Maybe escrita por Ella


Capítulo 7
A festa da sobremesa


Notas iniciais do capítulo

Olá amorees
Vou logo falando que estou com medo desse capítulo, porque derramei tanta coisa nele, música, poesia, diversão que pode ter ficado demais, então me digam se ficou horrível ok?
Eu escrevi uma parte desse capítulo ouvindo essa música https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=7dum3DzsdG0 e ela me lembra o Joseph e a Catherine, não sei porquê, não tem muita coisa a ver, mas se quiserem ouvir...
Leiam as notas finais
xx Ella



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/574340/chapter/7

O Sr. Madison recebeu um telefonema naquela manhã, meu pai justificando a minha falta, ele explicou que eu estava indisposta e que ficaria em casa para descansar. Não precisou muito para convencer ele a mentir para o diretor, na verdade só me custou uma breve conversa:

"Pai, sem escola hoje, por favor."

"Por que?"

"Coisa de adolescente."

"Um justificativa coerente, Catherine."

"Estou evitando alguém."

"E posso saber o motivo?"

"Não, é arquivo confidencial."

"Escola é importante, mocinha."

"Mas é só um dia."

"Tudo bem, mas você sabe, continue indo bem e os privilégios também continuam."

"Sei, sei..."

Agradeço pela confiança despreocupada do meu pai, não suportaria encarar Henry e suas perguntas mais uma vez por ora. Era só uma fuga breve, mas ainda assim uma fuga.

Assim que todos saíram para as suas devidas atividades peguei o carro e dirigi até a Eliot. Passei pelas portas e fiquei surpresa quando alguém gritou pra que eu parasse e me identificasse. Nunca tinha visto antes a garota posta atrás do balcão, ela era alta e de olhos grandes.

– Desculpe senhora, mas você precisa efetuar um cadastro para permanecer aqui e se você já tiver um preciso que me mostre o seu cartão.

– Claro, para melhorar o dia tem que ter uma funcionária nova e desavisada - murmurei.

– O que disse? - perguntou a menina rispidamente.

– Eu não ando com o cartão - ignorei a pergunta. - Não preciso dele. Agora me diga onde está Anna.

Ela me analisou alguns instantes.

– Desculpe, mas preciso da sua...

– Te deixo sozinha alguns minutos e você já arranja confusão, Jessie? - Abby apareceu. - Anna está na cozinha, Cat.

– Obrigada, Abby.

Caminhei até a cozinha, o lugar era um misto de cores, pior que movimento LGBT.

– Catherine! - Anna me viu e me cumprimentou com um abraço. - Por que não está na escola, menininha?

– Dia de festa da sobremesa - respondi.

– O que aconteceu ma petite?* - Bash que estava prestando atenção perguntou.

– Seus pais sabem que você está aqui? - Anna me olhava com a testa franzida.

– Eles me deixaram faltar a aula hoje, fique calma e bonjuor*, Sebastian. Não que falar o que aconteceu, podemos fazer mesmo assim?

Anna suspirou.

– Ok, festa da sobremesa hoje, ainda bem que você adora o seu trabalho, Sebastian.

A festa da sobremesa era a atividade relâmpago da Eliot, Anna criou porque ela nunca sabia o que fazer quando os filhos dela ficavam muito tristes, então em dias ruins ela colocava a cozinha para preparar todos doces do cardápio e distribuía de graça na casa. Ela me deixava usar o "código de tristeza" o quanto eu desejasse. Se fosse pra qualquer outro isso seria um grande prejuízo, mas Anna tem a casa por hobby, não necessidade.

Bash, Shelley, Phoebe e Ingrid, a equipe da cozinha, estavam tirando tudo que precisaríamos dos armários, depósitos e geladeira. Alguém já colocara uma música para tocar no pequeno aparelho de som posto no canto, só a atmosfera do lugar já melhorava tudo que se encontrava misturado no meu peito.

– Você duas aí vão ficar olhando mesmo ou tá difícil ajudar? - Bash perguntou em francês.

Eu e Anna estávamos encostadas no balcão observando. Rimos e pegamos o trabalho mais próximo.

No final da tarde eu já estava cheia de farinha, açúcar e outras coisas grudadas no avental que usava e um pouco no rosto também. Tinha comido tantos doces que provavelmente não conseguiria dormir naquela noite, mas ninguém tinha achado a chave ainda e a brincadeira só acaba quando a chave aparece.

Quando as tortas são feitas, uma delas é escolhida para levar a chave, literalmente uma chave, colocamos ela dentro e assamos todas as tortas, depois as tortas são distribuídas pela casa e quem acha a chave tem um mês de sobremesa grátis.

Estava dançando com Sebastian quando a porta se abriu e o garoto alto e bonito já estava dentro da cozinha. Aaron, filho da Anna, todos o cumprimentaram. Eu estava surpresa, não sabia que ele viera de Paris para uma visita.

– Quem está comemorando o dia da sobremesa? - ele perguntou.

Ergui a mão.

– Eu.

– Ah, claro, tinha que ser a favorita - ele brincou.

– Não banque o bebê chorão, Aaron - zombou Anna.

O telefone tocou e Shelley atendeu enquanto ainda jogávamos conversa fora.

– Acharam a chave - ela anunciou.

Houve um coro de "vivas".

– Sala?

– Do Piano.

Dito isso todos saímos em disparada da cozinha em uma corrida desajeitada. Quando entramos na minha sala favorita os olhares das pessoas se cravaram em nós.

– Quem achou a chave? - gritou Sebastian.

– Acho que fui eu? - olhei pra quem tinha respondido e não estava acreditando, Joseph a tinha encontrado.

– Ah não! - resmunguei.

– Palmas para o vencedor - pediu Anna.

Todos bateram palmas.

– O que eu ganhei exatamente? - ele indagou confuso.

– Vamos e te explicamos tudo - respondeu Bash.

Joseph se levantou e andou até nós, então todos saíram correndo de volta para a cozinha e ele ficou lá parado. Sabia que ele não iria correr, era a primeira vez que ele via aquilo, um completo desavisado, por isso fiquei também.

– O que...? - a confusão dele era bem engraçada.

– Essa é a parte em que nós corremos - eu estava rindo.

– Mas por quê?

– É parte da brincadeira, não seja um pé no saco - revirei os olhos e saí em disparada.

Ele me acompanhou. Chegamos na cozinha e a música tocava mais alta.

– Bem-vindo a parte privada da festa da sobremesa, Joseph, - iniciou Anna - você foi escolhido pela chave e convocado para ajudar na degustação das novas sobremesas para o cardápio - ela apontou para o balcão cheio delas - e também ganhou um mês de sobremesa grátis.

– Legal! - ele disse empolgado.

– E como sou rainha desse dia de sobremesa você tem que lamber o meu pé para receber tudo isso - falei o mais séria que consegui.

– Eles estão limpos? - Joseph apontou para os meus pés.

– Você é nojento! - fiz uma careta - Eu estava brincando.

As pessoas na cozinha gargalhavam.

– Eu sei, mas precisava ver a sua cara - ele retrucou.

Experimentamos todas as sobremesas do balcão, algumas eram divinas, outras nem tanto e uma parte era simplesmente intragável. Quando tudo terminou estava escuro do lado de fora, subimos até a sacada no segundo andar para observar o céu.

O céu de New York não abriga estrelas, as luzes da cidade são intensas demais para isso, mas ainda é o céu, infinito e majestoso com o seu azul quase preto aquela hora da noite.

Bash estava cantarolando uma música em francês e eu prestava atenção na sua letra.

– Pode traduzir o que ele está cantando? - sussurrou Joseph perto do meu ouvido.

Assenti.

– É um tanto deprimente, mas sim - sussurrei de volta. - É sobre uma mulher chamada Jeannette, poderiam casar ela com um príncipe ou um barão, mas ela quer Pierre, o amigo preso.

Tu n'auras pas ton Pierre - continuava Sebastian.

– Tu não vais ter teu Pierre - traduzi.

Nous le pendouillerons, nous le pendouillerons.

– Nós vamos enforcá-lo.

Si vous pendouillez Pierre. Pendouillez-moi avec, pendouillez-moi avec.

– Se vocês enforcarem Pierre. Me enforquem também.

Et l'on pendouilla Pierre, et sa Jeannette avec, et sa Jeannette avec.

E vamos enforcar Pierre, e Jeannette com ele.

En route, ami, en route, nous les dépendrons, nous les dépendrons.

– No caminho, amigo, no caminho, nós lhe contaremos. - me virei para Bash - De onde é essa música?

– Isso é uma cantiga de ninar francesa, crianças - ele sorriu.

– É horrorosa - comentei.

– Imagino que as crianças na França devem ter pesadelos sempre - brincou, Joseph.

– Nem tanto, menino, talvez se fossem inglesas tivessem mais. - Bash se levantou - Vamos moças, precisamos arrumar aquela cozinha - disse ele se referindo a sua equipe.

– Preciso ir também, mãe, fiquei de me encontrar com um amigo hoje à noite - disse Aaron.

– Ok, eu te levo até a porta - Anna respondeu.

Depois de algumas despedidas restou somente eu e Joseph, os dois lado a lado como velhos amigos, só que não éramos exatamente amigos. O silêncio era confortável, mas ele resolveu destruir a calmaria.

– Há quanto tempo conhece a Anna?

– Faz uns 5 anos, mas às vezes parece a vida toda - sorri.

– É bem bonita a relação de vocês.

– Obrigada.

– Ela comentou uma vez, antes de saber que nos conhecíamos que você gosta de Maria Rilke - ele me observava de soslaio.

– Um dos meu poetas favoritos.

Houve mais alguns segundos de silêncio. Dava para ouvir os barulhos dos carros passando nas ruas próximas.

– "Como um fósforo a arder antes que cresça / a flama, distendendo em raios brancos/ suas línguas de luz, assim começa..." - ele declamou perfeitamente.

– Dançarina Espanhola, por que não me impressiono com a escolha? - revirei os olhos. Eu estava um pouco corada.

Ele riu.

– É divertido te ver sem graça. A propósito é uma pena que você não esteja usando pijamas - ele virou para mim e passou o olhar de baixo a cima.

– Estava até estranhando a conversa agradável - me virei para encarar seus olhos castanhos, quase amarelos - você é ridículo.

– Qual poema dele você gosta? - perguntou ignorando meu comentário.

Me virei de volta em direção da paisagem. Depois de pensar um pouco, achei algo que serviria de resposta.

– "Sei que a vida é boa/ e que o mundo é uma taça cheia,/ mas a mim não me chega ao sangue,/ a mim só me sobe à cabeça."

– A Canção do Suicida,- ele franziu o cenho - você tem que gostar logo do poema mais deprimente dele?

– Ele me dá vontade de viver - sorri. - Me faz pensar que a mim ainda chega ao sangue e que eu ainda tenho que provar muito dessa taça, eu quero isso.

Ele parecia intrigado.

– É um bom ponto - disse devagar.

Então ficamos lá, em silêncio, afundados nos nossos próprios pensamentos, até ficar tarde demais e eu precisar ir.

ma petite?* = minha pequena

bonjuor = bom dia


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Acharam muito horrível a música da Jeannette? kkkk
Eu tenho uma coisa bem chata pra avisar:
Meus capítulos vão sair mais devagar e não tenho previsão pra nada, não posso prometer nada. Esse é meu último ano de escola, então tem que ser O ano, estou estudando mais que nunca, comentei em algum capítulo anterior que as minhas aulas começaram (nesse caso aula do curso pré-vestibular que toma toda a minha tarde e a minha noite) então fica meio difícil de escrever, mas não impossível, talvez saia ainda alguma coisa em janeiro, não prometo. Quando as minhas aulas da escola voltarem vai ser bem impossível mesmo de escrever, mas eu vou tentar.
Se você leu até aqui, obrigada.
xx Ella