Buki caminhava lentamente pelos largos caminhos da prisão. Abria passagens secretas, desviava de inúmeras armadilhas, com feições quase que inexpressivas.

–Os humanos falam sobre céu e inferno, caminhos a ser tomados após a morte...- Sussurrava ele com um tom de decepção em sua voz- Mas eu sou quase imortal, e visito o inferno constantemente, sem nem precisar sair da terra... Que vida miserável eu fui escolher ter.

Seguia em frente, com a mente perdida nos pensamentos, e perincipalmente em seus passados arrependimentos.

Continuava a caminhada sem rumo, e torcia ao máximo para não encontrar Kazumi no caminho, caso contrario... Ela deveria dizer adeus ao seu lindo rosto.

–Por que? Por que você tem que tirar a única coisa que eu amei em minha vida, aquela mulher... Ela me fez sentir vontade de viver... Uma vida digna... As vezes eu só queria acordar, e saber que nada disso não passou de um pesadelo- Enquanto falava, parecia lutar contra si próprio, contorcia-se e mexia a mão sobre a cabeça histericamente.

“Você escolheu isso”, vozes sussurravam em sua mente, “a maldição só vai até aqueles que querem, miseráveis são aqueles que pensam que a controlam”.

–Cala a boca!- Gritava ele, ajoelhado no chão- Eu não tenho culpa... Eu fui obrigado... Eu juro...- uma lagrima escapou de seu olho verde, que antes pertencia a Kazumi- Eu só queria uma vida melhor. Descobri da pior forma, que a troca equivalente não funciona com as maldições...

Ele permaneceu ajoelhado por alguns minutos, até que sentiu um enorme choque em seu peito, parecia ter levado uma facada. Tossiu sangue, e então, entrou em panico.

“Merda!” pensou “A nossa conexão... Tenho que salva-lá, Foda-se que aquele filho da mãe quer a cabeça dela, quero que ele se foda. Essa mulher e bem mais importante que ele e que seus tolos ideias”.

Buki corria em uma velocidade inacreditavel, atento a tudo. Seus pasos eram tão leves que não podiam ser ouvidos nem pelo mais poderosos dos paladinos.

Ao longo do percurso, recebeu outros choques daquele, em diferentes partes do corpo.

Poucos minutos depois se deparou com uma cena terrível, Kentaro estava em posição de ataque, com os olhos totalmente brancos, com a marca da maldição percorrendo todo o seu corpo. E o pior de tudo, kazumi estava sem seu tapa-olho, com um olhar raivoso, pescoço gravemente ferido, estava muito semelhante a figura de um demônio prestes a matar alguém friamente. Ela estava completamente ensanguentada, e ele sabia, que aquele sangue era somente dela.

...

Minutos antes

Kentaro havia cravado uma pequena agada no peito de Kazumi. Ela rapidamente se afastou jogando-se no chão.

–Eu preciso terminar o serviço- Disse ele sem um pingo de emoção em sua voz.

–P-por que?- Perguntou ela ainda em choque, com adrenalina escorrendo em suas veias.

–Ordens do mestre.

M-mestre?!- Indagou ela segurando no grande corte, muito sangue escorria.

Ele não respondeu apenas se aproximava dela como um robô, sem emoções, lentamente.

–Você não é o Kentaro- Disse ela desesperada- Deixe-o livre!

O rapaz continuava a se aproximar.

–Eu não vou me render dessa forma... Não me obrigue a machuca-lo- Implorava a garota, quase que como uma ordem.

Ele ergueu-a do chão, segurando em seu fino pescoço.

–Me desculpe Kentaro...- Usando suas ultimas forças, ergueu suas mãos e retirou seu tapa-olho- Mas não vou me render, mesmo que seja a ultima coisa que eu faça, vou te libertar.

Ela deu um incrível soco, que jogou Kentaro na direção contraria.

Ela rapidamente derrubou-o não chão com uma rasteira, segurou em seu pescoço, prestes a mata-lo, mas de repente parou.

–E-eu não posso.- Falava ela, com as mãos na cabeça e olhos fechados- Não sou um demônio.

Mas esse pequeno intervalo foi o suficiente para Kentaro derruba-la no chão, e acerta-la com inúmeras facadas.

Ela reagiu depois de um tempo, agarrando a parte afiada da faca com as mão, no ato ela soltou um berro.

Levantou-se e pulou para trás.

Os dois então ficaram parados, em posições ofensivas, apenas aguardando uma abertura.

“O meu olho demoníaco pode até me da uma grande resistência, mas dessa forma, não vou durar muito tempo” pensou, sentindo o sangue escorrer pelas feridas.

Ela só não desmaiava de dor, pois a mistura da adrenalina e o poder do olho anulavam quase que por completo as dores causadas pela ferida.

Os dois permaneceram daquela forma ,até que uma sombra acertou Kentaro pelas costas.

–Seu desgraçado- Gritou Buki quando acertou a nuca do garoto.

Ele caiu no chão, e Buki continuou a soca-lo incontrolavelmente.

–Pare!- Gritou Kazumi entrando na frente de seus ataques.

Buki imediatamente parou, mas Kentaro mal conseguia se mover.

–Ele quase te matou!- Falava Buki sem entender.

–Isso não é ele!- Falou ela sentando de joelhos no chão- Ele nunca faria isso.

Buki sabia que tudo aquilo tinha relação com o sentimentalismo humano, algo que não compreendia bem desde que se tornou um demônio.

–Amor é uma coisa muito estranha...- Disse ele com um pequeno sorriso, entando e aproximando-se de Kazumi- Mas ele é um cara de sorte. Venha deixe eu analisar esses ferimentos...

Ele mal terminou a frase e garota desabou no chão, mas ainda permanecia acordada.

–Merda!- Disse ele desesperado- Você perdeu muito sangue

–P-por que está me ajudando?- Perguntou ela tossindo.

–Digamos que eu finalmente reuni coragem suficiente para lutar... E você merece o meu esforço.

–Eu... Não compreendo- Perguntou ela esforçando-se para continuar acordada.

–Kazumi... Me desculpe- Falou ele com lagrimas em seus olhos, ajoelhado próximo a ela. Ele segurou a mão da garota- Vou devolver o que roubei de você, pegue suas memorias.

Ele concentrou-se, e então o silencio dominou o local por varios minutos.

–Eu não mereço seu perdão... Mas... Obrigado por tudo, você me fez acordar- Disse ele com a voz falha, deixando as lagrimas escorrerem.

Ela encostou a mão no rosto do rapaz. E por alguns minutos os dois permaneceram em silencio.

–Eu te dou meu perdão- Com um pequeno sorriso no rosto- Você merece muito mais que meu perdão.

–Kazumi...- Fraquejou ele.

–Agora... Você pode ouvir os meus últimos desejos?!- Disse ela abraçando o rapaz, com a pouca forças que restava.

Continua...

Kazumi: