A Vida Secreta Dos Gatos escrita por Madame Butterfly


Capítulo 2
Falsas incertezas


Notas iniciais do capítulo

Olá para os que leem as notas! É um prazer ter vocês aqui!
Vamos para o primeiro capítulo (não contando com o prologue) que eu disse que viria rápido mas nem eu imaginava que seria tão rápido assim.
O segundo (ou terceiro como preferir) virá em breve e posteriormente eu pretendo lançar os capítulos semanalmente. Defino o dia que me for mais acessível e trago-lhes quando o fizer.
Grata por ler. Boa leitura!



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1. Falsas Incertezas

Nova Iorque era um excesso de novidades excitantes para mim. Era uma cidade pequena, mas a quantidade de pessoas era assombrosa, e você tinha que andar pedindo desculpas constantes por esbarrar no ombro de desconhecidos. Depois de um tempo lá eu comecei a pensar que, talvez, se pegassem toda a população de Nova Iorque e fizessem com que todos dessem as mãos, poderia ser feito uma circunferência completa em torno da terra e eu não duvido que ainda sobrasse gente de fora da brincadeira.

Além disso, ao contrário do que eu imaginava, Nova Iorque não era o país das maravilhas nem outro mundo fantasioso que só houvessem coisas maravilhosas.

Pelo contrário.

Primeiro que faltava espaço para tanta gente. Um maratonista sem medalhas poderia correr de uma ponta à outra da cidade sem chiar e só beberia uma garrafinha de água, no máximo, depois. Eu poderia andar de uma ponta a outra de Nova Iorque de salto alto e meias que meus pés não doeriam. Agora una isso com uma população evidentemente desproporcional e pronto! Você tem a China em poucos quilômetros quadrados.

Agora, em segundo, é sério, eu nunca vi tanto lixo na minha vida. A cidade é belíssima mas tem um contraste bruto de beleza e feiume. Você nota isso sem dificuldade quando olha para cima e vê as luzes brilhando refletindo em seus olhos, só que dai, olha para baixo e vê que seu pé está se arrastando num mar de lixo sem fim.

Honestamente, não é como se eu tivesse detestado a realidade contrária a meu imaginário que Nova Iorque apresentou. Foi um brilho a mais para a cidade, e um ponto a menos para minha ingenuidade, que insisti em afirmar que existe alguma coisa que seja perfeita nesse mundo, mas sempre quebra a cara.

Mas nada foi mais deprimente do que pegar um táxi. Para minha tristeza, meu taxista era um estrangeiro que tinha um domínio desanimador da língua inglesa. Falar com ele foi tão difícil quanto respirar nas ruas movimentadas, ou se arrastar pelas calçadas entupidas de lixo. Eu fingi o compreender quando na verdade sentia-me ouvindo grego a cada vez que ele abria a boca, e durante toda a viagem eu rezei para que pelo menos ele me compreendesse e estivesse me levando para o lugar certo.

O apartamento que meu pai arranjara não era exatamente o mais luxuoso da cidade mas era o suficiente e até mais, se bobear. E o que me levou à aceitá-lo de bom grado era que no prédio eram aceitos animais de porte pequeno, ou seja: Gatos. Eu não iria para nenhum lugar do mundo se não fosse com a minha companheira de quatro patas.

Silver - Sil, para os íntimos. - é uma linda gata mesclada em tons cinzas e branco, com olhos azuis que passam a impressão de serem indestrutíveis quando encarados. Não é exatamente a mais carinhosa das felinas, que pula no seu colo e te dá liberdade para que você faça carinho de surpresa, mas sempre me fez bem ter sua companhia, é como se afastasse qualquer sensação de solidão que eu pudesse ter em Nova Iorque. Trazia com ela um pedacinho de casa que talvez eu fosse precisar, e mesmo que não precisasse, só a sua humilde presença já me era um agrado à parte.

O meu prédio era antigo, e possuía uma beleza rústica que me encantava. Com dez andares ao todo, o meu quarto, 202, ficava no sétimo. Havia um único elevador que estava com problemas e fora de uso. Mas eu não me importei nem um pouco, planejava subir pelas escadas para registrar uma primeira impressão desde o inicio mesmo. Na verdade eu não sou fã de elevadores, tenho um lado meio claustrofóbica que grita para sair toda vez que entro em um. E se estou sozinha para uma jornada do térreo até o sétimo andar de elevador, é a morte. Liguem para as ambulâncias me buscarem assim que a porta abrir no sétimo andar.

A cada degrau que eu subia sem pressa, eu me encantava ainda mais com a simplicidade do ambiente, me sentindo cada vez menos deslocada e fora de casa. Ria sozinha ao pensar que novamente a "Nova Iorque" do meu imaginário foi jogada no lixo, uma vez que tudo que eu enxergava para a cidade, antes de chegar, era luxo e beleza dos mais nobres níveis, o que, começando pelo oceano de lixo, não era bem verdade.

Meu apartamento era igualmente simples, porém aconchegante. O espaço era pequeno mas ainda era melhor que ficar na rua dizendo "desculpa, desculpa, desculpa" para os milhares de ombros nos quais eu esbarrava. Havia uma mesa de madeira que estava precisando de um paninho úmido para se dispor do pó, que ficava ao lado de uma grande janela com um grande parapeito, no qual eu me sentei e observei um pouco a vista da cidade. Não parecia mais tão trabalhoso andar pelas ruas movimentadas uma vez que se via de longe, e eu não pude deixar de rir ao pensar no ditado que minha vó falava o qual ironicamente se encaixava com a visão otimista de quem não estava lá embaixo; Pimenta no cu dos outros é refresco!

Sil acabou por gostar mais da visão do que eu, e ficou observando a cidade deitada no parapeito da janela. Eu fui tirar as coisas essenciais das malas, deixando a responsabilidade de organizar tudo para outro dia, admitindo a mim mesma que meu corpo clamava por descanso. Eu não estava tão otimista a ponto de pensar que dormiria de cara em um apartamento temporariamente estranho, mas só me deitar e ficar pensando na vida já seria uma dádiva à se agradecer. As aulas começavam dentro de um mês, ou seja, eu não tinha tanto tempo assim para me familiarizar com a cidade, aliás, por culpa minha, que enrolei o máximo que pude na promessa de ficar só mais um dia na minha casa junto a minha mãe, no interior.

Depois de comer qualquer besteira que eu tivesse trago em uma das malas, eu tomei um banho e me deitei na cama. Era macia, quente. O lençol fofinho aconchegou muito bem quaisquer inseguranças que eu tinha de estranhar o quarto. Ao lado direito da cama, ficava uma cômoda e uma janela, e por ela, eu pude ver a noite chegar vagarosamente por trás dos prédios. Eu vi o anoitecer mas não vi o amanhecer. Cai num sono tranquilo, enquanto eu pensava comigo mesma que talvez não dormiria de ansiedade ou por culpa da falta de costume. Mas acabei novamente por me surpreender, e dessa vez, não foi com a falsa personificação de Nova Iorque que eu havia criado, mas sim, com a falsa insegurança eu havia implantado dentro de mim. Quem eu queria enganar? Eu me sentia em casa, não sentia saudades, e quase podia tocar a sensação de liberdade que se propagava dentro de mim.

A mente não deve ser modificada pelo tempo e pelo lugar. A mente é o seu próprio lugar, e dentro de si, pode-se fazer um inferno do céu e do céu um inferno.

– John Milton


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Notas finais do capítulo

Saudações para os que chegaram até o final.
Gostaram? Espero que sim. Não se esqueçam de deixar um review para agrado mútuo.
Bai para vocês, até o próximo capítulo.



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