromo, tanto eu quanto Naruto encontrávamos num patamar dificilmente alcançável.

Nós éramos quase inigualáveis. Ele, com seu manto de chakra da Kyūbi e seu domínio na arte Sennin. E eu... bem, eu tinha os meus truques com o meu Fūmetsu Mangekyō Sharingan e o meu Rinnegan. O primeiro havia sido um presente do meu Nii-san, já o segundo um suvenir que recebi do próprio Sábio dos Seis Caminhos — ele confiou este poder a mim e é uma pena que eu o tenha usado, uma vez, para quase ferir Naruto e destruir as Bijūs.

Tenho tentado reparar esses erros desde então e ali eu daria mais um passo na direção certa.

Ainda empoleirado no dorso de Garuda, mirei todos os meus oponentes: eram quatro ao todo e, correndo meu Sharingan por cada um deles, analisei a assinatura e a natureza de seus chakras individualmente, criando padrões específicos para cada um deles e me preparando para a batalha.

Alcancei minha espada atrelada ao meu cinto e entrecerrei os olhos; Garuda agitou as longas asas uma vez mais, dispersando a cortina de poeira que pairava ao nosso redor, em seguida ele emitiu outro chilreio estridente. No intervalo preciso de um segundo, eu fiz o meu primeiro movimento — e eles também.

— Sasuke! — Karin gritou o meu nome, mas eu já estava ciente e em alerta.

O primeiro ataque proveio do homem maior, o primeiro a nos atacar. Meu Sharingan notou o imenso volume de chakra que ele direcionava para os seus braços, na verdade uma quantidade tão assombrosa que até mesmo eu me surpreendi.

Doton: Doryūsō! — ele esbravejou antes de se curvar e bater ambos os punhos contra o que restara do promontório rochoso sob os seus pés.

A natureza do seu chakra imediatamente modelou a rocha, amolecendo-a primeiro, para depois tomar a forma de lanças de argila seca; eram centenas e mais centenas delas, cada uma do tamanho de um palmo e suas extremidades eram essencialmente pontiagudas. Como eu suspeitei, um usuário de Doton.

Enquanto as hastas eram todas lançadas na minha direção, desprendi minha Kusanagi da bainha, puxando-a de baixo do meu manto e girando sua empunhadura no meu punho direito. Como era uma técnica com o elemento Terra, concentrei uma quantidade específica de chakra no meu braço, realizando rapidamente os selos para a minha técnica Chidorigatana.

A eletricidade correu pela lâmina com um chiado característico e conhecido e, assim, eu a empunhei diante do meu corpo, floreando o seu punho tão logo as primeiras hastas colidiram contra mim. Movi meu braço em sincronia com o meu olho direito, despedaçando as lanças de pedra, espatifando-as em pleno ar e transformando-as em nada mais do que lascas diminutas e inofensivas.

Protegi Garuda como pude, embora ele próprio desviasse junto a mim, forçando-me a firmar meus pés no seu dorso enquanto seu corpo se contorcia e se agitava para longe das hastas afiadas, sobrevoando a cachoeira, contornando o perímetro. Entretanto, quando a chuva de pedra e lascas sobre nós se tornou inconcebível, e desviar para ele se tornou praticamente impossível, eu saltei do seu dorso ao mesmo tempo em que seu corpo sobrevoava baixo nossos inimigos, cortando o espaço logo acima das suas cabeças e forçando-os a se abaixar e se proteger.

O homem rolou para o lado sem dificuldade, mas notei que a garota jovem ao seu lado não o fez com o mesmo desempenho; pareceu-me lenta, defasada. Arregalei os olhos, ponderativo e calculista; estaria se recuperando de algum ferimento?

Não tive tempo para concluir minha linha de pensamento, entretanto, pois no segundo posterior, eu sentia outra assinatura de chakra às minhas costas, próxima o suficiente para eriçar os pelos na minha nuca. Cerrei os dentes com força e manobrei em pleno ar, virando-me para meu outro oponente — um movimento perigoso, eu sabia.

Meu braço direito adiantou-se à minha dianteira, minha lâmina encontrando com outra num entrechocar agudo e penoso que enviou vibrações por todo o meu membro superior. Levantei os olhos para encarar a expressão cínica no rosto do espadachim, seu cabelo cor de areia cobrindo seus olhos. Com meu Sharingan, percebi que sua espada, assim como a minha, estava envolta em um jutsu especial, mas com o elemento Vento.

Detestei o jeito prepotente como me olhava e o fato de minha Kusanagi haver sido detida por sua lâmina. Um usuário de Fūton, eu já sabia, teria de prestar atenção especial a ele. Vento me colocaria em clara desvantagem, se eu utilizasse jutsus com base no elemento Raiton contra ele.

Nós recuamos ao mesmo tempo, em completa sincronia, e eu pousei sobre uma rocha, flexionando meus joelhos para melhor absorver o impacto; a sola das minhas sandálias rasparam a superfície áspera, enviando-me mais alguns metros para trás. Mantive a postura defensiva, a espada em riste e meu adversário também o fez a princípio.

Ele se empertigou, ao contrário de mim, ascendendo, altivo; sorria desafiador para mim.

— Como eu esperava do último membro do clã Uchiha — murmurou no seu enervante tom prepotente.

Franzi o cenho, inquieto.

— Quem são vocês? — inquiri num timbre áspero, demandando a resposta prontamente.

— O meu nome é Kazuhiko Sazaki — apresentou-se; seu manto escarlate ondulava sob contínuas rajadas ventosas, provindas do seu chakra irrequieto; podia lê-lo perfeitamente com meu Sharingan, seu padrão suave e continuado. — E venho do País do Vento.

Atrás de mim, o usuário de Doton riu baixinho, atraindo minha atenção para si novamente — embora eu ainda mantivesse um olho fixo em Kazuhiko.

— Eu me chamo Ichiro. Ichiro Terumi — ele disse, por sua vez, no seu tom trovejante.

Terumi. Franzi a testa, surpreso. Um parente distante da Mizukage, talvez? Mas então, isso significava...

— Sasuke! — Pela segunda vez, Karin gritou meu nome, mas eu estava ciente de novo.

Ichiro dessa vez concentrou uma quantidade ainda maior de chakra e suas mãos enormes realizaram alguns selos; eu os reconheci de uma batalha muito tempo atrás. O chakra em ebulição foi cuspido da sua boca na forma de uma torrente escaldante de lava:

Yōton: Yōkai no Jutsu!

Pela minha experiência de batalha com as técnicas da família Terumi, eu sabia que não havia chance de utilizar o estágio primário do meu Susano’o para me defender: na melhor das hipóteses, ele derreteria sob a temperatura da lava em questão de segundos. Além disso, eu estava apenas testando as habilidades deles, averiguando até onde podiam ir, deixá-los ver a verdadeira extensão dos meus poderes quando a batalha mal havia começado seria um equívoco amador. Eu teria que desviar, não via outra opção.

Então, enviando uma pequena quantidade de chakra para as solas dos meus pés, eu me movi velozmente para fora da trajetória da imensa cortina de lava. Entretanto, um único respingo caiu no meu manto, queimando-o e obrigando-me a retirá-lo enquanto ainda me movia para longe. Atirei a capa por cima da minha cabeça enquanto o tecido era consumido pelas chamas. Teria de prestar uma atenção especial àquele cara.

— Você é tão rápido quanto os rumores dizem — Kazuhiko comentou com um estranho fascínio no olhar, aproximando-se alguns passos comedidos. — Eles dizem, na verdade, que foi rápido o suficiente para cortar o corpo de Uchiha Madara pela metade mesmo depois que ele se tornou o Jinchūriki da Jūbi.

Sua boca se repuxou num sorriso macabro enquanto ele preparava sua katana mais uma vez.

— Eu quero comprovar se isso é verídico.

E dizendo isso, moveu-se tão rapidamente que meu Sharingan custou a acompanhá-lo dessa vez. Franzi o rosto, desgostoso pela minha dificuldade em antecipar seus movimentos. Kazuhiko desapareceu do ponto onde estivera num piscar de olhos e reapareceu diante de mim já com a espada em riste e pronta para me golpear.

Eu ergui minha Kusanagi em resposta, rechaçando sua investida e cada entrechocar de nossas espadas levantava um clangor metálico ensurdecedor. Com o maxilar cerrado, evitei cada golpe dele, bloqueando-o com minha katana enquanto ele sorria debochado em resposta a cada vez que isso acontecia. Tenho certeza de que nossos movimentos eram quase impossíveis de ser acompanhados a olho nu devido à velocidade impressionante.

Os nossos pés se agitavam para frente e para trás, para a direita e, então, para a esquerda. O ar estalava com meu chakra, minha espada chiando agudamente a cada breve encontro, mas o vento também se agitava ao meu redor e a lâmina dele também fazia frente à minha. Minha única vantagem naquele momento era o meu dōjutsu capaz de lê-lo e antecipá-lo — ainda que custosamente devido a sua velocidade quase se equiparar à minha.

Em meu embate com Kazuhiko, o homem da família Terumi aproximou-se por trás no intuito de encontrar uma brecha na minha guarda. Instantaneamente ativei meu Mangekyō Sharingan e o Rinnegan no meu olho esquerdo respondeu de imediato, adquirindo seus tomoes. Mesmo com o olhar fixo em Kazuhiko, senti a mudança no ar, a temperatura elevando-se enquanto Ichiro aquecia seu chakra novamente no peito.

Desta vez, entretanto, sua bocarra expeliu inúmeros anéis de chamas fundidas, fazendo chover fogo sobre mim.

Fechei meu olho direito e foquei meu Rinnegan numa pequena rocha há cinco metros de onde eu estava. Concentrei chakra no meu olho esquerdo e usei o Amenotejikara num piscar de olhos. Uma brisa suave passou pelo meu corpo, a única sugestão de que eu havia, de fato, me movido, quando na verdade apenas me teletransportei.

Pousei no exato local escolhido, reabrindo meu olho direito no instante em que o terceiro indivíduo se juntava à batalha, aparecendo diante de mim: o usuário de Raiton finalmente.

— Nós sabíamos que você faria isso! — murmurou displicente, ambos os seus braços estavam envoltos em eletricidade e um chapéu de palha ocultava a linha dos seus olhos. — Raiton: Bakurai!

Uma imensa rajada elétrica foi disparada de ambos os seus braços; tinha a forma de um relâmpago e rasgou a distância entre ele e o meu corpo, ziguezagueando velozmente até mim. Num movimento deliberado, girei meu corpo para a esquerda e saltei para trás, para fora da trajetória do imenso relâmpago. Como segurava minha espada na mão direita, impensadamente me apoiei na esquerda para realizar o pinote.

Só notei o meu erro quando meu braço esquerdo inteiro estremeceu sob o meu peso, vacilando. Mesmo um pouco desnorteado devido à dor inesperada, consegui desviar proficientemente do percurso da rajada luminosa que explodiu no exato lugar em que eu me encontrara apenas milésimos de segundos atrás, esfarelando a rocha com um estrondo poderoso e chamuscando-a.

Segurei meu braço esquerdo, incomodado, os dentes cerrados com força a fim de não exprimir a lamúria que eu certamente precisava. Havia sido um esforço árduo demais, e faz poucos dias desde que recebi essa prótese. Todo o meu antebraço formigava e a dor se concentrava próximo à cicatriz tênue da cirurgia.

— Eu me chamo Raiden — disse o ancião com inexpressividade, erguendo o rosto para me encarar; seus olhos eram cinzentos, quase nebulosos e os cabelos grisalhos despontavam de baixo do seu chapéu de palha. — E fui um Shinobi de Kumo muito tempo atrás.

Percebi que os três Nukenins haviam me cercado, a garota que eu vi anteriormente permanecia fora da batalha e eu ainda me perguntava o motivo. Não consegui deixar de notar o modo protetor com que pousava seu braço sobre o estômago. Numa epifania, ponderei. Estaria ela ferida? Recuperando-se de uma batalha recente?

Voltei-me para os três Shinobis: um homem da família da Mizukage, um usuário habilidoso de Raiton e um espadachim veloz capaz de fundir o elemento vento à sua espada. Apertei meus dedos no braço que ainda formigava.

— Haruno Sakura — proferi seu nome num timbre monocórdio, ainda que por dentro fervesse de ódio. — Onde ela está? Vocês a fizeram prisioneira? — demandei urgente.

Kazuhiko piscou aturdido à menção do nome, mas sua expressão confusa não demorou a permutar por uma de compreensão e, logo em seguida, por outra de tripúdio:

— Ah, sim. Você está no encalço da garota de Konoha. E pensar que nós estávamos esperando pela chegada do outro... O jinchūriki da Kyūbi, Uzumaki Naruto. Não que estejamos reclamando do Hokage ter nos enviado você, é claro.

Ele se empertigou, deslizando a palma da mão ao longo da lâmina da sua espada.

— A sua cabeça será um prêmio excelente para Inoue-sama.

Repuxei a boca, mostrando-lhe os dentes num sorriso torto. Nesse instante, ouvi o gorjeio agudo de Garuda enquanto ele retornava para a batalha, suas asas imensas agitando-se sem parar e seu corpo mergulhando na minha direção.

Todos os três prepararam seus ataques, reunindo quantidades imensas de chakra em diferentes partes dos seus corpos. Flexionei meus joelhos ao mesmo tempo que a sombra do meu falcão tapava o mormaço frio acima das nossas cabeças. Ichiro esgarçou a mandíbula forte a fim de cuspir sua lava, Raiden projetou dos seus braços uma grande quantidade de relâmpagos enquanto Kazuhiko, por sua vez, moldou o vento em sua lâmina para criar foices imensas que retalhariam até mesmo o ar ao meu redor.

Meu braço esquerdo ainda estava dormente e não obedecia meus comandos, então segurei minha Kusanagi diante do corpo e aguardei, de mandíbula cerrada os seus ataques.

Tudo aconteceu ao mesmo tempo então a seguir: Garuda sobrevoou-nos velozmente, suas asas traçando um semicírculo perfeito metros adiante quando ele deu a volta, o olhar cravado nos meus oponentes. Jūgo e Suigetsu enfim interviram na luta, o primeiro tinha metade do corpo já transmutado, seu braço direito havia se tornado um punho gigante e no seu cotovelo propulsores expeliam chakra, aumentando seu poder físico.

Ele mirou tanto em Ichiro quanto em Raiden, poupando Suigetsu de ter que lidar com o usuário de Raiton sabiamente.

Já o segundo postou-se diante de Kazuhiko, recebendo suas lâminas de vento no próprio corpo, que se liquefez quase totalmente. Contudo, tão logo se recompôs, exibiu um sorriso troçador, encarando-o sem receios, para o desgosto do Nukenin.

Juugo esbravejou ameaçador antes do seu punho imenso se conectar com o solo abaixo dos nossos pés, levantando uma cortina de poeira de rocha; ele tinha uma expressão maníaca no rosto. Garuda chilreou alto mais uma vez, chamando minha atenção enquanto — finalmente — seu corpo se lançava na minha direção.

Saltei sobre o seu dorso, escapando do local do impacto enquanto a cortina de poeira ainda se dispersava. Raiden e Ichiro haviam recuado, como esperado, e encaravam Jūgo com uma expressão neutra. Garuda, mais uma vez, deu meia-volta e eu preparei os selos com apenas uma mão, já que meu braço esquerdo continuava inutilizável.

Acerquei-me de Jūgo e dos outros dois homens, concentrando uma imensa quantidade de chakra nos meus pulmões. Em seguida, preparei meu olho esquerdo, teleportando-me novamente bem sobre as suas cabeças num piscar de olhos. Posicionei meus dedos diante da boca e soprei o chakra superaquecido através dela.

Katon: Goukakyū no jutsu!

Uma imensa esfera de fogo tomou forma a partir do lança-chamas que a minha boca se tornou, como um novo sol brilhante. Vi Ichiro realizar alguns selos enquanto chakra fluía das palmas das suas mãos. Ele as bateu contra o solo e imediatamente um muro de rocha derretida ergueu-se diante de ambos. Ele era rápido, precisei admitir.

Minha imensa bola de fogo chocou-se contra a sua parede de rocha amalgamada com uma explosão ensurdecedora; as chamas se espalharam ao longo da parede resistente, mas não encontraram uma única brecha. Cerrei os dentes, frustrado, e liberei o chakra da minha Kuchiyose, fazendo Garuda desaparecer numa nuvem de fumaça branca.

A luta não seria tão fácil quanto eu havia imaginado inicialmente.

Atraído pela gravidade, que agora exercia seu efeito sobre mim, pousei no solo rochoso ao lado de Jūgo. Eu deixaria o terceiro homem com Suigetsu e Karin. Mas aqueles dois... Ichiro Terumi e Raiden, eles não eram Shinobis comuns. Não mesmo.

O Kekkei Genkai dos Terumi era perigoso, eu já tinha tido provas disso no passado quando invadi a Cúpula dos Kages e lutei contra a Mizukage. E quanto às habilidades de Raiden... Eu sentia que ele estava se contendo e ainda não havia utilizado nem dez por cento de todo o seu poder. Eles também estavam me testando, percebi amargurado, e voltei a cerrar a mandíbula.

— Quase pensei que não fossem interferir — comentei por alto para ambos Suigetsu e Jūgo e o primeiro soltou um risinho debochado.

— E estragar a sua diversão? Nem pensar — rebateu.

— Hm, isso está prestes a ficar bem sério.

Alertei-os para o perigo, mas nenhum deles moveu sequer um centímetro: Jūgo permanecia ao meu lado, leal e solicito, enquanto Suigetsu cobria minha retaguarda, lidando com o outro Shinobi. Karin estava em algum lugar, escondida em um ponto onde pudesse assistir a batalha, talvez. Fiquei um pouco preocupado porque a garota que os acompanhava não estava mais à vista.

— E você acha mesmo que nós íamos querer que fosse de qualquer outro jeito, Sasuke? — Suigetsu interrompeu a minha linha de pensamento e eu aquiesci.

— Então se preparem.

Adverti-os e os dois homens perante mim e Jūgo assumiram poses ofensivas; a parede de rocha amalgamada que eles haviam utilizado antes para se defender do meu jutsu desfazia-se aos poucos, o calor que delas emanava era impressionante.

Trouxe à tona o rosto de Sakura e minha determinação em derrotá-los abrasou-se. Eu tinha que vencê-los — e rápido.

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Bati à porta com os nós dos dedos, um tanto incerto. As lâmpadas de tungstênio dos postes de iluminação na rua zumbiam baixinho, assim como as asas das mariposas que eram atraídas e ludibriadas pelos fachos de luz amarela.

Ouvi vozes murmurando dentro do apartamento, seguido de um riso tão escandaloso que só poderia ter partido de Naruto. E foi ele quem me recebeu à porta, primeiro com uma expressão confusa, depois com um sorriso imenso que ia de orelha à orelha.

— Ei, Sasuke. Entra aí, cara! — disse-me, afastando-se da porta para me dar passagem.

Eu o fiz carrancudo, perguntando-me pela centésima vez desde que tomei a decisão o que diabos estava fazendo ali. Retirei as sandálias e acompanhei Naruto que, entusiasmado, sinalizava com a mão para que eu o seguisse.

— Nossa, Kakashi-sensei e a Sakura-chan vão adorar te ver aqui! Nós tínhamos até apostado para ver se você apareceria ou não...

Ele se virou para trás ainda com aquela expressão idiota e abobalhada na face.

— Pelo visto, Kakashi-sensei te conhece bem.

— Hm, ele disse que eu viria? — perguntei apático.

— Nah, ele tinha certeza disso!

Aproximamo-nos da cozinha e eu fui atraído pelo cheiro da comida. Meu estômago decidiu me lembrar de que eu não havia comido nada desde o almoço e eu reconheci o cheiro inconfundível de Gyudon (a carne estava sendo cozinha no molho), e de missoshiru.

Encontramos Kakashi e Sakura lá. Ele cortava alguns legumes na pia com precisão enquanto Sakura espiava um livro de receitas e mexia a carne na panela, vestia um avental e tinha o cabelo curto preso num rabo de cavalo. Ela parou imediatamente o que estava fazendo tão logo me viu.

— Sasuke-kun, você veio?

— Eu disse que ele acabaria vindo — Kakashi comentou com um sorriso que lhe chegava aos olhos e se escondia por trás da máscara.

Sakura sorriu para mim e o alívio em sua expressão me deu a sensação de que eu havia feito a coisa certa, no fim. Naruto passou o único braço pelo meu ombro e me arrastou para mais perto — para que pudéssemos atrapalhar ou ajudar eu honestamente não sei.

Mas, conforme o tempo passava e nós quatro nos espremíamos naquele cômodo apertado, com o vapor que subia das panelas fazendo minha barriga doer de fome, retrucando as idiotices de Naruto e os comentários impertinentes de Kakashi, percebi que não havia qualquer outro lugar no mundo que eu quisesse estar. Especialmente pelo sorriso de Sakura.

Mais tarde, nós nos sentamos à mesa e nos fartamos da comida. Sakura e Naruto eram quem mais puxavam assuntos, conversando sobre todo o tipo de coisa enquanto Kakashi tecia um comentário ou outro e eu oferecia os meus monossílabos pragmáticos.

Em certo ponto, porém, foi Kakashi quem mencionou o próximo tópico da conversa:

— Sakura — chamou-a e ela o fitou, ansiosa —, eu andei conversando com a Godaime e nós dois concordamos em lhe promover a Jōnin em breve. Tsunade-sama disse que não vê razão para adiarmos isso, uma vez que você contribuiu tanto durante a guerra e até mesmo dominou o Byakugō no In. Ela ficou impressionada com o seu relatório e da Shizune sobre os Zetzus brancos e disse que ele está ajudando-a muito a encontrar uma solução para o caso de Naruto e Sasuke.

Sakura piscou, parecendo-me incrédula por um instante. Então, conforme foi assimilando a seriedade do que Kakashi lhe disse, arrastou sua cadeira e se pôs de pé, reverenciando nosso ex-sensei e atual líder.

— E-estou muito grata pelo voto de confiança e prometo dar o meu melhor para não decepcioná-lo e nem a shishou! — declarou com segurança e recebeu um sorriso de Kakashi como resposta.

— Eu sei que sim.

Quando ela voltou a se sentar, sorridente, Naruto resmungou amuado ao meu lado.

— Ahh, mas e quanto a mim e ao Sasuke-teme?!

— Bem, você e o Sasuke continuam Genins por enquanto — respondeu-o divertido e Naruto vocalizou a sua chateação ainda mais alto, quase me deixando surdo quando o fez.

— Ahhh, mas não é justo, Kakashi-sensei!

Resmunguei sobre o timbre estridente de Naruto e me levantei para levar minha tigela suja até a pia. Assim que me vi longe daqueles três e da balburdia que eles sempre causavam, disfarcei um sorriso bobo.

Porém, precisava ser honesto comigo mesmo e admitir que havia tomado a melhor decisão. Que bom que eu decidi vir; eu jamais me perdoaria se perdesse outros momentos como este.


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Notas finais do capítulo

Mil perdões pela demora. Eu tinha esse capítulo quase prontinho desde semana passada, porém fiquei alguns dias sem computador e quando consegui retomar o capítulo, meu avô adoeceu e minha família toda está bastante angustiada. Aí, arranjar cabeça pra digitar foi difícil e eu só voltei a escrever hoje com muito custo.
...
Então, qualquer erro de digitação, mil perdões! Minha cabeça não está muito bem mesmo.
...
A luta continua no próximo capítulo e o retorno da Sakura se aproxima! :)
Muito obrigada a todos que comentaram! Nos vemos nos reviews.
Até o próximo.