Guardados A Sete Chaves escrita por Jiinga


Capítulo 3
Festa




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Astrid acordou naquela manhã com o cheiro de panquecas vindo da sala. Tomou um banho rápido, vestiu seu uniforme da LATT e foi para lá. G. estava colocando uma frigideira na máquina de lavar louças. Havia um prato com uma enorme torre de panquecas em cima do balcão e Bree, Clarisse e uma garota desconhecida estavam sentadas em volta deste, comendo panquecas. Meg saiu do quarto de Lena assim que Astrid chegou à sala.

– Algo errado?

– A Lena não tá se sentindo bem, vai matar a aula hoje. Acho que não tem problema, com a memória fotográfica dela. – respondeu Bree.

– Ok. – Astrid se virou para a garota nova – Bom dia. Meu nome é Astrid.

– Joana. – a garota disse de boca cheia, tampando-a com a mão.

– E qual o seu talento?

– Ela pode cantar e tocar qualquer coisa! – exclamou Bree, animada, e Joana corou. Astrid sorriu e se serviu de panqueca.

– Então, continua contando por que você se atrasou. – pediu Clarisse a Joana.

– Então. Tinha esse garoto, meu melhor amigo, e eu tava muito a fim dele, sabe? Então, ele combinou de se encontrar comigo nas Las Ramblas ontem à noite, antes da minha partida. E quando eu cheguei lá, ele se declarou.

– Você ficaram? – perguntou Clarisse, totalmente absorta na história.

– Não. – respondeu Joana, chocando-a.

– Por que não?

– Por que... Eu tava vindo embora, sabe? Eu não queria ficar com ele só pra ter que esquecer tudo depois... Mas nessa brincadeira, eu acabei me atrasando e perdi o vôo. Tive que pegar o seguinte. E pra piorar, entrei no Shellface hoje cedo só pra descobrir que ele ficou com a minha melhor amiga logo depois que eu vim embora.

Bree e Clarisse desviaram o olhar, sem saber o que dizer. Foi Astrid quem falou:

– Tudo bem. Você tem a gente agora.

Joana sorriu e enfiou um pedaço de panqueca na boca.

***

Os seis desceram juntos o elevador privativo do primeiro ano. Era um dia fresco e ensolarado e faltava mais de meia hora para o início das aulas, então decidiram pegar a esteira ao invés das Hoover Dams.

O prédio principal da LATT ficava no topo de uma enorme torre de metal. Era preciso pegar outro elevador panorâmico até ele. Ao seu redor, sobre torres vários metros menores, ficavam os prédios dos restaurantes, do ginásio e do corpo docente.

Os seis pegaram o elevador do prédio principal e, quando chegaram ao andar, pegaram a esteira que ia até a entrada do enorme edifício branco. As salas de aula ficavam no segundo andar e eram apenas quatro. Quando entraram na sala 201, todos os olhares se voltaram para eles. Alguns transmitiam raiva, outros admiração, outros estavam apenas curiosos. Não era pra mais: eles eram a elite do primeiro ano.

Ocuparam seus lugares designados, todos no canto direito do fundo da sala.

– Só eu me sinto incomodada com esse monte de gente olhando pra mim? – sussurrou Joana para Bree, que estava sentada ao seu lado.

– Acho melhor se acostumar. Vai ser assim por um bom tempo.

O professor entrou na sala. Um rapaz não muito velho, de cabelos pretos e olhos azuis. Ele vestia uma camisa azul clara e calças brancas e tinha várias pastas nas mãos.

– Bom dia. Eu sou o professor Temple, professor de História. – ele escreveu no ar com uma caneta, de frente para a turma, e o texto apareceu na lousa.

O professor Temple se sentou em sua cadeira, atrás da mesa de vidro, e ligou seu tablet. A imagem da tela se projetou no ar. Ele clicou em alguns aplicativos até abrir o que procurava e começou a fazer a chamada. Quando chegou ao nome de Lena, Bree explicou que ela não estava se sentindo bem. O professor mal havia terminado uma mulher apareceu na porta, trazendo um carrinho cheio de tablets. Ela entregou um e uma caneta para cada aluno e Astrid ficou responsável por entregar o de Lena.

Quando a mulher se foi, o Sr. Temple se levantou e começou a passar a matéria nova. Na LATT, não havia tempo a perder. Os alunos se viraram rapidamente para começar a anotar, temendo perder qualquer detalhe.

Foi assim em todas as outras aulas. Matemática, Inglês e Biologia. Eles pararam para o almoço às 13h20. Os seis almoçaram na própria sala de aula, G. havia levado uma espécie de bolinho de arroz japonês para a aula.

– Eu já volto. Vou ao banheiro. – disse Clarisse, se levantando. A sala estava vazia, com exceção de seus cinco amigos.

O banheiro feminino ficava no final do corredor, do lado oposto ao dos elevadores, ao lado do masculino. Porém, quando Clarisse estava se aproximando, a porta da sala 204 se abriu. Mãos a agarraram por trás, tampando sua boca para que ela não gritasse. Ela tentou se mexer, mas estava imobilizada.

– Você é Clarisse Le Blanc? – perguntou a voz masculina. Ela assentiu e o garoto a soltou. Ela se virou rapidamente, assustada e irritada. Tratava-se de um garoto alto e loiro, de olhos pretos, com o uniforme da LATT. Ele estendeu a mão para ela – Meu nome é Adam. – Clarisse aceitou o cumprimento – Eu sou o número um da elite do quarto ano. Vai ter uma festa exclusiva pra elite dos quatro anos no terraço do nosso prédio. Você pode informar seus amigos?

– Ah... Posso, posso sim. – ela jogou o cabelo para trás, uma mania que havia adquirido.

– E a senhorita vai comparecer? – ele sorriu, desafiando-a.

Clarisse olhou para ele sorriu de volta.

– Eu nunca perco uma festa.

– Ótimo. – Adam tirou um cartão do bolso do paletó e entregou a ela – Esse é o cartão de acesso ao nosso elevador. Podem usá-lo para ir à festa, devolva-o amanhã.

– Certo.

Adam assentiu, ainda sorrindo, e voltou para dentro de sua sala, fechando a porta atrás de si, impedindo que ela visse o que se passava dentro da sala. Clarisse suspirou, animada, e continuou seu caminho.

***

Lena havia acabado de desligar o celular quando seus amigos voltaram da aula. Ela havia ligado para sua mãe assim que acordou para checar se estava tudo certo. Tendo em vista que sim, concluiu que tudo não havia passado de um pesadelo.

– Está melhor? – quem perguntou foi a garota com quem ela havia se deparado na madrugada. A garota do sonho.

– Sim. E você é?

– Joana.

– Lena! – exclamou Clarisse, correndo até ela e segurando-a pelos ombros – Me diz que você vai!

– Vou aonde?

– Vai ter uma festa pra elite, hoje, no terraço, e ninguém quer ir!

– Eu quero ir! – defendeu-se Bree.

– Ai, ok, uma pessoa quer. – Clarisse revirou os olhos e voltou a encarar Lena – Quer dizer, duas, a Meg também topou. Por favor!

– Ah, não sei... Eu não curto muito festas... – Lena mordeu o lábio.

– Ai, tá bom, eu vou! – exclamou Astrid, largando sua mochila sobre o sofá.

– Viu? – comentou Clarisse e virou-se para Lena e Joana – Só faltam vocês.

– Valeu por me excluir. – murmurou G., num tom brincalhão.

– Você quer ir na festa? – perguntou Clariesse, irritada.

– Não. – G. sorriu e ela revirou os olhos – Não vou nessas coisas, eu sempre acabo ficando excluído num canto.

– Se eu for você vai? – Lena perguntou a G. – Eu provavelmente vou ficar a noite toda excluída num canto também.

– Ok. Então eu vou.

– Bem, - Jo deu de ombros – se todo mundo vai, eu não vou ficar aqui sozinha, né?

Clarisse soltou um gritinho, dando um pulo no ar, e correu para seu quarto.

***

G., Lena e Joana estavam sentados num banco num canto da festa. Assim que eles chegaram, Adam havia arrastado Clarisse com ele para algum lugar, Bree, Astrid e Meg haviam ido para a pista de dança e os três haviam encontrado o lugar mais confortável e afastado o possível para se sentarem.

– Cara, quando eu comentei sobre passar a noite excluída num canto eu não esperava de verdade que iríamos acabar assim. – comentou Lena.

– Eu sim. – disse G. – Mas na minha imaginação eu estava sozinho.

– Ai, a gente precisa fazer alguma coisa! – exclamou Jo, ficando em pé – Vocês realmente querem passar a noite toda aqui sem fazer nada?

– O que você sugere? – perguntou Lena.

– Não sei! Precisamos fazer alguma coisa divertida!

– Eu tenho uma ideia. – disse G.

***

Foi por causa dessa idéia que os três acabaram com suas Hoover Dams na beirada da plataforma do prédio principal da escola.

– Tem certeza de que isso é seguro? – perguntou Jo, olhando para baixo e segurando a saia de seu vestido.

– Sim. Quer dizer, teoricamente. Olha, as Hoover Dams flutuam e de acordo com as leis da física caem com a mesma velocidade que nós. Se descermos em diagonal não tem como nos machucarmos.

– Ótimo, vai você primeiro então. – sugeriu Jo.

G. desviou o olhar.

– Eu não quero ir primeiro...

– Vamos todos no “três”. – anunciou Lena e os dois disseram “ok”. – Um, dois, três!

Eles pularam. A velocidade foi muito maior do que o esperado. Os três gritaram na noite enquanto caíam, o vento jogando seus cabelos para trás contra os seus rostos, Jo desistindo de segurar seu vestido. Quando se aproximaram do chão, a trajetória vertical se tornou horizontal e as velocidades diminuíram relativamente. Entretanto, Lena havia aproximado sua Hoover Dam demais do chão. A ponta da prancha raspou na calçada de metal e ela capotou, rolando no chão e caindo a metros de distância.

– Lena! – gritou Jo, descendo de sua Hoover Dam e correndo com G. até a colega – Você tá bem?

– Meu pé tá doendo. – ela resmungou, sentando-se.

– Deixa eu ver. – G. tocou o pé de Lena e ela gritou – Acho que você só torceu. Vamos te levar pra enfermaria.

– Não, calma! Se formos lá, vamos parar na diretoria por ter feito isso!

Os três pensaram por um segundo.

– Vamos chamar a Astrid. – sugeriu G.

– Boa. Me ajudem a chegar no dormitório primeiro.

Jo ajudou Lena a chegar até o dormitório enquanto G. levou as Hoover Dams até o estacionamento e foi atrás de Astrid.

– Valeu. – disse Lena, sentando-se no sofá.

– Vou pegar um pouco de gelo. – disse Jo e foi até a geladeira.

– Esse tipo de coisa costuma acontecer comigo, na verdade. Acho que eu sou meio frágil.

– Você devia ter dito isso antes de fazermos aquilo. – Jo entregou o pacote de gelo a Lena e ela o colocou no próprio pé.

– Desculpa.

– Tudo bem. – houve um minuto de silêncio – Lena, posso te perguntar uma coisa?

Lena olhou para ela, curiosa.

– Acho que sim, o que?

– Bem... Eu não sei se você lembra, mas nós nos encontramos logo que eu cheguei aqui, você parecia meio...

– Maluca?

– Eu ia dizer atordoada. Eu achei que você estivesse bêbada, mas agora você não me parece o tipo de pessoa que faria isso no primeiro dia de aula...

– É, realmente. Bom, eu não sei se você vai acreditar na verdade.

– Pode tentar.

– Hum... Eu tive um pesadelo. Um pesadelo horrível em que eu estava num carro com uma garota e minhas mãos estavam ensanguentadas, e acho que alguma coisa ruim tinha acontecido com a minha mãe... Foi tão assustador que eu acordei e saí correndo com uma dor de cabeça insuportável até trombar com você. E, quando eu vi, você era a menina do sonho.

Jo arregalou os olhos, boquiaberta. Ela estava prestes a dizer algo quando a porta de entrada se abriu e Astrid e G. saíram do elevador.

– Deixa eu ver isso aí. – disse Astrid, aproximando-se de Jo e Lena. Ela se ajoelhou no chão e tocou o pé de Lena. – Tenta virar pros lados. – Lena a obedeceu, mas gemeu de dor ao fazer isso. – É, você só torceu. Jo, pega umas faixas no meu quarto pra mim, eu vou fazer uma tala.

– Ok. – Jo se levantou e foi até o quarto de Astrid – Cara, vocês tinham que aprontar? Não podiam ter ficado lá na festa?

– Mas tava muito chato! – disse G., sentando-se no sofá.

– Não pra quem tava dançando. – Astrid sorriu. Jo voltou com as faixas e ela enfaixou o pé de Lena – Isso vai dar conta do recado em alguns dias, se você colocar gelo. Mas o mais importante - ela colocou a mão sobre o tornozelo de Lena – é acreditar que vai sarar logo.

Ela sorriu e Lena achou ter visto alguma coisa a mais brilhando em seus olhos azuis, mas devia estar delirando depois da queda. Ela agradeceu e os quatro foram para seus respectivos quartos.


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