Onix canyon - Interativa escrita por Scout caramel


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Boa leitura!



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Pablo caminhava logo atrás dos outros, e por mais que se esforçasse, seu semblante era extremamente perturbado. Pequenos respingos de sangue ainda repousavam, dóceis sobre sua camisa e jaqueta. O brilho em seu olhar se tornara opaco, e por mais que quisesse esconder, todos sabiam: Seu coração ficara para trás, junto às cinzas ardentes de Monferno.

Cada um dos momentos que tivera ao lado de seu Pokémon agora apareciam em sua mente, como se fosse uma brincadeira de mal gosto que o cérebro lhe fazia. O primeiro encarar, olhos nos olhos cor de âmbar do pequeno macaco, as primeiras batalhas com moleques de dez anos ainda em Sinnoh, sua fuga com Riolu e os outros, os assaltos, Chimchar evoluindo e se tornando o símio preguiçoso que mesmo depois de levar nocaute no ginásio de água ainda o amava como antes...

Levou a mão perto dos olhos, limpando-os discretamente enquanto andava, quando sentiu sua outra mão sendo envolvida; Olhou: era Lucy, que a segurava, os olhos azuis ainda úmidos pelo choro recente.

Tentou sorrir um pouco, comovido com a gentileza dela, mas era difícil. Respondeu, a voz embargada saindo com dificuldade:

—O-obrigado.

Continuaram caminhando em silêncio, até chegarem a um ponto onde o cânion iniciava uma curva para a esquerda. Julia se posicionou à frente, observando o solo:

—Acho que podemos parar aqui...Não vejo marcas, nem sinal daquele monstro.

Lucy tirou a mochila das costas, comentando: —Acho que não seria bom nos afastarmos tanto de onde viemos, podem vir nos procurar...Não acham?— Pablo sentou em silêncio no chão, a cabeça abaixada.

Edu também desfez a mochila, erguendo as sobrancelhas ruivas: —Minha avó pensa que eu tô na jornada Pokémon então acho que isso tudo nem passa pela cabeça dela...Também ela sempre deixou a gente “se virar”...

—Não fala assim, Edu!—repreendeu Julia, abrindo o saco de dormir sobre o chão: — Ela se importa sim. Quem me dera tê-la como avó.— Disse, posicionando Hikari em cima do saco de dormir e a ajudando a entrar nele, quando a menina a interrompeu:

—Julia, minha pokedex tem um GPS que manda sinal direto pro celular do Alfonse! Será que ele consegue ajuda pra gente?— O grupo sorriu maravilhado, e Julia perguntou, esperançosa:

—GPS? E você ainda tá com ela aí?

—Não, acho que ela caiu junto com a minha mochila, quando... —Hikari fez uma pausa e Julia insistiu:

—Quando?— Todos aguardavam a resposta dela, quando ela disse:

—Na verdade eu não sei bem o que aconteceu... Quando o Onix apareceu, ela avisou que era um pokemon de nível muito alto e eu fiquei com medo e corri, mas teve uma hora que meus pés não encostavam mais no chão... Parecia que eu estava voando!— Todos se entreolharam. Edu questionou, o rosto franzido:

—Voando? Não pode ser... Você tem algum Pokémon voador por acaso?

—Não... Eu só tinha o Quill fora da pokébola...—A menina respondeu simplesmente, se virando para Julia, que lhe desfazia as maria-chiquinhas, perguntando maravilhada:

—Acha que foi o Ho-oh?— Julia sorriu perante a ingenuidade da menina, penteando o cabelo de Hikari com uma escova que tinha na bolsa:

—Quem sabe? Do modo como teve sorte, poderia ser. — Disse, apesar de saber que um Pokémon lendário aparecer, ainda mais naquele lugar sombrio como aquele, seria improvável pra dizer o mínimo. Edu exclamou então:

—Já sei! Ela deve ter corrido por cima do Onix até o topo do penhasco sem saber, como quem sobe uma escada! É isso!— Todos pararam em silêncio, encarando-o, e Julia riu um pouco:

—Menos, Edu... Você tem uma imaginação muito fértil às vezes...

Edu riu, fingindo ultraje: —Ah, mas poderia ter acontecido!

—Sim, num desenho animado.— Ela terminou por dizer, disfarçando o riso.

Edu sorriu, deixando de lado a vontade de respondê-la. Limpou a garganta, sentando com pose de líder sobre o saco de dormir que estendera ao lado do de Julia: — O importante é que o sinal do GPS dela deve ter ficado gravado no celular dele, o que é uma esperança. Provavelmente ele verá o sinal e vai chamar a polícia, ou os bombeiros, e nós vamos sair daqui!

—Desculpe, mas eu acho que não vai funcionar...Olhem só o GPS do meu!— Lucy mostrou a tela do celular onde se lia “localização desconhecida. Não é possível entrar em contato com o servidor.” Hikari se desesperou: —E agora?

—Provavelmente alguém virá nos procurar! Não vão deixar aqui, sendo tão perto do Rock Tunnel, certo?—Julia dizia a eles, como se também estivesse tentando se convencer disso, apesar de todas as dúvidas.

Pablo murmurou à Lucy: —Não sei você, Lucy, mas se a polícia chegar pra nos socorrer e eu desaparecer, isso não será mera coincidência...

—Eu sei, também pensei nisso... Eu quero sair daqui, mas não quero perder o Yujin...Quer dizer...—Quando percebeu o que dizia, começou a se desculpar. Pablo acenou concordando.

—É, eu sei. Eu sei como dói perder um Pokémon de quem a gente cuidou e amou. Me sinto tão culpado... Se eu não tivesse liberado ele, eu podia ter usado o Riolu, mas tive medo... Achava que Monferno era mais forte...—Seus olhos estavam marejados e Lucy entendeu que levaria um tempo até que aquela dor passasse. Mesmo assim, vê-lo daquele modo, sofrendo, lhe fazia mal. Tentou animá-lo um pouco:

—Não foi culpa sua, Pablo. Podia ter acontecido com qualquer um.

—Não, foi sim. Eu devia saber, como devia ter sabido com Scorpius...—Ele abaixou a cabeça, olhando para o chão.

—Eu sinto muito, Pablo. Não queria te fazer ficar pior...

—Lucy, tá tudo certo. Não precisa se desculpar, só... Me deixa aqui, quero ficar um pouco sozinho.

—Tá.

Julia deixou Hikari deitada sobre seu saco de dormir e partiu pra cima de Edu, empurrando seu ombro: —Bora Edu, seja cavalheiro e me deixa dormir um pouco!

O menino resistiu, segurando-lhe os braços: —Sim, mas antes qual a palavra mágica?

—Por favor, seu tonto...—respondeu sem paciência.

—Péééé, resposta errada!— Ele gritou em seu ouvido, fazendo-a perder as estribeiras:

—Eu vou cuspir na sua cara, seu mané!— O menino se levantou, ainda rindo: —Tá bom, fica aí então! Sua Licktung...—Murmurou a última parte baixinho, se virando para Pablo e Lucy: —Vocês tem um saco de dormir sobrando aí com vocês?

Lucy ofereceu emprestar o dela, mas Pablo a impediu, oferecendo o dele no lugar: —Você é diabética, quer se machucar nessas pedras e sofrer uma gangrena por acaso?

A menina gordinha bufou pelas narinas. Se tinha uma coisa que detestava era que lhe falassem como se fosse criança: —Eu sei me cuidar muito bem, tá?

Edu tentou apaziguar os ânimos: —Não Lucy, deixa pra lá... Olha, já achei um aqui! É bem macio...—Disse, sentindo a mão sobre algo fofo e peludo, chamas emergiram por suas mãos, queimando seus dedos. Gritou, correndo em círculos. O resto do grupo se sobressaltou também, e Pablo buscou a lanterna, examinando a mão queimada dele. Apontou para o chão. — Ah, é só um Cyndaquil...

Hikari se levantou do saco de dormir na mesma hora: —Quill!

Ao ouvir o chamado de sua dona, o pokémon correu até ela. Seu corpo não mais queimava ao ser tocado, e Hikari o abraçou forte. —Senti tanto sua falta...

Julia e Edu se entreolharam, e a garota encostou a cabeça em seu ombro, fazendo-o corar, a dor de seus dedos queimados sendo atenuada pelo momento de ternura que presenciavam.

Lucy olhou para Pablo: O brilho em seus olhos voltara, tal qual ela o vira à frente da fogueira àquele dia, e ele sorria um pouco. Então ele baixou o rosto, provavelmente para limpar algum resquício de lágrima antes de falar com ela:

—Nós vamos sair daqui, ouviu? Não duvide disso. Vou ficar acordado com o Edu enquanto você e a Julia dormem.

—Tá, me acorda depois.—Disse, entrando no saco de dormir. Julia e Hikari dormiam lado a lado. Julia parecia a ponto de dormir quando a garotinha cutucou de leve seu braço: —Julia, o Ho-oh. Me fala sobre o Ho-oh, por favor...

—Tá bem... Tinha uma torre em Ecruteak, construída para homenagear o Ho-oh. Fica em Johto, foi lá de onde eu e o Edu viemos. A avó dele contou que durante uma tempestade, um raio atingiu a torre, e ela pegou fogo, matando três pokémons que se abrigavam nela.

—Oh, tadinhos... Eles morreram queimados?

—Sim. Mas no mesmo dia, a chuva que era muito forte, apagou o fogo. As pessoas ficaram tristes pelos pokémons, e Ho-oh vendo tanta tristeza, decidiu revivê-los, transformando-os nos cães lendários: Raikou, o raio que atingiu a torre, Entei, o fogo que nasceu do raio, e Suicune, a chuva que apagou o fogo.

—Legal! Eu gosto dos cães lendários! Minha mãe contava muito histórias deles, e do Ho-oh. — Lucy sorriu, ouvindo a conversa das duas. Hikari continuou, entusiasmada: —Ela dizia que quem vê o Ho-oh, pode fazer um desejo. Julia, o que você pediria?

—Pra sair daqui, é claro!

—E você, Lucy?

—O mesmo que ela. E você?

Hikari sorriu, as bochechas coradas: —Também, mas...— Seu tom de voz desanimara: — Eu nunca poderia ver o Ho-oh.

Lucy e Julia se entreolharam, ambas franziram as sobrancelhas, comovidas. Então Julia teve uma ideia:

—Conhece o Xerneas? Sabe a lenda dele?

Hikari fez que não, e Julia continuou: —Xerneas é o Deus das florestas. Se parece com um cervo enorme, e tem os chifres com pedras preciosas. Ele cria vida por onde passa, e dá vida eterna às pessoas e pokémons de bom coração. Dizem que ele só é visto em Kalos, mas há um meio de se comunicar com ele, sabia?

—É, qual?

—Aqui.—Disse, apanhando um hidrocor azul da bolsa. Riscou um “x” na mão de Hikari com ele:—Esse “x” eu marquei pra que você possa usar. Só precisa apertar sua mão ou a de quem estiver ao seu lado. Xerneas saberá que precisa de ajuda.

—Obrigada, Julia!— Hikari a abraçou. Julia lhe beijou a testa e disse que voltasse a se deitar. Lucy sorriu para ela, e as duas ficaram a observar o luar iluminando a curva do cânion onde se abrigariam, esperando o amanhecer com mais ansiedade do que nunca em suas vidas.

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Alex se levantou cedo, pouco antes do raiar do sol. Além de toda a pressa e angústia que sentia, não confiava na segurança daquele hotel. Assim, pulou da cama, recolheu suas coisas e saiu com Achilles e Aiden do lado. Procuraram uma padaria aberta, onde pediu um café expresso, torradas com tofu e um pedaço de torta de morango, além de duas porções de comida pra Pokémon. Precisariam de toda energia que pudessem ter para chegar até o cânion, que segundo seu pai, era um vale de rochas sinuoso, que começava no Rock Tunnel e se estendia até perto da costa leste de Kanto, uma área selvagem que permanecera escondida até pouco tempo e justamente por isso não era incluída no circuito de treinadores. Só Arceus sabia os perigos poderiam encontrar lá.

Achilles e Aiden comiam em tigelas aos seus pés, o Charmeleon já querendo avançar na comida do colega de equipe quando mais alguém entrou no lugar. Alex era uma das poucas pessoas sentadas, então olhou de relance para ele: sua pele era morena, os cabelos negros com pontas tingidas de vermelho. Alex teve que admitir, o sujeito era um gatinho... E se parecia muito mais com um habitante de Unova do que um de Kanto, tanto no quesito étnico quanto no de estilo: Vestia uma camisa preta com um casaco de estampa xadrez e calça saruel branca, além dos fones de ouvido pendurados no pescoço. O confundiria facilmente com um de seus amigos ou paqueras.

O estranho veio em sua direção, procurando um lugar para sentar, mas assim que percebeu, Alex virou o rosto em direção ao prato. Ora essa, o que era aquilo afinal? Estava ali numa missão para encontrar e resgatar seu pai, não numa balada! Repreendeu-se mentalmente, voltando a se concentrar em seu objetivo. Olhou as anotações que fizera num bloco de notas: “campo magnético, Rock Tunnel, passagem.”

Numa das três ou quatro ligações que seu pai fizera, disse que havia uma passagem, talvez a única, dentro do Rock Tunnel que levava direto para o cânion, mas que assim que adentrava o lugar, a comunicação por celular ou mesmo por rádio parecia sofrer interferência, o que era estranho, visto que a tecnologia era boa o bastante para funcionar até dentro de uma caverna grande como aquela, mas não no cânion.

Essa era uma das questões que mais a intrigava. A hipótese de Augustus é que fosse uma interferência do campo magnético do local, tal como ocorre com radares, bússolas e aparelhos eletrônicos. De qualquer forma, precisaria capturar mais pokémons e comprar alguns itens antes de entrar na caverna.

Terminou de tomar o café, e pagou a conta no balcão, chamando os dois pokémons e saindo. Caminhou um pouco até o mercado, onde comprou algumas potions e revives. Havia um pequeno bosque à alguns metros da área urbana, um bom lugar pra capturar alguns Pokémons pro caso de Achilles e Aiden não serem proteção o suficiente. Vasculhando um arbusto, se deparou com uma cauda enrolada, e outra e mais outra, todas juntas formando um leque. O pequeno Pokémon raposa se virou, rosnando e eriçando o pelo ao perceber sua presença, e Alex não teve dúvidas: Queria aquele Vulpix!

—Vai Achilles! Use ataque rápido!— gritou, e o Umbreon avançou sobre o adversário batendo com as patas em suas costas, fazendo o possível para que o Pokémon não escapasse antes que sua dona pudesse ter a chance de pegá-lo. O Vulpix soltou um ganido, recuando um pouco, usando o lança-chamas. Achilles se desviou à tempo, dando um pulo no ar, voltando pra perto de sua mestra.

—Isso! Agora Use o raio de confusão!

Os círculos dourados do Umbreon se iluminaram e ele abriu a boca lançando uma série de ondas que reverberaram no ar até o Vulpix, fazendo o Pokémon baixar a cabeça, tonto. Após algumas tentativas fracas de fugir e tropeçando nas próprias patas, o Vulpix veio ao chão e se rendeu, deixando-se capturar. Alex não perdeu tempo, lançando a pokébola, que após alguns instantes sacudindo no chão, piscou a luz vermelha uma vez e tornou-se inerte.

Alex guardou-a gentilmente na mochila, sorrindo. Um Vulpix poderia evoluir para Ninetales, e seus poderes psíquicos poderiam ser úteis pra imobilizar uma ameaça, além de ser um belo pokémon. Abaixada, acariciou Achilles perto da orelhas, quando ouviu um ruído em meio a folhagem; Alguém os assistia: — Quem está aí?

Virou-se com apreensão, mas era apenas o rapaz da padaria. Levantou-se depressa, dando alguns passos pra trás. Ele sorriu.

—Bela batalha! Desculpe se te assustei...Deixei meu Dragonite bebendo água ali atrás e não pude deixar de reparar.

—Obrigada.— Alex sorriu um pouco, tentando não parecer nervosa, apesar de seu coração ainda palpitar acelerado com o susto. O garoto estendeu a mão, cumprimentando-a:

—Marjoriel Hatake, mas todos me chamam de Marge. Qual seria o nome da senhorita?—Perguntou, fazendo uma reverência e beijando-lhe a mão de forma galanteadora.

Alex ia responder, mas hesitou; Não conhecia aquele garoto direito, ele podia ser um criminoso, alguém mandado para impedir mais investigações no cânion. Mentiu.

—Alex..er, Alex Schnitzel.

—Hum, Alex... Então, tá treinando seus pokémons pra liga de Kanto?— Ele não parecia nervoso nem decepcionado com a informação, então, relaxou um pouco.

—Hã? Ah, não. Eu estou ocupada no momento, com outras coisas.

—É algum concurso? Talvez um de beleza? Você e o seu Umbreon, ganhariam fácil, sem dúvida.

Balançou a cabeça, agradecendo sem muito interesse, já pensando em sair dali quando se lembrou:

—Preciso ir até o Rock Tunnel, poderia me indicar a direção?

—Sim, mas pra que quer ir lá? É uma caverna perigosa, muitos treinadores acabam perdidos, ainda mais se você não conhece o lugar...

—Eu sou de Hoenn e queria tirar umas fotos, mas se não pode me ajudar, então vou pedir a outra pessoa...

—Calma. O Rock Tunnel fica à leste, vê aquele conjunto de montanhas? Logo atrás fica o cânion da Desolação, mas eu não iria até lá. Não se assuste, mas um menino sumiu por lá e até hoje ninguém achou o corpo dele.

—Obrigada, era tudo que eu precisava saber! Vem, Achilles!

—Espera, ô garota! Não ouviu o que eu disse?!

—Obrigada, Marge!—Gritou, já à uma boa distância. Corria na direção indicada com Achilles, quando viu a sombra do Dragonite projetando-se sobre eles. Parou, com medo, mas ele apenas pousou ao lado, Marge encarando-a, montado sobre ele:

—Escuta, se quer chegar lá ainda hoje, vai precisar de uma carona. Vem, eu te levo até lá.

—Não vai atrapalhar?

—Não.—respondeu, estendendo a mão a ela para que subisse no dragão: —Charmander, eu e o grande Drago aqui estamos avançando bem no nosso caminho pela Liga Kanto, rumo ao campeonato! Raw!

—Ah, esqueci que você não é daqui... Isso é o grito de guerra que o meu pai fazia antes de batalhar. É meio idiota, mas é tradição. Nunca ouviu falar do major Hatake, da Elite dos Quatro?

—Não. — Alex respondeu. Ele sorriu, explicando:

—Ele treinava Pokémons do tipo Dragão. Era bem exigente quanto a isso. Ele até me pôs numa escola interna, pra que eu aprendesse tudo sobre pokémons, mas eu acabei expulso de lá...

—É mesmo, por quê?

—Tinha um grupo de garotos que sempre implicava comigo, então um dia eu me vinguei deles: coloquei um monte de Pinecos que eu capturei na floresta dentro das mochilas deles. Depois eles me cercaram querendo brigar no corredor, só não sabiam que eu era discípulo do Jackie Chan. Dei uma surra em todos eles.

—Sei... Acredito.

—Ah, mas é. Pode perguntar no internato Shellder, em Cerulean. Sou uma lenda por lá.

—E o seu pai? Ele...

—Ele morreu, ano passado. Agora o lugar dele será ocupado por um dos líderes de ginásio, ou um campeão da Elite dos Quatro, como o Lance, não sei, ainda vão decidir isso. Eu queria substituí-lo, mas não posso sendo só um treinador, ainda mais um que largou a escola, então vou ter que ralar muito pra isso...

Acenou com a cabeça. Não sabia nem se seu próprio pai estava morto, mas só pensar nessa possibilidade era assustador. Suspirou:

—Entendo.

—Escuta, você é fotógrafa mesmo? Não vejo a sua câmera..

—Eu tiro as fotos com a câmera do meu celular... Tá, bom, vou abrir o jogo: Meu nome verdadeiro é Alex Moritz, e eu sou filha do detetive que desapareceu no cânion.

Marge entreabriu os lábios, erguendo as sobrancelhas, os olhos acinzentados a encará-la: —Você... Eu vi o seu pai! Vi quando ele chegou e iniciou as investigações desde a entrada na caverna; Dois policiais o acompanharam, mas só eles voltaram. Disseram...

—Disseram que meio pai entrou num dos túneis do cânion, e quando viram, ele havia desaparecido. É, eu também li isso. Já faz dois dias.

—Hum, mas se é assim, por que não continuaram procurando por ele?

—O governo deve estar abafando o caso, só pra não prejudicar a droga da liga!

—Não acho que a liga tem a ver com isso. Talvez sejam outras pessoas. Quem sabe a Equipe Rocket?

—A Equipe Rocket foi desarticulada. Ninguém mais ouve falar deles em esquemas grandes, só pequenas trapaças.

—E daí? O Giovanni nunca foi preso! Ele bem que poderia estar por trás disso.

—Talvez... Hei, espera, o que é aquilo lá embaixo?

—Um Ekans! Parece machucada...— Marge afirmou, fazendo sinal para que Drago pousasse. Examinaram a pobre serpente, que se retorcia, debaixo de um monte de entulho.

—Não está machucada, só presa nessa raquete de tênis. Peraí, deixa eu ajudar...—Com um puxão dela, a serpente saiu, sibilando em agradecimento. Enroscou-se no braço de Alex, que não temeu sua aproximação.

—Parece que gostou de você...— Marge a encarava com os olhos lânguidos, e Alex virou o rosto, buscando uma pokébola da mochila. —Acho que é fêmea. Vou chamar você de Aphrodite. Pode ser útil pra prender criminosos, e o Vulpix vai poder ler a mente deles!

—Nossa, menina, você é danada, hein? Devia ser policial.

—Serei uma detetive, como o meu pai. Rápido, precisamos chegar logo!

Marge não perdeu mais tempo e Dragonite subiu aos céus novamente, carregando eles. — Já consigo ver o cânion daqui!

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Peter acordou, afastando a asa de Flygon de cima. —Bom dia, Flygon.—Sentia-se renovado, nunca havia dormido tão bem em sua vida. Olhou em volta. De cima de uma árvore tão alta, seria impossível que alguém os visse. Seu estômago roncou.

—Nossa, eu devia ter pego alguns aperitivos antes de fugir. Vem, vamos descer e arranjar alguma coisa!— Disse, montando no dragão verde.

O Pokémon sobrevoou as planícies verdejantes de Viridian, e o menino viu a divisa com Vermilion à frente. A cidade reluzia com seu asfalto cinzento no sol quente. Fez uma parada em frente ao Drive-Thru do Mc Golduck, provocando algumas exclamações e um leve congestionamento atrás de si, pois os motoristas temiam ter o carro estragado pela cauda enorme do dragão:

—Quero quatro mc Psyduck, quatro batatas fritas, e dois refrigerantes sabor Cherubi, e pode caprichar nos pacotinhos de mostarda e catchup, o Fly adora isso.

A atendente entregou o pedido depressa, ouvindo a reclamação do gerente. Peter apanhou os pacotes e pagou tudo. Ainda tinha um pouco da mesada nos bolsos da calça.

Comeram o lanche na calçada, perto de um chafariz, quando se deu conta de que havia algumas policiais Jenny próximas dali. Entrou numa loja de roupas e comprou uma camisa preta, calças marrons de treinador e um colete. Vestiu-as e mal pagou com o cartão de crédito, voou pra fora. Precisava de um lugar seguro, onde ninguém o procurasse. Avistou o Rock Tunnel, e mais à frente, o enorme cânion que se estendia pelas montanhas como uma serpente. Ordenou: —Pra lá, Flygon!

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O amanhecer chegou finalmente ao cânion, e o sol iluminava as rochas de calcário e granito que reluziam amareladas e intocadas, dominando a paisagem tal como ruínas. Dividiram um pouco do arroz e da comida que Julia e Lucy traziam consigo, e recomeçaram a caminhar. O silêncio era total e só foi quebrado pelo intrépido som dos cascos de Skiddo, que desafiava a gravidade com seu mestre sacolejando em seu lombo, escalando o paredão de pedra à frente deles. Edu gritou ao pokémon cabra de planta:

—Muito bem, Skiddo! Agora só mais um pouco... —O pokémon avançou com a pata dianteira alguns centímetros a mais, mas a rocha cedeu com seu peso. Skiddo recuou de volta ao ponto de partida enquanto Edu mirava o naco de pedra se espatifando no chão abaixo deles.

Julia gritou lá de baixo: —Melhor descer! Edu fez que não com a cabeça, agarrando firme a folhagem do pokémon cabra: —Só quero tentar mais um pouco...

—Tá vendo alguma coisa? Pablo olhava para o alto, cobrindo parte do rosto queimada pelo sol.

A resposta veio logo: —Daqui só vejo rochas... São planas, podemos subir e andar nelas. Duvido que o Onix nos alcance nessa altura. Vou descer...

A cabra quase deslizou pelo caminho íngreme e tortuoso no último degrau escalado, mas Edu se segurou na rocha acima. Tá bom, agora podem vir...

—Ô inteligência, por que desceu se você já tinha subido, hein? Anda, chega pra lá...

Julia montou com Hikari no pokémon e depois foi a vez de Pablo e depois Lucy. Ao subir com ela, Skiddo baixou levemente a cabeça, sacudindo os chifres pequenos e Edu reclamou em tom brincalhão:

—Ele tá ficando cansado! Lucy você tem que perder uns quilos!

A menina virou o rosto com vergonha, e o garoto ruivo abriu a boca incrédulo: —Era só brincadeira! Me desculpe!

Quando o pokémon terminou a subida, Lucy desceu à toda velocidade dele, correndo pelo platô empoeirado, enquanto ouvia os gritos dos demais: —Lucy!

Corria, chorando. Finalmente o que mais temia acontecera. Eles pareciam gostar tanto dela, mas sabia que isso era questão de tempo até implicarem; Por que ela era uma gorda, e era só o que seria, pro resto da vida. Queria correr, correr pra bem longe, longe de todos. De repente tropeçou em algo.

Parecia um galho seco. Se levantou, com raiva, atirando a coisa que a fizera tropeçar para o lado sem nem mesmo ver o que era, e quando se deu conta, gritou em choque. O grupo finalmente a alcançou, encontrando-a paralisada, as mãos rígidas junto ao peito numa expressão de pânico que eles só entenderam ao ver à frente dela, parado numa pedra, o dedo ossudo apontando para o alto. O braço de Billy White, desmembrado na altura do cotovelo.

—Vem Lucy...—Pablo a afastou dali, ainda encarando o indicador branco emergindo da massa amarelada e dobrada, o bracelete com símbolo de Pokébola ainda preso nele. Não havia dúvidas, pelo tamanho, aquele era mesmo o último sinal que Billy White deixara sobre a terra.

—Oh, meu Deus!—Julia levou as mãos à boca.

—Não olhe, Hikari!— Edu gritou, abraçando a menina, e Julia bateu com a mão na testa.

Lucy olhou para Pablo, os lábios contraídos em terror.

—Aquele Ônix... O matou?

—Acho que sim. Não consigo pensar em nenhuma outra coisa...—Respondeu, seu semblante sério, e Lucy sabia que ele pensava em vingar Monferno.

Edu chutou um pouco de poeira do chão com o tênis, as mãos nos bolsos: —Nós não podemos deixar isso aí...Podemos?

Julia sugeriu logo: —Vamos cobri-lo com um pano, e depois avisar às autoridades. —Começou a procurar na mochila, quando Lucy lhe estendeu uma de suas blusas, de um azul-claro. Julia a pegou na mão, mas não encontrou coragem para colocá-la sobre ele. Pablo se ofereceu, depositando a blusa sobre os restos mortais de Billy. Aquele garoto nunca mais correria por aí, nem abraçaria seus pokémons. Morto sem ninguém para ampará-lo, nem amigos, nem família. Quantos dias teria ficado ali, sozinho? O que fazia quando sua hora chegara? Teria se resignado a ela, ou sido pego de surpresa? E eles, estariam melhor preparados do que ele estava? Talvez ninguém pudesse responder essas perguntas. E talvez eles ainda não estivessem preparados para tais respostas.

Caminhavam, quando ouviram um rugido e um tremor propagou-se pelo platô. Era o Onix, que despontava de dentro da terra abaixo deles.

—É ele.—Pablo disse, com o olhar focado, as sobrancelhas franzidas.

—E vejam! Um Dragonite!—Edu gritou, apontando o pokémon, que vindo por baixo, emergiu do cânion, as grandes asas verdes jogando uma lufada de ar enquanto sobrevoava o platô. Caíram para trás com o susto.

—Está atacando ele! Ou sendo atacado, não sei!—Lucy apontou, quando perceberam o Onix se movendo na direção deles, atacando o Dragonite. Os golpes de sua cauda cortando o ar ao redor do Pokémon Dragão que voava desesperado.

—Tem duas pessoas nele!— Edu gritou conforme eles observavam.

—Vamos!—Julia gritou, lançando a pokébola no ar, montando em Bayleef, que desceu correndo pelo declive.


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Notas finais do capítulo

Finalmente consegui apresentar todos os personagens dos participantes! Foi muito prazeroso, mas vou dizer que foi difícil, tanto é que eu só consegui atualizar a fic agora, quase de noite! Preciso gerenciar melhor meu tempo.

Sobre a imagem, é só porque eu gosto do Dragonite e achei essa legal, o que é bem difícil se tratando de um dragão que tem essa cara meio abobada... XD Mas sério, eu sempre gostei dele.

E obrigada a todos que colaboram tanto pra manter esta autora aqui contente! Sem vocês, eu nunca escreveria uma fic como esta!
Bom, é isso, que venham comentários e expectativas sobre o próximo capítulo! :D