Little Me escrita por AnaTheresaC


Capítulo 2
Capítulo 2 - Puzzle inacabado


Notas iniciais do capítulo

Merry Christmas!!!
Para quem gosta de se isolar da família e de ler fanfics, aqui está um capítulo para se refugiarem no dia de Natal.
Boa leitura!



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Capítulo 2 – Puzzle inacabado

–Bom dia, Elena – murmurou Clara, assim que saiu do quarto, indo até á sala enrolada num cobertor. Elena estava sentada no sofá, já vestida e pronta para ir trabalhar, a comer cereais com leite.

–Bom dia, Clara. Dormiste bem?

Clara deu um beijo à irmã. – Sim. Melhor não podia ter dormido. E não estou de ressaca!

Elena riu e arqueou uma sobrancelha.

–Eu ontem pensei que tinha que acordar o nosso vizinho do lado para te trazer escada acima.

Clara arregalou os olhos.

–Eu estava assim tão mal?

–Sim, estavas. Para além dos risinhos, antes de te ires deitar. Mas conseguiste tirar a maquilhagem e lavar os dentes sem a minha ajuda. Isso é muito bom!

–Oh, ao menos isso! – Clara recostou-se no sofá, enrolando-se ainda mais no sofá. – Onde está o meu tablet?

–No sítio onde o deixaste, querida.

–Oh, não, acabei de sair de lá! – exclamou Clara.

–Deixa estar, eu vou buscar-to – prontificou-se Elena, levantando-se do sofá. – A Mãe ligou – falou, enquanto ia à cozinha colocar a tijela dos cereais. – Está bem, acabaram de chegar a Florença.

–Oh, que bom – comentou Clara.

A Mãe de Elena e Jane viajava muito. Quando o seu primeiro marido, Steve, tinha falecido, tinha deixado para trás a pequena Elena de cinco anos e uma viúva com dívidas para pagar. Afinal, Steve era um homem corrupto e viciado no jogo. Assim que Helen tinha entrado em luto, não paravam de chegar cartas com dívidas de jogo e da banca para pagar. Atolada, e sem um único tostão na conta bancária, Helen virou-se para os seus amigos, implorando por ajuda. E um dia, quando estava em casa de uma das suas melhores amigas que estava a ajudá-la a lidar com a pressão do banco, conheceu David, encantador, alto, loiro, de olhos verdes escuros e sentiu compaixão quando ouviu a horrível história de Helen. Pouco tempo depois, ele tinha-lhe pago as dívidas todas e pediu-lhe em casamento. Desse casamento surgiu Clara, e Elena era como uma filha de sangue para ele. Não fazia distinção entre as duas. Homens como ele são difíceis de encontrar, mas quando se encontram, só se pode agradecer por ainda existir pessoas que não têm um pingo de egoísmo e que possuem valores cavalheirescos. Ambos decidiram tirar umas férias do trabalho árduo e estão a passar cinco meses a viajar pelo Mundo.

–Aqui está – Elena entregou o tablet á irmã e informou: - Só estou em casa por volta das dez da noite, hoje tenho um jantar de trabalho. Ficas bem?

–Claro que sim. Tenho que estudar para a Faculdade e não te preocupes que eu arrumo a casa.

–És um anjo – Elena deu um beijo no topo da cabeça da irmã. – Até logo.

–Até logo!

Clara ligou-se ao Facebook. Como para todos os jovens, era a rede social que mais utilizava. Twitter às vezes podia ser bastante impessoal. E James estava online.

James: Então, como está a Miss embriagada?

Clara revirou os olhos e sorriu, escrevendo uma resposta rápida. Felizmente, os seus reflexos já tinham melhorado.

Clara: Nem me digas nada! Eu ontem estava mesmo mal. Já nem conseguia andar em linha reta. E Elena disse-me que eu só estava aos risinhos.

A conversa continuou, onde Clara se desculpou mais uma vez o engano que tinha cometido na noite anterior. De seguida, foi arrumar a casa, ouvindo músicas da Taylor Swift. E, por fim, foi estudar. Mas, nem por um segundo apenas, ela deixava de pensar nele e na possibilidade de talvez voltarem.

O perdão não é algo que se dá facilmente, mas por ele, Clara estava disposta a questionar os seus próprios valores.

A sua mente voava entre as várias conversas do passado e o futuro hipotético. Ela lembrava-se da conversa que Davina tinha tido com ela:

–E quando ela chegou lá, foi logo ter com ele e ele começou a meter aquelas mãos nojentas no corpo todo dela – Davina fingiu um arrepio e fez cara de enjoo. – Foi nojento.

–E que mais? – quis saber Clara, bebendo um gole do seu chocolate quente logo de seguida.

–Sei lá… eu deixava de os ver algumas vezes, então nem sei o que é que chegaram a fazer. Ma quando os via, eles estavam sempre a comer-se um ao outro. Ali, na pista de dança.

Clara podia imaginar as mãos de James a viajar por aquele corpo escultural da modelo Victoria’s Secret, tal como ele fazia com ela. A sua mente estava tão poluída de coisas que Davina tinha dito, que acreditava que James não tinha escrúpulos, que ele ia tocar no corpo de uma rapariga qualquer como ele tocava nela. Ele não fazia distinção. Na verdade, Clara interrogou-se se ele gostava dela ou se só queria ir para a cama e ter uma boa noite de sexo. Porque se fosse a segunda opção, então Clara sentiu-se grata por, um dia, ter dito que não.

Tinha sido uma semana antes de ele a ter traído e naquela altura ainda não tinha começado a tomar o contracetivo. Quando ele a indagou sobre se ela queria avançar, recusou sem pensar duas vezes. Havia muito em jogo: primeiro, estavam em casa de Elena, e ela podia chegar a qualquer momento; em segundo, não era a casa dela, então seria uma falta de respeito para com a sua irmã; terceiro, não tinha começado a tomar a pílula; e em quarto, ele não lhe dava as garantias que ela precisava para ter a certeza que aquilo que eles tinham não era apenas um jogo da sua imaginação.

As “garantias” para os rapazes podem ser complicadas de entender, pensou ela. Pelo menos para ele, era. Clara não queria o género de garantia que incluía um anel no dedo e um copo d’água gigante, uma vivenda com vista para o mar, com um banco de baloiço no alpendre e cinco filhos. Não, ela queria ir ao cinema com ele, queria ir dar um passeio á beira-mar, queria que ele a apresentasse aos seus amigos. Que contasse ao mundo inteiro que estava feliz com ela.

Mas James não era assim. Desde o início que ele tinha pedido para ela não contar às suas amigas sobre eles os dois, desde o início ele tinha pedido para manter tudo discreto. Mas discreto não é segredo, ou é? Clara tinha quebrado a parte de não contar às suas amigas, afinal, elas são suas amigas e têm todo o direito de saber que ela está feliz com alguém. E quando notou que ele não tinha contado rigorosamente a ninguém sobre eles os dois, incluindo ao seu melhor amigo, foi a gota d’água.

Como é que ele se atrevia a mantê-la no anonimato? Era muito bom ter uma namorada que estivesse fora do seu círculo, para assim ele ter a oportunidade de estar com outras raparigas, de fazer o que bem lhe apetecesse. Mas isso gera desconfianças. Como é que se pode confiar numa pessoa se ela se fecha na sua própria concha e não dá detalhes sobre o que faz? Não é uma questão de controlo, é uma questão de respeito e confiança. Uma conversa veio á mente de Clara:

–Davina contou-me que tu és expulso das aulas por responderes mal aos professores. Eu não percebo, James, tu comigo és gentil e bem-educado e depois os professores expulsam-te das aulas por seres arrogante?

James enrugou a testa.

–Como é que ela sabe disso?

–Ela tem amigas que estão na tua turma – respondeu Clara com clareza. – E é óbvio que elas falam de ti.

E ele não negou uma última vez. Quando ele perguntou como é que Davina sabia, Clara pensou que ele estaria a tentar encontrar uma peça do puzzle para encaixar, para mostrar que ela estava a mentir. Mas ele não negou. Tudo o que Clara queria ouvir era “ eu não sou expulso das aulas”, apesar de ser um desejo ambíguo. Por um lado, se ele negasse e depois se revelasse verdade, então ele seria um mentiroso. Mas por outro, o seu silêncio demonstrou que ele não era quem ela pensava que era. Afinal, existe um lado arrogante e mal-educado no seu querido e amado James. Isso doeu mais do que qualquer traição. Assim, ele parece algo que não existe, alguém que mente, que esconde a sua verdadeira essência.

O pior de tudo era que Clara queria conhecer esse seu lado mais escuro. Ela não se importava que ele tivesse um lado negro, desde que nunca a desrespeitasse. Estaria também disposta a ajudá-lo, se necessário. Ela era o tipo de rapariga que iria ter à cadeia para o tirar de lá, se ele alguma vez se colocasse em sarilhos com a polícia. Clara estaria disposta a conhecer e a aceitar este seu lado, desde que ele não lhe mentisse e a traísse.

©AnaTheresaC


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Próxima quarta há mais!
XOXO



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