Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP vol.2 escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 9
Segredos Se Revelam No Fim Do Dia




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Algumas horas depois, eu e Felipe estamos andando pela cidade da outra fronteira. O nome da cidade é Preparatory Hills e parece ser menor que Vallywood, mais ainda assim tem o mesmo ar suburbano. Os cidadãos são um pouco mais calados e sinto um clima estranho, como se uma nuvem cinzenta pairasse por ali.

Felipe aponta para uma cafeteria e estranhos às cores verdes e irritantes que enfeitam o lugar. Não seria tão feio, mas é clima de natal e juntando isso a cor do lugar, vejo que fica tudo ainda mais doentio.

Nos sentamos nos fundos do lugar e uma garçonete horrível nos olhos do balcão de longe, parecendo hesitante em querer nos atender.

– Tudo bem – eu me inclino para frente. – Precisamos saber como atravessar aquela barreira.

Felipe me encara e balança a cabeça.

– Não tem como – ele bufa. – Aquele feitiço é praticamente perfeito. Sem contar o tanto de energia que ela usou pra cria-lo. Não vai se desfazer assim, de repente.

– Mas precisamos atravessar – eu insisto. – Não podemos deixar a Dessa e o Edu daquele lado. Não com aquela Bruxa psicopata atrás deles.

Felipe balança a cabeça de novo.

– Aposto que eles estão se resolvendo melhor do que nós – diz ele. – Juntos eles dois são imbatíveis. Eu mesmo vi. E ainda estão com os armamentos no carro, o que significa que podem até mesmo mata-la.

Penso no que ele diz, mas me lembro de quando ela nos atacou no telhado. Eduardo só precisou desmaiar. Dessa conseguiu pega-la, mas a Bruxa foi esperta também.

– Mesmo que eles sejam fortes, ela também é – eu digo. – Só o fato de estarmos nessa cidade horrível significa que ela é forte.

Felipe não diz nada por um tempo e olha pela janela de um jeito pensativo.

– Bom, eu tenho uma teoria – ele toca o sal na mesa distraidamente. – Mas acho que como sou um novato inteligente – ele provoca. – Você não vai querer ouvir.

Eu semicerro os olhos e o cutuco. Um pouco do sal esparrama na mesa.

– Conta, vai – eu peço gentilmente. – Sua inteligência de novato irritante é boa nessas horas.

– Tudo bem – ele se lança para frente. – Olha, eu conheço esses tipos de feitiço, ela deve ter usado uma quantidade imensa pra fazer o que fez.

– Você já disse isso – aponto. – Tem como me dar um pouco de esperança?

– Eu estou, deixa eu continuar – ele fica sério. – Acontece que essa energia toda que ela usou cedo ou tarde vai ter que acabar. Ela não pode impedir todo mundo de passar por tanto tempo.

– Então o que esta dizendo? O feitiço uma hora vai acabar?

– Provavelmente – ele assenti. – Amanhã, no máximo.

Fico um pouco mais esperançoso.

– Então só temos que esperar – murmuro.

– É – ele se recosta em seu lugar e só percebo que estávamos próximos quando ele o faz. – Só temos que esperar... Até amanhã de manhã.

Eu avalio sua expressão cansada e me pergunto o porquê da inflexão da frase.

– O que foi? – pergunto.

Ele abre um olho para me encarar de volta.

– O que vamos ficar fazendo até lá?

Dou de ombros, um pouco nervoso com o “vamos”, que significa eu e ele.

– Podemos invadir algum lugar – eu sugiro.

Felipe abre os dois olhos dessa vez.

– Você já fez isso antes?

– Milhares de vezes – respondo e dou uma olhada para fora. – Não precisa ser uma pousada necessariamente.

– Tudo bem – ele se levanta e coloca os braços acima da cabeça para se espreguiçar. Uma parte de sua pele aparece e desvio o rosto. – Vamos arrombar algum lugar – ele sorri de um jeito felino.

* * *

Andando pelas ruas esquisitas da Preparatory Hills, finalmente chegamos a um cruzamento de duas ruas forçadas com construções cinzentas por todo o lado. Felipe anda ao meu lado, os passos ecoando os meus.

O lugar por ali é perigoso e nenhum de nós precisa ser inteligente para saber que a qualquer momento um ladrão ou algo pior pode aparecer.

Uma forma vermelha aparece alguns passos a frente e começamos a convergir mais rapidamente para ele, certos de que talvez seja uma casa de repouso ou algum hotel.

Porém, quando estamos chegando bem perto, duas formas escuras cobrem a frente da ruazinha. São dois homens, de formas atarracadas e barbar cheias.

Olho de lado para Felipe e ele sorri para a faca afiada na mão de um deles.

– Olha só o que temos aqui, Zach – fala um deles. – Dois mauricinhos bem-vestidos.

Reteso meu corpo e continuo andando. Vamos trombar neles em segundos e tira-los do caminho.

– Eu quero a roupa do loiro – diz o outro grandalhão.

– Qual dos dois? – o outro grandalhão questiona e os dois caem em uma risada idiota.

Quando chegamos a dez passos, paramos e esperamos por alguma coisa.

– Não vão correr? – pergunta o mais feio deles.

Felipe ergue o queixo.

– Por que vocês não correm?

Os dois riem alto e começam a andar. Mas e então, uma voz os interrompe:

– Parem.

Nós nos viramos para um garoto que parece ter uns 17 e um cabelo castanho-claro. Ele tem uma expressão séria no rosto e tem um bastão na mão esquerda.

– Mas, Zach... – um dos grandalhões reclama.

– Mas nada – ele semicerra os olhos. – Um deles tem uma espada.

Felipe arregala os olhos e encara o garoto. Eu o encaro também, estranhando a autoridade do garoto sobre os dois homens enormes.

Um dos grandalhões começa a andar até nós e eu deixo minhas garras amostra, me preparando. Ele as olha e seu rosto fica pálido.

– Que merda é essa?

– Deixa eles irem – o tal do Zach cospe no chão enquanto nos encara. – Podemos assaltar alguma velhinha aqui perto.

– O caramba que vão – Felipe saca a espada.

– Felipe – eu toco seu braço, esta quente. – Vamos.

– Não ouviu o que eles disseram? – ele se vira pra mim. – Eles vão querer assaltar alguém depois daqui e...

– Não importa – eu sussurro. – Isso não é problema nosso.

Ele me encara por alguns segundos e depois encara Zach. Tem olhos azuis cinzentos e uma expressão mortal. Pergunto o que alguém tão jovem pode fazer de tão mal assim.

– É melhor vocês irem logo – ele murmura me olhando de volta. – Antes que eu me arrependa.

Felipe finalmente abaixa o braço, mas ainda esta com a espada. Nos viramos e os grandalhões abrem caminho, parecendo um pouco assustados.

Continuo andando e noto que minha mão ainda esta no braço de Felipe. Tento afasta-la gentilmente, mas ele balança a cabeça.

Não sei bem porque ele fez isso, mas sinto que é melhor eu fazer o que ele pede. Antes de virarmos a rua, olho uma ultima vez para Zach e seus capangas.

Zach não parece assustado, parece curioso.

* * *

À tarde esta no fim enquanto nos esgueiramos na entrada do motel. A recepção fica longe dos quartos, dando o estacionamento como divisão. O plano é distrairmos a mulher da recepção enquanto invado um dos quartos.

– Eu distraio ela – Felipe cochicha pra mim no estacionamento.

– Por que você? – questiono um pouco alto demais.

Ele me olha com a testa franzida.

– Fernando, vai logo arrombar aquele quarto – ele diz assim, simplesmente, em um tom um pouco rude demais.

Mas eu não ligo e faço o que ele pede. Quando estou meio caminho do estacionamento, viro para ver que ele ainda esta parado e cruzo os braços.

– Vai logo! – cochicho.

Ele pisca e eu me volto para o outro lado do Motel. Tem uma escada com poucos degraus na frente e as luzes vermelhas do local contrastam com os enfeites verdes.

Talvez aquela cafeteria de antes pudesse ter se baseado assim, ao menos.

Quando subo a sacada, vou olhando de quarto em quarto para ver qual esta ocupado e qual não esta. No primeiro um casal assiste a um seriado de lobisomens passivas. No segundo, um cara esta sozinho e no outro duas garotas estão se beijando e nem ai para o que se passa pela TV.

Mas o terceiro esta apagado e a cama esta bem feita. Olho por sobre o ombro e Felipe esta se inclinando no balcão de uma loira, rindo sem parar e piscando para ela. Meu estomago se embrulha.

Rapidamente faço minha unha crescer no mindinho e a enfio no buraco da fechadura. Não demora muito para a porta se abrir e me jogo dentro do quarto.

Fecho a porta e observo Felipe. Ele ainda fica por lá, conversando alegremente com ela e pega sua mão. Olho a cena enquanto minha mente tenta me avisar de que tem algo importante que eu deveria me lembrar.

E então eu olho para o céu. Esta escurecendo. Olho para Felipe e ele esta saindo da recepção, não vai demorar muito para chegar até aqui.

Me recosto no canto do quarto, aninhando minhas pernas e meus braços enquanto penso em algum lugar para me esconder.

O banheiro é uma péssima opção, e ainda correria o risco de o Felipe entrar de um jeito nada agradável para nos dois. O armário é uma opção, mas ele cedo ou tarde procuraria. Olho para a porta e penso em sair por ela e correr dele, deixando o vincado de perguntas na mente.

Mas prefiro assim. Qualquer coisa é melhor do que ele me ver quando acontecer...

Me ergo do chão, desesperado, quando a porta se abre. Ele tem um sorriso no rosto, mas quando encontra minha expressão fica confuso.

– Nossa, Fernando – ele reclama e joga a espada em cima da cama. – Alguma velha pisou no dedo do seu pé? Que cara é essa, cara?

Eu olho para os lados, perdido, enquanto uma sombra se arrasta pelo estacionamento. Meus olhos se enchem de lágrimas com a frustração.

– Fernando? – ele bate palmas na minha frente. – O que foi? Por que esta chorando?

Mas eu apenas balanço a cabeça enquanto meu corpo formiga com o que esta acontecendo.

– Eu... – engulo em seco. – Eu sinto muito pelo que esta acontecendo... Sinto mesmo.

Ele faz aquele som que fazemos ao abrir os lábios para falar alguma coisa, mas já é tarde demais. Meu corpo todo estremece e não consigo pensar em um animal rapidamente.

Eu me transformo automaticamente na frente dele.


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