Eu estava sentada no sofá da sala. O calor da xícara esquentava minhas mãos de forma confortável, assim como o vapor quente que a emanava. A sacada estava coberta de neve, assim como toda a extensão da cidade de Nova York. O ar gélido e frio só tornava a situação cada vez mais triste e depressiva

Aumentei o volume da televisão a fim de ouvir o que a moca do tempo tinha a dizer:

–Voltamos com informações: Os aeroportos de Nova York estão fechados temporariamente por conta da neve, todos os voos cancelados... - não precisei ouvir mais nada. Desliguei a televisão e taquei o controle com força no chão.

Raiva...

Era isso o que eu sentia...

Por que comigo?

Por que com ele?

Por que agora?

Faziam 3 anos que eu não o via. 3 anos que ele não me via. 3 anos que eu sequer tocava aqueles lábios doces... 3 anos longe de Nico Di Angelo.

Lembro-me da ultima carta que ele me mandou daquele inferno em que ele vive. Fui ate a gaveta da estante da sala e a peguei.

Com as mãos tremulas abri o envelope branco. Já havia decorado palavra por palavra daquela carta. Não era pra menos... Eu a lia todos os dias antes de dormir, era como se ele falasse comigo.
"Como se fosse" porem, não era.

Encarei sua caligrafia perfeita.

"Meu amor, que saudades que eu estou de você...
Esse lugar aqui é um inferno. Um inferno não. Pior que isso.
As guerras, os ataques.... É tudo horrível. Nós não temos sossego nem um minuto sequer.

Agora, é o unico momento em que eu realmente consegui ter um descanso, por isso aproveitei para te escrever.
Um amigo meu levou um tiro na perna, mas graças a Deus ele esta bem. Faltam dois meses pra ele ter liberdade. Ele esta mais que feliz. Pra mim faltam 2 anos, você não tem ideia da minha ansiedade. Eu conto os segundos pra poder ver você. Sentir seu toque, seu perfume. Olhar essas órbes azuis eletrizantes que me deixam louco... Eu sinto muito a sua falta. Você nao tem ideia.

Eu te amo Thalia Grace Di Angelo. Por mais que eu sobreviva ou não à este inferno de selva. Eu quero que você saiba, e que tenha certeza do meu amor por você.

Hoje é Natal, e eu daria até a minha vida pra estar aí com você. Mas tenha certeza que, daqui a dois anos no dia 25 de dezembro de 2014, eu vou, finalmente estar livre. E vou estar ai, do seu lado. Te enchendo de beijo, que no momento é meu sonho.
Eu te amo Thalia. Nunca se esqueça disso.!"

As lágrimas embaçavam minha vista e eu larguei o papel em cima da mesa de centro. Deitei no sofá e afundei o rosto na almofada me permitindo chorar, com direito a soluço e tudo mais.

Eu queria ele ali, comigo.

Tudo culpa dessa maldita neve. Dessa maldita época.Desse maldito Natal.

Primeiro eu perco meu marido pro exercito. Depois eu fico sem ele por malditos 3 anos.

Poderia ter ficado ali, deitada, chorando, se nao fosse por uma mãozinha que acariciava meu rosto com carinho.

–Mamãe puque você ta chorano?

Abri os olhos pra encarar aquela criaturinha agachada frente a frente meu rosto. Me sento no sofá e seco as lágrimas com as costas da mão.

–Mamãe tá triste filha, muito triste.

–Por que? - ela deu um pulo e se sentou do meu lado no sofá, balançando as perninhas no ar. Fazendo com que as orelhinhas do cachorrinho da sua pantufa balançasse junto.
Ri fraco daquela situação e suspirei começando a explicar:

–Lembra quando eu disse que seu papai ia chegar hoje? E que você ia conhece-lo pela primeira vez?

–Sim, por que? Ele não vem mais!? - perguntou abaixando a voz. Ela parecia realmente triste e decepcionada.

–Pode ser que não. E talvez demore um pouco sim.
***

Eu estava dormindo quando eu comecei a ouvir a campainha tocando. Abri os olhos lentamente e alcancei meu celular no criado mudo.

5:27 da manhã

Quem seria a essa hora?

Desci lentamente a escada, a campainha agora tocava desesperadamente.

–JÁ VAI!- gritei com a voz rouca por causa do sono, soltando um bocejo em seguida. Ascendi a luz da cozinha e pisquei algumas vezes me acostumando com a luz. Apertei a corda do roupão ainda mais e abri a porta.

Minha primeira visão foi a pernas longas cobertas com uma calça verde musgo sujas de neve, assim como a bota.

Subi o meu olhar e fui passando lentamente pelo seu tronco, seus ombros largos e finalmente seu rosto: seus traços depois de anos ainda eram os mesmos. Os cabelos negros cortados em um corte reto. Diferentes, porem só o deixava mais lindo. Mais maduro. Mais adulto.

Suas órbes negras me fitaram e seus lábios rosados se formaram em um sorriso de orelha a orelha assim como os meus.

Meu amor. Meu marido. Meu Nico.

Pulei em seus pescoço lhe beijando. Que saudade daqueles labios, daqueles braços, daquele calor que me emanava.
E agora ele estava ali. Comigo.

–Eu te amo Lia. Eu tava morrendo de saudade de você. -eu afundei o rosto em seu pescoço sentindo aquele perfume que eu tanto senti falta.

–Eu também, eu nem acredito que você esta aqui.- o puxei pela mão para dentro de casa. - eu vi no jornal que o aeroporto tinha fechado e achei que você nem vinha mais.
Ele se sentou no sofá comigo em seu colo.

–A neve diminuiu lá pelas 3 da manhã e o aeroporto abriu. E mesmo que não tivesse aberto, eu viria nem que fosse nadando de lá ate aqui. Só pra te ver.

O beijei novamente sentindo aquele gosto delicioso que emanava dos lábios do Di Angelo.

–Mamãe? - uma vozinha rouca e sonolenta chamou enquanto descia as escadas.

Olhei em sua direção e a observei terminar de descer as escadas coçando os olhinhos.

É agora!

–Mamãe?- Nico interrogou intercalando o olhar entre eu e Katie.
Me separei de Nico e fui ate ela. Peguei-a no colo e voltei ate onde um Nico atônito estava.

–Filha, esse é Nico- falei ainda encarando-o - aquele que eu te falei.
Voltei meu olhar para a moreninha no meu colo sustentando suas órbes negras que me encaravam com duvida.

–Ele é...??

–Sim - confirmei.

Ela virou-se lentamente para Nico analisando-o. Segundo seguinte ela se livrou dos meus braços e pulou em Nico.

– PAPAI! - ela gritou abraçando-o. - achei que não ia te conhecer nunca. - ela se afastou para olhar em seus olhos - você é bunito.

Ele afastou ela alguns centímetros dele e me encarou.

–Papai? Thalia, pode me explicar o que significa isso?

Resolvi contar tudo de uma vez.

–Vamos lá na cozinha. Katie fique aqui. A gente já volta.

Virei as costas e caminhei até a cozinha sentindo-o me seguir.

Chegando na cozinha me sentei na cadeira esperando que ele se sentasse também mas ele não o fez, continuou em pé me encarando.

–Agora me explica: quem é aquela criança? E por que ela me chamou de pai?

–Está meio óbvio, não? - respondi tentando não encara-lo

–Thalia olha pra mim - obedeci - eu... e-eu sou o pai daquela criança?
Suspirei.

–Eu tava gravida quando você partiu.

–Por que não me contou - ele se alterou. Droga! Era dessa reação que eu tinha medo!

–Eu não queria destruir seu sonho. Você estava tão feliz em ir pro exercito, dar honra ao seu avô que eu... - suspirei

Ele se aproximou de mim ficando centímetros de distancia.

–Thalia eu... - ele iria continuar a falar se uma mãozinha não o tivesse puxado a barra da calça.

–Você tá feliz em ser meu pai?- ela estava com os olhinhos molhados.

Ele a analisou por uns segundos, e depois me olhou

–Se eu estou feliz em ser seu pai? - ele disse a encarando e voltando seu olhar a mim - se eu estou feliz em de ter descoberto que tenho uma família? - ele disse sorrindo - Thalia, eu estou mais que feliz.

Ele me abraçou e começou a distribuir beijos em meu rosto enquanto Katie observava tudo maravilhada.

Ele a pegou no colo e a girou no ar.

Meu sorriso quase rasgava seu rosto assim como o deles dois.

Eu estava feliz demais para conseguir acreditar.

Ele veio com Katie no colo e me abraçou, beijando meu pescoço.

–Eu te amo Thalia, na verdade eu amo vocês duas e essa é a melhor notícia que eu poderia receber.

–Eu também te amo Nico, amo vocês dois.

E esse foi, de longe, o melhor Natal de todos!