“Lá estava ela, pálida, cheia de sangue.

Segurei em sua mão o tempo todo, mesmo ela estando desmaiada...

A sala de emergência entrou em agitação assim que entramos pela porta.

– Você pode nos contar o que aconteceu?? – Um dos vários médicos no local perguntou.

– Eu... – Olhei para todos os lados não acreditando que tudo aquilo estava mesmo acontecendo. – Ela levantou no meio da noite com dor e foi ao banheiro... – Novamente a cena dela desmaiando em meio ao sangue veio á mente, a cena que eu estava com todas as minhas forças tentando esquecer. – Ela desmaiou... Tinha muito sangue...

O medico olhou para a Ally deitada na maca e exigiu um ultrassom com emergência. O bebê!!

– Você já sabe o sexo do bebê?? – Ele passou um gel na barriga dela, e chamou alguma enfermeira para fazer o ultrassom

– Não... Ally queria que fosse surpresa...

Os outros médicos da sala de emergência começaram a preparar a sala de cirurgia para a Ally.

– Podem leva-la. – O medico ordenou e pediu para que eu fosse até a sala de espera, não me movi, eu ficaria com Ally até o fim.

– O que vão fazer com ela?? Vão operar?? – Continuei segurando em sua mão, se ela fosse até a sala de cirurgia, eu iria junto. – O que aconteceu?? Por que ela esta assim??

– Austin... – Ele colocou a mão em meu ombro, tentando, de alguma maneira, me deixar mais calmo. – Eu irei fazer o possível e o impossível para que Ally e a bebê fiquem bem. Eu vou cuidar dela.

Após a (falha) tentativa de me deixar tranquilo, soltei a pequena mão da morena e depositei um beijo em sua testa.

– Eu te amo pequena.

Dei-lhe um selinho demorado. Os médicos no local assistiam toda a cena em silencio.

Eu estava me despedindo de Ally.

– Desculpe Austin, mas temos que leva-lá. – Uma enfermeira aproximou-se da maca.

Olhei para Ally deitada. As lagrimas começaram a vir.

Beijei sua testa pela ultima vez,e por fim, a levaram.

Sentei ali mesmo, no chão do corredor, sem me importar com as pessoas que lançavam olhares de pena sobre mim.

Tudo isso era minha culpa, eu deveria ter levado ela ao medico assim que eu percebi que algo estava errado. Eu deveria ter cuidado dela. Eu prometi que cuidaria dela, prometi que a faria feliz, e olhe onde ela esta, em uma maca, indo para a sala de cirurgia.

A cada centímetro que a maca de Ally se distanciava, mais e mais lágrimas caiam.

Ah, como eu queria estar no lugar dela. Eu faria qualquer coisa para ir naquela sala de cirurgia em vez dela. Eu sentiria todas as dores que ela sentiu, eu desmaiaria, eu estaria deitado em uma maca. Eu só queria o bem dela.

– Ally... – Falei em meio as lagrimas.

O medo de perde-la tomou conta de mim. E se ela não voltar da cirurgia?? Ou então, e se o bebê não resistir??

Eu não aguentaria a dor de viver sem a Ally por perto.

Como poderia viver sem ter a minha morena me beijando toda vez que digo que te amo?? Como poderia viver sem acordar todas as manhas com Ally ao meu lado?? Como poderia viver sem a abraçar por trás e dizer em seu ouvido o quanto ela é linda?? Como poderia viver sem fazer ela corar a cada elogio??

Eu simplesmente não posso viver sem Allicia Dawson.

(...)

– Bom senhor Moon, Ally infelizmente perdeu um dos bebês... Fizemos o possível... – Um dos enfermeiros me chamou de canto para dar as noticias.

Acho que o hospital inteiro já sabe sobre Ally, após a minha pequena discussão com a secretaria, que não queria me falar sobre a cirurgia.

As lagrimas ameaçaram a voltar, tentei (inutilmente) segurar as lagrimas, mais a dor de perder o filho, ou filha é enorme.

– Pera. Você disse um dos bebês?? – Me sentei na cadeira, tentando entender tudo o que estava acontecendo.

– Ally estava gravida de gêmeas. Uma delas sofreu um aborto espontâneo, o que causou tudo isso. – Ele me mostrou as imagens do ultrassom que fizeram mais cedo. – A bebê chegou aqui já sem batimentos cardíacos. Tentamos resgatar a outra bebê, porém como ela nasceu prematura, terá que ficar na incubadora por algumas semanas.

– Gêmeas?? – Tentei perguntar algo, mais tudo que saiu foi isso.

– Sim, duas meninas. Ally estava ciente que estava gravida de gêmeas. Ela nos contou depois da cirurgia que fez um ultrasom. – Ele pegou outros papeis, com mais imagens da barriga da Ally, estava nítido que havia duas crianças lá dentro.

– Mais ela disse para mim que queria que fosse uma surpresa... – Pensei alto. O enfermeiro me olhou confuso e pegou os papeis de volta. – Ally esta bem??

– Sim. Ela reagiu bem a cirurgia, que na verdade era uma cesariana de emergência.

– E eu posso ver ela??

O enfermeiro suspirou e pensou por um tempo.

– Pode. Só que Ally esta fraca, ela ainda esta se recuperando. – Ele apontou para o corredor, onde ela estava. – Com licença. – Ele foi até a recepção entregar os exames de alguma paciente.

Segui reto pelo corredor, até encontrar o quarto dela.

Parei em frente a porta numero 254. Suspirei antes de entrar.

– Ally??

Parei. Lá estava ela, minha pequena estava bem.”

Acordei assustado. Há um mês essas lembranças vem me atormentando todas as noites.

Megan, que a esse ponto já estava com 5 meses, começou a chorar.

Ótimo, mais uma noite sem dormir.

Levantei meio tonto, por conta do sono, e caminhei até o quarto de Megan. Lá estava ela, tentando fugir do berço, assim que me viu levantou os braços pedindo colo. A peguei e Megan parou de chorar.

– O que foi Megan?? Quer comer alguma coisa?? – Levei ela até a cozinha e peguei uma sopa, que Kira tinha deixado pronta.

Megan desviou da colher.

– Acho que não é só eu que não gosto da sopa da Kira, mais isso fica entre nós. – Comecei a rir, sozinho.

(...)

Após ficar horas acordado, brincando com Megan, a trouxe para a minha cama. Ela já estava com sono, e eu também.

Megan apontou para a foto de Ally, em cima da comoda, e tentou dizer alguma coisa.

A foto era quando Ally entrou na igreja, no dia do nosso casamento. Ela estava linda.

– É Megan, eu também não sei como estou vivendo sem a Ally aqui comigo. Eu daria tudo para vê-la novamente.

Ah Ally, eu sinto tanto a sua falta. O que eu sinto já não é saudade, é um vazio.