Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Livro dos Segredos




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Capítulo 02 - O Livro dos Segredos

Os dois seguem até a recepção. Desirée ainda estava em choque pelo que acabava de ver. Como isso era possível? Seria algum truque de computador? Talvez ela estivesse em uma dessas pegadinhas? Será? Mas pareceu tão...mágico para ser um truque de computação! Carlos, o bibliotecário parecia saber o que estava havendo. Não demora muito para que eles cheguem na recepção onde Maria estava fazendo alguns cadastros no computador.
- Maria - ele chama - Temos um probleminha aqui...
- Oi? - ela atende, tirando rapidamente os olhos da tela. Nisso ela vê o livro dourado ainda aberto nas mãos de Desirée e faz uma cara de espanto
- Você poderia vir com a gente um instante?
- Esse livro...não me diga que ela
- Sim. Ela fez isso
- Não, não. Isso é terrível! - diz a moça, tapando a boca com a mão direita e fazendo uma expressão de pavor. Desirée estava começando a ficar assustada - Dóris, Dóris! - Maria chama pela outra funcionária da recepção - Você poderia cuidar da recepção um instante, sim? Temos um problema urgente aqui!
 Pouco tempo depois, os três estavam sentados na sala de funcionários. A dupla bibliotecária parecia bastante tensa e preocupada. E Desirée não estava menos preocupada. Vendo toda aquela agitação, ela tinha certeza de que estava encrencada, de alguma maneira.
- Gente, gente. Por favor. Vocês podem me explicar o que aconteceu?
- Primeiro você, Desirée. Eu não falei para você ficar quietinha? - diz Carlos, não muito feliz, mas também não chegava a estar explodindo de raiva. Estava mais assustado do que com raiva.
- Mas eu estava. Só que minha caneta caiu naquela sala com um monte de livros estrangeiros...esse livro me chamou a atenção e abri ele. Numa biblioteca eu posso fazer isso, não posso?
- Tudo bem, tudo bem. A culpa não foi sua. Maria! Como você pode deixar a porta da área restrita aberta?
- Mas a fechadura está quebrada. Era para o chaveiro vir hoje, mas ele cancelou. E...a moça da limpeza deve ter encontrado aberta e entrou para limpar..eu não sei
- Foi muito azar ela ter aberto justo esse livro
- Mas...o que é esse livro exatamente? - pergunta a menina, já bem assustada - Ele mostrou do nada a imagem da minha irmã falando no telefone. É muita coincidência para ser um truque de computador. É um livro mágico, de verdade, não é?
- Exatamente - diz Carlos, vendo que a situação não tinha mais remédio - O que você tem nas mãos, Desirée...é o Livro dos Segredos
- O Livro..dos Segredos? - ela repete, encantada.
- É um livro mágico que pode mostrar imagens imediatas do que qualquer pessoa do mundo está fazendo naquele exato instante. Basta que você saiba o rosto da pessoa. Nada pode se esconder do poder dele...por isso o chamam de Livro dos Segredos.
 Ela fica ainda mais admirada. Então foi isso...Desirée tinha pensado na irmã naquele instante e a imagem dela apareceu, com ela ainda falando no telefone. Nisso, a imagem volta a aparecer
- Olha aí..de novo - grita a menina - Ela está aí, bem aí na frente..vocês estão vendo, não estão?
- Desculpe, querida - diz Maria - Não conseguimos ver nada
- Hã? Por que? Quando tentei mostrar para aquele menino ele também não viu nada....só eu consigo ver?
- Isso mesmo. Esse livro só funciona com o dono. Para qualquer outra pessoa ele não vai passar de um caderno em branco
- Hããã? Sério?
- Ele também deve ter deixado alguma coisa escrita nessa página, não deixou? - pergunta Maria
Desirée olha para as páginas do livro e, de fato, vê algumas letras. Ele descrevia exatamente a cena. "14 de março de 2009. 16h:55. Rua das Cerejeiras, 34. Karen Aversenti conversa ao telefone enquanto terminava seu dever de matemática ..". E o texto continuava, descrevendo em detalhes a cena que a mocinha viu.
- I-Impossível...como pode?
- É a mágica do livro. Ele está totalmente sincronizado com você, dando as informações no seu idioma e em uma linguagem que você compreenda - explica Carlos
- Isso é...isso é muito mágico! - a garota se espanta. Como vocês sabem disso tudo?
- Bem. Na verdade...essa biblioteca não é comum - Carlos explica
- Não? Ah..claro..nenhuma biblioteca com um livro desses pode ser comum
- Não é só isso - complementa Maria - Ela foi construída há muitos anos por feiticeiros de verdade
- Feiticeiros? Isso é difícil de acreditar!
- Com o livro que você tem na mão acho que não é difícil de você acreditar, não é?
A menina ainda precisava digerir tudo aquilo. Como sua vida tão tranquila e monótona parou naquele lugar. Uma biblioteca construída por feiticeiros de verdade? Que incrível!
- Isso foi há mais de 400 anos, quando alguns feiticeiros imigrantes da Europa fugiam da perseguição religiosa. Eles construíram esse lugar e estocaram porções e porções de livros de magia
- Uau! Então os livros que eu vi naquela sala...
- Eram todos livros de magia. Mas a maioria está em latim ou escritos em código mágico para impedir que curiosos vejam
- Que demais! Magos de verdade existem! Então...vocês também são magos?
- Não, não - Maria se apressa em corrigir - Somos apenas descendentes de alguns magos...a linhagem dos feiticeiros é muito sensível..dificilmente é passada adiante!
- Então vocês são parentes?
- Somos irmãos - explica Carlos - Embora ela seja bem mais nova do que eu...
- Hmmm...vocês se dão muito bem como irmãos...mas..ei, voltando ao assunto do livro...o que mais ele faz?
- Só isso. Ele só mostra e registra o que qualquer pessoa do mundo está fazendo agora
- Só? Esperava alguma magia mais interessante
- Não diga isso! - interrompe Maria - Essa é uma magia terrível
- Terrível?
- Para começar...no momento que você abriu esse livro, ele passou a ser seu
- Meu? Espera aí...tá querendo dizer que esse livro agora é meu?
- Exatamente. Nós recebemos esse livro por uma encomenda e, graças a um sistema de detecção mágica confidencial que temos...descobrimos que era o Livro dos Segredos e fizemos questão de escondê-lo o mais rápido possível!
- Nossa
- Estava guardado e intocado até hoje...quando você o abriu. No instante em que o abriu você selou um pacto com o livro e ele pertence a você para sempre
- Para sempre?
- O pacto dura enquanto a pessoa estiver viva
Desirée começa a ficar assustada. O que era divertido até pouco tempo atrás começou a ficar mais sinistro...
- Isso quer dizer....que o antigo dono do livro...
- Deve ter morrido. Se ele ainda estivesse vivo, o livro não teria funcionado com você
- Que sinistro. Então...o livro vai ser meu até o dia que eu morrer?
- Exatamente
Nesse instante, Desirée dá um salto da cadeira em que estava, inconscientemente agarrando o livro contra o peito.
- Vocês...vocês não vão me matar para pegar o livro de volta, vão?
- Ei, se acalme. Nós não somos assassinos. Pelo contrário, queremos distância desse livro
- Distância?
Eles fazem que sim com a cabeça
- Na verdade, se a magia dele fosse boa, não estaríamos tão preocupados.
A menina para por um instante e olha no item que acabou de adquirir. Um livro capaz de mostrar qualquer pessoa, em qualquer lugar, e descrever exatamente o que ela estava fazendo. Era um livro onisciente! Nem mesmo o Google conseguiria tal poder!
- Ah...acho que entendi
- Entendeu o que? - pergunta Maria
- Vocês estão com medo que eu use esse livro para o mal, não é?
Os dois bibliotecários se entreolham.
- Vocês acham que vou usá-lo para invadir a privacidade alheia, xeretar a vida dos outros, coisas assim, não é?
- Bem..de fato você pode usar o livro para isso, mas...não é só esse o problema e...
- Relaxem - Desirée interrompe Carlos - Eu não tenho nenhum interesse em bisbilhotar a vida alheia. Odeio esse tipo de coisa! Essa macumba não me pega!
Os dois irmãos novamente se entreolham. Ela estava falando sério mesmo?
- Então...você não quer o livro? - pergunta Carlos, admirado.
- Claro que não! Tá, eu achei legal ele ser um livro mágico e descobrir que essa biblioteca é cheia de livros assim, mas...se esse é o único poder dele, eu não quero. Vai contra os meus princípios!
- Mas agora ele é seu! Você pode fazer o que quiser com ele
- Até queimá-lo?
Eles ficam espantados. Ela queria mesmo queimar o livro? Bem ou mal ele valia bastante no mercado de magos. E, mesmo que ela quisesse fazer isso, não conseguiria.
- Bem, você poderia até tentar. Mas esse livro é indestrutível
- Indestrutível?
- Ele não pode ser queimado e nem danificado. É outro poder dele
- Ora...então ele não é tão fraco assim. E se eu arrancar as páginas dele uma a uma?
- Também não funcionaria. As páginas dele nunca acabam
- Caramba...como vocês sabem tudo isso?
- Temos os arquivos sobre ele - explica Carlos
- Bem, eu realmente não quero saber da vida de ninguém. Já que não posso me livrar dele do meu jeito, então...vou deixá-lo com vocês
- Com a gente? - Maria ouve admirada - Então você realmente não quer o livro?
- Já disse que não! É uma magia muito insana! A pessoa que inventou isso deve ser algum louco ou um tarado que queria ver mulher tomando banho!
Os dois bibliotecários se admiram da integridade da mocinha. Não imaginariam que alguém renunciaria um poder mágico tão peculiar.
- Bem, podemos guardar o livro aqui com toda a certeza, mas...ele vai continuar sendo seu mesmo assim. Não podemos fazer nada quanto a isso
- Que ele seja meu, então...até o dia que eu morrer...se Deus quiser daqui há muito, muito tempo. É só esquecer dele e pronto, não?
- Bem, sim, mas...
- Então pronto. Podem ficar com ele - diz a mocinha, se levantando e entregando o livro nas mãos de Maria - Agora...acho que já consegui bastante informação para fazer meu trabalho. Acho que já vou indo embora...
- Você tem certeza? - pergunta Carlos
- Claro
- Bem - diz Maria - Nós vamos pesquisar algum meio de quebrar o seu vínculo com o livro...mas não podemos garantir que vamos conseguir
- Nem esquentem - diz Desirée, altamente confiante - Eu não quero nem saber desse livro!
Carlos olha para Maria que responde levantando os ombros. O que eles podiam fazer? Se era mesmo a vontade dela...Logo, Desirée já estava pegando sua bolsa e saindo do local
- Obrigada, gente. Vocês vão me ajudar muito nesse trabalho
- Imagine. Volte sempre - responde Maria
- Tchau
- Tchau, tchau
Carlos estava ali, na recepção, pensando em tudo o que aconteceu. O Livro dos Segredos estava bem à sua frente.
- Quem diria...que alguém acabaria abrindo esse livro terrível bem debaixo do nosso nariz...
- Mas pelo menos ela não quis ficar com ele. Isso já é um bom sinal, não acha?
O bibliotecário tira os óculos, esfrega os olhos e dá um suspiro.
- Isso é o que ela pensa
- Hã? Como assim? Você acha que ela vai querer o livro de volta?
- Ela talvez não...mas o livro com certeza vai querer ela de volta
- Como assim?
- Você já leu sobre isso...quando alguém cria um pacto com o Livro dos Segredos...não consegue mais desfazê-lo...
Maria olha para o livro, ali em cima da mesa, assustada.
- Aquela menina vai voltar, Maria! - continua Carlos, com uma expressão séria - Ela não tem outra opção.


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Notas finais do capítulo

Alguém aí falou Death Note? É...com certeza teve uma certa influência, mas essa história não vai ser cópia de DN. Prometo