Histórias de outros universos - Terras Geladas escrita por Alessandro Costa


Capítulo 42
Memória QUARENTA




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A porta da sala se abre. Ele retorna com apenas um de seus homens.

Mata-o de surpresa bem na minha frente.

Agora me acusa de tê-lo matado.

Ele é doente.

Preciso sair daqui.

Ele chama os outros homens que estão ao lado de fora da sala.

Diz que matei o homem que está frente aos seus olhos.

Mesmo desconfiados, e com toda razão, não questionam a ordem dele.

Ele sai da sala novamente.

Os homens me arrastam.

*

Estamos em um enorme salão. As paredes são feitas por grandes pedras cinzentas. Está frio. Meus pés e mãos estão presos por grossas e pesadas correntes. A iluminação é feita por candelabros. O lugar é cercado por guardas com sobretudos sociais de cor verde-musgo com gravatas azuis, e braçadeiras vermelhas com um cristal de gelo negro estampado.

O rei esta sentado em um trono de cristal negro com uma almofada vermelha. Encara-me com uma expressão de total desprezo.

Seus olhos cinzentos e sem vida são pequenos e achatados. Seus cabelos são grisalhos, lisos e penteados para o lado direito. Sua boca é rosada e enrugada assim como todo seu rosto de formato quadrado. Usa vestes idênticas às dos guardas, porém sua gravata é dourada.

Ao lado do rei, um homem. Cabelos dourados quase brancos e olhos azuis bastantes claros. Está fardado assim como todos os outros, mas suas vestes são totalmente brancas, com uma gravata azul bastante clara e uma braçadeira cinzenta com três traços horizontais negros e ondulados.

Segura com as duas mãos uma espécie de pergaminho que logo em seguida abre e começa a ler.

“DECRETO REAL.

Por ordem do rei Arkadius Kuster, condenamos a rebelde Eileen a decapitação.

Motivos: Juntar-se às tropas rebeldes e participar de atos de rebeldia contra o rei, assassinar um soldado real e negar-se a revelar o esconderijo dos demais rebeldes.

A decapitação acontecerá assim que todos os preparativos forem feitos. Até lá a rebelde deverá ser mantida em uma sela no calabouço do castelo.”

O pergaminho foi fechado e dois guardas vêm em minha direção. Seguram meu braço com firmeza.

Não me movo.

Arrastam-me.

Levam-me até o calabouço. É frio e úmido. Iluminado por algumas fracas tochas.

O ar é bastante escasso, o que dificulta a respiração.

Os demais condenados ao ouvirem os passos dos guardas chegando, agarram-se as barras de metal das selas e cospem palavrões, imploram por piedade ou apenas me observam com pena no olhar.

Um dos guardas larga meu braço e pega uma argola com algumas chaves em sua cintura. Abre uma sela vazia e me empurra para dentro.

Um deles cospe em mim.

Dão as costas e então saem.

Escuto um forte baque. Fecharam a entrada para o calabouço.

Sento-me no canto da sela e me encolho abraçando meus joelhos.

Estou suja de sangue. Minhas roupas estão em trapos. Sinto saudades de casa. Saudades de deitar em minha cama e tomar um pouco de chocolate quente. Saudades de comer o bolo da mamãe. Sinto saudades até mesmo das broncas do papai.

Tudo isso estava distante agora. Longe de meu alcance. Dentro de pouco tempo eu seria um corpo sem cabeça, ou uma cabeça sem corpo.

Não posso fazer mais nada além de dormir. Talvez eu sonhe com minha casa, com minha mãe e com meu pai. Poderia até mesmo sentir o gostinho do bolo da mamãe em minha boca, ou a voz do papai em meus ouvidos.

Sim, irei dormir.

*

Acordo com a grave voz de um soldado me xingando e mandando-me acordar. Abrindo a sela e me levantando com agressividade.

Outro soldado o acompanha. Segura uma grande lâmina a qual coloca contra meu pescoço. É fria e faz meu corpo tremer dos pés a cabeça.

Arrastam-me.

Todos os outros condenados estão em silêncio, olhando os guardas me arrastarem para fora do calabouço.

Sou levada para fora do castelo.

É dia. A luz cega meus olhos que se fecham involuntariamente.

Não demorou para que se acostumassem.

Um enorme tapete branco está diante de mim. E sobre ele, um grande toco de madeira.

Ao lado do toco um homem de sobretudo social preto, gravata e braçadeira vermelha segura um grande machado.

Com uma forte pancada nas pernas me fazem ajoelhar. Colocam meu pescoço sobre o toco e o prendem a uma grossa corda que fica presa nele por duas argolas de metal.

O homem de vestes brancas estava lá, quase não o vi. Estava camuflado no puro branco da neve.

Abriu o pergaminho e começou a e ler.

“DECRETO REAL.

Por seus atos de rebeldia contra o rei Arkadius Kuster, a rebelde Eileen será decapitada.

Foram desconsiderados o direito a qualquer tipo de pronunciamento por parte da rebelde...”

Eu já não escuto a voz do homem de branco.

A neve queima meus joelhos.

O homem de preto ergue seu machado assim que o homem de branco termina de ler o pergaminho. Estava pronto para arrancar minha cabeça.

Neste instante, tudo que aconteceu comigo até o momento vem como explosão de memórias. Eu estou prestes a morrer.

*

Tudo está rodando. Não sei o que está acontecendo. Não sinto nada. Não consigo respirar. Minha visão está um pouco embaçada. Não sinto meu corpo.

Esforço-me um pouco para mover meus olhos.

A neve abaixo de meu rosto está vermelha. Sangue. Tenho mais que certeza que é sangue.

Então realmente arrancaram minha cabeça.

Ouvi uma vez em algum lugar que mesmo depois da cabeça ser separada do corpo, ainda temos algum tempo de consciência.

Não consegui voltar para casa. Espero ao menos que o Gorudo esteja bem.

Cassiel... Me desculpe se não consegui ajuda-lo a vingar a morte de seus pais.

Pai... Mãe... Eu não vou voltar para perto de vocês. Queria ter dado mais valor aos momentos em que estivemos juntos. Queria ter dado mais ouvido a tudo que vocês me diziam. Queria ter comido aquela fatia de bolo quando ainda podia.

Agora não posso mais...

Está tudo ficando escuro. Então é assim que é morrer?

Não dói.

Desculpem-me por tudo...


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