Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 3
Capítulo 3 - O Outro Dia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/57389/chapter/3

 Desirée chega em casa, exausta e ainda pensando em tudo que havia acontecido naquela tarde. Ela ainda não conseguia acreditar que visitou uma biblioteca de livros mágicos. Difícil, muito difícil de acreditar. Se contasse para alguém seria motivo de piada. Por isso, ela preferiu manter sigilo dos eventos loucos que vivenciou há poucos minutos atrás. Sem contar que o livro só funciona com ela, para qualquer outra pessoa seria um caderno em branco. Como poderia provar? Além disso, esse tipo de confusão não seria nada agradável para os funcionários da biblioteca. E Desirée não era do tipo que gostava de chamar a atenção. Era realmente uma menina de muita maturidade e controle emocional.
- Cheguei - diz ela, entrando pela porta de casa.
- Oi, filha. Já chegou?
- Pai! Chegou cedo hoje! - exclama a garota, correndo para abraçar o pai
- Pois é. Peguei o material que precisava e preferi terminar a matéria em casa. Não aguentava mais aquela redação cheia de gente estressada. Aff! - diz o pai, aliviado de estar na tranquilidade de casa. Via-se que ele havia acabado de chegar, já que ainda nem havia trocado de roupa.
- Que bom! Você é sempre tão ocupado!
- E você? Fez aquele seu trabalho na biblioteca?
- Fiz sim. É bem legal lá. Tem vários livros
- E você nem gosta de ler, né?
Ela ri. Mas não falaria nada sobre o livro que realmente chamou a atenção naquele dia.
- Ainda bem que você não foi pra redação. Aquele lugar é uma desgraça
- Mas fazer esse trabalho numa biblioteca também...ninguém merece, viu? - chega Karen, passando por ali para pegar uma revista
- Oi pra você também, Karen - diz Desirée, com um tom debochado - E qual o problema? Eu gosto da biblioteca, tá?
- Eu teria feito numa loja de roupas. Ai, só de pensar naquele blusinha linda que eu vi outro dia
- Ai, Karen. Você só pensa nessas coisas
- É que eu gosto de me vestir bem
- Ai, ai. Dá pra parar? Vocês duas só brigam!
- Foi ela que começou! - reclama Desirée
- Tá bom, tá bom - diz o pai, fazendo o possível para acabar logo com a discussão das duas - Pode ir tomar banho, filha. Eu vou daqui a pouco.
- Tudo bem
Ela sobe correndo e toma um bom banho. Enquanto a água caía, as lembranças daquela tarde voltam à sua memória. Ter contato com um livro mágico, magia de verdade, não era algo que se podia esquecer tão fácil, muito embora Desirée não fizesse o tipo que se impressiona tão fácil. Mas naquele caso, era impossível não se impressionar. "Um livro que mostra qualquer pessoa...é mesmo fantástico", pensa a garota enquanto lavava seus longos cabelos. Apesar disso, ela julgava ter feito a escolha certa em não ficar com aquele livro. Afinal, pra que ela precisaria de um poder desses? Por mais fantástico que fosse, não era algo que ela gostaria de usar. Para qualquer outra pessoa poderia ser motivo de horas de diversão, mas Desirée não via aquilo como correto. As pessoas não gostariam de ser vigiadas o tempo todo por um olho que tudo vê. "Não escapar dos olhos de alguém deve ser horrível", ela pensa, já se secando, "Acho que entendi quando eles disseram que aquele livro é maligno...se caísse nas mãos de outra pessoa...mas tudo bem, enquanto eu estiver viva, ninguém mais vai poder usar"
Na mesa de jantar, os quatro membros da família comiam tranquilamente. Tudo parecia absolutamente normal
- Então...você gostou mesmo da biblioteca, filha? - pergunta a mãe, enquanto tomava seu copo de suco
- Gostei sim. Parece que não, mas eles tem um trabalho bem puxado. Organizar todos aqueles livros
- Mas não deve ser mais cansativo do que lá na redação. Nossa, aquele lugar é uma loucura! Ainda bem que eu só escrevo as notícias. Coitado de quem vai para o campo ver o que tá acontecendo na fonte mesmo. Aí sim é encrencado
- Mas é um trabalho legal - diz Karen, sorrindo - Eu também quero ser jornalista, pai
- Ano que vem você já vai prestar vestibular, né filha? É jornalismo mesmo que você quer?
- Quero sim. Tenho certeza
 Desirée ouve tudo atentamente. Sua irmã não era lá muito estudiosa, mas como adorava se meter onde não era chamada, jornalismo não podia ser uma carreira melhor para ela
- Mas primeiro...tem que estudar mais, né? - sua mãe interfere - Você terminou sua lição de matemática, não terminou?
- Ainda falta um pouquinho...é muita coisa
Desirée não segura a risada ao se lembrar da cena que viu. Pelo tempo que Karen ficou no telefone, era óbvio que ela não devia ter feito quase nada da lição.
- Que foi?-  pergunta Karen, não entendendo a risada seca da irmã
- Nada. Não foi nada
- Eu, heim? Mas...falta pouco...depois da janta eu faço
- É bom mesmo
- Termino antes da novela das oito
- Vai assistir a novela? Ótimo. Assim eu posso usar o computador para fazer meu trabalho
- Hmm....até parece que você vai fazer só o trabalho...nunca é só o trabalho!
- Hahaha. Não sou você, não - retruca a mocinha
- Ô, ô, sem brigar na janta, por favor
Os pais de Desirée tinham, cada um, seu próprio computador. Mas ela era obrigada, a dividir o PC com a irmã, o que era bastante desconfortável. Afinal, sua irmã ficava conectada por horas e horas vendo todo tipo de futilidades e fofocas. Apesar disso, como à noite Karen gostava de ver a novela (e outros programas fúteis que rolavam na programação televisiva), Desirée podia aproveitar o tempo para ver seus e-mails, fazer seus trabalhos e ver as principais notícias. Não era muito viciada em Internet, mas até que usava a rede com frequencia. Ela começa a digitar seu trabalho, quando vê Priscila online na tela de mensagens instantâneas. Pensou que poderia contar a ela o que aconteceu, mas logo mudou de ideia. Ninguém acreditaria no que ela contasse, além do que, pela internet a credibilidade das coisas se perdia muito facilmente.
"Bem. É melhor esquecer essa história", pensa a garota. Desirée apenas cumprimenta Priscila e diz que estava fazendo seu trabalho de estudos sociais. Priscila responde que ainda nem visitou a secretaria da escola. Ainda bem que o trabalho era para a outra semana, mas Desirée detestava deixar as coisas para última hora. Não que Priscila fosse relaxada, mas ela também tinha muitas responsabilidades como presidente do grêmio. Enquanto digitava as relações de trabalho que viu na biblioteca, lembrava cada vez mais da magia daquele lugar. Os funcionários irmãos (Carlos e Maria, não?) até que foram bem legais deixando Desirée ir embora tão tranquilamente. E se eles conhecessem algum feitiço que apagasse a memória? Bem, talvez não...ao que parece eles apenas trabalhavam com itens mágicos, mas não eram magos. Nunca podia imaginar que essas coisas existiam mesmo. Realmente fabuloso.
Desirée digita seu trabalho, imprime as páginas e desliga. Ao descer para tomar uma água, ela vê sua irmã e sua mãe assistindo a televisão. O pai, provavelmente, estava terminando seu trabalho no quarto.
- Filha. Já terminou o trabalho?
- Já sim. E já tô indo dormir
- Boa noite
- Boa noite, baixinha - fala Karen, só pra implicar
- Ai, sua chata! Ah, e vê se não vai dormir muito tarde...sempre que você acende a luz para ir dormir me acorda! - reclama Desirée. Como se não bastasse, as duas também dividiam o mesmo quarto.
- Tá bom, princesa...eu também já tô indo...mas antes vou aproveitar que você já acabou e dar uma lida nos meus recados também
- Quê?! Você ainda vai entrar na net? Vê se não faz barulho, tá?
- Não vou fazer
- Olha lá, heim filha? Já tá tarde e amanhã você tem aula
- Tá, mãe. Eu sei. É rapidinho
Desirée sabia que o rapidinho da irmã era, pelo menos, mais umas duas horas. Muito natural que Karen tivesse tanta dificuldade para acordar. No dia seguinte, o despertador toca, como sempre, às seis da manhã
- Uaaah! - boceja Desirée - Já tá na hora...Karen, acorda
Karen só geme
- Acorda, folgada! Ninguém mandou você ficar até tarde na net
A irmã ignora Desirée e enfia a cara no travesseiro
- Bah. Azar o seu. A mãe vai vir te acordar de qualquer jeito
Enquanto se arrumava, o Livro dos Segredos volta a invadir os pensamentos da mocinha. Tinha acabado de acordar...aquilo não foi um sonho, foi? Essas memórias sobre o livro começavam a invadir sua mente com cada vez mais força. "Natural", ela pensa, "Quem não ficaria impressionado com magia?"
Como sempre, Karen estava super atrasada. Como as escolas das duas eram bem próximas de casa, embora a de Desirée fosse um pouco mais longe (as duas estudavam em escolas diferentes por Desirée ter conseguido uma bolsa maior em outra escola), a menina resolve sair antes da irmã
- Sua irmã nem acordou ainda, meu Deus, ela tá super atrasada! - reclama a mãe - Suzana! Vai acordar a Karen, pelo amor de Deus!
- Sim, senhora - responde a empregada, que já estava de pé no batente há um bom tempo
- Ah, mãe. Eu já vou
- Não quer carona? Seu pai já saiu, mas...se você esperar um pouquinho
- Não precisa. Vou fazendo caminhada. Se esperar a Karen aí sou eu que chego atrasada
- Tá bom. Beijo, filha. Bom dia, viu?
- Obrigada
Desirée, vez ou outra, preferia ir para a escola à pé e andar pela pracinha que ficava no caminho. Era cheia de árvores e possuia um ambiente bem agradável. Existem lugares que a gente simplesmente gosta de passar. Para Desirée, essa pracinha era um desses lugares. Já tinha algumas pessoas por ali, mas não muitas. De longe, ela vê uma garota andando tão tranquilamente quanto ela, mas, bem perto dela, tinha dois caras suspeitos. Os dois chegam de mansinho, tapam a boca dela e a agarram, levando-a para o carro logo ali do lado.
- Vambora, vambora! - gritam os bandidos, entrando no carro e dando a partida de maneira enlouquecida.
Sequestro relâmpago? O carro sai tão rápido que ninguém sequer consegue anotar a placa do carro. Desirée até tentou ver, mas foi rápido demais. Que horror!
 Algumas pessoas da praça veem o ocorrido e ficam chocadas.
- Alguém chama a polícia! - grita um senhor que viu o ocorrido
- Alguém viu a placa do carro? - pergunta outro rapaz, também testemunha do sequestro
Parece que ninguém conseguiu anotar a placa. Foi realmente muito rápido
- Que horror. Isso nunca aconteceu aqui antes! - se espanta uma mulher que também circulava por ali
- Alguém sabe quem era a menina? - diz o senhor, já ligando para a polícia - Que absurdo! Nenhum policial ou guarda por aqui! Só pensam nisso quando acontece uma coisa dessas!
 Não demora para a polícia chegar e pedir informações para as pessoas do local. Desirée, embora chocada com o ocorrido, tenta passar por aquele alvoroço sem querer se envolver muito. Mas um policial acaba interrogando a menina
- Você viu o que aconteceu aqui, menina? - pergunta o policial
- Bem...só vi aquela moça sendo levada por dois caras
- Eram...dois caras? Não muito altos...um deles era careca...o outro era moreno e barbudo...um vestia camisa preta de banda e outro uma jaqueta cinza com uma touca na cabeça?
- Isso...eram mais ou menos assim..
- Certo...você não viu mais nada?
A menina faz que não com a cabeça e logo é liberada. Que coisa horrível! É mesmo uma cidade violenta! "Espero que eles resolvam isso logo. Imagina o desespero que a menina deve estar passando...", ela pensa.
No fim, Desirée chega atrasada na escola do mesmo jeito. Ao chegar na sala, ela comenta com as amigas o que viu. Todas ficam apavoradas
- Nossa! Que perigo! Ainda bem que não foi você, né, Dê! - comenta Priscila
- Não fui eu, mas e aquela moça? Imagina o que ela está passando
- Espero que a polícia resolva logo essa situação
- Vamos torcer, né? Não há nada que a gente possa fazer nessa situação
- É verdade...
Mas Desirée pensa nessas palavras..."Não há nada que a gente possa fazer nessa situação". Ela lembra da horrível cena da menina sendo levada por aqueles caras. Espera. Espera um momento. Ela lembrava do rosto dos bandidos. "Tem sim", pensa a garota, "Tem algo que eu, só eu posso fazer!"



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!