Maybe escrita por Ella


Capítulo 3
Eu nunca dei uma festa


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem
xx Ella



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– Luke vai dar um festa?

– Nós vamos dar uma festa.

– Mas Teresa não ia ficar de olho em vocês?

– Teresa é nossa maior cúmplice, você sabe disso.

– E se seus pais descobrirem?

– Eles não vão descobrir Peter, e como dizia Fiódor Dostoiévski "A mentira é o único privilégio dos homens sobre todos os animais.", então vamos usar o privilégio - dei uma cotovelada leve nas costelas dele.

Meus pais estavam viajando aquela semana, e com muita choradeira, Luke havia convencido Teresa a nos deixar dar uma festa pra comemorar a seleção do time da escola, mas como ele estava ocupado com os testes na sexta a tarde, os preparativos ficaram por minha conta. Eu bem que poderia ter me negado a ajudar, mas não custaria muita coisa e me dava um favor de vantagem contra ele. A porta do elevador se abriu revelando meu apartamento, por um instante olhei pra todos os vasos e coisas caras e frágeis que teríamos que levar para o andar de cima, suspirei.

– Vamos logo, quanto mais rápido começarmos, mais rápido vamos terminar.

Centenas de ligações depois, subidas e descidas pela escada, uma pausa para o lanche e de Peter quase ter caído em cima da Luna, os sofás estavam encostados nas paredes, tinha petiscos em cima do balcão, refrigerante na caixa térmica e um coma alcoólico em formato de ponche.

– Missão cumprida - declarou.

– Obrigada, Peter.

– Não precisa agradecer, vou em casa me trocar e volto mais tarde - ele veio até mim e me deu um beijo no rosto.

– Vai mesmo, você tá precisando de um banho - tampei o nariz zombeteira.

– Ei! - ele cutucou minha barriga - Se eu estou tão ruim assim, você não tá muito diferente.

– Não, eu não fico ruim, sou maravilhosa.

– Claro, me esqueci dessa parte - retrucou com sarcasmo.

– Você já não ia? - ergui as sobrancelhas.

E ele foi.

Subi para o meu quarto, estava abarrotado de coisas do andar de baixo em todos os lugares, foi um tanto difícil abrir caminho sem quebrar nada. Tomei um banho, me vesti e peguei um livro pra passar o tempo enquanto esperava e era isso que estava fazendo quando Luke chegou. Luna saltou do sofá na direção dele e ficou apoiando as patas nas suas pernas até que ele abaixou para pegá-la no colo, ele devia fazer um tutorial sobre: como estragar até o animal de estimação, já havia comentado milhares de vezes que não era para ficar com ela no colo já que a deixava mimada e tudo mais, porém Luke simplesmente só absorve o que quer ouvir, ou faz de propósito mesmo, eu aposto na segunda.

– Gostei do que fez com o lugar.

– É um dom. E aí? Como foi a seleção?

– Vamos dizer que você está olhando para o novo capitão do time da St. Luis.

– O quê? - arregalei os olhos.

– Você não deveria parecer tão surpresa irmãzinha - ele colocou a Luna no chão e se jogou no sofá ao meu lado.

– Não estou surpresa, estou furiosa, - fechei o livro bruscamente e me virei para ele - papai e mamãe vão me obrigar a ir em todos os jogos já que sem chance de você ficar no banco, - dei um tapa no pescoço dele - o que você tem na cabeça?!

– Massa cinzenta, branca, líquido... - ele tirou o livro da minha mão - Agora, deixe de ser egoísta e fique feliz por mim - o sorriso dele me fez revirar os olhos.

– Ok, Skywalker, parabéns? - ele assentiu e nos abraçamos - Não deixe o poder subir a cabeça, não é uma coisa tão grande assim.

– Você não tem jeito, não é?

– Hãn... Não. Agora vê se ajeita esse cabelo que os seus convidados estão vindo aí, capitão.

– O que tem de errado com o meu cabelo? - perguntou passando a mão pela cabeça.

Peguei o meu livro de volta e ignorei a pergunta.

– Você pediu pro Tomás liberar o elevador pro nosso andar? - Tomás era o porteiro do prédio.

– Pedi e também paguei pra ele ficar de bico calado para os nossos pais.

– Ótimo. Tem uma faixa na escada e no corredor - apontei para os respectivos lugares - não deixe ninguém passar delas, não quero casais se agarrando nos quartos.

– Sim, senhora - brincou.

– Senhorita, - corrigi sorrindo - e cuidado quando entrar no seu quarto, eu coloquei algumas coisas lá.

– Ok - ele levantou e subiu as escadas.

As pessoas começaram a chegar aos poucos, alguns minutos depois o apartamento estava cheio de adolescentes dançando, conversando, bebendo, eu fiquei um tanto claustrofóbica. Estava conversando com Peter quando Henry saiu do elevador, ele nos avistou e caminhou até nós.

– Então, você está dentro? - perguntei.

– Como titular - ele parecia bem feliz.

Luke se aproximou e lhe deu um tapinha nas costas.

– Esse cara - comentou Luke apontando para Henry - joga muito.

– Ele está exagerando - retrucou ele coçando a nuca.

– Não, você sabe que não estou. - Luke deu um gole no que estava bebendo e voltou sua atenção para mim - O que você fez pra Rebecca?

– Eu não fiz nada, - franzi a testa - por quê?

– Não vejo ela em lugar nenhum.

– Por que você sempre pensa o pior de mim? - perguntei.

Ele me encarou com as sobrancelhas levantas.

– Eu não fiz nada, a Megan chegou hoje da Itália para uma visita.

– Wow! E como Rebecca está?

– Quem é Megan? - Henry estava atento a conversa.

– É a irmã da Becca - respondeu Peter.

– Isso. Ela está lidando, você conhece a Becca, Luke, dificilmente ela explode.

– O que tem de tão ruim na irmã dela? - a expressão de Henry era confusa.

– Megan é meio perfeita, sempre boa aluna, nunca faz nada de errado, cursa faculdade de medicina na melhor instituição da Itália e é aparentemente a favorita dos pais dela, fica tudo pior quando ela vem visitar, porque parece que a comparação é inevitável com ela por perto - expliquei.

– Ou seja, - Luke deu uma pausa pra dar um gole no ponche - os pais dela são uns idiotas e a Megan também.

– Nossa! Eu achei que a Becca era A perfeita de todas as histórias - Henry comentou.

– E ela é. - murmurou Luke baixinho, provavelmente só eu tinha escutado - Se sinta em casa Henry, vou falar com o Chad - ele indicou o outro lado da sala e se foi.

Eu sabia que Luke era afim da Rebecca desde que tinha idade pra saber o que era isso, não que ele já tivesse me contado nem nada, é só que eu conheço o meu irmão, e toda vez que ele fala nela ou está com ela, simplesmente brilha, seus olhos brilham, seu sorriso é mais radiante do que nunca. Ela nunca reparou e ele também também nunca ousou contar. Talvez fosse a minha imaginação mais do que fértil que plantava uma admiração existente da parte dela, uma coisa enterrada no fundo do rosto amável da minha melhor amiga, mas talvez fosse só uma ilusão. Eu prometi a mim mesma nunca me meter, no entanto estava cada vez mais difícil.

– O que vocês acham de irmos para o terraço? Toda essa gente me deixa tonta.

Eles concordaram.

Passamos por debaixo da faixa e subimos as escadas, Henry parecia saborear cada pedaço do lugar, já havia percebido a curiosidade constante dele.

– Você sabe o caminho Peter, podem ir na frente, quero pegar uma coisa.

Eles subiram o outro lance de escadas e eu fui em direção ao escritório do meu pai, havia uma porta que dava para a adega dele, era uma sala pequena, mas grande o suficiente para guardar algumas centenas de garrafas de vinho. É claro que ele deixava o lugar trancado, mas alguns anos antes eu descobrira onde ele guardava a chave, dentro da terceira pasta na quarta gaveta da mesa dele, e lá estava ela. Destranquei a porta e o ar frio da sala me atingiu, eu sabia algumas coisas sobre vinho, peguei um bom, nada que ele gostasse muito e com um teor de álcool considerável. Usei o saca-rolhas e devolvi para o lugar. Guardei a chave na pasta, mas não era só isso. O livro de inventário estava na prateleira, meticulosamente procurei o nome do que eu tinha pego, marquei como consumido e coloquei uma data falsa.

Subi as escadas. Uma das vantagens de se morar na cobertura do meu prédio: só a gente tinha acesso ao terraço. O lugar era um chão de concreto e nada mais, o vento estava um pouco forte, Peter e Henry esperavam encostados na amurada.

– Quem quer brincar de "eu nunca"? - sorri caminhando até eles.

– Roubando da adega do seu pai, Catherine? Que feio - Peter fingiu uma cara de reprovação.

– Como se brinca disso? - Henry, o garoto de muitas perguntas.

– Em que mundo você vive? Você nunca brincou? - ele negou, então continuei - É bem simples, você fala algo que nunca fez, e se alguém já fez toma um gole da garrafa.

– Qual o objetivo?

– Conhecimento e ficar bêbado, mais alguma coisa Sr. Perguntas?

– Não - ele corou, tinha um prazer especial fazê-lo corar, era ótimo.

– Você começa Peter - cutuquei ele.

– Ok, Hãn... Eu nunca...

Então o jogo começou com situações bestas e engraçadas, não vale a pena citar tudo, mas algumas foram interessantes como:

– Eu nunca fiz sexo com mulheres - declarei.

Os dois deram um gole.

– Eu nunca nadei nu - disse Peter.

Henry deu um gole.

– Eu nunca fiz sexo com um homem - Henry lançou, por falta de ideias.

Quando não bebi eles ficaram me olhando até que eu mandasse um "O quê?" e o jogo continuou. Eu só tive um namorado na vida, o que é um tanto inacreditável, apesar do namoro ter durado dois anos nunca passamos dos amassos e não me arrependo disso.

Quando todos se foram, eu e Luke ainda tivemos que arrumar a bagunça, o que deu um trabalhão. Já era dia quando deitei na cama e dormi no mesmo instante.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do Henry não ser um santinho afinal?
xx Ella