Just Listen escrita por Lenora


Capítulo 21
Capítulo 19 - Descobertas


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá!
Eu sei que já faz um tempão, mas aconteceu muita coisa desde a última vez, desde de bloqueio, a uns probleminhas pessoais, mas o que importa é o que importante, não é mesmo? HAHA
Ok, sem brincadeiras. Agradeço muito aos comentários que vocês vem deixando, leio todos quando sinto dificuldade para escrever e logo corro para o word, porque é isso que me deixa motivada. E por falar em motivação, meu Deus, o que é toda essa quantidade de favoritos?! Eu fico até espantada por esse número que mesmo já alto, continua a subir. Muito obrigada a todos!!!!
Por fim, mas não menos importante, dedico a esse capítulo à Hinata Hyuuga, que deixou uma recomendação mais que linda para Just Listen! Muuuuuito obrigada, chorei horrores. Eu juro que queria trazer o capítulo antes, mas não consegui, perdão, mas espero que você goste ;)

Sobre este capítulo, bem vou deixar vocês lerem e tirar suas próprias conclusões.
Boa Leitura!



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Quando passou pela porta, pareceu estar retornando ao quarto depois de anos, quando na verdade havia se passado apenas alguns meses. Tanta coisa acontecera desde que pisara no cômodo pela última vez.

 As colagens com diversas figuras femininas em quem se inspirava e as muitas dietas ainda permaneciam coladas nas paredes, no mesmo lugar onde as deixara, assim como tudo quando mudou de cidade. Largou a mochila em cima da cama e nem se preocupou em retirar as peças que pegou no quarto em que dividia com Karin.

Toda aquela situação ainda não parecia real.

Depois de ter se mudado de cidade, reencontrado pessoas que para ela eram como sua família, ter perdido totalmente o controle, rompido suas promessas de se manter na linha, ali estava novamente. Onde grande parte das coisas começaram a dar errado.

Sentou-se no antigo colchão e agarrou o urso de pelúcia que havia ganhado do pai no último natal deles juntos, lembrando-se da conversa que ouviu que sua mãe teve com uma tia, quando pensou que ela estava dormindo no banco de trás do carro. Ela falava sobre manda-la para a casa da avó.

A ideia em si não era tão mal se não levasse em conta o que isso implicava. Sua mãe queria se livrar dela, pois não sabia, e nem queria, lidar com uma adolescente viciada em drogas e revoltada com a vida - palavras dela. Isso era tão a cara de Mebuki, que a fazia revirar os olhos.

Não estranharia se sua mãe aparecesse com uma bíblia debaixo do braço, lhe dando diversos sermões sobre seu mau comportamento e dissesse que a confinaria em um convento ou ainda mais terrível, em uma clínica. Até porque, apenas a mulher podia fazer merda, isso era totalmente compreensível, entretanto as coisas não eram bem assim quando era a filha a culpada.

 E o pior era que, mesmo detestando muitas das atitudes da mulher, em muitas coisas elas eram extremamente semelhantes. Principalmente em sua incapacidade de lidar com problemas. Apesar de ter percebido a falta do cheiro de cigarro impregnado nas paredes da casa.

Até mesmo sua mãe já estava se reconstruindo, a deixando para trás.

Ouviu uma batida em sua porta e logo sua mãe entrou no quarto, parando em sua frente.

— Sua médica me informou que você precisa comer em intervalos de três horas — cruzou os braços ao ver que a garota deitou, virando-se para a parede ignorando-a — Está achando que isso é uma brincadeira?!

— Não estou com fome — pôs um braço flexionado sobre os olhos, de forma que a palma fizesse contato com a cabeça cor-de-rosa, como se a segurasse — E pare de gritar, estou com uma dor de cabeça dos infernos.

— Eu sabia que isso ia acontecer! Por Deus, o que me deu na cabeça de ter aceitado essa história de te deixar ir morar em outra cidade?! — começou um discurso sobre os motivos que tinha para não confiar em si.

A garota virou, encarando o teto entediada, fazendo o máximo para ignorar cada palavra dita pela mulher. Quando a mais velha finalmente parou para tomar uma respiração, viu sua chance.

— Já acabou? — Encarou Mebuki antes da mulher soltar todo o fôlego raivosa e se encaminhar para a porta — Feche a porta.

Mebuki encarou a filha que voltara a pôr o braço sobre os olhos e voltou a mirar a porta. Puxou a chave da fechadura e se colocou a andar novamente.

— Não quero nenhuma porta fechada agora.

Sakura, perdendo toda a paciência, tomou o bicho de pelúcia ao seu lado e o jogou no lugar onde Mebuki estivera segundos antes. Quando retornara a posição original, conseguiu ouvir o celular tocando, fazendo com que o som ecoasse pela casa inteira devido ao silêncio. Assim que alcançara o aparelho, sua mãe apareceu novamente e o arrancou de suas mãos.

— E sem celular.

— Está com medo que eu encontre um disk drogas? — Riu irônica — Cuidado que posso usar o telefone da cozinha. Ou até melhor, posso fugir do meu cativeiro. A janela não tem cadeado, não é? — A outra ignorou o comentário.

— Quero você lá embaixo em quinze minutos para comer.

— Eu não estou com fome — virou-se para a janela, para não ter que encarar a mulher.

 — E eu não estou perguntando — E tornou a desaparecer para o andar debaixo.

 Sakura bufou e deitou-se novamente, colocando desta vez o travesseiro sobre o rosto. Já conseguia prever o inferno que tudo viraria.





 Três dias.

Já faziam três dias, 72 malditas horas e ele já se revirava em agonia há tempos, como um viciado desgraçado sofrendo a pior das abstinências, o que era completamente ridículo.

   Conheceu Sakura de uma maneira nenhum pouco convencional, apenas alguns meses fora o que bastou para aquela maldita adentrar em sua pele de uma maneira que ele nem ao menos conseguia compreender.

   Era assustadora a forma como ele pensava nela quando acordava. Quando estava na aula de biologia (a favorita dela), a qual ela resolvia todos os exercícios em minutos, fazendo-o parecer o pior parceiro do mundo. Na de física, quando ele conseguia vê-la duas carteiras para frente, sofrendo por não compreender a matéria, ela sempre bagunçava o cabelo quando estava frustrada. Conseguia enxergá-la até mesmo quando estava comendo, vendo seu rosto desanimado, cortando os alimentos em pequenos pedaços, apenas para fingir que tocava na comida.

 Quando tinha sonhos com ela.

 Detestou todas as vezes em que acordou sentindo a pele formigar pela sensação que ela lhe proporcionava mesmo quando estava longe, e ele inconsciente.

   Era estúpido. Detestava a forma como ansiava vê-la, se odiava quando não tinha a menor paciência para lidar com Karin, que desistiu depois da sexta negativa dele, porque estava preocupado, sem notícias.

   Por Deus, estava até mesmo com saudade. E só haviam passado três fodidos dias.

   Era engraçado também porque, quando ele tinha Sakura na casa da frente, a situação entre eles não era boa - não era nada boa. Haviam passado de ter Naruto como amigo em comum, para grandes amigos (e também confidentes), até que as linhas que limitavam a relação deles começaram a ficar tortas, até desaparecerem por uns instantes, para depois virarem muros.

Ele reconhecia sua parcela de culpa nisso tudo. Havia oferecido para ela coisas que nunca mostrara a ninguém, só para minutos depois retirar tudo e expulsá-la de sua casa como um cachorro com sarna. Sasuke sabia que ela gostava dele, seus olhos eram transparentes demais, e ele sabia que ela estava se apaixonando e ele apenas se sentiu tão bem por isso, porque queria isso.

  Mas então sua consciência o alertou para que mudasse de planos. Porque ele sabia que ela tinha problemas e, somados aos dele, poderia magoa-la ainda mais. E ele não a queria chorando, porque já havia experimentado repulsa por outra pessoa que a deixou triste, e não sabia o que sentiria se fosse ele a quebrar, e foi isso o que o levou a explicar-se pelo o que acontecera da última vez, apenas para receber uma resposta mal criada e depois ser praticamente ignorado.

  Percebendo o que ela decidira, abandonou de vez qualquer ínfima vontade de ir atrás dela, falando com a garota apenas quando era necessário (o que era pouco, levando em consideração a limitação do vocabulário entre eles) e a ignorando na maior parte do tempo, parou até mesmo de negligenciar Karin, que, estranhamente, não ficou implorando por sua atenção em nenhum momento das semanas que passaram.

   Entretanto, por não ter um dos sentidos, todos os outros pareciam aflorar, principalmente a visão, e não era nada difícil de apanhar a rosada fraquejar, olhando para si com o canto dos olhos, seguindo-o pelos cantos, e eram nesses momentos que ele exibia seu relacionamento com a ruiva.

  Inicialmente, ele achava Sakura uma garota frágil, não que não a achasse agora, mas ele se percebeu desta forma também, inseguro consigo mesmo. Talvez fosse pela forma com que o pai passou a tratá-lo depois de que ficou surdo, ele apenas não se sentia mais confortável perto de ouvintes.

  Ao contrário do que muitos outros pensavam – a não ser sua mãe e talvez Itachi – era que ele se sentia terrivelmente incapaz perto daqueles considerados normais.

   Quantas vezes ele havia se sentido "de fora" quando acompanhado de Naruto e Sakura, quando o amigo esquecia de sua condição, o obrigando a se esforçar além do limite para acompanhar um simples ato de manter uma conversa. Ou então quando os amigos marcavam de ir ao cinema e não havia nenhuma película legendada, a única forma que ele tinha a chance de acompanhar (mesmo que vez ou outra perdesse alguma coisa por não conseguir ler tão rápido).

E era por isso que negava Sakura, mesmo que a quisesse tanto.

 Ele sabia que ela era especial e que deveria ser cuidada da forma mais completa e zelosa possível e, infelizmente, ele não era capaz de fazê-lo. Mesmo em momentos em que as linhas desapareciam, o que resultou nele provando aqueles lábios que tanto ansiava nos seus.

  Ela merecia tudo, porque sabia que ela enfrentava problemas graves, tinha certeza que o episódio da overdose na balada não fora o primeiro do gênero, e via a forma como ela ansiava por atenção em sua relação com as amigas ou com os Uzumaki. E exatamente por saber disso, ele tentou de todas as formas empurrá-la e havia conseguido, mas não se sentiu bem por isso, ou mais tranquilo, como pensava.

   Quando a observou cantar, dividindo seu tempo em observá-la cantar como um anjo, porque era impossível aquela garota fazer mal algo que se empenhava tanto, e acompanhar a letra da canção. Sentiu arrepios gelados descerem por sua espinha naquele momento somente por observá-la de longe, um mero expectador de seu show.

  Quis naquele mesmo momento pedir perdão, colocá-la em seu carro e sequestrá-la por um dia ou dois, em um lugar onde ele poderia dizer todos aqueles clichês, apenas para que pudessem começar do zero, direito dessa vez.

   Mas não, nunca as coisas eram como se planeja. Veio a maldita festa e então ela grudou no ruivo mal elemento no momento em que chegaram. A acompanhava conversar com ele, virar copo atrás de copo, quando percebeu que ela estava perdendo a linha, quis imediatamente retirá-la dali e socar o ruivo por tentar embebedá-la, mesmo sendo que na maioria das vezes fora ela quem pegava copos sozinha. Mas não importava, ele queria socá-lo da mesma forma, apenas para se sentir melhor.

     E então, quando foram para a pista de dança, ele os perdeu de vista e ele precisou chamar Karin para que pudesse vigiá-la de mais perto, algo o dizia que ela não era assim e as coisas não terminariam bem. Quando viu que ela o percebeu perto de si, desviou rapidamente os olhos e puxou Karin para perto, beijando-lhe o rosto e fingiu aspirar o perfume de seu pescoço, apenas para observá-la escondido por entre o cabelo vermelho.

   Percebeu seus olhos brilharem mais intensamente, e chegou até mesmo a andar na finalidade de alcançá-la, quando a viu puxar o garoto estúpido para si e beijar seus lábios. Ele sabia que estava tomada por ciúmes, sabia exatamente como ela se sentia, pois observando a cena, um gosto amargo tomou sua boca e ele deu algumas passadas antes de Sakura se desvencilhar e tirá-lo de sua frente.

   Não a seguiu mais, se desvencilhou da ruiva e foi até o bar para depois seguir até a mesa, mas o amigo quase engolindo a traça de livros o irritou. Rumou então para próximo das enormes caixas de som e percebeu que tinha uma vista interessante dali. Não sobre Sakura, não queria vê-la no momento, mas de Karin.

    A ruiva abraçou um garoto que não conseguiu ver quem era e depois tomou o copo de suas mãos, para em seguida beijá-lo na bochecha, ou no canto da boca, não conseguiu enxergar muito bem.

    Após isso, lembrava-se apenas de Sakura vomitando em si para logo despencar em seus braços e depois hospital.

 Remexeu-se entre os lençóis e decidiu por se levantar de vez. Alcançou seu telefone e pôs-se a digitar

    Sasuke: Pronto para perder mais uma vez?

   Poucos minutos recebeu a resposta que queira.

   Naruto: Como se isso fosse acontecer

  Naruto: Estou indo aí ou você traz seu traseiro de perdedor aqui?

 Sasuke: Estou indo

 Entrou na casa vizinha como se fosse sua, assim como Naruto fazia na sua, e subiu as escadas até o quarto do amigo. Passou pelo corredor e percebeu o quarto da ruiva vazio, sem nem sinal da garota.

 "Onde Karin estar?" Perguntou assim que chegou.

"Amigas, eu acho" O loiro deu de ombros.

Sasuke sentou-se então no chão e encostou a cabeça no colchão do outro. Tirou o celular do bolso e foi até as mensagens, localizando a que procurava.

Karin: tarde de estudos. Me acompanha?

Sasuke: Não dormi a noite. Talvez amanhã

Karin: Ok.

Karin: Estou no meu quarto, me avise quando acordar, assistiremos um filme ou sei lá.

   — Ei, sem celulares durante a partida — Naruto balançou as mãos para chamar sua atenção — Não quero desculpas para quando você perder.

  "Vamos jogar, perdedor" Jogou o aparelho ao seu lado e se concentrou no jogo a sua frente.





            "Kay rompeu em soluços. As lágrimas jorraram-lhe dos olhos e o pedaço de vidro saiu arrastado por elas. Reconheceu Gerda e, cheio de alegria, exclamou:

            – Querida, pequena Gerda, onde ficaste durante tanto tempo, e eu, onde tenho estado?

            Gerda beijou as faces de Kay e elas voltaram a ter cor. Beijou-lhe os olhos, que retomaram o seu brilho cintilante, e as mãos e os pés, onde a vida renasceu. Kay voltou a ser um bonito rapaz cheio de saúde e de alegria. A Rainha das Neves podia agora voltar, pois a carta de liberdade estava escrita com peças de gelo brilhante. Deram as mãos e saíram do palácio."

  — Sério que você curte mesmo contos de fadas? — A loira levantou os olhos da página depois de finalmente ter finalizado o livro infantil. Kiba, ao invés de respondê-la, parecia perdido em pensamentos. Pensou em abanar a mão em frente ao seu rosto, porém logo descartou a ideia ao lembra-se de que o garoto era cego. Por isso, avançou para o plano B e cutucou-o com o dedo, fazendo-o despertar.

   — Foi mal, acho que viajei por alguns minutos – riu de canto.

  — Você não vai me fazer ler tudo de novo, não é? Já é a segunda vez que isso acontece e você me fez reler na última — disse emburrada, fechando o livro para colocá-lo na mesa.

 — Não, eu ouvi bem agora. Só estava pensando, é meio idiota, mas me coloquei no lugar do Kay, sabe?

  — No personagem de um conto para crianças? — Perguntou cética.

 — Não no conto, mas na situação — aproximou-se de si – Kay estava “cego” e quando ele conseguiu enxergar de novo, foi como se ele tivesse voltado a viver — tomou fôlego — Eu só fico imaginando quando eu voltar a ver, se vai ser tão...  — completou — mágico quanto.

  — Você está excitado pra isso, não é? — Ele assentiu prontamente — Não quero te frustrar, nem nada assim, mas talvez as coisas não sejam como você imagina. Digo, você não tem nem certeza se...

   — Você não entende — a interrompeu — É terrível pra mim. Achei que com o tempo eu me acostumaria, e isso de fato aconteceu, mas eu não quero isso pra mim, não mais — virou a cabeça para onde o som da voz dela vinha — Falar com você e não ter uma imagem para associar, é angustiante. Antes até me servia de passatempo, imaginar como você é, mas já perdi a paciência

 — E que relevância tem isso? — Perguntou enquanto olhava para seu rosto. Ino nunca o havia contado, mas uma vez, quando chegou um pouco atrasada para seu encontro com ele, o viu com a sua mãe no parque. Como a mulher não havia a percebido ali, parou para ouvir sobre o que conversavam, e viu Kiba perguntar a ela sobre si. Sobre sua aparência, de uma forma geral. Perguntou sobre seus cabelos, sobre a cor que eles eram, seus olhos, sua pele, até mesmo as roupas que vestia. O que a surpreendeu, foi que ele já tinha uma visão sobre si, apenas pedia por uma confirmação para aquela que a conseguia enxergar — Saber se sou do jeito que você quer eu seja, isso não vai acontecer.

   Kiba estava de olhos fechados, um sorriso discreto desenhado em seus lábios enquanto levava as digitais para seus braços, subindo sua trilha até o pescoço e por fim seu rosto, Ino afastou-se por puro reflexo. Percebendo sua esquiva, o rapaz freou sua mão, mantendo-a parada, erguida em frente ao rosto dela, quando tentou novamente, a garota permaneceu parada, aceitando o contato.

     — Por isso que você nunca deixou que eu visse seu rosto? — antes que ela pudesse soltar mais uma de suas respostas irônicas, o garoto adiantou-se — Você sabe o que quero dizer. Eu quero ver você — completou mais baixo — Do meu jeito. Vou me contentar com isso por enquanto — Ino não soube o que dizer, as palavras fugiram de sua boca e nada lhe vinha à mente. Impaciente, Kiba logo levou a outra mão para o seu rosto, e, com ambas abertas, Kiba ia tocando sua testa, cabelo e bochechas.

   Conheceu a suavidade de sua pele, as formas curvas de seu rosto, enxergando até as minúsculas imperfeições, cada pequena cicatriz, e parou em uma em especial, que ficava um pouco para baixo do olho esquerdo. A marca que Ino abominava, por achá-la terrivelmente feia e que a fazia ficar longos minutos passando maquiagem a fim de cobri-la.

    — Onde conseguiu? – Perguntou. E foi nessa hora que ela percebeu que ele estava mais próximo do que já esteve antes, quase tocavam seus narizes, apesar de já ser possível sentir a respiração quente e irregular um do outro.

    — Uma menina me empurrou e eu caí — respondeu num sussurro. Não lembrava-se ao certo o que acontecera, mas lembrava-se que estava ainda no orfanato — Já faz muito tempo.

     Kiba então continuou com a sua inspeção, tocando seu rosto. Quando se aproximou de outra cicatriz em seu queixo, Ino tampou-a com a mão. Usando os dez dedos, o garoto retirou a retirou dali e pôs as mãos em suas bochechas, de forma com que conseguisse explorar seus lábios com os polegares.

  Fechou os olhos sentindo-o tocá-la de uma forma tão suave e apaixonada, que ela nunca havia conhecido antes, com uma delicadeza que nunca havia sido direcionado para si. Por mais clichê que fosse, lembrou-se de Sai, não porque estava apaixonada ou qualquer coisa do tipo, mas pelo cuidado que o amigo tinha para com suas telas, e foi assim que se sentiu, como uma obra de arte nas mãos de seu artista cego.

     Despertou prontamente quando, ao invés de dedos, sentiu algo mais suave tocar em sua bochecha. Abriu os olhos observando-o afastar-se.

    — Você é diferente do que eu estava imaginando — sussurrou.

   — Eu te disse que as coisas poderiam não ser como você planeja — devolveu ofegante. Kiba havia deixando-a sem fôlego com uma simples carícia em seu rosto. Subiu seus olhos e o observou com as pálpebras cerradas e um sorriso estampando a face.

  — É muito mais bonita — Antes que pudesse respondê-lo, Kiba trouxe seu rosto um pouco mais para perto e encontrou sua boca com os lábios. Beijava com a mesma suavidade com que tocava seu rosto antes, mas dessa vez era algo ainda mais profundo e intenso.

  Tão profundo que nem ao menos se deu conta de que estavam em movimento, só percebeu quando bateu com a cabeça em uma porta.

   — Desculpe — riu de canto com a boca ainda colada à sua — Não estou olhando por onde ando.

    — Engraçado — rebateu enquanto devolvia o beijo voraz de Kiba. Com um pouco de dificuldade, devido ao garoto andar espalmando as mãos pelas paredes para ver o caminho e se guiando pela memória, finalmente chegaram ao destino.  

     A próxima coisa que sentiu foram os lençóis sob suas costas, assim que o moreno colocou-a sobre eles, subiu em seu corpo logo em seguida. Ele distribuiu beijos em seu pescoço, e ela riu pelas cócegas que sentiu.

      — Isso está bom pra você? — perguntou arrastando o nariz por onde seus lábios haviam trilhado há pouco.

     — Se eu parar para pensar, vou sair daqui em segundos — respondeu sincera.

   — Vou tratar de esvaziar a sua cabeça então — Subiu o corpo, apoiando seu peso nos joelhos, e retirou a camiseta antes que ela pudesse tomar uma respiração. Não acreditava que estava acontecendo isso agora e muito menos com quem.

    Ino era o tipo de pessoa que programava a vida toda na ponta de uma caneta, e um dos momentos que estava no topo da lista na ordem de importância estava acontecendo sem o menor planejamento, nada de flores e velas que sempre esperou, muito menos o príncipe perfeito o qual sonhava conhecer na adolescência para que fossem juntos para a faculdade e se casar pouco tempo depois da formatura.

  Entretanto, o mais surpreendente era que não queria que fosse diferente.

    Não namorava com Kiba e o primeiro beijo deles acontecera há poucos minutos, na sala dele, onde a mãe do garoto os havia deixado antes de sair para sabe-se lá onde, mas se sentia pronta para tudo o que se desenrolava. Se sentia muito mais à vontade com ele do que qualquer um dos outros caras com quem já havia se relacionado no passado.

    — Você nunca…? — Perguntou sem jeito ao perceber a forma com que a garota se encontrava travada, diferente de quando a estava beijando.

  — Não — Tampou o rosto com as mãos enquanto soltou um choramingo. Kiba não estava tão mais calmo que ela, longe disso.

 — Bom, então se for pra ser ruim, acho que vai ser para os dois né? — Riu sem jeito.

 — Você também nunca… — Destampou o rosto. O fato de ele não enxergar deveria tranquilizá-la, mas, por Deus, isso não fazia o mínimo efeito — Fez isso antes?

  — Não — balançou a cabeça feito uma criança que fora apanhada fazendo arte — Não são todas as garotas que acham esse cego aqui charmoso — Brincou tentando fazê-la relaxar, e depois deitou ao lado dela, puxando uma das mãos pequenas para a sua, brincando com os dedos — E não é como se eu saísse muito, raramente fico sozinho.

     — Sua mãe… — começou uma pergunta. Porém ele logo negou.

    — Não vai voltar cedo — riu — Ela tenta esconder, mas eu sei bem que ela vai se encontrar com o meu candidato a padrasto. E antes que pergunte, minha irmã está viajando.

            Ino encarou o seu rosto, ele estava sorrindo enquanto beijava os dedos. Não era possível que ele realmente gostasse dela.

  — Posso te fazer uma pergunta? — A fez despertar de seus pensamentos.

   — Já está fazendo — Respondeu enquanto passou a brincar com os dedos dele também, encarando as mãos juntas.

  — Você me acha bonito? — Subiu os olhos e encarou as orbes castanhas sem foco — Quer dizer, eu só tenho uma noção vaga de como eu sou e eu também não sei se…

  — Sim — o interrompeu, pela sua expressão, Ino teve certeza que ele estava surpreso. Na verdade, ela também estava. Antes, quando o vira pela primeira vez, ela o julgou sim como um garoto bonitinho, mas era diferente agora. Ele era bonito porque era ele, e não pelos seus olhos serem claros e seus cabelos cor de ouro, na verdade, era o extremo oposto — Você é bonito sim.

 — De te tirar o fôlego? — Ino caiu na risada ao ver sua tentativa de soar sedutor — Eu não estava brincando.

— Não importa, achei graça mesmo assim — continuou a rir até seus olhos encherem de lágrimas e a barriga doer.

— Vamos acabar com a graça então — dito isso, ele a beijou novamente, com a delicadeza um pouco de canto, dando lugar intensidade. Beijaram-se por um tempo realmente longo e, mesmo que não quisesse confessar, ele lhe tirou sim o fôlego, mas Ino também o fez perder o ar e com a respiração irregular.

Logo, uma a uma, as peças de roupa iam se perdendo pelo cômodo, e ao sentir-se preparada, Ino deslizou as unhas, arranhando a pele das costas morenas até perto do quadril, por onde puxou-o, encostando as intimidades, o que resultou em ambos vocalizando em forma de ofegos e gemidos a sensação de prazer que vinha sendo descoberta aos poucos.

Ino atacava-lhe com a boca e língua onde quer que alcançasse, enquanto circundava com o quadril, forçando-o a se mexer, enquanto Kiba mordia os lábios e remexia os dedos dos pés em uma tentativa vaga de conter a vontade que tinha de adentrá-la.

— Kiba — Chamou ela, movendo os lábios para seu pescoço, distribuindo um sem número de beijos por toda a pele que já se avermelhava.

— Eu preciso que você destrave o meu braço, tenho que alcançar minha gaveta — Ele riu antes de tomar seus lábios para um beijo curto — Não podemos engravidar logo agora, não é mesmo?

Ela balançou a cabeça e se ajeitou, de forma com que ele conseguisse se esticar e ir tateando a cômoda que ficava ao lado da cama. Devido a tremedeira das mãos, conseguiu derrubar quase tudo o que estava na superfície, apenas para conseguir localizar a gaveta, puxando por fim o pacote de camisinhas que a irmã o presenteara em seu último aniversário.

Sim, ele havia lhe dado aquilo como presente logo depois de ela vê-lo com Ino.

Sim, ele quis enforcá-la pelo constrangimento que sentiu, mas no fim ele esperava fazer um bom uso de seu presente.

Apoiou-se na cama, sentando para que ficasse mais fácil, mas percebeu uma pequena dificuldade em fazer aquilo. Não que nunca tivesse feito, porque sim, depois de xingar a irmã e expulsá-la do quarto, ele decidiu experimentar um dos preservativos em si. Só para ver como é, pensou.

Mas, droga, não se lembrava de ser tão difícil. E suas mãos estavam tremendo, ainda por cima.

— Uma ajuda, talvez? — Olhou para a direção da cabeceira da cama, onde a loira se encontrava em meio aos lençóis, o encarando.

— Ninguém nunca ia acreditar, se eu contasse — respondeu antes de se levantar e ir para perto dele.

— Relaxa, nós vamos ser melhores da próxima vez — Ele lhe sorriu uma última vez antes de tomar seu rosto mais uma vez, e beijar-lhe os lábios enquanto a empurrava novamente para o colchão e subia em seu corpo.

Ino não conseguiria explicar nem cinquenta por cento de tudo o que acontecera em mínimos detalhes, mas recordava sim do desconforto das primeiras vezes em que Kiba adentrou seu corpo e lágrimas escorreram por seu rosto. Lembrou de que mordeu os lábios para não pedir para que saísse de cima dela no mesmo instante.

Por outro lado, lembrou de quando as coisas melhoraram e não ficou tão ruim assim. Era desconfortável, mas também havia algo lá, escondido, no fundo. E enquanto ela passava por toda aquela sensação estranha e incômoda, Kiba soltava arquejos e frases desconexas, porém sempre vocalizando o quanto ela era linda e como estava se sentindo bem, e isso acompanhado de movimentos irregulares de seu quadril e beijos onde quer que ele alcançasse.

Ele fora realmente doce e logo que acabou, alguns minutos depois (apesar de parecer que tivesse durado muito mais do que o tempo que realmente levou todo o ato), quando ele acelerou um pouco o seu jogo de quadril e grunhiu em seu ouvido, de uma forma que a teria deixado ligada se não fosse pela sensação estranha que sentia, ao chegar ao orgasmo. Depois, escorregou para o seu lado, encaixando-se em suas costas, ainda arfando enquanto distribuía os últimos beijos em seu ombro e pescoço salgados devido ao suor.

Ino ficou em silêncio, apenas o respondendo quando ele perguntou se a havia a machucado. Bem, havia sim doído, mas isso aconteceria com ele ou qualquer outro, mas como não era isso que ele de fato perguntava, negou.

Não tinha flores ou qualquer outra arrumação especial para tornar aquela a melhor primeira vez de todas as primeiras vezes, talvez o fato de ambos serem inexperientes no assunto, tenha feito com que se atrapalhassem em certos movimentos, mas não havia sido nem longe ruim.

Mas ela não estava relaxada e nem feliz como pensou que estaria, muito pelo contrário. Por algum motivo, lembrou de todas as vezes quem as garotas a chamavam de fácil por ter saído com um número bem grande de garotos, se comparada com as outras garotas da escola, mas que nunca havia dado bola. Porém dúvidas e mais dúvidas vinham em sua mente, lhe impossibilitando de relaxar.

E se ele só quisesse perder a virgindade?

O fato de ser cego realmente diminuía as suas chances de sair com algumas garotas, por não despertar o interesse em muitas delas, mesmo sendo um cara bonito e simpático.

E se ela fosse a disponível que aceitou ir para a cama com ele na primeira tentativa?

Bom, isso não era de todo uma mentira. Como bem sabia, eles nunca haviam feito qualquer coisa que tivesse uma atmosfera romântica, a não ser quando flertavam de forma inocente vez ou outra, mas nada que a fazia pensar que estaria onde estava agora.

Tudo o que vinha em sua mente era o quanto ela havia sido fácil e que as coisas não voltariam a ser como antes. Ele havia sido gentil e bom com ela num momento onde as emoções transbordam devido a todas aquelas sensações, mas e depois?

Ao perceber que a respiração dele já diminuíra, o viu dormindo com um rosto sereno. Kiba não era ruim, nunca havia prometido algo para ela, mas não era isso o que queria, essa coisa sem sentido.

E não queria ser a menina estúpida apaixonada que fora largada no baile de formatura mais uma vez. Porque sim, os garotos se mostravam interessados nela, a garota mais popular do colégio, porém logo que se recusava a ir para a cama com qualquer um deles, logo perdiam o interesse e passavam por ela como se nem ao menos existisse.

E isso já era sair, e muito, de seus planos.

Tirou seu braço que enlaçava sua cintura cuidadosamente para não despertá-lo e levantou-se. Nas pontas dos pés, deixou o quarto e colocou as roupas enquanto tropeçava pelo caminho. Correu para a sala e pegou a bolsa que estava no sofá e quando se encaminhou para a porta, ouviu a porta do andar de cima bater.

— Ino? — Kiba chamou.  Quando despertou, esticou o braço, deslizando a mão pelo colchão, porém encontrou o lugar ao lado de si vazio, quando ouviu o barulho das chaves, tentou se apressar pelo corredor, utilizando a mão espalmada nas paredes para se locomover. Na pressa, acabou por tropeçar em algo, provavelmente seus sapatos, e deu um encontro com a porta para recuperar o equilíbrio

— Ino, droga! — Mas assim que chegou na beira da escada, ouviu a porta bater com um estrondo. Bagunçou os cabelos, bufando, e retornou ao quarto, chutando tudo o que se encontrava no caminho.


— Sakura! — chamou — Finalmente, estava tentando falar com você há dias! Escuta, precisamos conversar, sim, acho que fiz alguma merda. Não, não beijei um menino gay, foi um pouco mais que isso — Esticou a mão, para chamar a atenção do motorista do ônibus.




— Acho que é aqui — disse Hinata, entregando o celular — A mensagem diz que é neste endereço.

— Obrigada por vir até aqui comigo, sei que o Naruto tinha chamado você para sair — agradeceu Tenten. Suspirou encarando o estabelecimento a sua frente. Ironicamente, era a mesma sorveteria que Neji a havia trazido antes, já fazia tanto tempo.

— Não tem problema, eu não te deixaria vir encontrar o seu pai sozinha de qualquer jeito — sorriu a outra, enquanto pegava na mão da amiga — Quando você estiver pronta, nós vamos.

Tenten encarou a amiga uma última vez e mirou para dentro da loja. Não estava lotado, mas um pouco mais da metade das mesas estavam ocupadas por visitantes, mas mesmo assim ela conseguiu distingui-lo de longe. Estava um pouco mais magro e parecia abatido, mas ela ainda não confiaria nele sem se estivesse algemado.

Ele ainda era a figura que ilustrava seus piores pesadelos, mas estava na hora de ela descobrir o que era que ele queria com ela dessa vez.


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Notas finais do capítulo

Bom, e isso é tudo.
Sei que dei uma pausa monstruosa, mas pretendo escrever mais, não vou prometer, mas juro que vou tentar.
Mais uma vez eu peço desculpas pela demora, mas foi realmente um tempo complicado pra mim.
Enfim, sobre o capítulo, eu não pretendia colocar nada do que escrevi (até hoje não sei pra que eu faço uma lista das coisas que tem que acontecer no capítulo, porque eu nunca sigo HAHA), mas foi isso que acabou saindo. O que acharam?
Quis trazer coisas diferentes, então tratei de dar continuidade na Ino e começando a voltar com a Tenten (eça aparecerá mais, prometo). Que tal?

Micro sessão de spoiler:
#1 Término Sasukarin está previsto para algo BEM próximo (na verdade era pra ter acontecido já, mas... TT^TT)
#2 As mortes que eu citei antes estão se aproximando também
#3 Por fim, a fanfic está se encaminhando para o fim, falta bastante coisa, mas digamos que estamos indo para o fechamento de fatos que servirá para o final

É, não consegui pensar em mais nada pra trazer HAHA.
Nos vemos nos comentários ou no próximo capítulo.
Beijos o7

Ps: a parte que está centralizada faz parte também do conto da Rainha das Neves, ok?