Little Me escrita por AnaTheresaC


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Modelo da Victoria's Secret


Notas iniciais do capítulo

Como a fic é baseada na música Little Me, se quiserem ouvir a música enquanto estão a ler, aqui está o link: https://www.youtube.com/watch?v=X1QTdSW0UAc



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Capítulo 1 - A Modelo da Victoria's Secret

Assim que entrou, percebeu quem era. Não foi necessário ninguém dizer-lhe quem era aquela elegante rapariga que tinha entrado pela porta do restaurante, pronta para felicitar a amiga que tinham em comum.

Ela era tudo o que Clara não era: alta e magra; os seus cabelos eram loiros e os olhos azuis-escuros. Tinha uma elegância a andar, mesmo de saltos altos finos que provocava inveja. Contudo, em Clara ela não provocou isso, apenas tristeza.

A sua melhor amiga, Davina, olhou para ela. E, de novo, não foram precisas palavras. A sua amiga e confidente estava a estudar a sua reação. Clara não conseguiu decifrar se era por cusquice ou preocupação.

-Desculpa o atraso, Davina – falou a loira e Clara perscrutou-a com o seu olhar azul. – Mas estive na cidade a fazer voluntariado.

-Não há problema. Ainda bem que vieste. Íamos agora cantar os parabéns – disse Davina e mais uma vez olhou rapidamente para Clara, tentando procurar alguma evidência do que estava nos seus pensamentos.

Clara sabia que não era a rapariga mais gira á face da Terra, mas tinha consciência de que não era feia. Naquela noite, com o lápis do olho carregado, o rímel, a sombra prateada, a base no rosto, os lábios vermelho-sangue, as leggings pretas com os seus botins de cunha pretos e a camisa vermelha, o seu ego e autoestima estavam no máximo. Mas bastou ela chegar para se sentir desconfortável. Um ataque de lágrimas assolou­-a. Bebeu um gole de água, permitindo­-se desviar a sua atenção dela. Ela tinha uma aura, uma presença, que era impossível desviar o olhar dela. Era como se possuísse um íman, que atraísse a atenção de todos.

É claro que ele a largaria por ela. Quem não iria?

Cantaram os parabéns a Davina. Clara não conhecia muitas pessoas da pequena festa e por causa disso, quando saíram do restaurante e foram para um bar, manteve-se incluída no grupo, mas sem falar com ninguém. Preferiu ter cuidado aonde pisava, mantendo o olhar fixo no chão, deixando os seus pensamentos mais tenebrosos tomarem conta de si por uns momentos.

Davina, que estava a liderar o grupo e a falar animadamente com as suas amigas, deixou-se ficar para trás e entrelaçou o braço no de Clara.

-Já a viste?

-Quem?

-Kaytlin.

-Sim, já – Clara preferiu não se alongar.

­-Foi com ela que o James curtiu naquela noite.

­-Eu sei – Clara usou o seu tom frio e calmo, mas por dentro estava de rastos.

-Ele é capaz de aparecer – informou Davina. Já era a quinta vez que ela dizia isso no espaço de menos de três horas.

-OK.

-Temos amigas em comum.

Clara acenou e só depois se lembrou:

-Mas ele vem?

-Não sei – respondeu Davina, encolhendo os ombros em gesto de indiferença, mas por dentro estava a desejar que ele viesse, só para ter a oportunidade de ver a reação dele ao vê-las juntas: a sua ex-namorada e a sua ex-ficante.

Um dos convidados chamou Davina e ela desviou a sua atenção, a líder do grupo, como sempre. Clara deixou-a ir, mantendo o seu passo.

Sentaram-se todos na esplanada. Clara ficou abstraída com o seu iPhone por alguns momentos. Não estava a fazer nada com ele, apenas o desbloqueou, mexeu nas teclas por acaso e voltou a bloqueá-lo.

-O que pediste? – indagou Clara, olhando para a sua melhor amiga.

-Sangria, claro.

­-Também quero uma, por favor – disse Clara para o senhor que estava a atender a mesa deles.

-Branca ou tinta?

-Tinta.

Porque não há nada melhor do que beber sangria com vinho tinto para afogar as mágoas, pensou Clara.

As bebidas não demoraram a chegar e pagaram logo. O copo era grande, mas Clara nunca tinha sido um grande génio a Matemática, então não soube medir com precisão quantos decilitros o copo teria. A sangria estava forte, o vinho não era grande coisa e o açúcar não tinha diluído, mas mesmo assim foi bebendo pela palhinha.

Cada vez que olhava para Davina, via obrigatoriamente Kaytlin, já que ela ficava no seu campo de visão. E quando mais olhava, mais bebia. Olhou para o seu telemóvel para ver as horas e quando ergueu a cabeça, viu o mundo a andar á roda.

-Davina… - a amiga prestou-lhe logo atenção. – Quantos centilitros é que isto tem?

-Meio litro – as duas olharam para o copo vazio de Clara.

-Oh – disse ela.

-Sim, Clara, tu acabaste de beber meio litro de sangria.

E Clara permaneceu calada e ficou a observar o ambiente. Os rapazes, de um canto da mesa bebiam as suas cervejas e conversavam em voz baixa. As raparigas também falavam, mais rapidamente e um pouco mais alto, mas sem exageros. Então Clara notou que Kaytlin tinha pegado num cigarro e estava a acendê-lo com o cigarro já aceso de um amigo.

-Eu não sabia que isso se podia fazer – comentou Clara para o amigo de longa data que estava ao seu lado.

-Eu sabia, só não sabia como. Estou a aprender – disse ele, observando. Mas inevitavelmente Clara pensou que ele também tinha ficado encantado com a beleza de Kaytlin.

Clara decidiu focar-se noutros assuntos, apesar de ser quase impossível. Focou-se na sua amiga, Davina, que estava a falar com Lily sobre algo. Clara olhava para elas, ouvia-as a falar, mas de alguma forma o seu cérebro não conseguia interpretar o que elas estavam a dizer. Encostou a cabeça á sua mão, usando-a como uma almofada e ficou a observá-las a conversar. Ao menos enquanto estivesse focada noutro assunto, não estaria a pensar em Kaytlin e em como ela estava naquela mesma mesa.

O telemóvel de alguém tocou.

-Sim? – Kaytlin atendeu logo, numa voz baixa e discreta, mas Clara ouviu-a. Engraçado como não conseguia perceber o que as suas amigas estavam a dizer, mas a voz de Kaytlin entrava na sua cabeça como se fosse o canto de uma fada. – Sim, está bem. Vou já – a loira desligou o telemóvel e muito discretamente despediu-se das duas meninas que estavam ao seu lado e foi-se embora, andando para a estação de metro como se de uma modelo se tratasse, e a calçada fosse a sua passadeira.

O tempo passou a voar, mas para Clara, tudo não passou de cinco minutos apenas. O desfilar de Kaytlin ainda estava no seu olhar, no seu pensamento. Ela era quase uma modelo da Victoria’s Secret. Quem é que iria querer uma petite quando podia ter aquela jovem alta e loira?

-Vou ligar á minha irmã – disse Clara, pegando no seu iPhone e passando o dedo pela sua lista telefónica. Clicou no nome e colocou o telemóvel no ouvido. Dois toques depois, falou: - Elena, eu vou apanhar o metro daqui a dez minutos, está bem?

-Eu não sou a Elena.

Clara congelou por alguns momentos. Aquela era uma voz masculina.

-Quem fala?

-É o James.

-Oh, peço imensa desculpa! – apressou-se a dizer, apesar de saber que se o seu raciocínio estava lento, a sua voz também deveria de estar. – Eu queria ligar para a Elena.

-Não faz mal – James riu do outro lado da linha. – Com quem é que estás?

-Estou… estou num bar ao pé da estação de metro – aquela não era a resposta á pergunta pedida, mas Clara nem tinha percebido metade da pergunta. – Desculpa, a sério.

E mais uma vez, James riu. Aquela era a primeira vez que Clara tinha ficado embriagada e ele estava a achar bastante engraçado ouvi-la a balbuciar as palavras de maneira arrastada.

-Tudo bem.

-Adeus.

-Adeus – ele desligou primeiro a chamada, mas isso apenas aconteceu porque Clara já tinha perdido a coordenação. Com mais cuidado, ligou para Elena.

-Oi, mana, eu vou apanhar o metro dentro de dez minutos.

-Está bem. Lá estarei – respondeu Elena do outro lado e Davina ergueu-se.

-É melhor irmos andando – afirmou para o grupo, que começou a erguer-se das cadeiras. Assim que Clara se levantou, o seu mundo girou. Leonardo pegou no seu antebraço, notando a tontura da amiga.

-Estás bem?

-Bebi demasiado, só isso.

O seu amigo de longa data sorriu enviesado. Ele não gostava quando Clara cometia erros, como embebedar-se. Isso era para ele e os seus outros amigos. Clara não era assim. Clara era especial para ele, uma amiga com quem podia contar, mas que era ingénua e não percebia como o mundo podia ser cruel com quem não toma atenção.

Alguns foram até ao metro, outros foram a pé para casa. Quando Clara entrou no metro, o ar quente confortou-a, mas nem isso diminuiu a sua falta de equilíbrio.

-Elena vai matar-me quando me vir neste estado – murmurou e Leo, como gostava de ser chamado, sorriu.

-Só um bocadinho. E nem estás tão mal, já vi pessoas piores.

-Oh, querida, eu já vomitei nas traseiras de mil e uma discotecas – afirmou Lily, para espanto de Clara.

-Não sabia que já frequentavas esses sítios.

-Claro que sim – disse, como se fosse a coisa mais óbvia á face da Terra, e algo muito cool, como se, quem não fizesse parte disso, fosse um ser inferior. – Para que serve vivermos se não vivermos a vida?

Clara tinha uma perspetiva diferente, mas decidiu não argumentar, sabendo que não ia vencer.

Finalmente chegaram. Clara saiu da estação com duas amigas de Davina. No meio da confusão e despedidas, não tinha tido tempo para se despedir convenientemente da anfitriã. Mas não havia problema, sabia que Davina iria perdoá-la.

Elena estava á sua espera, com um sorriso lindo no rosto. Elena era linda. A sua pele morena, olhos e cabelos castanhos-escuros eram a sua imagem de marca. Elegantemente vestida, com umas calças de ganga, ténis All Star, uma camisa vermelha e um casaco de cabedal preto, todos diriam que, noutra pessoa qualquer, seriam roupas normais, mas Elena tornava-as especial. Ela tinha uma aura poderosa, que até mesmo o mais descrente iria conseguir sentir.

-Olá, Lena – falou Clara, sem sequer olhar para trás, para as raparigas que estavam atrás dela e eram-lhe completamente desconhecidas. Mas Elena notou.

-Olá, Clara – sorriu fraternalmente para a irmã e só depois de se terem afastado da estação de metro e estarem quase em casa é que Elena se atreveu a perguntar: - Aquelas raparigas que estavam atrás de ti, vieram contigo?

-Sim, elas são amigas da Davina. Porquê?

-Porque já vi o James algumas vezes com elas.

Clara sentiu um arrepio na espinha, que se espalhou para todo o seu corpo. Teve muito frio e sentiu o seu coração gelar.

-Eu não precisava de saber disso, Elena – murmurou ela, magoada.

©AnaTheresaC


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Próxima quarta há mais!
XOXO



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