Estou deitada na cama do meu quarto na Sede da Franqueza, um ambiente frio, escuro e não muito confortável com o qual eu já estava acostumada lá na Sede da Erudição. As cores da Franqueza são basicamente preto e branco, o que faz com que meu quarto tenha esse ar de escuridão e de frieza. As facções foram abolidas desde de que Evelyn assumiu o poder, os prédios são tudo o que restaram delas. O meu quarto não é muito maior do que o meu antigo, mas, pelo menos, é uma suíte. Tem uma janela de tamanho médio no fundo dele, o que do contrário da Sede da Erudição que era totalmente de janelas, proporcionava ambientes mais claros e agradáveis. Não sei se falaria isso em algum dia na minha vida mas, a Erudição seria o melhor lugar em que eu poderia estar agora. Eu me sentia livre, segura, feliz sabendo que nenhum mal poderia ocorrer a mim e aos meus amigos, que falando neles, estão aqui na Sede comigo, Christina está enlouquecida, coitada, vários acontecimentos aconteceu naquela época – que na verdade faz uma semana. O paradeiro de Will – ele não apareceu aqui na Sede desde os acontecimentos, o que me faz pensar e ter uma pontada de culpa, se ele pode ter morrido na explosão – e a morte de Al, bem em sua frente. Ela está frequentando uma clínica agora, tem médicos cuidando dela, rezo para que fique realmente sã. Tobias está o que sempre já foi um dia, bravo e forte, parece não se abalar com nada, nunca, nem com tudo que já vimos naquele aeroporto ou naqueles laboratórios, mal posso acreditar. Caleb, meu querido irmão, achávamos que ele era um tremendo traidor, no momento que ele se juntou a Patrick lá nos laboratórios, me fez querer chorar, pensar que meu irmão iria nos trair daquele jeito, mas pelo visto, tomamos conclusões precipitadas, Patrick na verdade queria nos ajudar desde o começo, mas porque ele mesmo não parou com os experimentos? Patrick era -U o tempo todo, o avião, os cartazes, as mensagens, os e-mails, tudo, sempre foi ele querendo nos alertar. Se percebesse-nos isso antes, poderíamos ter parado aquela explosão, a contagem regressiva, que a cara minuto, a cada segundo que se passava me fazia querer vomitar, nada daquilo poderia ter acontecido.

Isso me faz lembrar que ainda estou deitada na minha cama, mirando o teto e quase chorando. Daqui a alguns dias começará as entrevistas, para saber do ocorrido, entrevistará todos, eu, Caleb, Tobias, Evelyn e Christina e logo após entrevistará as pessoas que algum dia acha que tiveram ligações conosco: Eric.

Não me importo muito com Eric, sei que ele gostou de mim, posso ter até beijado ele, mas não tenho mais nenhum sentimento por ele, nada mais que um colega. Estou com Tobias e é com ele quem eu quero estar. Não importa o que aconteça.

Levanto-me e vou em direção ao banheiro, o chão gélido contra os meus pés descalços me fazem caras e bocas, vou na ponta dos pés. Tiro meu traje de dormir e me jogo para baixo do chuveiro. Ligo a água quente, a melhor sensação do mundo, a água quente batendo no seu rosto e no seu corpo enquanto o dia está bem frio lá fora. Pego a minha toalha e passo devagar por todo o meu corpo e me enrolo nela, passando para o meu quarto, que está muito frio, apesar de está um solzão lá fora. Visto minha roupa, que se baseia em uma calça de moletom e um casaco bem grande para poder me aquecer.

Calço os meus pés e saio do meu quarto, os corredores aqui na Franqueza estão sempre muito limpos e movimentados, por conta de superlotação que a Sede está sofrendo, tiveram que dobrar a quantidade de funcionários em todos os serviços e aumentar as suas cargas horárias, todo o Lado Leste, as próprias pessoas da Franqueza e o pessoal da Erudição. Não me familiarizei com o lugar ainda, não temos elevadores no momento, por causa do baque que o sistema de energia teve por conta da explosão da Erudição.

As pessoas aqui são bem sinceras, caso ao contrário não estariam aqui na Franqueza, mas são além do limite, o que acho isso um pouco grosseiro, mas, em contrapartida, elas são bem-educadas, dizem bom dia a todos que passam com um sorriso largo no rosto ou com um aceno de cabeça.

– Bom dia – dizem eles.

– Bom dia – sorrio e aceno de volta. Para todos eles.

Isso acaba sendo meio chato, mas, pelo menos, depois do almoço nós falamos Boa Tarde.

Vou em direção a escada, tentando desviar-me de todas as pessoas.

– Bom dia – escuto

– Bom dia – digo e rindo um pouco forçado.

Meu quarto se encontra no segundo andar, então tenho que descer quatro lances de escadas, o que com essa gente toda parece uma eternidade. Uma multidão bloqueando as passagens e a escada, sinto que Evelyn terá que nos mudar o quanto antes, porque não aguentarei isso por muito tempo. Sempre uma luta para fazer qualquer coisa aqui nessa sede. Quando finalmente chego ao hall de entrada vejo que está parecendo um festival, de tanta gente que há.

O hall é feito de madeira escura, com alguns bancos nas paredes laterais, atrás de mim tem a saída da escada, a minha esquerda um balcão da recepção, a minha direita um corredor bem grande que dá para alguns dormitórios, salas de negócios, sala da comandante e inquisidora – Evenlyn. Mais para a esquerda além do balcão, tem as portas para o refeitório e mais para o lado um corredor que dá no salão de festas, que faz me lembrar do baile na Erudição.

– Deve ter, pelo menos, umas duzentas pessoas aqui – ouço um senhor, baixo e de cabelos esbranquiçados que está passando em minha frente dizer

Olho para o relógio atrás de um balcão a minha esquerda, dez e meia, a essa hora todos já devem estar no refeitório para o café da manhã. Sigo para o refeitório, vejo que tem 3 pares de portas pelas quais podemos entrar, precisam de mais portas para passar mais gente. Entro no refeitório.

Vou em direção a mesa em que pegamos as comidas, passando e me esbarrando por várias pessoas.

– Bom dia.

– Bom dia.

Pego um prato e vejo que o café aqui é mais variado que o da Erudição. Então eu pego uma porção de torradas, geleia, pães e um suco de uma fruta que não conheço que parece ser bom. Tento procurar acima de todas as cabeças onde estão os meus amigos para poder me sentar junto a eles. Até o momento em que meu celular toca. Dou um pulo, sempre que meu celular toca fico assustada, desde -U.

Pego meu celular e vejo que só é Tobias:

Olha pra cá, estou acenando

Levanto a minha cabeça e vejo ele em pé acenando, um pouco longe de mim, ao lado da mesa em que estão Christina, Caleb e Eric.

Me dirijo até eles.

E a minha nossa jornada começa.