Félix e Niko - Counting Stars escrita por Look at the stars


Capítulo 16
Capítulo 16




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– Nesse tempo que eu passei longe de casa e da minha família eu reconheço que eu mudei muito, só que não foi porque eu quis ou algo do tipo. Foi porque as circunstâncias exigiam por isso. Não dava para ser o garoto meigo e doce que eu sempre fui onde eu estava. Eu tive que ser forte para aguentar o mundo desabando em cima de mim e tive que aprender a me defender de certas pessoas que cruzaram meu caminho... Superei algumas coisas ruins que me aconteceram e nunca vou conseguir me perdoar ou esquecer outras que aconteceram por minha culpa.

– Se perdoar? - Perguntou Félix, um pouco confuso com o que Niko disse.

Em suas poucas conclusões que fez sobre o passado dele, nunca passará por sua cabeça que Niko poderia ter feito algo de ruim a ponto de não conseguir se perdoar. Ele fazer mal á alguém era algo que passava longe de seus pensamentos.

– É melhor eu começar a contar desde o inicio...

Félix acenou concordando, então Niko prosseguiu.

– Eu estava arrasado, querendo ou não, me doía saber que o Eron não me amava tanto quanto eu pensava. E eu o amava, se você me perguntar como eu consegui amar um cara como ele, eu não saberia responder. Mas me doeu mais ainda saber que o meu pai não me aceitaria de volta mesmo sabendo que eu estava destruído e precisando do apoio dele. Me doeu ver ele por o orgulho dele acima do amor que sentia por mim.

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5 anos atrás...

Anna entrou no escritório do pai o questionando, pois acabará de descobrir que ele tinha mesmo expulsado o irmão de casa.

– O senhor não devia ter feito isso com ele, mamãe não aprovaria essa atitude. - Ela disse um pouco exaltada.

Ele apenas a olhou rapidamente e logo voltou sua atenção para os papéis que estavam em sua mesa. E Anna continuava sua insatisfação.

– Não devia ter feito isso pai. Ele precisava do seu apoio e não ser mandado embora daqui como se não significasse nada para o senhor.

– Anna vá para seu quarto, saia com as suas amigas, qualquer coisa, mas me deixe sozinho. Eu preciso de silêncio enquanto leio esses documentos, eles são muito importantes para os negócios da família. – Falou friamente, ignorando totalmente a reprovação dela quanto ao que ele fez com Niko.

– Então é assim? – Ela falou decepcionada. – O senhor dá mais importância para esses papéis do que para o seu próprio filho.

– Anna não me faça puni-la também.

Ela abriu a boca para falar, mas as palavras fugiram de seus lábios. Simplesmente não conseguia acreditar no que havia escutado, mal conseguia assimilar o fato de ele ter expulsado Niko de casa daquela forma tão cruel e fria.

– Quer dizer que tudo isso foi só uma punição?

– Ele fez por merecer, Nicolas sempre me deu mais trabalho do que você e suas irmãs juntas.

Ele mal olhava para a filha enquanto falava. Mexia nos papéis, ajeitava os óculos e de vez em quando tomava um gole de café sem dar muita importância para o que ela dizia.

– O senhor sempre foi mais rigoroso com ele. Isabela já fez coisas muito piores e o senhor sempre passava a mão na cabeça dela, mas com ele não. Qualquer coisinha que meu irmão fazia contraria ao que o senhor queria o castigava de uma forma muito pior.

– E você desde sempre o protegendo. – Ele se recostou na cadeira sem tirar os olhos dos papeis que estavam em suas mãos. – Vamos ver se agora o seu irmão toma jeito tendo que se virar sozinho.

– Ele não merecia isso pai. - Falou tristemente ao pensar na situação de Niko. - O meu irmão não estava bem, o senhor sabia disso e mesmo assim preferiu mandá-lo embora a passar por cima do seu orgulho.

– Chega Anna!! O que está feito, está feito e eu não vou volta atrás. – Ele finalmente olhou para ela e Anna pode ver raiva e irritação em seus olhos. - Agora vá para o seu quarto e me deixe trabalhar em paz.

Ela sabia que não conseguiria muita coisa com aquela conversa, então decidiu desistir e sair dali antes que sua decepção aumentasse mais a cada palavra que ele dizia. Mas quando chegou perto da porta ela se virou para ele e tentou mais uma vez.

– Isso não está certo... eu vou ligar para a mamãe e ela não vai gostar nada de saber disso.

– Faça isso! Não acredito que vá resolver muita coisa, pois eu já disse que não vou aceitar o Nicolas nessa casa. Essa é a minha decisão e eu não vou voltar atrás nela.

– O senhor está sendo... como sempre foi, muito cruel com ele.

Anna esperava que suas palavras tivessem feito algum efeito sobre seu pai, porém viu que não. Ele estava irredutível.

– Feche a porta quando sair. – Disse ele antes de levar novamente à xícara de café a boca para mais um gole.

Logo depois de sair do escritório Anna tentou procurar Niko por lugares que o loiro costumava frequentar, mas não obteve muito sucesso, parecia que o irmão havia sumido da face da terra.

Mais de uma hora já havia se passado desde que ele tinha saído de casa. Niko não tinha atendido nenhuma de suas dezenas de ligações e isso já estava começando a deixá-la preocupada. Decidiu esperar mais algum tempo antes de ligar para a mãe, não queria incomodá-la em sua viaje, mas se Niko não desse noticias seria preciso fazer isso, embora quisesse evitar.

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Niko estava cansado, tinha viajado por mais de uma hora até chegar a casa dela e ela ainda não tinha lhe dado nenhuma resposta definitiva e isso lhe deixava mais inquieto do que já estava. Procurar por sua tia, irmã de seu pai, era uma das últimas coisas que faria, mas foi preciso por falta de opções.

Ele queria evitar ficar em um hotel, com o dinheiro que tinha mal poderia passar duas semanas. Não tinha amigos e os familiares da parte de sua mãe, que é os que ele tem um afeto maior que os de seu pai, moravam muito longe de onde ele estava. Apesar de não ser tão próximo dela, sua tia tinha um carinho por ele, pelo menos era isso que ele pensava.

– Me desculpe querido, mas eu não posso deixar você ficar aqui.

Ela dizia olhando docemente para ele o que deixava tudo mais doloroso para o loiro.

– Porque não tia? Essa casa é enorme, tem vários quartos e eu prometo que não vou incomodar a senhora em nada. Eu só preciso de um lugar para ficar. – Ele viu ela se remexer no sofá balançando os pés, obviamente o problema não era aquele, então perguntou. – O que foi?

– Me desculpe Nicolas, mas eu realmente não posso deixar você ficar aqui. – Ela falou novamente com pesar.

– Nem essa noite? Eu vim pra cá porque a senhora é a única da família que mora na cidade.

– Me desculpe querido, mas eu realmente não posso deixá-lo dormir aqui nem uma noite sequer... Me desculpe.

Niko começará a ficar agoniado com tantos pedidos de desculpas da parte dela. Estava incomodado por ela ainda não ter explicado o real motivo de não deixá-lo ficar. Ela era a única da família que morava por perto, apesar da casa dela ser quase do outro lado da cidade. O loiro foi até ela na esperança de poder ficar por um tempo em sua casa e não compreendia o porquê de ela está tão relutante em deixá-lo ficar. Sempre se deu bem com ela e aquela casa era tão grande e cheia de quartos que se alguém invadisse e morasse ali, ela nem perceberia.

– Porque não pode me deixar ficar? – Ele perguntou entristecido o que a fez se sentar ao seu lado e pegar em sua mão.

– Seu pai... Ele me ligou hoje mais cedo. Ele me pediu... na verdade exigiu que eu não o deixasse ficar aqui. – Ela falou passando a mão por seus cabelos enrolados deixando-os mais bagunçados ainda.

– Meu pai fez isso?

As lágrimas ameaçavam novamente cair por seu rosto e ele odiava a própria fraqueza, parecia impossível controlar a vontade de chorar, que naquele dia estava tão presente com ele. Odiava ter chorado tanto em um só dia e o que mais odiava era ta fazendo isso na frente dos outros provocando aquele olhar de pena neles.

– Seu pai me dá muitos benefícios dentro da empresa dele e com certeza ele os tiraria de mim se eu o desobedecesse, me desculpe.

Niko baixou o olhar e pode ver suas mãos junto à dela que naquele ponto da conversa já estava molhada com suas lagrimas.

– Querido não chora assim, o que você fez para o seu pai ter feito isso com você? – Ela soltou suas mãos da dele e as pôs em seu ombro. – Olha eu não faço idéia do que você fez para ele ficar com tanta raiva assim, mas eu tenho certeza que o que ele quer é que você volte pra casa. Talvez seja por isso que ele me pediu para não deixar você ficar aqui. Mas de toda forma me desculpa por não poder hospedá-lo na minha casa.

Niko demorou um pouco, mas conseguiu parar de chorar. Após enxugar o rosto com a mão ele se levantou e tentou falar sem que ela pudesse notar algum vestígio de que estava mal pelo que acabará de ouvir.

– Eu preciso ir.

Ele pegou a mala que estava encostada no sofá e foi em direção a porta, estava cansado de ouvir os pedidos de desculpa. Ela o acompanhou até a porta e mais uma vez se desculpou o que tirou Niko do sério. Se estivesse em um estado emocional melhor com certeza sua voz sairia mais alterada, mas como as forças lhe faltavam naquele momento às palavras saíram quase sem vida.

– Não precisa se desculpar tia, eu já entendi tudo.

– Olha não fica assim... me dói o coração.

– Se ele estivesse doendo de verdade mesmo a senhora me deixaria ficar aqui pelo menos essa noite.

Ela permaneceu calada e Niko conclui que ela não faria mais nada além de olhá-lo com pena.

– Adeus tia.

E assim ele se foi, a deixando sem argumentos para explicar que não estava fazendo aquilo só pela ganância de não querer perder os privilégios que o pai dele dava a ela. Niko não tinha outros familiares, nem amigos e tinha feito uma longa viaje de ônibus até chegar à casa dela, o que tornava tudo mais difícil, pois não conhecia muito bem aquela parte da cidade. Ele decidiu pegar um outro ônibus qualquer para ver se encontrava pelo caminho um bom lugar para se hospedar.

Niko não sabia dizer o que estava lhe machucando mais naquele momento, a dor de ser abandonado por Eron ou a indiferença de seu pai com o seu sofrimento. Encostou a cabeça na janela do ônibus e se permitiu chorar em silêncio mesmo que aquilo chamasse a atenção das pessoas que estavam a sua volta. Estava atordoado e a essa altura já estava bem longe de casa.

Desceu do ônibus e agradeceu aos céus por ter sido em frente a uma cafeteria, precisava de um café forte para clarear as idéias e pensar no que faria a parti dali.

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– Eu estava sem nada... – Niko continuava falando. - sem dinheiro e...

– Espera um pouco, como assim sem nada? – Interrompeu Félix não entendendo parte da historia. – Vai me dizer que você ia embora com Eron e levou apenas algumas moedinhas que só serviram para você pegar ônibus e tomar um café?

Niko sorriu envergonhado passando a mão no rosto e olhou para o outro lado. Félix cruzou os braços.

– Niko...

– Hum? – O loiro olhou para ele sorrindo.

– O que aconteceu criaturinha?

– Você vai me fazer contar isso também? – Félix apenas balançou a cabeça dizendo que sim. – Ah Félix a gente pode ficar sem essa parte da historia...

– Não podemos não.

– Tudo bem então, eu conto. Mas eu quero deixar claro aqui que ela parecia ser uma boa pessoa.

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Niko soprava a fumaça que estava saindo da xícara de café que bebia, já estava anoitecendo e ele ainda não havia encontrado um lugar para ficar. Todos os hotéis que tinha visto pelo caminho aparentemente seriam caros demais para ele, precisa de um lugar mais simples e bem barato, pois não tinha muito dinheiro. A mala estava perto de seu pé, era tudo que tinha e nela estavam guardadas todas as suas coisas. Ele estava distraído olhando para um grupo de pessoas que estavam comemorando algo em uma mesa mais afastada da sua quando uma senhora se aproximou perguntando.

– Será que eu poderia sentar aqui com você jovem bonito? – Ela falou sorridente, tirando a atenção de Niko que estava na outra mesa.

– Ahh sim claro... – Niko apontou para cadeira a sua frente e ela se sentou. – Fique a vontade.

– Me desculpe é que todas as mesas estavam ocupadas e essa aqui era a única com cadeira livre... espero não está incomodando.

– Não está... foi até bom, agora tenho alguém com quem conversar enquanto tomo meu café. – Niko sorriu simpático e ela retribuiu o sorriso com outro.

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– Eu preciso mesmo contar essa parte? – O loiro perguntou.

– Claro que precisa você prometeu contar tudo.

– Eu sei, mas a gente pode pular essa parte da historia. – Niko insistiu.

– A única coisa que vamos pular é daqui. – Félix levantou e começou a descer de onde estava e Niko foi logo atrás. – Pelas contas do Rosário eu juro que prefiro sujar toda a minha roupa com areia a ficar ali em cima com água respigando em mim o tempo todo.

Félix se inclinou para ajeitar as pernas da calça as puxando um pouco mais para cima.

– E você continue contando... Não sei por que você está todo assim em contar essa parte. Porque isso hein?

– Porque eu paro e vejo o quanto a minha atitude foi idiota...

– Mais idiota do que ter se relacionado com o Eron? Acho difícil.

Niko riu.

– Você não gosta mesmo dele.

– Digamos que não foi muito agradável minha conversa com ele. – Félix começou a andar por perto das águas fazendo as ondas molharem seus pés.

– Como assim conversa? Vocês dois se encontraram? Quando? – Niko foi até ele.

– Na praça no dia daquela discussão que você teve com ele, depois que você me deixou sozinho, ele veio falar comigo.

Niko estava surpreso com que Félix tinha lhe contado. Félix e Eron conversando? Era uma coisa que não esperava.

– E o que vocês conversaram? – Perguntou curioso.

– Nada demais... E sinceramente Niko, não sei o que você viu nele para ficar todo apaixonadinho... – Félix passou o dedo na sobrancelha. – Se comparar ele comigo, o seu gosto melhorou muito... Mas muito mesmo.

– Você se acha demais sabia?

– Sabia... eu me acho porque eu posso fazer isso, já que eu sou lindo.

– Não posso discordar disso... você é lindo.

Aquele sorriso e aquele olhar que Niko lhe lançou quando elogiou Félix o fez sorrir sem jeito. O moreno então mudou de assunto.

– Você ta me enrolando... até agora não me contou o que aconteceu na cafeteria.

– Bom... – Eles andavam lado a lado, o sol já tinha sumido do céu por completo e a noite já se iniciava. – Aquela senhora parecia do tipo avó que faz biscoitos para os netinhos... não dava para imaginar que ela ia me roubar.

– Que?

– Isso mesmo que você ouvi, eu fui no banheiro e deixei a minha mala no pé da mesa, e nela tinha todas as minhas coisas...

– Criatura isso não foi roubo, você praticamente deu as coisas para ela fazendo isso. Como você pode deixar alguém que mal conhecia cuidando das suas coisas Niko?

– Eu sei! Eu fui um idiota, mas Félix ela foi tão bacana comigo que eu confiei nela.

– Ah sim, ela foi super bacana com você... Ela foi um amor de pessoa.

Apesar de aquilo ter acontecido há anos, Félix estava dando uma bronca no loiro por ele ter sido tão ingênuo. Ele dizia que Niko devia ter levado suas coisas junto com ele para o banheiro e não as ter deixados como aquela mulher.

– Sinceramente Niko você foi uma bicha burra.

– Ah agora você ta brigando comigo Félix?

– To... to sim, onde já se viu Niko? Você praticamente deu suas coisas para ela fazendo isso e depois o que você fez hein? Dormiu na rua por acaso? Já que não tinha nada

– Foi. – Niko respondeu sério.

– Como assim foi?

– Depois de me acalmar um pouco após ver que as minhas coisas tinham sido roubadas, eu pedi um celular emprestado para ligar para casa e pedir ajuda, mas meu pai desligou assim que ouviu a minha voz. Eu tentei outras vezes, mas nem fui atendido. – Niko mantinha o olhar distante enquanto falava. – Eu não tinha muito que fazer...

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A noite estava fria, o vento que batia provocava arrepios por todo seu corpo. Queria poder voltar para casa da tia e pedir mais uma vez que ela o deixasse ficar, porém estava cansado demais e aquela altura estava decepcionado demais para se humilhar na frente dela outra vez. Niko se sentia novamente como aquele garotinho que ficava horas e horas trancado em seu quarto pagando pelas coisas que aos olhos do seu pai eram erradas.

No final de tudo seu pai estava certo não é mesmo, era fraco demais e qualquer coisa o destruía.

Principalmente o desamor dele.

Seus pés doíam, seu corpo doía, estava cansado fisicamente e emocionalmente. Havia perdido tudo depois de ter confiado novamente na bondade das pessoas, talvez isso agora lhe servisse como lição.

– Nunca confie nas pessoas Nicolas. – Foi o que ele disse enquanto andava pelas ruas, sem nenhum rumo predestinado. – Dizem que quanto mais alto, maior é a queda. Talvez isso me faça aprender a não voar alto demais.

Tinha apostado tudo no amor que tinha em Eron e ele jogou isso fora o deixando em pedaços. E seu pai ajudou a quebrar mais ainda os cacos de seu coração o deixando em pedaços tão pequenos que demorariam a ser reconstruídos. Não tinha mais forças para continuar caminhando, então se permitiu sentar e um lugar qualquer daquele viaduto por onde estava passando.

Após respirar fundo ele pode ver com mais detalhes as coisas a seu redor, estava encostado em uma das varias pilastras que serviam de apoio a avenida que estava acima dele. Há sua frente podia ver um grupo de pessoas em volta do fogo que estava dentro de um barril de ferro. Seu deseja era está perto daquele fogo para se aquecer do frio daquela noite.

Niko encolheu as pernas e as segurou passando os braços em volta dela, estava exausto e se permitiu fechar os olhos. Não se importava de dormi ali sentado ouvindo o barulho dos carros que passavam.

– Parece que o dia hoje não foi nada bom para você garoto.

Niko abriu os olhos com o susto repentino que teve ao ouvir aquela voz grossa do homem que falará com ele. O loiro estava pronto para se levantar e sair dali, mas o homem a sua frente fez sinal para que ele continuasse ali.

– Não precisa ficar assim espantado eu vim em paz, apenas esqueci de trazer a minha bandeira branca.

Ele sorriu para Niko que apenas o encarou sem nenhuma expressão aparente.

– Pega. – Ele ofereceu á Niko o coberto que tinhas nas mãos.

Niko ficou um pouco relutante em aceitar, aquele homem tinha uma postura de colocar medo em qualquer um e a sua voz apenas piorava as coisas.

– Vamos pega...

Ele insistiu e Niko aceitou colocando rapidamente em volta de seu corpo tentando diminuir mais o frio que sentia. O homem então se sentou ao seu lado mantendo uma certa distancia do loiro.

– O que um rapaz tão bem vestido como você faz no meio de pessoas como a gente?

Niko continuou calado.

– Você não sabe falar não?

– É uma longa historia.

– Com certeza é, todas essas pessoas que dormem por aqui... – Ele apontou para o grupo de moradores de rua que estavam um pouco mais a frente deles. – Tem uma longa historia para contar sobre como vieram parar aqui, eu por exemplo tenho uma. Mas você, ao contrário deles, com certeza ainda tem uma chance enorme de dá a volta por cima...

– Eu não tenho tanta certeza assim, as pessoas que eu achava que se importavam comigo me deram as costas. – Niko falou com a voz embargada.

– Não se pode depender de outras pessoas garoto, pessoas mentem... – O homem advertiu. – principalmente quando dizem que te amam.

– É... – Niko concordou. – De certa forma você tem razão.

– Meu nome é José... – Ele estendeu á mão para Niko.

– Nicolas. - Niko o cumprimentou.

– Nicolas? – Ele perguntou e Niko balançou a cabeça afirmando. – Isso pode parecer uma tremenda bobagem, mas eu gosto de chamar as pessoas com nomes de quatro ou cinco letras.

– Por quê? – Niko perguntou.

– Eu não sei, começou como uma brincadeira com o pessoal daqui e agora eu sempre faço isso. Quando não consigo encurtar o nome das pessoas eu invento apelidos.

– E que nome você me daria? – Niko ajeitou o cobertor, ele pinicava muito, porém o deixava aquecido.

– O seu dá para encurtar pra... Niko. – O loiro sorriu, havia gostado do apelido ninguém nunca o tinha chamado assim. – Soa mais forte e imponente... – José continuou. – Não me leve a mal não, mas... Nicolas soa muito frágil e delicado. Niko é bem melhor.

O loiro sorriu.

– Isso é engraçado... – O loiro falou dando uma pausa longa ante de continuar, ele observava as coisas ao seu redor. – Você nem me conhece, mas se importou muito mais comigo do que pessoas que me conheciam desde quando eu usava fraudas. Por que se importar?

– Ás vezes... – José falou olhando para seus amigos logo à frente. – tudo que nos precisamos é saber que existe alguém que se importe com a gente, mesmo que por pouco tempo. Muita gente olha para nós, moradores de rua, e pensam que estamos nessa situação por nossa culpa, por que nós somos apenas bêbados que acabam com a nossa própria vida. Mas a historia de cada um de nós vai muito além do que eles possam imaginar. Você por exemplo, tem culpa de está aqui? – Ele perguntou olhando para Niko.

– De certa forma sim, eu confiei em alguém e me dei mal.

– Mas você não pode se culpa por isso, a maioria das pessoas que eu conheço aqui estão como estão porque eram boas demais. E quando se é bom demais você se dá mal nessa vida, porque nem todos são como você.

– O que aconteceu com você para vim parar aqui? – Niko perguntou, aquele homem tinha algo no olhar que dizia que ele tinha passado por muita coisa até chegar ali onde estava.

– Eu era policial militar... – Niko ergueu a sobrancelha, agora entendia de onde vinha aquela postura imponente dele. – sempre salvei vidas... ajudei pessoas. Mas o que eu tinha de mais precioso eu não pude defender, minha mulher e minhas filhas... elas foram assassinadas pelo irmão de um bandido que eu tinha matado em um tiroteio.

– Nossa... eu sinto muito.

– Todos sentem. A vida de uma família foi a custo da minha.

– Isso não é justo... – Niko comentou pensativo.

– A vida não é justa Niko. Depois de ter perdido elas, uma montanha de coisas aconteceu, vim morar na rua e agora eu me sinto um pouco melhor ao ajudar essas pessoas... – O homem se levantou. – Bom eu já vou indo... você deve está cansado. Vou deixar você descansar.

– Obrigado... – Niko mostrou o cobertor agradecendo por José te lhe emprestado.

– De nada... se cuida garoto.

Após ele te ido Niko fechou os olhos na esperança de poder dormir, mas naquela noite isso seria impossível. Apesar do cansaço sua cabeça tava um caos, amanhã seria um novo dia e ainda não sabia o que fazer. Voltar para casa ou até mesmo ir para casa de sua tia estava fora de cogitação.

Niko passou a noite com vários pensamentos rodeando sua cabeça, um deles era sua mãe. Será que ela já sabia o que o marido tinha feito, Niko conclui que provavelmente Anna já teria falado para ela, levando em conta que não tinha atendido nenhuma ligação da irmã e quando estava pensando em retornar para dizer que estava bem, seu celular foi levado.

Além de ter feito aquilo com a própria vida, Niko já estava se sentindo mal por está atrapalhando a de sua mãe, ela precisa mais do que nunca de um descanso. Se preocupar com ele só iria perturbar a paz que ela foi buscar na viaje que estava fazendo.

A mãe havia acabado de perder uma de suas irmãs em um acidente de carro, o que foi um grande baque para ela e toda a família. Ela passou vários dias trancada no quarto chorando pela morte da irmã, era raro convencê-la a comer algo. Depois de dois meses após a morte da irmã, Niko a viu finalmente se recuperar um pouco mais daquela dor. Mas ainda sim, havia muita tristeza em seu olhar e isso deixava a família desestruturada. Anna teve a idéia de darem uma viaje de presente para ela já que seu aniversário estava próximo, duas semanas relaxando e alguma cidade fora do país. A idéia foi aceita pelo pai e só faltava convencê-la a ir, o que não foi uma tarefa fácil.

Aquele era apenas o décimo primeiro dia da viaje e atrapalhar o descanso da mãe era algo que Niko não queria que acontecesse, ainda mais se fosse por sua culpa.

Já era madrugada quando Niko finalmente conseguiu pegar no sono, mas mesmo assim não conseguia dormi por muito tempo pois sempre havia algo que o acordava, hora era o barulho de alguma moto passando por ali por perto e outras mais era o desconforto de dormir sentado.

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O dia se iniciava mais uma vez, com certa resistência o moreno de olhos azuis e cabelos preto, que insistiam em cair sobre seus olhos, se levantou da cama e foi até o banheiro. Ele parou na frente do espelho e após passar a mão no rosto encarou o próprio reflexo.

– Santo cristo... eu to um horror.

Enquanto escovava os dentes sua campainha tocou e ele já sabia exatamente quem era, ele como sempre era pontual. Ainda com escova na boca ele abriu a porta e pode ver a expressão de espanto e reprovação do amigo.

– Gustavo você ainda não ta pronto? – O homem mais velho falou.

– Só mais um minuto e eu já estou pronto... – Gustavo disse com a escova entre os dentes e foi para o banheiro terminar de se arrumar. – Sabe eu to começando a me arrepender de pegar carona com você para o trabalho.

– Relaxa... – O moreno falou de dentro do banheiro. – nosso chefe nem vai notar se a gente chegar uns minutinhos mais tarde. Hoje nem vai ter tanto movimento no restaurante...

– Mas mesmo assim, eu tenho uma responsabilidade e gosto de cumprir em ponto.

– Ah você é tão sério sabia. – Gustavo disse saindo do banheiro já pronto, o homem mais velho olhou para ele com cara de poucos amigos. – Sabe de uma coisa... eu nunca sei quando você está semicerrando seus olhos com raiva, porque eles sempre são assim quase fechadinhos.

– Você não tem jeito Gustavo.

– Ainda bem né? – O moreno sorriu e pegou a chave do carro. – Vamos que eu não gosto de chegar tarde, você me atrasa com essas conversas. – Gustavo disse brincando com o amigo.

Já no restaurante os dois começavam a fazer cada um o seu trabalho, Gustavo arrumando as mesas para os clientes que logo chegariam para o almoço e o amigo na cozinha.

– Ei o chefe está te chamando, é para você ir lá ao escritório dele. – Gustavo entrou na cozinha falando.

– O que será que ele quer?

– Eu não sei... – Gustavo falou se encostando à bancada pegando um dos petiscos já feitos pelo amigo, quando ia levar um a boca foi impedido por ele.

– Eu vou lá e você nada de mexer na comida ouviu?

– Tudo bem.

Já dentro do escritório ele perguntou para o chefe que estava em sua mesa olhando alguns papeis que provavelmente eram sobre os lucros e gastos do restaurante.

– Me chamou chefe?

– Sim! Ontem a noite teve aquele jantar para um grupo de empresários e muitos faltaram, ou seja, sobrou bastante comida que foi feita para eles. E para não estragar ou ser jogada fora, eu quero que você as coloque em marmitas e distribua para os sem tetos que domem por aqui pelos arredores do restaurante.

– Sim senhor.

– Só não demore muito, daqui a pouco vamos abrir o restaurante para o almoço.

Ele acenou e já estava se retirando do pequeno escritório quando seu chefe o chamou.

– Se você precisar de ajuda para fazer isso, você pode levar o Gustavo contigo.

– Ok.

Enquanto arrumavam as porções das comidas a ser entregues, Gustavo comentou.

– Apesar de não ir muito com a cara do nosso chefe! Ele às vezes, só às vezes mesmo, parece ser um cara legal.

Após arrumarem tudo dentro de uma caixa os dois foram em direção á um grupo de moradores de rua que tinha por ali por perto do restaurante.

– Tem mais um ali... – Gustavo apontou para o jovem loiro que estava em um canto mais afastado.

– Será que ele mora na rua, não parece pelas roupas que usa. – O outro comentou.

– Ele não parece nada bem, leva para ele. – Gustavo tirou uma marmita da caixa e entregou ao amigo.

– Ta.

Ele se aproximou de Niko e viu que ele estava com um cobertor velho e rasgado. O loiro estava com a cabeça baixa, por um momento pensou que ele estava dormindo, mas viu seu corpo se mexer quando se aproximou mais. Quando ele levantou a cabeça para olhá-lo pode ver que ele havia chorado, pois o caminho que as lagrimas traçou em seu rosto estavam visíveis.

– Pelo visto o dia não está sendo fácil para você não é?

Niko não conseguia enxergar o rosto do homem que estava em pé na sua frente, a luz do sol o impedia de ver com clareza e faziam seus olhos doerem. Só após ele se agachar para lhe entregar o pequeno recipiente de comida pode ver seu rosto, era um homem que aparentava ter entre 30 á 35 anos.

– Obrigado... – Sua voz saiu fraca.

– Qual é seu nome garoto?

– Niko... meu nome é Niko.

– Prazer Niko... meu nome é Edgar.


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