Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP vol.2 escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 3
Batendo Em Retirada




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Sinto que estou acordado, mas não abro meus olhos. Não sei o motivo de não conseguir, mas sinto a dor na minha barriga e me lembro da faca. Mantenho os olhos fechados para não olhar. Lembro que li em algum lugar que se uma pessoa ferida olha a própria ferida, isso pode ativar o medo e dificultar a recuperação.

Enquanto sigo meu próprio conselho, escuto as vozes dos outros ao meu redor.

– Pra onde diabos a vadia foi? – Andressa questiona.

– Eu não sei – escuto Eduardo responder. – Será que desceu para o depósito?

– Não – escuto a voz de Felipe um pouco mais alta e sinto que ele é o mais perto de mim. – Eu vi quando ela fugiu. Ela aparatou.

Tem um silencio curto.

– Tem certeza do que viu? – Eduardo questiona em um tom levemente provocativo.

– Você tem? – ele retruca. – Ah, não espera, você estava desmaiado.

Tem um ruído de passos e escuto uma palma bater contra algo sólido.

– Edu, não – a voz de Andressa corta o ar. – Não temos tempo pra isso.

– Eu só falei a verdade – desabafa Felipe.

– Vai se ferrar!

– Depois – ele retruca zombeteiro. – Depois que resolvermos esse pequeno problema.

Sinto seu ar em meu rosto quando ele diz isso e me reteso na hora. O quão próximo ele esta de mim?

– Como ela jogou a faca nele?

– Eu não sei. Em uma hora ela estava correndo e aparatou. Depois quando me virei, vi a faca atingi-lo – ele para por um segundo. – Acho que ela não aparatou para muito longe naquela hora.

Sinto uma mão em meu rosto e quase perco o ar. Porém, a mão é áspera e sei que se trata de Andressa. Ela toca minhas pálpebras e depois desce para medir meu pescoço.

– Ele esta legal – ela suspira. – Mas não entendo nada de medicinar para tirar essa faca sem que ele se machuque.

Tento não arfar ao ouvir isso, imaginando a faca ainda cravada na minha barriga. Porém, acalmo a mim mesmo e a meu corpo. Se eu permanecer parado, não tem motivos para temer.

Só vou morrer se sangrar até a morte.

– Eu posso dar um jeito nisso – Felipe fala de repente.

Nem preciso abrir meus olhos para saber que Andressa e Eduardo estão olhando para ele com cara feio. Duvidando dele, com toda certeza. Assim como eu.

– Aham, claro – Eduardo ri. – Como se fossemos deixar ele sobre os seus cuidados. Você é só um novato!

Ele esta sendo totalmente grosseiro e sem educação, perdendo o pouco de paciência que tem com apenas um novato e não posso deixar de ver o quanto isso é errado.

Porém, apesar de tudo, o tom de resposta de Felipe é calmo.

– Sabe, acho melhor vocês irem checar no depósito lá embaixo, só para verem se a Bruxa ainda esta aqui.

Um momento de silêncio.

– Vão – Felipe fala de novo. – Eu prometo que vou cuidar dele.

Dessa vez escuto passos e rapidamente os escuto partir.

Escuto Felipe suspirar e, não sei como, mas sinto que ele esta olhando para minha ferida.

– Isso é uma bagunça – ele diz de repente para si mesmo. – Só que o engraçado de toda bagunça é que dá para arrumar. E isso faz com que não seja mais uma bagunça. Não é algo meio que controverso?

Ele é louco, penso enquanto me mantenho em silencio e deitado.

– Não acha, Fernando?

Abro meus olhos e ele esta me olhando de perto.

– Eu sabia – ele sorri.

Franzo a testa.

– Como sabia...?

– Levar uma facada não nos deixa inconsciente – ele explica, erguendo uma sobrancelha. – Dói como uma vadia, mas pode ter certeza, não nos faz desmaiar. Seria fácil demais se fosse assim.

Engulo em seco e me recuso a olhar para baixo de mim.

– Você não precisava mentir para eles – digo. – A Dessa e o Edu não vão gostar mais de você se continuar mentindo.

Vejo-o franzir a testa para mim.

– Eu menti? – ele franze o cenho. – Quando foi isso?

– Ué, você disse a eles que ia conseguir tirar faca.

– E eu vou.

– Para com isso, Felipe – me contorço no chão e fecho os olhos. – Se fazer de forte não te mais forte.

– Concordo – sua voz se afasta um pouco. – Acho que só sobra ser forte, então.

Abro os olhos com curiosidade e o vejo futricar sua mochila verde musgo. De repente, tira de dentro dele um livro verde familiar.

– Espera – eu arfo. – Eu lembro desse livro. Você o estava lendo...

– Lendo? – ele questiona. – Não, eu não leio – ele abre em uma pagina aleatória. – E acho que nem a Anna também.

Fico confuso e o observo retirar algo de dentro do livro. Um saco transparente com várias folhas familiares dentro. Se parecem com as da capa do livro.

– O que é isso? – questiono.

– Verbena – ele sorri. – Acho que Anna vai me matar quando voltarmos, mas acho que vai valer a pena.

– Verbena? – eu guincho. – Mas isso não serve para matar Vampiros?

– Envenenar – ele me corrige cutucando meu braço de brincadeira. – Não mata na hora, infelizmente. E tem uma utilidade muito peculiar pelo que eu pude ler na contra capa.

– Que utilidade? – questiono, mas ele não me responde.

Levo um susto quando ele começa a se debruçar sobre minha barriga. Ele abre o saquinho de verbenas e pega uma folha com o polegar e o mindinho. Depois, coloca o saquinho de forma minuciosa em seu joelho.

– Não sei bem se devo espremer – ele diz a si mesmo, confuso de verdade. – Ah, vamos pelo instinto – ele dá de ombros.

Sinto seus dedos tocando onde a faca rasgou minha roupa. Ele toca minha pele com os dedos e sinto que neles tem uma substancia estranha. Espero sentir a dor quando seus dedos começam a tocar em volta da lamina... Mas ela não vem.

De repente sinto algo sendo puxado de mim e minhas costas são puxadas para cima. Meu corpo volta no chão e escuto um tilintar no chão.

Olho ao meu lado e gemo. A faca esta jogada ao meu lado.

– Não se mexe – ele avisa com urgência. – A faca pode ter sido removida, mas qualquer movimento vai fazer com que a ferida se abra.

– Ela não esta aberta?

– Está, sim – ele suspira. – Mas eu vou fecha-la.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele levanta minha camiseta e toca minha barriga com as duas mãos. Espero sentir a dor de novo, mas ela não vem.

A única coisa que sinto são os dedos macios e práticos de Felipe em meu dorso. Não sei o que pensar sobre isso, apenas fico nervoso.

Ficamos em silencio por um tempo, com ele limpando minha ferida.

– Não achei que você era assim – digo.

– Assim como? – ele pergunta ainda olhando minha barriga.

– Inteligente – dou de ombros, mas dói.

– Cuidado – ele adverte. – Não sou inteligente, Fernando, sou pratico apenas. Tem uma diferença.

– Isso com certeza é uma coisa que alguém inteligente diria.

Ele ri e me encara com os lábios mordidos.

– Eu também não achei que você fosse assim – diz de repente.

Franzo a testa.

– Não sou inteligente.

– Não quis dizer inteligente – ele balança a cabeça. – Estou falando do quanto você foi legal e tudo mais comigo, quando seus amigos não foram.

– Eles são legais também – comento com lealdade.

Ele retorce o nariz.

– Em uma realidade alternativa, só se for, certo?

Dou uma risada e reviro os olhos.

– Eles são, estou falando – insisto. – É só que pra eles é muito difícil aceitar alguém tão facilmente. Precisam ter certeza que podem confiar antes.

– Sei – seu tom é sério. – E você é assim também?

Encaro seu rosto.

– Olha, Felipe, você esta limpando minha ferida causada por uma Bruxa que você mesmo enfrentou. Não precisa de muito mais que isso pra ganhar minha confiança.

Ele fica em silencio, o olhar vago e distante.

– Aliás – lembro-me de algo. – Por que a Bruxa não estava conseguindo lançar um feitiço contra você?

Ele não responde a essa pergunta e Eduardo e Andressa estão de volta. Olho para cima e Felipe esta se levantando. Decido me levantar também, mas ele acena que não.

– A ferida ainda pode se abrir – ele avisa.

– Não ligo – respondo, mas ele revira os olhos e me ergue do chão, rebocando meu corpo com uma mão na minha cintura e colocando um braço meu ao redor de seu ombro.

Fico impressionado que ele consiga fazer isso, pois sou muito mais forte que ele no quesito músculos e tudo mais. Porém, olho seu rosto e vejo que sua testa esta vincada.

– Você não precisa se esforçar tanto.

– Não estou – ele sorri, mas vejo que seu tom trai sua resposta.

– Não precisa sofrer aí por muito tempo – o tom de Edu ainda é de desprezo, mas agora parece meio contido.

– Por quê? – pergunto.

– Encontramos um carro – Andressa responde. – Vamos dirigir até Vallywood.

– Algum sinal da Bruxa?

– É por esse motivo que estamos indo lá – Edu responde. – Vamos acha-la.

– Só precisamos nos repousar um pouco – Andressa comenta.

Felipe então muda o peso de corpo, me firmando mais ao seu lado.

– Eu conheço um lugar – ele diz.

Andressa e Eduardo o encaram com desinteresse.

– Conhece é?

– Sim – ele assenti e os dois suspiram em contradição.

Mas rapidamente me viro para olha-lo.

– Nos leve então.


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