O Retorno dos Quatro. escrita por whitesparrow


Capítulo 4
Capitulo III - Acolhida.


Notas iniciais do capítulo

Faz tanto tempo que não apareço, que nem sei por onde começar a explicação. Mas, basicamente, tudo se resumi a faculdade e a falta de tempo. Estou aproveitando ao máximo as férias para escrever, e ter capítulos guardados para não ficar arrancando os cabelos e nem sumir.



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Quando entro na pequena cabana, que treme um pouco com a música country, mantenho minha cabeça curvada, arrastando minha ‘bagagem’ e evitando olhar para todos aqueles homens. Há pelo menos duas duzias deles distribuídos no pequeno espaço, que tem o ar com os odores de tabaco, álcool e suor.

Eu me sento em um banquinho de madeira, que fica na frente do balcão. Há um homem esfregando uma caneca de vidro, assobiando como se não estivesse cercado por todo esse barulho. Parece ter quase 50 anos, mas seu corpo é de um levantador de peso profissional, apesar da pequena barriga que é contornada pelo avental verde. Está um pouco queimado do sol, e tem a cabeça raspada, embora sua barba seja comprida e cheia, de uma cor ruiva muito bonita.

Ele ergue seus olhos quando coloco a maca no chão e o assobio para. Aperto meus lábios, olhando pra ele, porque não sei como falar e o que falar. Qual será seu idioma? Será que eu entenderei?

— Em que posso ajuda-lá? – ele questiona, arqueando um sobrancelha ruiva e semicerrando os olhos, em suspeita.

Ele fala inglês americano, mas tem um leve sotaque do britânico.

Abro a boca, mas não consigo formular uma palavra. Não sei o que dizer. Penso em contar a verdade, mas sei que é arriscado demais. Também não devo mentir. Não sei se ainda continuo tão boa em mentiras quanto antes.

Então, ainda olhando em seus olhos, e deixando ir embora o pouco de dignidade que me resta, decido que ser parcial é o melhor. — Preciso de ajuda. – e as lagrimas escapam uma atrás da outra, embora ele ainda esteja desconfiado o suficiente para não fazer absolutamente nada. — Preciso de um lugar para ficar. Eu… Fugi da minha tia. – e as mentiras começam.

Ele aperta os olhos, parece confiar um pouco no que digo. — E por que fugiu?

— Ela nos maltratava. – eu fungo um pouco, olhando para o balcão. — Meu casal de irmãos e eu. Preparamos uma fuga. Mas nós nos separamos. Não sei onde estão. – Sinto meus ombros tremerem, mas não de mentir, mas sim, porque estou muito assustada. — Preciso de ajuda!

Mantenho a cabeça baixa, porque não quero que ninguém me veja chorando. Eu não choro. Eu nunca choro. Então, o que há de errado comigo?

Ouço o barulho de algo tilintando, e ele desliza um par de chaves pelo balcão, em minha direção. Ergo a cabeça, um pouco estupefata. Vejo compaixão em seus olhos, e sinto mais vontade ainda de chorar.

— Atrás do bar, tem um porção de cabanas. A sua é a número 1. – ele diz, e eu quase rio da ironia. — Pode passar o tempo que precisar até se sentir melhor. Parece que você não toma banho há uns 4 anos. – ele diz, saindo de trás do balcão, e me seguro para responder que, realmente, há 4 anos que não vejo água limpa.

Eu fungo. — Prometo que não demorarei aqui. Nem saberá que estou. Só preciso de um tempo para seguir até a cidade. – ele abaixo a cabeça quando para ao meu lado e pega as chaves no balcão. Evito os olhares curiosos.

— Quando se sentir melhor, diga-me. – ele diz, começando a caminhar. Agarro a maca e a arrasto comigo. — Eu a levarei a cidade. – ele passa pela porta e a segura para que eu passe. — E, caso um casal de crianças apareçam aqui, os levarei até você.

Me questiono se todas as pessoas são assim com todo mundo. Me parece suspeito demais ele estar me ajudando, mas evito pensar nisso. Preciso de um lugar para ficar.

— Obrigada. – É tudo o que consigo dizer.

Caminhamos um tempo em silêncio, mas ele o quebra.

— Eu me chamo Toni, caso você esteja se perguntando. – ele diz enquanto caminhamos por tabuas soltas sob a lama. — E você?

A principio, não sei o que responder. Sei que tenho um nome, ou, pelo menos, um falso. Me lembro vagamente de um que usei antes de morrer, quando fomos para a Malásia. — Anni. – e ele sorri de lado, de um modo que me deixa desconfiada. — Por que resolveu me ajudar?

Ele parece surpreso com a pergunta, como se não esperasse que alguém questionasse sua boa ação. Ele desvia o olhar. — Você se parece com minha filha. Ela morreu há 6 meses. Ela tinha 15 anos e tinha um coração enorme. – ele diz, com um ar sonhador e orgulhoso. — Ela teria te ajudado. Então eu o fiz.

Sinto um aperto quente no coração, um aperto confortável. Sinto-me feliz por algum momento, como se alguém realmente se importasse comigo.

Dou um sorriso. — Obrigada Toni!

Ele sorri de volta quando paramos em frente a uma cabana de madeira escura com um 5 pintado de cor verde na porta. — Se sentir fome, vá ao bar. Acho que posso arranjar algo para você. – ele solta a chave na minha mão e vai embora, assobiando.

Eu me sinto feliz, apesar da minha atual situação.

xxxxxxxxxx

A noite está fria e eu sinto um pouco de fome, mas não o suficiente para ir até o bar. Na cabana, há um pequeno banheiro nos fundos, onde tomo banho e me seco em uma toalha velha que encontrei. No comodo principal, há uma mistura falha de sala, cozinha e quarto, já que só há dois comodos, incluindo o banheiro. A cama está encostada em uma parede, com um criado-mudo ao lado. Debaixo, tem um colchão manchado com algo parecido com vinho. Uma mesa está no centro do comodo, com uma toalha rendada amarela. Na outra parede, há uma pia enferrujada e um fogão preto. Por hora, tudo isso me basta, me parecendo um luxo.

Depois do banho, enrolada na toalha, abro a maca e acomodo os corpos de Dois e Três sobre a cama e o colchão. Rasgo o lençol e uso uma tira para amarrar ao redor da cabeça. Visto minha roupa suja, parecendo uma paciente com problemas psicologicos muito sérios. Me questiono se Toni teve medo quando me viu, mas duvido. Meu corpo ainda está com 14 anos, apesar de ser mais forte que 50 Tonis juntos.

Quando termino de depositar nossas caixas loricas na mesa, sinto o cansaço passando pelo corpo. Ele treme um pouco, causando uma dor pequena em cada músculo que possuo. Mantenho a respiração regular, acalmando-me. Deito no chão de madeira, e sinto a poeira sob meus dedos.

Alguém bate na porta. Um som alto e forte. Duas batidas, apenas.

— Quem é? – pergunto, mas não há resposta.

Levanto e caminho até a porta. Abro-a, mas não há ninguém, apenas uma cesta depositada no chão coberta por uma toalha limpa. Dou alguns passos pelas tabuas. Vejo alguém caminhando em direção ao bar, mas não sei dizer quem é. Só consigo ver o cabelo ruivo e bagunçado brilhando.

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Toni foi excepcionalmente atencioso (chego a conclusão de que ele pediu que alguém me trouxesse isso).

Na cesta, encontro uma sacola com 4 mudas de roupas, entre elas, dois vestidos que parecem adequados. Outro sacola, possuindo frutas, uma garrafa de água e dois pães com queijo quente embrulhados em guardanapos. E, na última sacola, produtos de higiene: uma escova cor de rosa, shampoo e condicionador, um pente com alguns dentes faltando, creme dental e sabonete.

Devoro os dois sanduíches e como uma maça, respirando vez ou outra. Não sabia que estava com fome até comer. Escovo os dentes, visto a calça de moletom e a regata que me foi dado, e pego minha arca. A principio, não sei exatamente o que fazer, e nem o que espero encontrar, então me contento apenas em passar os dedos por seus desenhos metálicos, admirando aquele trabalho.

Sento-me no chão e a coloco em meu colo. Aperto o cadeado em minha mão, e com um silvo, ele se abre.

A arca continua com as mesmas coisas que consigo me lembrar. Há muitas pedras preciosas – uma quantidade capaz de me manter em uma posição de mulher bilionária por, pelo menos, 20 vidas. Objetos poderosos, que só de tocar, sinto sua capacidade. Um apito que deve servir para algo. Uma pedra cujo nome não me lembro, mas que é capaz ser carregada com poderes. Um colar que me deixa invisível. Uma pequena garrafa azul brilhante. Luvas que não cobrem os dedos, e muitas outras coisas que não sei, ou sequer me lembro, para que serve. E, no fundo, de uma cor meio acinzentada, oculta pelos objetos, um envelope comprido e gordo.

Eu o puxo e lacro minha caixa novamente. Quando abro o envelope e viro seu conteúdo no chão, a primeira coisa que vejo é a foto. Uma linda imagem de uma Um sorridente, presa nos braços de um rapaz bronzeado. Eles parecem se divertir tanto. E, por mais que force minha memoria, não consigo me lembrar disso. Deixo a foto de lado e pego uma chave prata do tamanho do meu dedo indicador. Não sei para o que serve. Passo a mão pelas outras coisas. Há vários passaportes não preenchidos, e, apenas um, com uma foto minha e um nome – falso – que não me recordo.

Hanna Matthews

Americana

11/06/1996

Há muitas outras informações, mas não perco tempo com isso e devolvo os passaportes para o envelope. Guardo todo o restante, sem prestar atenção no que exatamente são, até que reste apenas um papel dobrado.

Eu o abro, e descubro que é uma extensa carta, com vários papeis colados um no outro. Reconheço a letra inclinada assim que a vejo. Deveria me sentir surpresa, mas, ao invés, me sinto tomada por um calor familiar… Um calor repleto de amor e paz. Quando percebo, já estou chorando.


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Notas finais do capítulo

Juro que tentei compactar o capitulo, mas acho que ele ainda está um pouco longo demais. De qualquer forma, estarei aqui quase todos os dias, postando uma ou duas vezes na semana, aproveitando ao máximo as férias (UHUUU!)
Beijos pessoal!



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