Futuro, Volume II - Futuro Perdido escrita por MikaTag


Capítulo 4
Perguntas e respostas - Tris


Notas iniciais do capítulo

O que será que espera nossa amiguinha Tris?



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Acordo um pouco mais cedo que o normal, permaneço deitada na minha cama, com os lençóis me cobrindo até os ombros, está um pouco frio aqui dentro do quarto e tento me virar um pouco para ver através da janela que fica atrás da minha cama, o céu está um pouco escuro agora, uma cor parecida com um oceano visto a noite e lembro que estou me sentindo bastante nervosa para o julgamento de hoje. Não pensei que teria que passar por isso algum dia na minha vida, já basta todo o choque que eu tomei durante todos os dias morando – acho que está mais para resistindo – lá na Sede da Erudição. Acho que aquilo já foi uma experiência um tanto ruim o bastante para alguém com tão pouco tempo de vida como eu – como nós, Chris, Tobias, Caleb e principalmente Al, que não mereceu morrer assim tão novo e tão drasticamente. Sinto uma dor de tristeza me consumindo por dentro, sinto que vou chorar, uma angústia passando por dentro do meu peito. Coloco as mãos onde eu acho que deve ficar o coração para ver se essa dor passa, mas não fez diferença nenhuma, não causou nenhum efeito positivo. Começo a chorar, só de pensar na morte de Al e de todos os meus amigos que estavam presentes. Continuo sem me mover aqui na minha cama, sinto as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas, tiro as mãos de baixo do cobertor para enxugá-las, mas está tão frio que faço isso rapidamente. Penso em Will. Onde ele deve estar nesse exato momento. Será que ele está sabendo de tudo isso? Muito suspeito esse paradeiro dele, ficamos bastante preocupados, espero que ele reconheça tudo isso. Se também não estiver morto uma hora dessa.

Fico mais alguns minutos deitada na minha cama, analisando, pensando em tudo que eles poderiam me perguntar e tudo que eu poderia responder nesse julgamento – que não estou nem um pouco animada. Chamo de julgamento mas, está mais para um interrogatório. Com meus olhos abertos percebo que o meu quarto está começando a ficar mais claro, e meu mais ansiosa e nervosa, mas tenho que seguir em frente, não posso deixar isso me abater. Então eu me levanto da cama e vou tomar um banho. Ligo o chuveiro e sinto a água quente escorrendo pelo meu corpo, uma sensação muito boa, me faz sentir livre, feliz, sem estresse.

Visto uma roupa e sigo para a minha janela para apreciar um pouco a vista, vejo muitas árvores, percebo que o céu está totalmente azul e sem nuvens, vejo umas pessoas andando e caminhando pelas ruas e também vejo alguns bichos, e por um momento sinto uma pontada de inveja neles, não precisam se preocupar com muita coisa, já eu …

Analisando essa vista, percebo, que temos que aproveitar as pequenas coisas. Porque são elas que fazem nos sentir mais felizes, como um banho ou até uma vista assim do meu quarto. Porque simplesmente de uma hora para outra, nem essas pequenas coisas podemos ter. Como quase eu perco tudo, entrando com a cara e a coragem nos laboratórios de Jeanine e de David. Lembro do aeroporto e percebo que depois do meu teste de aptidão não tive muitos momentos felizes. Somente com Tobias – e receio dizer que com Eric também, não me orgulho em dizer isso.

Decido não tomar café da manhã, estou nervosa demais para me dar esse luxo, sinto que se eu colocar algo na minha boca posso vomitar. Não estou bem. Sei que não era para eu estar assim, estou nervosa com besteira mas … só que o problema não é só o interrogatório mas … tudo que já passei para chegar até aqui, acho que não me fez bem. Ouço passos no corredor através da minha porta, vejo as sombras dos pés das pessoas pela brecha que tem entre o chão e a porta. Todos os outros já estevem estar lá no refeitório comendo. Acho que devem estar se perguntando onde eu estou. Espero que no dia do interrogatório deles, não fiquem tão frágeis e tão nervosos como eu estou. Espero que fiquem bem.

Saio no meu quarto para dar uma volta e espairecer. Viro o corredor, que no momento está vazio – o que é um milagre, pois estamos lotados – e sigo em direção ao conjunto de elevadores, deve ter uns sete ao total. Cinco estavam desativados, mas foram reativados para suportar a grande massa. Olho para o visor acima de suas portas e vejo qual é o que está mais próximo do meu andar, vejo que é o que está no fim do corredor, próximo a porta que dá acesso à escada. Chego na frente dele e quando aperto o botão a porta da escada ao meu lado se abre e vejo Al sair por ela. Minha boca se escancara. Al? Como assim ele pode estar vivo?

Sinto que voltei à realidade e minha visão destorce e vejo que tem uma menina um pouco mais baixa que eu e morena me encarando. Christina.

– Oi Tris – diz ela me dando um abraço – como você está? – ela diz passando a mão pelo meu rosto.

Não gosto muito quando as pessoas me tratam como se eu fosse uma bonequinha de porcelana. Passei por coisas que noventa por cento da cidade não passou ainda. Miro nos olhos delas e sinto uma lágrima escorrer o do meu olho. Mas não de tristeza mas sim de felicidade, por ter um ombro amigo para me ajudar quando sempre preciso.

– Triste – digo – bem triste. Mal posso esperar que isso tudo acabe. Estou doida para cair fora desse lugar e viver uma vida realmente decente. Como qualquer um. Sem coisas de Divergentes, interrogatórios a cada uma semana. Não consigo suportar mais nada disso.

Me encosto na parede do corredor oposta a porta dos elevadores, e deslizo até o chão, chorando. Christina senta ao meu lado e começa a alisar o meu cabelo.

– Tris – diz ela – sabe quando o Al morreu?

Olho para ela. Não consigo nem escutar mais aquele nome. Sinto repulsa. Vontade de vomitar mas lembro que não comi nada mesmo. Aceno com a cabeça confirmando o que ela disse.

– Então, você me ajudou bastante a me lidar com isso. Você disse para eu seguir em frente e deixar o passado ruim para trás. Ficar comigo somente as lembranças boas. As que farão eu me sentir bem daquele dia em diante …

Me sinto um pouco melhor.

– … e agora eu estou aqui. Firme, um pouco, mas firme. Para lidar com qualquer coisa. Não vou deixar alguns policiais que um dia foram da audácia me abalar com algumas perguntas. E espero que você aja assim também.

Eu abraço ela com toda a força que eu consigo encontrar dentro de mim. Quero expulsar toda a dor que um dia me consumiu e jogar fora bem longe daqui e para que ela nunca mais volte.

– Christina – digo – você é a melhor de todas. Pode ter certeza disso. – e abraço ela mais forte ainda. Sinto o cabelo dela no meio do meu rosto fazendo com que eles abafem o som do meu choro, que eu acho que está um pouco alto.

Continuo sentada no chão, o momento está tão bom que nem tenho vontade de me levantar.

– E sabe de mais Tris? – continua ela – Você é simplesmente a pessoa mais forte que um dia eu já conheci. Acho que está para nascer alguém que vá lhe superar. Ninguém, nem mesmo Jeanine, David ou Patrick, conseguiu superar a sua brutalidade. Você é um exemplo Tris, acho que todos deveriam se inspirar em você. Qualquer um que te conhece bem e sabe pelo que você passou sabe disso. Não deixe nada te abalar. Você é mais do que todos.

E com esse último e mais forte conselho eu me levanto ajeito as minhas roupas que por todo o movimento estão amarrotadas, enxugo as minhas lágrimas e vejo que o elevador estava esperando por mim desde quando o chamei. Entro no elevador e percebo que Christina não está vindo comigo.

– Você não vem? – pergunto

– Não. Vou ali no meu quarto. Depois nós nos encontramos. – finaliza ela com uma piscadela para mim. Aceno uma despedida para ela e ela retribui.

Aperto o botão que me levará ao térreo, o elevador demora um pouco para acabar a sua viagem. Quanto mais perto chega ao térreo mais alto fica um barulho de uma multidão Sinto que ele chegou a porta se abre e me dou de cara com o hall cheio de pessoas. Uma multidão, mais do que o normal.

Olho para os lados mas não encontro nenhum rosto conhecido. Vou seguindo em frente, me debatendo e me espremendo entre várias pessoas, percebo que todas estão se orientando para um mesmo ponto. A saída. Mas por quê todos querem sair do prédio? Será que foi fogo? Acho que não, se não todos saberiam. Não tenho a mínima ideia. Estou quase chegando na porta e a multidão fica mais densa, as pessoas estão se recusando a sair do caminho.

Dou alguns pulos para ver por cima das pessoas – pelo fato de eu ser baixinha – e encontro Evelyn mais perto da porta. Ela sim deve saber o que está acontecendo. Depois de uma luta e de uns empurrões chego perto dela. Toco o seu ombro e ela se vira para mim.

Estava pronta para perguntar “O que está havendo?” Mas ela me faz uma cara triste e me chama para segui-la. Então faço o que ela pede e a sigo através de uma porção mais moderada de gente, consigo sair do hall da sede e como de costume não consigo acreditar no que aconteceu.

Vejo um corpo jogado no chão e vários médicos ao redor do corpo.

– Ela não está morta, mas foi uma tentativa de suicídio – esclarece Evelyn ao meu lado

Ela? Como assim ela? Não reconheço o corpo direito e tento focalizar a minha visão. Como pude ser tão lerda, tão burra. Era Christina. Sinto a bile subindo pela garganta. Eu sou mais do que isso.

Tento me controlar ao máximo. O máximo que consigo. Não choro. Eu sou forte. Não vou chorar. Não agora, não por causa dela, não posso. Por um momento ouço a voz dela na minha mente “Você é mais que todos”. Vou honrar as palavras delas.

Vejo que os médicos estão levando ela para a ambulância. Ela não está morta, vai continuar viva.

Depois dessa cena, saio do lado de fora e entro novamente no hall. Vou em direção ao refeitório, estou me sentindo mais forte e mais destemida que nunca, coloco bastante coisa no meu prato, nada disso vai me abater. Sento-me sozinha no refeitório, não resta mais quase ninguém. Vejo Tobias vindo em minha direção.

– Tris – e me viro para olhá-lo – você está bem? Já soube o que aconteceu? Não tive oportunidade de ver ela lá …

– Sim Tobias eu vi – digo friamente – e agora estou mais pronta que nunca para o julgamento. Esse acontecimento me deixou mais forte. Não vai me enfraquecer. Nunca. Jamais.

Ele me olha surpreso e me dá um beijo na bochecha.

– Tobias, você pode me deixar sozinha? Estou precisando desse momento para me preparar. – digo enquanto estou comendo o que restou no meu prato, algumas torradas.

– Como você quiser. – diz ele se levantando e piscando pra mim.

Termino o meu café da manhã e logo após isso ouço uma voz na caixa de som. Uma voz que não conheço mesmo.

Beatrice Prior, por favor dirigir-se à sala de número 20B no corredor A para comparecer ao interrogatório que está ciente que ocorreria hoje”

Estou pronta.

* * *

Sigo uma série de corredores que compõem o bendito corredor A. Viro várias vezes várias entradas até chegar a um corredor com uma placa escrito C-20 que deve significar corredor dos 20, porque ao entrar nele me deparo com todas as portas com o número 20. A minha sala é a 20B. Então me dirijo a ela.

Paro em frente a porta e dou uma grande respirada. Toco a maçaneta, está bem fria, mas agora não estou ligando para muita coisa. Entro na sala.

Ela não é muito grande, na verdade, ela é pequena, tem somente uma mesa e uma cadeira, acho que eles devem ter aprontado essa sala para o meu interrogatório, porque não faz sentido um grande corredor só com salas de interrogatórios.

Sento na cadeira de frente a um cara, com aparência jovem, torno dos vinte e sete anos, um pouco bonito, mas nada com que eu sinta atração. Coloco as mãos em cima da mesa e junto-as – para demonstrar que ele pode vir com tudo que não estou com medo.

– Bom Beatrice – diz ele – primeiro deixe-me apresentar, meu nome é Toby Cavanaugh e vou ser aquele que vai te fazer as perguntas. Vamos começar sem intervalos para andarmos rápido. Porque sei que nem eu nem você queríamos estar aqui.

Mas acho que você está sendo pago pra isso. Penso.

– Ok – confirmo.

– Primeira pergunta: Como você conseguiu achar Jeanine nos laboratórios?

– Segui ela. Ela estava com um rosto com um ar de desconfiada e desceu o corredor de Entrada Proibida. Então, acho que o destino você já deve está ciente. – e sorrio para ele.

Ele não parece ter gostado nem um pouco do meu sorriso.

– É, mas então … segunda pergunta: o que você viu quando chegou lá?

Conto para ele tudo que aconteceu quando chegou lá, na verdade quase tudo, só faltando uma coisa …

– Mas então Beatrice estou sentindo você bastante segura nas suas respostas.

– Obrigada.

– Então vamos para a última pergunta – diz ele colocando as mãos abraçadas e em cima da mesa, iguais as minhas.

– Manda a ver – digo, desafiando-o, porque só de entrar nessa sala percebemos que não fomos com a cara um do outro.

– Bem esperta você, mas … me conte uma coisa: você matou Al?

– O que? – entro em choque, me destabilizo um pouco – como assim? Nunca. Eu nunca faria isso, ele era meu amigo. Isso é um absurdo.

– Pois bem … sabemos nos circuitos das câmeras de segurança que a senhorita estava do lado de Jeanine Matthews.

– Eu.Não.Mate.Al. – repito para ele soletrando – e agora me responda uma coisa você: Você roubou ou não roubou o dinheiro …

– Quem faz as perguntas sou eu Beatrice – diz ele me interrompendo

– É, mas acho que Jenna Marshall não ia ficar contente de ter uma por aí sabendo de tudo.

– E quem seria essa uma?

– Quem mais? – olho ao redor da sala como se procurasse alguém, mesmo sabendo que não teria ninguém ali – Eu.

– Conheço você. Você gosta de desafiar e de ser desafiada, pois então aqui vai um desafio, ou melhor um enigma para você: você acha mesmo que Christina estava a fim de se jogar do prédio?

Fico em choque.

– O que você quer dizer com isso. – pergunto com meus olhos arregalados.

– Entenda como quiser. – diz ele – Interrogatório encerrado.

Levanto da cadeira e um segurança abre a porta para eu sair.

– Ah, esqueci de uma coisa Beatrice

– O que?

– Boa viagem … – finaliza ele

– Mas o que … – e o segurança fecha a porta a minha cara.


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Notas finais do capítulo

Pobre Tris, Christina não é a única que pode te dar conselhos, também posso, quer ver: Cuidado, porque quem brinca com fogo, pode se queimar.
XOXO Facção News



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