VSM-02 escrita por aieincie, Jujuba


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Sentimos muito por tudo isso. Por fazer vocês esperarem tanto, mas em compensação, esse é bem grandinho.
Beijos!



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Sigo minha primeira reação. Chuto sua canela.

Jackson geme e se afasta, abaixando para massagear o local dolorido. Respiro com dificuldade. Continuo apoiando as costas na porta, enquanto tiro o revólver do coldre e aponto para ele.

Levanta os olhos devagar e, como uma flecha, avança para cima de mim, arrancando a arma das minhas mãos e a jogando para longe, no outro lado do apartamento. Ergo o punho para socá-lo, mas ele o segura. Levanto o coturno para alcançar a faca. A ergo em sua direção.

Jackson não se assusta. Pelo contrário, ele avança até que a ponta afiada esteja em sua garganta. Seus olhos me fuzilam, o sorriso idiota no rosto.

Eu vou te expulsar desse lugar.- sussurro, encarando-o.

Então, lentamente, Jackson tira a faca dos meus dedos, sem quebrar o contato visual. Coloca um dos braços ao redor do meu corpo e a mão do outro em meu queixo.

—Eu duvido. -diz, tão baixo que quase não escuto.

Sinto um choque elétrico me percorrer quando seus lábios tocam os meus. Percebo-os quase salgados. E maresia. O cheiro dele.

Parte de mim quer recusar. Quer bater em Jackson por tanta ousadia e expulsá-lo da colônia. Como uma comandante normal faria.

E a outra quer apenas se entregar ao beijo, sem ligar para mais nada.

Tudo isso eu percebo em um milésimo de segundo. E, antes que eu possa me controlar, sinto sua língua pedir passagem em minha boca. Não tenho escolha. Eu cedo.

Sua mão desce para onde a outra se encontra, em minha cintura, apertando-me contra si. Não tenho controle algum sobre o que estou fazendo, apenas faço. Enrosco os dedos da mão direita em seu cabelo negro, enquanto a esquerda segura sua nuca.

E, inesperadamente, correspondo ao beijo.

Este é diferente do outro. Diferente de quando ele me beijou em seu apartamento. Antes, eu o expulsaria sem dó ou piedade. Mas, agora, eu só quero que não sejamos interrompidos, como em todas as outras vezes.

Ele se afasta alguns centímetros e nós recuperamos o fôlego. Meu coração parece uma orquestra apenas de tambores, batendo muito forte. Ele ergue os olhos e sorri. E então parte da minha lucidez volta e eu nego com a cabeça.

O que raios estou fazendo?

Olho para baixo. -Percy...

Não.-diz.

—Não o quê?

—Não vou deixar que diga que não se importa. Que não liga. Posso ver em seus olhos, Annabeth. Está esperando por isso a tanto tempo quanto eu.

—Percy...-começo.

Ele me beija de novo, um pouco mais forte. E depois me olha:

—E eu também não me importo com o fato de você ser a comandante. E ter suas obrigações e ter que seguir as regras. Ou com o fato de que você ameaçou me expulsar da colônia. Eu não ligo para nada disso agora. E não vou deixar você se negar o que realmente quer.

Quase posso ouvir a razão e a emoção brigando em minha mente. Ele... Ele me deixa louca! Em circunstâncias normais, beijá-lo seria uma idéia completamente ridícula. Mas...

Acho que não faz mal se divertir de vez em quando.

—Eu só ia falar que, pela primeira vez, ninguém nos interrompeu.

Ele sorri, sabendo que não é verdade, mas não liga. Seu sorriso é lindo. Toco seus lábios com o polegar, tentando de alguma forma resistir à vontade de voltar para o beijo.

É claro que não funciona.

Alguns momentos depois, alguém bate à porta. Eu me afasto e Percy me encara.

—Não. Ouse.—ele sussura.

Eu sorrio, enquanto minha mão desliza para a maçaneta e a tranca. Ele sorri também, satisfeito. Obviamente, escutando o barulho da chave, a pessoa se afasta, pois ouço seus passos.

—Pobre Leo, -imagino. -ele iria dormir aqui, sabe.

—Bom, iria. Não vai mais.

—Muito melhor.-falo baixo, em resposta.

Voltamos para onde paramos. Ele traça uma trilha de beijos até o meu pescoço e para por ali. Fico completamente sem ar. Seus dedos se embrenham em meu cabelo e puxam-no, de leve, para que eu erga o rosto e libere o espaço abaixo do queixo. Provavelmente isso vai deixar uma marca.

Por favor entendam a situação. Eu estava fora de mim! E ele é tão... ele.

Desço minhas mãos para sua cintura e ele leva as suas para os meus cachos, voltando a atenção para minha boca. Eu começo a brincar com a barra de sua camisa, agitada. Ele não faz menção de querer me parar. Então dou livre arbítrio às minhas mãos para que passeem por sua pele, abaixo do pano.

Posso sentir cada músculo do abdômen sarado que eu vi hoje de manhã, na sala de treinamento. Ele é realmente forte. Perto das costelas, sinto uma elevação. Uma cicatriz, suponho.

Agora, eu tenho quase certeza, já sejam umas onze horas. Eu jamais imaginaria que a noite acabaria assim.

Mas, antes que eu possa arrancar a maldita camisa, ele empurra minhas mãos para baixo e se afasta um pouco.

—Ahn... Annie. Eu não sei se é uma boa idéia.

Reviro os olhos. -Quando finalmente nos beijamos sem interrupção ou sem que eu me negue, você me recusa?

Ele se aproxima e toca meu rosto.-Não me entenda mal. É só que...

Sorrio. -Hey. Está tudo bem. Só estou brincando.

Percy me beija de leve e sussurra em minha orelha:

—Não significa que eu não queira passar a noite com você.

Eu sinto meu coração falhar uma batida. Ele coloca um dos braços abaixo dos meus joelhos e o outro pelas minhas costas. Então, sem qualquer esforço aparente, me ergue do chão e me carrega até a cama.

Me encosto na parede do quarto e ele se deita ao meu lado. Seus olhos verdes-mar são a única coisa que quero ver antes de pegar no sono. Ele enlaça minha cintura e me puxa para perto. Me recosto em seu ombro.

—E se eu tiver aquele pesadelo?

—Eu vou estar com você.- ele diz, baixinho.

E, antes do que eu esperava ou quisesse, acabo dormindo.

...

Acordo com o sol em meu rosto. Olho ao redor e não o vejo. Sinto meu sangue gelar, e então noto o bilhete em cima do criado-mudo:

"Querida Annie,

Sinto muito por não ter ficado até você acordar, mas é porque tenho que fazer algo importante (espero que você não me mate). Quero deixar bem claro que você fica linda dormindo (e acordada também!) e eu realmente tive sonhos maravilhosos com a minha comandante. Volto logo.

Tenha um bom dia.

Percy.

P.S: Você passou a noite sem pesadelos."

Percebo um sorriso bobo se instalando no meu rosto.

Vou para o banheiro e saio já vestida. Não com a roupa de combate, mas sim calças jeans, camiseta laranja e cabelo solto. Ainda assim, escondo pelo menos três facas. Ouço batidas.

—Pode entrar.-digo.

Ele sorri ao ver a roupa diferente. Coloca uma sacola na mesa e me abraça. Retribuo o gesto e Percy beija minha bochecha e pescoço. Continuo com os braços em seus ombros e os dele em minha cintura.

—Bom dia, comandante Chase.

—Bom dia, Jackson. Por que saiu?- as palavras escapam da minha boca.

Ele sorri.-Sentiu muito a minha falta?

Reviro os olhos.-Não seja convencido. Só quero saber.

Ele suspira e brinca com um dos cachos do meu cabelo.-Reyna veio aqui hoje de manhã. Ela quer te mandar para uma área na cidade que foi constatada com movimentos de calor. Como os zumbis não tem sangue quente e talz... Enfim. Não quis te acordar. Então fui agendar para mais tarde, depois do treinamento. E vou com você.

Assinto. Ele inclina a cabeça e encosta sua testa na minha. Depois, devagar, sinto seus lábios. Tento ao máximo resistir, mas Percy é bem persuasivo, e logo estou com as costas prensadas na parede. Eu o interrompo, mas ele apenas ri da tentativa e me beija mais forte, empurrando de leve minha boca. Cheiro de maresia...

Faço esforço para lembrar do assunto a tratar e me afasto. -Temos que conversar.

Ele franze as sobrancelhas, mas assente. Nos sentamos na mesinha e ele diz que convenceu a senhora da cantina a embalar nosso café. Enquanto comemos, eu começo:

—Em primeiro lugar; Percy, isso que aconteceu fica apenas entre nós, okay?

—Por mim tudo bem, mas Reyna é muito perceptiva. Eu duvido que ela não descubra nada.- ele diz, comendo um brownie.

Assinto. É, ela vai descobrir. -Certo. Em segundo; isso realmente não é nada demais, não é?- digo.

Ele me encara.-Como assim?

—Nós. Não é algo forte. Só... diversão?

—Annabeth, aquilo ontem parecia apenas diversão?

Eu não sei o que falar. Ele disse que tinha apenas uma atração por mim. Nada demais. E eu sou a comandante da colônia, afinal. Não posso ser "romântica".

Digo tudo. Percy passa a mão pelos cabelos.

—Acho que está certa. Só... diversão. Mas eu gostei de ficar com você, Annie. Será que posso beijá-la, ou mais, -ele sorri, malicioso.- mesmo que não seja nada real?

Fala como se eu fosse psicologicamente capaz de esquecer oque aconteceu, penso e assinto.

—Sim. Desde que ninguém além da vice-comandante descubra.

Ele sorri e eu também. E, incontrolavelmente, me levanto e vou até Percy, beijando-lhe a testa e logo os lábios. Ele me puxa para o seu colo e eu desenho linhas com o dedo em seu pescoço e queixo. Ele morde meu dedo e eu rio.

São momentos tão simples. Tão comuns antigamente e tão raros agora. Com ele, quase me sinto... Normal.

E então é claro que alguém tem que nos interromper.

—Comandante Chase. -Reyna bate à porta.

Percy sussurra "não" em meu ouvido, mas eu o ignoro, levanto e mando-a entrar.

Avilla-Ramirez despreza Percy com um simples "tenente" e se dirige a mim, falando da mudança de horários. No fim do discurso, ele se levanta e vai para a porta. Peço gentilmente para que ela espere um minuto e vou até ele.

—Te vejo no treinamento. -Percy diz e me beija.

Me afasto rápido, ciente da outra presente. Ele dá de ombros:

—Ela vai descobrir de qualquer forma.

E a porta se fecha. Me viro e vejo Reyna incrédula. Ouço-a dizer:

—Explique-se. Incluindo, sem detalhes, a parte em que vocês dormiram juntos.

Eu suspiro, como uma boba. -Não foi nada disso.

...

—Eu realmente tenho que ir -digo, tentando colocar algumas facas na cintura, enquanto certo alguém insiste em tentar me beijar. -Na verdade, pensando bem, você também tem que ir!

Reparo que ele já está com o traje de combate e dou um tapa em mim mesma mentalmente por ser mais lerda do que o Jackson.

—Já estou pronto, Annie.- diz, sentando na cama.

—Aqui é comandante, tenente.- solto e ele levanta uma sobrancelha.- Tipo, não no quarto, estou falando do momento.

Ele começa a rir e eu relaxo um pouco. Quer dizer, nosso relacionamento não é dos melhores e eu ainda estou meio tensa por terem achado sangue quente em uma área morta. Penso mil coisas, mas, a que mais me intriga, é o porquê de Percy insistir em me acompanhar, de qualquer modo.

Sem querer ofender, mas tenho soldados melhores do que esse e eu o disse (Qual é! Ele estava provocando, dizendo que eu não me lembro nem de tomar o café da manhã, imagine de me cuidar!), mas Percy manteve-se firme.

Sinto que, apesar de tudo, ele ainda esconde coisas de mim.

—Vamos.- ordeno, enquanto prendo meu cabelo. Ele assente e se levanta.

Estamos na porta do apartamento quando ele me barra.

—Prometa que não vai sair do meu lado.

Encaro seus olhos verdes-mar tentando detectar qualquer tipo de gracinha e zombaria.

Não encontro.

—Você só pode estar brincando, certo? -rio, mas ele não amolece.

Era realmente oque me faltava.

—Escuta aqui, Jackson, eu vou para uma zona morta. Não se encontra ninguém vivo ali em anos. Se eu achar qualquer coisa lá que precise respirar para sobreviver, vou me arriscar.

—Você não vai...

—Como é que é?- pergunto, gritando.- Eu, a comandante, não vou? O que te deu hoje, tenente?

Quem ele pensa que é? Melhor começar a fechar essas asinhas, antes que eu as corte fora. Por que já cortei muitas para chegar aqui. Uma a mais uma a menos, não vai me fazer nenhuma diferença.

Mesmo sendo ele.

—...Morrer e se machucar. Você não vai se arriscar e me fazer querer matar o médico por não deixar te ver. Você não vai me deixar nessa agonia que sinto toda vez que se machuca.

Fico em silêncio por alguns segundos. O que diabos aconteceu aqui? Eu tenho um compromisso com essas pessoas. Não só as que estão dentro da Colônia 3. Mas as que se mantiveram vivas fora dela. Essas são guerreiras. E não importa como, elas precisam ser salvas.

—Não vou me colocar em risco, soldado. - minto. -Mas, que fique bem claro que sou sua comandante, e eu não quero que você confunda as coisas. -respiro bem fundo, enquanto sinto o cheiro de maresia e a sensação de paz que ele mantinha dentro de mim ir se esvaindo cada vez mais rápido. -Nós não temos nada, Tenente Jackson. Coloque-se no seu posto. Esqueça aquela conversa de que poderíamos tentar. Tentar fazer com que isso funcionasse. Eu luto, não escrevo cartas de amor. Não sou essas garotas que você encontra por aí. Aquela sua atração? Controle-a.

Percy fica em silêncio, apenas me encarando, e posso ver que as palavras tiveram o efeito esperado.

—Claro, comandante Chase.- responde.- Não temos nada. Mas mantenha firme a sua palavra de não se matar.

Vale lembrar que eu não dei minha palavra para exatamente nada. Mas ainda assim, prenso os lábios fechados e concordo com um aceno.

...

O lugar parece um deserto. Metaforicamente, claro. Isso aqui está um frio de lascar. Acho que a matéria quente que acharam era qualquer corpo de pássaro recentemente morto, por que qualquer coisa é mais quente que esse vento.

Olho para os lados. Reyna está aqui. Ela olha para todos os postos onde montou as equipes estrategicamente. Temos quinze homens, no total. Tenente Jackson está aqui também. Claro que é contraditório à equipe, que está a nossa esquerda, dentro de um barracão. Mas bateu o pé igual a uma criança de 5 anos que quer doce.

Você pode não acreditar, mas a alguns anos atrás isso acontecia. Crianças choravam por míseros doces que os pais não tinham tempo de comprar.

Agora elas choram pelos pais que estão mortos.

Pego meu Walkie-Talkie e chamo a a tropa de monitoramento. Eles respondem imediatamente, dizendo que o corpo está vindo em nossa direção. Seguro minha arma e a jeito enquanto ouço Percy prender a respiração.

Mais rápido do que você poderia dizer "que raios..." eu me viro para olhar o que era tão inusitado e quase morro do coração.

Tem uma garota, com a idade do Leo, saltitando calmamente, no meio do que, antigamente, era chamado de Fábrica Goode.

Mas isso não é o mais estranho.

Ela cantarola. Com uma faca cravada na barriga.

Minha cabeça processa as coisas mais rápido que as outras. Reyna não deve entender. Mas ele entende.

—Percy? -digo, tão baixo que quase não me escuto.

—Sim.- responde.- Ryank.- olho-a um pouco. É bonita. Tem os olhos verdes e os cabelos castanhos claros longos presos em uma trança bagunçada.

Escuto um clique. Vão atirar.

Eles não podem atirar.

Calculo rapidamente. A minha velocidade, a velocidade da bala. O peso e seu tamanho. O atirador. Os metros.

E eu corro.

Desvio de uns três barris enquanto todos pensam que vou matar a zumbi. Ela me olha intrigada e sinto todos arfarem quando pulo sobre ela, fazendo-a desviar do objeto mortal.

Não consigo me levantar. Não consigo respirar. A dor mais forte é do lado esquerdo do meu tronco.

Bom, não levei tiro em nenhum lugar comprometedor. A falta de ar e a paralisação devem ser o choque de bater com tudo no chão. Sim, foi isso.

Tento me acalmar. Tenho mais 2 minutos para voltar a respirar normalmente antes de começar a ter convulsões e alguém ter a brilhante ideia de me imobilizarem com morfina.

Tento manter imagens de coisas felizes em minha mente para relaxar. Meu irmão. Meu pai. Minha mãe. Sra. O'leary. Reyna. Leo.

Percy.

Numa dor excruciante, o ar entra por minha garganta e encontra meus pulmões. Tenho a deliciosa sensação de que eles vão explodir.

Graças a Deus!

A Ryank me olha com curiosidade e decido que tenho de me levantar. Me pergunto onde está Jackson. Essas horas ele já estaria aqui ralhando comigo por não ter cumprido a promessa e blablabla.

Quando me ergo, vejo alguns soldados avançando em Reyna, Percy e sobre alguns outros que estavam comigo.

Não consigo nem levar um tiro em paz.

Que anarquia é essa? -grito, apesar da dor. O soldado que comanda a tropa que atacava a minha me encara e sorri, com escárnio. Lembro de seu nome.

Octavian.

Vou dar um chute nesse filho da...

Nossa comandante salvou um deles!—grita. Mas que... - Ela se perdeu! Não podemos obedecê-la.

Todos olham de mim para a menina, esperando qualquer reação. Faço a primeira coisa razoável a se fazer nesse momento.

Arranco a arma do coldre e atiro na perna do projeto de pessoa.

Ele grita e cai. Quando acabo meu show, Percy já apoia meu braço direito em seus ombros e se permite analisar o ferimento. Olho para os traidores e os fiéis.

—É isso que vocês acham? Que ela é um zumbi? -aponto para a garota.- Alguém, me diga, está vendo-a me atacar? Tem sangue nos seus lábios? Ela tem olhos vidrados?... -passo certo tempo gritando com todos.

Eles assentem, menos o acéfalo energúmeno. Me desvencilho de Jackson e vou até ele, agarrando-lhe a gola da camisa.

—Ah, então quer tomar meu posto, é? Fique sabendo que não tolero isso, e vou provar.-Empurro-o para o chão novamente e ando para trás. -Atos mesquinhos de egoísmo não tem consistência no nosso trabalho. Alguém se lembra do que acontece com quem se volta contra o bem?

—É fuzilado! -Avilla-Ramirez grita, e punhos se erguem no ar, em consentimento.

É fuzilado.-digo baixo, encarando Octavian.

Ele ri, sentado. Ri muito. Como um louco. Como...

Pego uma faca e rasgo sua camisa, já sentindo vertigens e tontura pela perda de sangue. Com o tronco exposto, todos podem ver...

...A marca "infectante" em suas costelas.

Ele... foi mordido? Faz quanto tempo? E como se manteve estável até agora? Isso...

—Matem-no! -grito, acima da risada do homem.

Imediatamente, vários tiros são disparados sobre ele.

...

Reyna escolhe alguns soldados para ficarem de segurança dela e da menina. Comigo, já está Percy. Tive sim que levar pontos (mas sem anestésicos, por que isso é para fracos) e meu ombro esquerdo está enfaixado.

Espero até ver a vice-comandante ir conversar com os outros.

—Não seja dura com ela. -diz Percy, referindo-se à garota. Começa a sorrir, mas para no meio do caminho e assume uma postura. -Comandante.

Eu relaxo os ombros e, aproveitando que não tem ninguém por perto, tirando a Ryank, me aproximo dele e tiro alguns fios de cabelo de seus olhos.

—Não vou.

Admito, todos esses anos eu lutei sozinha, e voltava para a Colônia sozinha, para ficar sozinha no meu quarto.

Mas quando ele apareceu, me senti mais calma, como se não precisasse lutar para me sentir viva.

Ele aproxima seu rosto do meu.

Olá? -a Ryank grita, e eu tenho vontade de matá-la.

Nada pessoal.

—Olá. Qual o seu nome? - pergunto, vejo um sorriso se abrir.

—Calipso.- ela cantarola o nome e Jackson ri.

—Tá rindo de que? - pergunto, ele só dá de ombros.

—Quantos anos você tem Calipso?

—Eu não sei.- diz - minha mãe tinha me ensinado a contar, uma vez. Mas eu esqueci. Esqueci um monte de coisas. Disseram que eu estava doente. Mas aí os homens chegaram e... - ela para de falar.

Seu corpo começa a ter um tipo de tremor em pé, enquanto seus olhos encaram, vazios, o além. Call grita coisas como "Ele também é como eu!" ou "Ele mente para você!" que me fazem arrepiar até a alma. E, de um instante para o outro, como se nada tivesse acontecido, continua oque estava falando.- ...me levaram e aplicaram injeções demais. Aí tentaram me matar. Mas eu acho que eu tenho 15. No máximo 14. Quase certeza que é 15.

—Claro que sim.- digo sorrindo, escondendo o pavor crescente em minhas entranhas.

—Seu namorado é bonito.- ela diz, olhando para Percy.- Eu também tinha um namorado. Mas papai destroçou ele. Literalmente. Depois disso, ele ficou me seguindo por aí. Mas só me seguia. Não fazia mais nada. Só uma vez ele ficou parado na minha frente por algum tempo e enfiou essa faca na minha barriga.- Calipso aponta para o local.- Mas depois foi embora.- fala tão rápido que quase não entendo.

A primeira parte me chama à atenção.

—Ele não é meu namorado.- digo, constrangida, enquanto lanço um olhar divertido para Percy. Mas ele está muito ocupado, comendo a Ryank com os olhos. Idiota. Ela até que tem um corpo bem bonito, mas ainda sou melhor e... Foco, Annabeth. -Nem de longe. Mas, me diz, seu namorado, ele é... Ahn... Igual a você?

—Igual a mim? -ela pergunta, rindo.- Você quer dizer zumbi evoluído? Ah, não! Ele é um monstro normal. Corre atrás de carne e sangue.

—Você sabe que é uma Ryank, ahn, evoluída? -pergunto, assustada, e ela faz que sim.

—Sei, oras. Já que ele não é seu namorado, posso pegar para mim?- Percy ri e eu começo a me irritar. Essa menina tem 15 anos e ele 20. Oque tá pensando?

—Não pode pegar ninguém. Você disse que seu namorado... ele não avançava em você?

—Ele já atacou muitos infectados. Mas eu? Nunca. Papai também não veio para cima de mim. Só me seguem e ficam olhando.

—Percy? - chamo, para ver se ele escutou o mesmo que eu. -Eu acho que acabei de descobrir que...

Calipso me corta. –Qual o seu nome mesmo, moça?

—Annabeth, querida.- digo com o tom mais sarcástico que tenho.- Por quê?

—Aah! Bem Annabeth, não sei se isso é normal, mas eu tomaria cuidado com aquele homem ali apontando a arma para você.

Um segundo depois, uma dor insuportável se projeta um pouco abaixo do meu peito. Escuto Percy gritar meu nome e Calipso ter mais uma convulsão. Nessa, ela grita "Não confie no rei! Confie no falso assassino". Sinto alguém me beijar e se afastar.

E, por fim, acolho a escuridão como uma velha amiga.


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Notas finais do capítulo

COMENTS POR FAVOR (MESMO QUE NÃO MEREÇAMOS TAAANTO.)
Okay, chega de Caps Lock. Por favor, critiquem ou elogiem.
Bjs!