The Beauty Inside The Beast escrita por Cameron Fowler, Verena Kutner Einloft


Capítulo 3
De Cara com a Porta


Notas iniciais do capítulo

Enquanto Vincent está a procura de emprego ele dá de cara com um alguém não tanto conveniente, digamos assim. Esperamos que gostem!



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O dia amanhecia ensolarado naquele pequeno vilarejo, anunciando que seria um ótimo dia para realizar bem cedo seus compromissos e com um ótimo humor. Bem, talvez não para todos.

Sentado na pequena mesa de madeira velha, encarei meu pai e meus dois irmãos. Esse era o inicio do terceiro dia da nossa estadia naquela pequena residência. Ela era como qualquer casa pequena de um vilarejo, apenas estava mal cuidada pelo pouco uso e de pessoas nesse local. Não tinha nada de luxuoso nesse lugar, e eu podia sentir o quase palpável horror de meus irmãos.

– Pai, quando o senhor irá comprar uma outra casa? Essa está caindo aos pedaços e ontem encontrei um rato dentro dos armários, isso é um ultraje para pessoas de alta classe como nós. - Disse Enzo olhando com nojo tudo o que tocava.

– E quando irá comprar mantimentos? - Questionou Arthur ao encarar o pão velho e preto em seu prato - Já é o terceiro dia que comemos pão no desjejum, já estou farto da nossa situação.

Fixei meu olhar em meu pai que mantinha seus olhos fechados e massageava sua cabeça com as pontas dos dedos, afim de se acalmar. Não estava sendo fácil para ele também, desde que nasceu foi criado no meio da fortuna e nunca realmente precisou se esforçar para manter uma casa limpa, já que tinha empregados para tais serviços. As mercadorias que estavam no navio seriam usadas para uma de suas invenções e estavam vindo de diferentes partes do mundo. Isso o destruiu, eu sabia disso, mesmo que tentasse não deixar transparecer o seu desespero e sentimento de perda.

– Papai e eu vamos no vilarejo ver se conseguimos um emprego, se quiserem podem vir nos acompanhar.

– Vicent, você realmente não quer que trabalhemos, certo? Ou você realmente acha que eu e Enzo iremos trabalhar nessas lojinhas de segunda categoria?

Suspirei perguntando-me como ainda me dava o trabalho de perguntar se já sabia a resposta. Terminei de comer o pão duro e velho em meu prato sem dizer mais nenhuma palavra, ficar nessa casa com eles estava sendo muito estressante, eles não mexiam um dedo se quer para ajudar, deixando o trabalho caseiro nas minhas mãos e nas de meu pai.

Recolhi os pratos meios quebradiços da mesa e fui trocar-me no pequeno aposento que dividia com meus irmãos. A casa possui apenas dois quartos de tamanhos pequenos e sem nenhuma exuberância, a única coisa mais luxuosa desse lugar era nossas vestimentas no baú. Separei uma peça de roupa mais casual e retirei algumas pedras, escondendo-as dos meus irmãos. Apesar de estarmos nessa situação, sei que eles nunca fariam algo do tipo com suas roupas. “Estamos falidos, mas nem por isso mal vestidos”, disse eles quando sugeri que utilizassem das joias pregadas nas roupas.

Caminhei para fora da pequena casa e observei o jardim morto e abandonado, não suporto ver o estado que ele se encontra, sabia que mais tarde teria de cuidar dele.

– Vamos, meu filho? - Perguntou meu pai.

– Sim.

Caminhamos com passos lentos pela estrada de terra, não seria uma longa caminhada, então não precisamos utilizar nosso cavalo. Em poucos minutos, pude avistar o pequeno vilarejo, e logo, nos encontrávamos no meio da multidão.

As pessoas andavam apressadas, sem ver realmente o que acontecia ao redor delas. Donas de lares abanavam tapetes ou penduravam roupas nas janelas, os homens caminham apressados para não chegarem tarde em seus locais de trabalho, o cheiro de pão fresco tomava conta das ruas, as crianças já estavam de pé prontas para todo o tipo de diversão, os idosos já estavam de pé também; em sua maioria comprando comidas saldáveis para o terror das crianças.

Entramos em várias lojas e bares com o intuito de arranjarmos um emprego, mas fomos rejeitados em todos, e toda vez que isso acontecia , meu pai murchava por não poder chegar em casa com uma boa noticia para meus irmãos.

– Está tudo bem, pai. Nós vamos conseguir. - Disse tentando conforta-lo.

Ainda com o pouco de dinheiro que tinha no bolso, consegui comprar ingredientes o suficiente para fazer uma sopa e entreguei tudo ao meu pai.

– Vá para casa e descanse, andou o bastante hoje, eu me viro à partir de agora.

– Obrigado, meu filho. - agradeceu soltando um suspiro de frustração - Irei para casa e vou aproveitar para resolver as coisas sobre meu navio.

Observei-o até virar apenas um borrão para meus olhos e segui na direção oposta a ele, agora não apenas me focando em nossas necessidades, mas também na paisagem local. Apesar de ser um lugar pequeno e um pouco maltratado pelo esquecimento, era um lugar de beleza única. Várias casas possuíam em suas paredes ramos de flores, deixando os lugares com uma aparência mais alegre, as pessoas não demonstravam se importar com a classe social e com as roupas de quem começa a conversar.

– Bonjour*, meu jovem. Gostaria de comprar um flor para uma bela moça?

– Mérci*, meu senhor, mas não tenho uma bela moça para que possa dar uma bela flor. - Disse ao observar as belas flores que aquele homem vendia.

– Uma pena, meu jovem.

– Salut*! - Despedi-me do homem.

Caminhei lentamente gravando cada detalhe daquele lugar, até meus olhos pararem em uma simples livraria, enfeitada com pequenos ramos de flores. Caminhei um pouco mais depressa em direção a mesma e parei diante de uma janela, com o objetivo de observar seu interior. Passei a manga do meu casaco na janela empoeirada e observei as poucas estantes livros, já um pouco sujas e empoeiradas.

– Bonjour, meu jovem - Disse alguém atrás de mim.

Virei-me assustado e dei de cara com um senhor de idade, com poucos cabelos grisalhos, uma barba longa e um óculos engraçado.

– Bonjour - Respondi um pouco sem graça.

– Gostaria de entrar em minha livraria? - Perguntou ele com um sorriso suave.

– Párdon*, não queria ser intrometido.

– Não se preocupe, meu jovem, é bom ver pessoas jovens se interessando por leitura - Disse ele abrindo a porta do local - Venha, entre.

Acompanhei-o até o interior do local e segui meu caminho até as estantes.

– Não me lembro de ter visto esses livros antes, não havia esses em minha biblioteca – Comentei.

– São livros muito antigos, tem poucos exemplares nos dias de hoje - Suspirou - É uma pena ver o estado deles, mas já não sou mais jovem, não consigo limpar tudo sem que me aconteça algo.

– Sim, uma pena - Concordei, percebendo logo depois o pequeno deslize que cometi - E se o senhor contratasse alguém mais jovem para limpar?

– Não gosto de por meus livros nas mãos de pessoas que não os dão o devido valor.

– Mas, se o senhor me contratar, eu posso cuidar deles. Não irei mentir-lhe, nunca trabalhei assim antes, mas vou me esforçar se o senhor permitir.

– Não tenho certeza, meu jovem.

– Por favor senhor, não posso deixar minha família morrer de fome. - implorei me aproximando dele.

Não seria fácil, o lugar estava em um estado abandonado, alguns livros já colecionavam teias de aranha, o chão estava imundo e a mesa que se encontra ao lado da janela toda desarrumada.

– Se estragar meus livros, vou lhe demitir, entendeu?

– Sim, senhor…?

– Dartagnan.

– Vicent.

– Você pode começar amanhã, depois do nascer do sol.

– Muito obrigado, salut! - Despedi-me com um breve aperto de mão e um belo sorriso de satisfação no rosto e caminhei até a porta.

– Vicent! - Chamou-me - Não se atrase.

Sorri e fechei a porta, soltando um suspiro logo em seguida. Foi muita sorte ter encontrado esse lugar. Voltei a caminhar ansioso para chegar em casa e contar a meu pai que consegui o trabalho. Obviamente, meu salário não seria grande coisa, mas seria o suficiente para nos manter vivos. Mais cedo ou mais tarde, meus irmãos teriam de ir trabalhar também se quiserem, pelo menos, uma vida confortável.

Tão entretido em meus pensamentos, não vi quando uma pessoa se colocou em minha frente, fazendo-me, consequentemente, bater nela e quase perder o equilíbrio.

– Párdon, estava distraído.

– Deveria prestar mais atenção, seus olhos não existem atoa.

Injuriado, encarei a pessoa a minha frente, e por um momento, quase não tive reação. A pessoa em que esbarrei era um homem alto e robusto, dono de uma voz grossa e músculos de dar inveja em qualquer homem, seu rosto tinha uma forma peculiar, o que combinava perfeitamente com seu queixo quadrado e lábios e sobrancelhas grossas. Seus olhos vem de um verde escuro puxado para o castanho e seus cabelos totalmente negros. Eu tinha que admitir, era um homem bastante bonito.

– Meu nome é Gastón LeGume, mas você já deve saber disso - Disse lançando-me um sorriso torto.

– Para falar a verdade, não. - Disse vendo seu sorriso presunçoso sumir.

– Não sabe quem eu sou?

– Não, eu me lembraria de uma porta como você – Respondi.

– Mérci - Agradeceu, fazendo-me arquear uma de minhas sobrancelhas - Como você já deve ter percebido, sou o homem mais cobiçado desse vilarejo e o mais bem de vida também.

– Oh, então era sua aquela carruagem?

– Sim - Glorificou-se, mas então ele para, reflete e pergunta - Que carruagem?

Bufei em desagrado, observando o homem a minha frente.

– Uma que vi há três dias atrás. Mas isso não importa, tenho que ir para casa agora - Disse continuando meu caminho.

– Mas que mal educado, essa beldade. Não me disse seu nome.

– É Vicent. Posso ir agora, sozinho? - Perguntei vendo que ele me acompanhava.

– Mas é claro. Salut, Vicent.

– Salut.

Refiz o caminho para casa, agora mais ansioso ainda para contar a novidade. Só espero conseguir fazer tudo certo para não ser despedido.


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Notas finais do capítulo

Salut* - Oi/Tchau
Mérci* - Obrigado(a)
Párdon* - Perdão
Bonjour* - Bom dia

E então?? O que acharam do excêntrico Gastón? Esperamos que tenham gostado do capítulo! As coisas aqui só estão começando...