Just Listen escrita por Lenora


Capítulo 20
Capítulo 18 - Vaso


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá!
É, eu sei que já faz um bom tempo desde o último e eu sinto muito sobre isso, mas eu estava com um bloqueio terrível e não consegui escrever nadinha de nada. Perdi a conta de quantas vezes eu abria o editor de texto e ficava encarando a tela branca e vazia.
Mil desculpas por isso. Tentei até fazer um capítulo maior para compensar, que tive dificuldade também para escrevê-lo. Trouxe os casais secundários desta vez, eu bem sei que vocês curtiram o Kiba então ele dará o ar da graça.
Enfim, gostaria de agradecer a todos que favoritaram e que comentam a história! Muito, muito obrigada de todo o meu coração. Vocês me emocionam DEMAIS!
E por ultimo, mas nem de longe menos importante, gostaria de agradecer e dedicar o capítulo a Snalker!
Muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito obrigada pela recomendação linda! Adorei cada palavra que escreveu, me emocionou demais. Dedico o capítulo todinho a você. Beijão!
Boa leitura!



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Estavam os quatro, Ino, Sai (que os localizou depois da bagunça que armaram após a Haruno desmaiar) e o casal maravilha sentados na sala de espera.

A loira achava incrível a maneira como as coisas só pareceram piorar: primeiro Sakura andava toda estranha e mau humorada o dia todo, depois esta mesma garota se atrasava para a apresentação que fizeram na lanchonete, logo após Kurenai lhe enviou uma mensagem para ela – no meio da festa – para informar que o produtor dissera que elas eram boas, mas não era bem o que ele procurava, e então quando decidiu aproveitar a festa, já que o resto desandara, Sakura tivera uma overdose.

Uma maldita overdose.

É, a vida não estava sendo nada fácil para ela. E quando pensou que não poderia piorar, o destino riu e apontou para ela enquanto a chamava de inocente. Sempre tinha como piorar.

Kushina, mãe de Naruto, estava de volta e pediu para que o filho fosse buscá-la no aeroporto, o que o loiro fez, se borrando de medo, e carregou Hinata consigo para que esta usasse sua capacidade de neutralizar qualquer situação. Ino apenas cruzava os dedos para que Hinata conseguisse, já que a merda já fora jogada no ventilador.

   E o motivo? Pois bem, não quiseram desesperar Kurenai (que estava aproveitando o final de semana com Asuma, que não trabalharia na segunda) e Hana, mãe de Tenten, que havia trabalhado até tarde e que por isso não quiseram incomodá-la. Dessa forma, restara apenas um adulto a quem pudessem recorrer e que não os enforcaria: Itachi, irmão mais velho de Sasuke. Ino não o conhecia bem, na verdade o tinha visto umas duas vezes, mas Karin, Naruto e Sasuke concordaram que ele era a melhor opção.

Mas como as coisas estavam indo montanha abaixo, não seria naquele momento que melhorariam. Assim que a chamada foi atendida, Ino, completamente em pânico, simplesmente despejara a situação para o ouvinte de seu lamento.

 Entretanto, quem atendera a chamada não fora o irmão de Sasuke como pensara, claro que não. Quem a ouvira fora Mikoto, mãe dos Uchiha. Quando a Yamanaka percebeu, ficou pálida e suou frio, sentindo o a bile escalando por sua garganta, e por fim pediu à mulher para que os encontrasse no hospital.

Resumindo, depois de uma merda atrás da outra, com a mãe de Sasuke sabendo de Sakura, Kushina logo saberia e assim Mebuki, mãe de Sakura, também saberia, e a rosada não se dava nada bem com a mãe e vice versa, mas apostava um fio de cabelo dourado de sua cabeça que a mulher carregaria Sakura para longe.

Uma Sakura com problemas sozinha.

 Uma Sakura com problemas sozinha com a mãe.

 Uma droga atrás da outra.

 Isso sem nem contar o estado desconhecido de Sakura, já que a enfermeira desgraçada decidira fazer voto de silêncio até que um responsável aparecesse, os deixando apenas mais aflitos. Ino amaldiçoou de seu primeiro ancestral até seu último descendente.

— A situação é muito ruim? — Perguntou Sai com toda a sua inocência enquanto balançava sua perna para baixo e para cima em movimentos repetitivos.

— Não, Sai, ruim é o estado do meu cabelo que está suplicando por uma restauração, isso aqui é uma catástrofe — Respondeu franca enquanto passava a mãos por entre os frios bagunçados.

— Isso já aconteceu antes? — Sussurrou ele curioso e sem jeito. Em resposta, a garota negou com a cabeça.

— Das outras vezes, o máximo que ela fez foi sumir por uns dias, simplesmente evaporava e depois voltava como se nada tivesse acontecido. Drogas apenas não parecia ser o negócio dela, pelo menos até agora.

Sai balançou a cabeça e apoiou a cabeça da amiga em seu ombro, para consolá-la. Logo sentiu sua camiseta molhar pelas lágrimas que a outra derramava sobre si, a menina estava com medo do que poderia acontecer a seguir e não sabia o que fazer para ajudar.  E isso não era algo que acontecia frequentemente, Ino Yamanaka sempre sabia o que fazer, ela estava completamente perdida.

Quando pareceu ter se passado décadas, a morena, encarnação da aflição (apesar de continuar deslumbrante daquele jeito no meio da noite), atravessou as portas com passadas largas até chegar a eles.

— Como ela está? — Perguntou preocupada, enquanto sinalizava rapidamente. Sasuke encolheu os ombros, como se a respondesse que nenhum deles fazia a mínima ideia do que se passava.






Hinata estava sentada observando o loiro andar repetidas vezes em uma trajetória de ida e volta de mais ou menos três metros, enquanto arrastava os dedos em seu cabelo, os deixando ainda mais bagunçados.

Dizer que ele estava nervoso era pouco.

— Vou acabar com esse chão se continuar a andar desse jeito! — Soltou de repente, parando em sua frente.

— Então senta, não vai adiantar nada ficar nervoso desse jeito — Respondeu tentando passar calma. Por mais que sua voz soasse tranquila, estava apavorada por dentro, já que estava no escuro quanto à situação da amiga hospitalizada.

— Não consigo! — Bufou ele, enquanto levava as mãos na cintura. Pela sua respiração, parecia que esteve correndo por quilômetros durante muito tempo e acabara de parar para tomar fôlego — Minha mãe vai me matar, sabe o que isso significa?

— Não foi culpa sua — Levantou de seu banco e se postou em sua frente para acariciá-lo em ambos os braços, passou a friccionar a pele bronzeada como se seu afago fosse o bastante para subir um pouco a baixa temperatura dele — Por pior que seja isso o que está acontecendo com ela, não é culpa nossa.  

Naruto tombou a testa até encostá-la em seu ombro. Ele estava aflito e com medo não só pela sua mãe - por pior que a mulher agiria quando soubesse, ela ainda era sua mãe -, mas por Sakura.

A última vez que a vira, a garota estava extremamente pálida e com as iris se revirando loucamente sob a fina pele de suas pálpebras. A única coisa que passava pela sua cabeça era que ela morreria antes que chegassem no hospital, e isso fez com que sentisse um medo nunca antes sentido.

Ele ficou completa e totalmente apavorado, porque não sabia o que fazer para ajudar.

Ele não se lembrava de ter chorado de medo alguma vez em sua vida, porém há algumas horas, ele chorou feito uma garotinha em mais puro pânico, enquanto acariciava os cabelos rosa da cabeça que Karin e Ino acomodara em seu colo.

Queria, precisava de notícias de Sakura a partir do momento em que pusera seus pés para fora do hospital, mas o celular de qualquer um dos amigos apenas chamava. Claro que em uma situação daquelas ninguém prestaria atenção em um aparelho insignificante perante a toda essa situação.

Quando estava se sentindo prestes a chorar de novo, sentiu a mão delicada da garota acariciando seus cabelos, na busca de conforto, abraçou sua cintura firmemente. Não sabia o que Hinata fazia, mas ela era a única pessoa capaz de acalmá-lo.

Nesta noite, nunca esteve tão grato com a presença dela. Não queria que mais ninguém estivesse ao seu lado naquele momento.

— Naruto? — Chamou uma voz que ele conhecia muito bem. Antes de se afastar, apertou-a ainda mais, sentindo Hinata devolver-lhe o abraço mais firme, como se o avisasse que ela estaria ali com ele.

— Hey, mãe! — Ele se soltou e pegou a mulher nos braços, a erguendo enquanto a abraçava — Estava com saudades!

— Me coloque no chão, Naruto! — Ralhou a mulher fingindo-se irritada — Não pense que só porque não te vejo por alguns dias que vai me impedir de te dar uns cascudos!

A morena observou o garoto soltou sua mãe no chão enquanto ia abraçar o pai. Ela não conhecia os pais de Naruto, porém ele era uma mistura perfeita dos dois. Enquanto ele era uma cópia cuspida e escarrada do pai, seu gênio passava correndo do jeito calmo e sereno do homem. Naruto deveria ser uma cópia de sua mãe de calças ao invés de saias.

Quando os olhos azuis da mulher ruiva se colocaram sobre si, ela deu-lhes um sorriso amarelo. Quando parara para analisar que eram altas horas da noite e que o loiro estaria buscando seus pais, nunca passou em sua cabeça o que eles iam pensar disso.

Quer dizer, se ela havia aparecido juntamente com ele quando eram mais de quatro da manhã, isso só podia significar que haviam passado a noite juntos. Pensar nisso só fez com que seu rosto se aquecesse.

— Bem, onde está Karin? — Perguntou Kushina ao perceber que a ruiva mais nova não se encontrava em lugar algum — Não acredito que aquela menina preguiçosa não acompanhou você até aqui!

— Mãe, pai, nós precisamos conversar — Disse Naruto. Ao perceber que o loiro estaria para contar sobre Sakura, postou-se ao seu lado para apoio moral. Ao ver a expressão séria de seu filho e a garota que se encontrava ao lado dele, Kushina sentiu tudo ao seu redor girar.

— Meu Deus! Eu sabia que essa viagem não seria uma boa ideia, que teria uma bomba gigantesca quando voltássemos! Venha, Minato, me ajude a sentar — O marido foi ao seu socorro, revirando os olhos para a preocupação antecipada da mulher. Era apenas a cara de Kushina pensar no pior. Mesmo que o filho estivesse sério, Minato apenas aguardava a brincadeira que se seguiria depois. A mulher insistia em levar o filho adolescente a sério — Por favor, por favor, não me diga que serei avó! Não estou pronta para isso agora. Gostaria muito de ter um neto, gostaria mesmo, mas apenas não consigo pensar nisso agora! Eu te avisei que deveria fazer faculdade antes de pensar nessas coisas, Naruto! Eu entendo que as vezes a vontade é muita, afinal você, além de meu filho, também é um adolescente cheio de hormônios, mas você não deveria jogar aquela conversa que tivemos pela janela! Não havíamos conversado sobre camisinha antes?!

Naruto esbugalhou os olhos ao perceber onde o discurso de sua mãe chegava. Nunca entendera bem, mas tudo o que aprontava, sua mãe primeiro pensava que ele havia engravidado alguém. Como já estava para lá de embaraçado, evitou olhar a reação de Hinata ao seu lado.

— E você também bem sabe que existem outras formas de aliviar isso tudo dentro de você, não é mesmo? Tem... — Ao ouvir o discurso da mulher, Minato não sabia se ria ou chorava. Percebeu que a situação de seu garoto era bastante semelhante.

 — Não, não, não, mãe! — Deu três passadas até chegar na mulher que mal tomava fôlego para disparar tudo aquilo sobre si. Não acreditava que sua mãe estava lhe dizendo para se aliviar seus hormônios sozinho na frente de Hinata. Por Cristo! — Não é nada disso! Shhhhh! Fale baixo!

— Você estava todo sério dizendo que precisávamos conversar no meio da noite, acompanhado por uma garota depois de ter ficado com uma casa para você por dias, o que quer que eu pense?!

— Poxa, eu agradeço a confiança, valeu mesmo — Rebateu se fingindo de ofendido — Mas não é nada disso, apesar de ser tão sério quanto.

Minato percebeu a mulher murchar.

— Pare de assustar a sua mãe desse jeito, garoto! — Minato chamou sua atenção — Tivemos um longo voo e realmente espero que você não queira perder sua mãe tão cedo — O homem colocou uma de suas mãos sobre seu ombro, para logo uma das mãos femininas subirem de encontro a sua.

— Vamos indo para casa que eu explico no caminho, logo temos que voltar.

— Voltar para onde? — Perguntou desconfiado.

— Para o hospital — Depois de sua resposta, pôde sentir o andar de sua mãe vacilar, para logo ser amparada pelo marido — Sakura passou mal. Muito mal.



Abriu os olhos sentindo esses se incomodarem com a luz clara do ambiente. Depois de piscar um sem número de vezes, conseguiu enxergar melhor onde estava, porém não pôde reconhecer o lugar.

Levantou a cabeça e tudo o que viu antes de sua cabeça pender de volta no travesseiro era que estava em um quarto branco e que não possuía quase nenhum móvel. Ao perceber uma máquina responsável por monitorar seus batimentos cardíacos, suspeitou que teria sido ela que a despertava.

Estava em um hospital então, porém não conseguia se lembrar do motivo.

Conseguia se lembrar da apresentação da lanchonete, porém tudo depois disso era um borrão de luzes e sensações. Seja lá o que fizera, algo dentro de si pareceu ter curtido o bastante.

— Bom dia, querida! — Cumprimentou uma mulher que havia acabado de adentrar no cômodo monocromático — Está se sentindo bem? Quer alguma coisa? Está com fome?

Fome. Ao ouvir a palavra, sentiu o estômago embrulhar. Já não tinha ideia de quantas horas haviam corrido desde sua última refeição, porém, ao mesmo tempo em que desejava abocanhar qualquer coisa que lhe enchesse a barriga, o pensamento de comer alguma coisa lhe dava asco.

— Onde estou? — Sentiu a garganta seca como se tivesse comido areia. suficiente para formar um deserto. Levantou-se vagarosamente com a ajuda da mulher e lhe pediu água.

— Está no hospital, esteve dormindo por um tempo — A enfermeira arrumou os travesseiros que lhe serviam de apoio para as costas — Estão todos muito preocupados com você.

Enquanto bebia a água, tentou se lembrar do que havia feito para que a trouxessem até aqui, porém de nada adiantou. Não haviam lembranças sobre o que ocorrera antes de apagar.

— Estou aqui há quanto tempo?

— Você deu entrada no hospital na madrugada de sábado para domingo — Respondeu ela, observando a feição da garota, esperando que ela mostrasse o menor sinal de reconhecimento. Nada — Hoje já é segunda.

Ela a encarou pasma. Havia passado muito mais tempo do que esperava.

— Você teve uma overdose, Sakura — Explicou a mais velha, porém a menina continuou a encarar as mãos cruzadas em seu colo — Depois de dormir por oito horas, os médicos esperavam que você despertasse, mas isso não aconteceu. Seu corpo foi levado a exaustão e você dormiu por mais de vinte horas — A enfermeira chegou mais perto de sua cama e levou o copo que estava no criado mudo ao seu lado e se levantou — Logo a doutora Tsunade conversará com você, qualquer coisa, aperte este botão ao lado de sua cama que eu virei imediatamente.

Sakura não percebeu a figura deixando o quarto, sua cabeça não estava funcionando muito bem. A situação se assemelhava bastante a quando havia acordado depois do acidente que sofrera juntamente das amigas. Pelo menos da última vez ela não estava sozinha.

As meninas. Como ela estariam? Preocupadas? Sakura poderia apostar que ao menos Hinata se encontrava aflita. Ino talvez estivesse com raiva, Tenten era um caso à parte, já não fazia ideia do que se passava pela cabeça de sua amiga surda. Por um momento, desejou que todas estivessem ali por ela.

 Quando a mulher deixou o quarto, encaminhou-se para as pessoas que estavam amontoadas em frente à porta.

 — Ela acordou, parece bem melhor — Anunciou, chamando atenção de todos os jovens reunidos no local. Nunca vira tantos adolescentes juntos desde a última vez que frequentara a escola, mas se alegrou com a presença deles.

Desde o momento em que chegaram, dois ou três se revezavam para buscar algo para os demais, porém na maior parte das vezes, três deles só saíam do lugar para irem ao banheiro. Seja quem for os dois loiros e o moreno, ela se sentiu aliviada por fim responder a única pergunta que todos eles repetiam há horas.

Pôde ver que eles respiraram mais aliviados, imediatamente sentiu que o ambiente se tornava mais leve.

— Acho melhor alguém chamá-las — Anunciou Hinata, soltando a mão do loiro, que passou grande parte do tempo segurando. A morena nunca havia visto o garoto tão aflito como esteve por todas essas horas.

— É, acho que sim — Ino concordou, levantando a cabeça do ombro de Hinata, porém não fez nenhum movimento para se levantar. Vendo que nem Sasuke, Naruto ou Ino se mexeram, ela saiu de seu lugar e se encaminhou para o elevador.

Chegando ao terceiro andar, se encaminhou para a mesa onde as três mulheres se encontravam. Ao perceberem sua presença, elas lhe encararam e ela se sentiu nervosa o bastante para não conseguir encontrar sua voz nos próximos segundos.

— A enfermeira nos avisou que Sakura acordou — Respondeu finalmente aos olhares questionadores. A ruiva foi a primeira a se levantar, puxando a loira pelo braço. Virando para acompanha-las, Hinata percebeu que Mikoto ainda permanecia sentada, enquanto terminava seu café.




— Já ouviu o termo “Distúrbio Alimentar”, alguma vez? — Perguntou a mulher loira para ela. Sakura desviou os olhos de seu colo e os transportou para a figura sentada em uma cadeira a sua frente.

— Já estou melhor, porque não me deixam ir embora? — Perguntou secamente. Quando a enfermeira de outrora a informara que sua mãe estava do outro lado da porta, a garota simplesmente deitou de lado e pediu para que não deixasse ninguém entrar. Acatando o pedido, a médica à sua frente fora a única pessoa que vira depois da enfermeira, que tinha o hábito irritante de checá-la a todo instante.

— Liberaremos quando tivermos a certeza de que você está bem.

— A enfermeira me disse que tive uma overdose — Olhou para a mulher loira de busto avantajado, procurando seu crachá — Não sabia que me trancariam aqui por isso, Tsunade.

A mulher suspirou. Detestava lidar com adolescentes por estes, em sua maioria, não aceitarem que estão doentes e, pelo pouco que pudera observar da garota à sua frente, agora não seria diferente.

— Se esse tivesse sido seu único problema, acredite, já teria sido liberada — Respondeu ao comentário ácido da menina — Mas a resposta que seu corpo teve algo fugiu aos padrões. Nós entendemos que cada indivíduo tem uma resposta diferente, mas você ter permanecido desacordada por mais de um dia foi algo que nos preocupou. Por isso torno a perguntar, já ouviu o termo “Distúrbio Alimentar”?

— É claro que já — Suspirou cansada. Se mulher viera ao seu quarto para passar aqueles concelhos cansativos, ela não via a hora de eles terminarem — Onde quer chegar com isso?

— Estávamos checando seus dados coletados pela enfermeira responsável por você — Tirou a folha conectada à prancheta e a ofereceu para a menina que não a pegou — Seu peso está muito abaixo do normal e estive conversando com seus familiares que...

— Apenas minha mãe está aí e não acho que ela possa te informar qualquer coisa a meu respeito — Tsunade a encarou firmemente, sabia que este seria um caso de que não adiantaria dar voltas e voltas, precisaria ser curta e objetiva.

— Mikoto é uma amiga próxima a mim desde muito tempo, estive a acompanhando quando passou por diversas dificuldades, inclusive antes de sua gravidez de risco quando teve Itachi — A garota continuou a encarando, prestando maior atenção no discurso — Eu fui uma das médicas a quem Mikoto recorreu quando por fim assumiu que precisava de ajuda.

— Ela comentou comigo que tem anorexia nervosa.

— Sim, de fato tem — Ela pegou uma das mãos finas da garota — E é por ela conhecer tanto sobre o assunto, que me pediu para que desse uma olhada em você. Ela me contou de seus hábitos alimentares e também das vezes que a pegou provocando vômitos após refeições.

— Está me dizendo que Mikoto acha que eu sofro de algum distúrbio? — Perguntou cética.

— Não, estou te dizendo que você sofre de algum distúrbio. Conversei com sua mãe e sua amiga também, Ino, se não me engano. Elas me disseram sobre as várias dietas que guarda em uma pasta, assim como o presente descontentamento com o seu corpo.

— Dez de dez garotas te dirão que estão descontentes com o seu corpo, isso não me torna exclusiva — Rebateu.

— Sim, você está certa e é por isso que estou aqui. Quero que me responda algumas perguntas, isto é um assunto sério e caso não queira ter essa mesma conversa com um psicólogo, sugiro que coopere e me responda de forma sincera.




Depois de várias horas, finalmente conseguiram ver a figura pálida atravessar a porta de madeira. Seus cabelos, apesar de desalinhados, eram a única coisa que traziam cor à Sakura. Mebuki, sua mãe, seguia logo atrás com uma mão em suas costas, a apoiando, enquanto atravessaram o pequeno corredor.

— Está se sentindo melhor? — Perguntou a Yamanaka. Estivera preocupada após esperar por qualquer notícia durante todo o tempo em que permanecera na cadeira que a esta hora já tinha o formato de seu traseiro.

— Claro, pronta para outra — Respondeu tentando aliviar o ambiente, porém todas as feições a encaravam duramente.

— Vamos para casa, sim? — Respondeu Kushina, fazendo Sakura finalmente perceber sua presença. Agora sim o circo estava completo. 

Se achava que teria que aguentar somente sua mãe, estava terrivelmente enganada. A figura ruiva a olhava com uma mistura de preocupação e, por mais que tentasse esconder, um pingo de decepção e raiva.

Desde que apagara, com certeza aquele foi o pior momento de todos. Não suportara ver a verdade no olhar da mulher que para ela era uma mãe.

Estavam no quarto de Naruto, ela e Ino na cama do loiro, enquanto o dono do quarto, Karin e Sasuke estavam no chão, um olhando para a cara do outro em silêncio. Já haviam desistido de tentar escutar o que as mulheres do andar debaixo estavam conversando, dois por realmente não conseguirem ouvir e o restante por não ser capaz de escutar através das paredes da casa.

— E no fim das contas o que a médica disse para a sua mãe? — Perguntou a loira, que já não suportava mais o silêncio.

   — Depois do sermão quase interminável sobre drogas? — Perguntou Sakura, a amiga assentiu. Percebendo que era o único de fora, Sasuke cutucou o amigo para que ele pudesse traduzir a conversa para ele.

“Isso não diz respeito a você” Sinalizou o loiro. Sasuke apenas se levantou abruptamente e se retirou o quarto. Depois de alguns segundos, puderam ouvir o barulho de uma porta batendo. Karin levantou logo depois e se retirou do quarto, sabia que a resposta de Naruto cabia a ela também, de certa forma.

— E então? — Perguntou Ino ao perceber que Sakura parara para observar a saída do Uchiha. A loira já havia percebido que os dois estavam estranhos, como se Sakura quisesse evitar Sasuke a todo custo e ele, diferente de todas as vezes, buscasse aproximação.

— Ana e Mia — Respondeu direta — Foi o que ela disse.

Ino sentiu como se tivesse acabado engolir uma pedra de gelo do tamanho de seu punho e pudesse sentir toda a sua trajetória até ela se acomodar em seu estômago. Naruto apenas olhou de uma para outra a fim de entender do que elas falavam, mas mesmo que não tivesse compreendido, sabia que não era um bom momento para perguntar.



 — Eu e sua mãe conversamos, e por mais que eu queira, ela não deixou que você ficasse aqui — Respondeu Kushina, enquanto passava um de seus braços ao redor do pescoço da menor — Quem sabe não ajuda? Você estava querendo ver o seu irmão, não é?

— Sim, queria — Respondeu. Não queria ir embora, mas também não queria ficar. Sabia que caso a mãe não insistisse em levá-la, era capaz de deixar todos preocupados mais uma vez, não por saídas que terminassem no hospital – não queria ver a médica, Tsunade, e seus discursos nunca mais -, mas por ter a necessidade de se afastar por um tempo e esfriar a cabeça — Vou sentir saudades.

— Sim, eu também — Beijou os fios cor-de-rosa e a abraçou mais apertado — Quero que me ligue se precisar conversar. Eu te amo muito, ouviu? Muito, muito! Estarei sempre aqui para quando precisar de mim, mas também posso te buscar em qualquer lugar se precisar de mim, me ouviu?

— Eu te amo muito também — Devolveu o abraço da mulher. Se pudesse fugir e escolher alguém para levar consigo, nesse momento, escolheria Kushina. Enquanto sentia os braços da mulher circundando seu corpo, desejou que ela tivesse sido sua mãe e que os Uzumaki fossem sua família. Imaginou quantas coisas poderiam ter sido diferentes caso sua fantasia fosse real. Mas não era.

Depois que a ruiva lhe soltou, Minato a tomou nos braços dizendo que poderia ligar caso acontecesse qualquer coisa, depois foi a vez de Naruto lhe dar um abraço de urso, que quase esmagou seus ossos.

— Já pegou tudo? — Perguntou Mebuki enquanto ia em direção ao carro, Sakura assentiu e acenou para os demais, caminhando para o carro de sua mãe, porém não adentrou no automóvel. Encarou a porta do passageiro e lembrou de outra porta amassada que teve de ser destruída para dar passagem ao irmão — Sakura? — Despertando com a voz da mãe, a garota abriu a porta que dava acesso aos assentos traseiros e fechou os olhos, os mantendo assim até o final da viagem.

Percebeu que, depois de algum tempo, sua mão voltara a tremer, não era pela falta de alimento, já que todos a obrigaram comer algo, mesmo que leve. Ignorou o pavor fechando quase completamente as mãos, deixando a ponta de seus dedos indicadores raparem contra a manga da blusa e apertando ainda mais as pálpebras contra os olhos.




De sua janela, conseguia ver a multidão que se aglomerava em frente ao carro vermelho. As amigas dela já haviam se despedido antes, quando vieram para buscar a loira que havia se pendurado na rosada parecia não soltá-la mais.

Depois de vários minutos de pura melosidade, as garotas convenceram a outra a soltar Sakura e finalmente carregá-la embora antes que a menina decidisse se enfiar no carro da mãe da Haruno.

Fechou a persiana com demasiada força e se jogou em sua cama, colocando um de seus braços flexionado sobre os olhos, assim como fazia quando queria se privar de perturbações externas, como um casulo.

Não queria que ela fosse, mas via a necessidade para ela aceitar tal coisa.

Achou a atitude da garota extremamente irresponsável, mas pelo pouco que conseguiu adentrar em sua mente, conseguia entender seus motivos. E por saber disso, a queria por perto, onde estivesse ao alcance de seus olhos - e de suas mãos, acrescentou -, vigiando cada possibilidade de estupidez iminente que ela pudesse cometer.

Mas mais uma vez as coisas não eram como queria. Ela estava indo embora e ele não fazia a mínima ideia quando ia vê-la de novo. Buscou excluir o pensamento de que não a veria mais, apenas a possibilidade de não sentir o cheiro de seu perfume doce que o enjoava no início, mas o qual aprendeu a gostar, não ver seu cabelo colorido da cor do algodão doce que vendia feito água na praça em frente à sua escola, sentir a leve vibração que sua voz causava através de sua pele macia enquanto ela cantava exclusivamente para ele, não sentir os lábios suaves, mas que devolviam seus beijos famintos com a mesma intensidade que os seus próprios… Maldita garota que revirara seu mundo de ponta cabeça e o fizera se acostumar com sua presença. Ela mal havia ido e ele já ansiava por sua volta.

Levantou num pulo enquanto calçava o par de tênis que sempre deixava aos pés de sua cama, pegou na cômoda as chaves de seu carro e logo desceu correndo pelas escadas em direção a garagem.

Mal adentrou no veículo antes de sair rasgando pela pista, contornando todos os carros que insistiam em atrasá-lo. Quando reconheceu a pista rodeada por árvores, deixou o carro no acostamento e logo o trancou. Olhou para ambos os lados e adentrou a mata fechada. Depois de alguns minutos rodeado por mato e irritantes insetos, sentiu sobre seus pés a areia fina e fofa, que abria caminho para si como um tapete vermelho, dando lugar a uma de suas maiores fontes de paz, para onde corria quando precisava de conforto.

Tirou a camiseta e a jogou perto do tronco de uma pequena árvore da praia e correu de encontro a imensidão azul, sentindo a água gelada das ondas vindo de encontro a sua pele, saudando-o como se estivessem reencontrando um velho amigo. Inspirou profundamente o ar puro que o rodeava e tomou um impulso enquanto se inclinava para frente. Deu boas-vindas a água que o rodeava e pensou que poderia ficar ali para sempre. Apenas ele e a água fortalecendo um ao outro.  



Estava em frente ao espelho, encarando a si mesma. Não sabia dizer quando foi a última vez que se sentira daquela mesma maneira, sem a mínima vontade de fazer alguma coisa. Pelo que se recordava, sempre tinha sido uma pessoa vaidosa, que gostava de cada minuto das horas que gastava consigo mesma, se arrumando, escolhendo uma roupa ou penteando seus cabelos.

Mas agora seu passatempo preferido parecia sem sentido. De que adiantava se sentir bonita quando sua melhor amiga passava por diversas dificuldades porque não tinha a mesma opinião que ela sobre si mesma. De que adiantava os garotos que viravam o rosto para vê-la passar, quando o único que ela queria que a admirasse não dava a mínima para as aparências?

Ela não era apenas um rostinho bonito para se admirar, não era?

Balançou a cabeça e pegou a primeira blusa que viu na gaveta, saiu do quarto batendo a porta e fez o mesmo ao sair de casa, andando rapidamente pela calçada até a praça, onde haviam combinado de se encontrar uma hora depois, ignorando os rapazes e até homens que faziam comentários para chamar sua atenção.

Sentou-se no banco de madeira que ficava de frente para a lagoa na qual estava cheia de patos e pessoas que os alimentavam em suas margens e ficou os observando, porém sem nada ver de fato.

A frase de Tenten ficava se repetindo em sua cabeça, não porque estava com raiva da amiga ou algo do gênero - elas já haviam conversado e se entendido, ou pelo menos ela esperava que sim -, mas porque conseguia enxergar uma verdade em sua acusação.

Ela nunca fora inteligente, estudando apenas o suficiente para passar de ano, ou se destacava em qualquer coisa como Sakura, que era um verdadeiro crânio. Ou Hinata que escrevia textos capazes de serem publicados, enquanto ela tentava copiar algo de suas amigas, mudando apenas algumas palavras. Nem mesmo com Tenten, uma atleta de mão cheia que, comparada à ela que mal conseguia correr ou segurar uma bola, poderia participar de uma olimpíada facilmente.

 Quando ouvia as pessoas falarem sobre si, era apenas bonita, linda, bonitinha. Não que isso fosse algo ruim, ela não via problema em ser bonita - na verdade ela gostava e muito disso -, o problema era que só ouvia isso sobre si.

 Bonita.

Inteligente, não. Legal, não. Engraçada, não. Atleta, não. Não, não, não, não e não.

Bonitinha. Linda.

Diferente das demais, Ino não se esforçava para ser bonita, gastava sim horas para se arrumar quando tinha que ir para qualquer lugar, mas era algo que fazia sem esforço. Ninguém a parabenizava por ser bonita. Ser bonita não tinha mais outra utilidade que não servir para a decoração feito um vaso. 

E ela não queria ser um vaso.  

 — Você chegou cedo, há quanto tempo está aí? — Perguntou Kiba logo que sentou ao seu lado.

— Como sabe que sou eu quem está sentada aqui? — Perguntou surpresa.

— Tenho poderes mágicos, achei que tivesse contado isso pra você outro dia — Sorriu, tentando arrancar algumas risadas da garota, porém tudo que teve foi o seu silêncio — O que aconteceu?

— Nada, acho que apenas estou naqueles dias.

— Menstruada? — Perguntou inclinando um pouco a cabeça para o lado feito uma criança curiosa.

— Não, Kiba! Fale baixo! — Ralhou com ele, olhando para os lados para verificar se ninguém havia escutado o garoto, que sorria de canto — Naqueles dias de mau humor, quando parece que tudo é feio ou dá errado.

— TPM então? — Sugeriu enquanto alargava ainda mais o seu sorriso. Se pudesse enxergar, veria o olhar assassino que a loira direcionava a ele.

— Deixa pra lá. O que vai ser hoje? — Perguntou.

— Que tal apenas conversarmos? Parece que você está tão para baixo que até eu posso ver — Virou-se da direção que vinha a sua voz e arrastou os dedos pelo banco de superfície irregular até encontrar o corpo dela, subindo por sua perna para descansar sua mão por sobre o tecido áspero da calça jeans que ela usava — Brigou com o namorado da semana?

— Antes fosse — Suspirou. Não sabia nem dizer quando fora a última vez que havia beijado, quem diria namorado — Acho que a última vez que beijei alguém, o cara me empurrou pra longe — Disse raivosa ao se lembrar de quando havia beijado Sai.

— Ele deveria se sentir muito feliz por alguém legal como você ter se interessado — Balançou a cabeça em negação — Que babaca! Tem que ser gay para… — E foi baixando o tom de voz gradativamente, assimilando a situação — Ele era gay, não era?

 — Yep — Respondeu, envergonhada por trazer à tona aquilo novamente. Não sabia lidar com rejeições. Voltou a encarar Kiba com suas lentes escuras enquanto ele ria dela. Não tendo paciência para lidar com outros fazendo piada, levantou-se do banco, deixando-o sozinho.

   — Qual é?! Desculpa vai! — Levantou ainda rindo, testando alguns passos, sentindo a grama debaixo de seu sapato. Puxou a guia de Akamaru, fazendo o cachorro se levantar. Se sentia mais seguro quando o cão estava consigo, ele conseguia fazer com que o pressentimento de que uma parede brotaria do chão só para ele ir ao seu encontro sumisse — Ino! Foi mal!

— Eu ainda te disse que não estava para brincadeiras, deve ser muito divertido pra você, não é mesmo?

— Não, não é nada divertido, desculpa! — Pediu, tentando fazê-la falar para que assim descobrisse de onde o som da voz dela vinha.

— Eu já estou cheia disso! — Gritou a voz atrás dele. Se virou, mudando de direção, enquanto arriscava alguns passos para frente — É muito divertido pra todo mundo rir da minha cara, não é? Afinal, a vida da Ino é perfeita, tão bonitinha ela, sempre de bom humor para divertir todo mundo. Eu não sou uma palhaça, droga! Eu também tenho problemas e dias ruins!

Foi tateando o ar, até sentir que se aproximava dela. Quando por fim tocou em algo macio e fino, que tomou por sua blusa, chegou mais com a sua mão, abraçando seu tronco e a puxando para si.

— Desculpa — Enterrou o rosto em seu pescoço, aspirando o perfume adocicado da pele macia. Permaneceu dessa forma por um tempo, até se afastar — Tenho uma boa notícia que vai alegrar você!

— Estou um pouco saturada de novidades — Ralhou ela. E realmente estava, a última notícia que recebera era que a amiga fora diagnosticada com anorexia e bulimia e mesmo que ainda faltassem alguns exames, Ino já esperava o pior.

— Minha irmã encontrou um tratamento na internet capaz de me ajudar — Continuou ele, ignorando seu comentário rabugento — Algo com células tronco, se não me engano.

 — Isso faria com que você enxergasse? — Perguntou ela aflita. Não sabia o porquê, mas a possibilidade de que o garoto pudesse ser capaz de vê-la como qualquer pessoa dava uma sensação de gelo no estômago.

— Bem, ainda não é nada confirmado, porque é algo que ainda está em fase de testes, mas como eu não nasci cego tenho chances de voltar a ver — Ele abriu um sorriso brilhante capaz de contagiar qualquer um, menos ela. A notícia era realmente boa, seria incrível que o garoto fosse capaz de ser normal como qualquer um, mas isso fez com que ficasse inquieta — Isso não é sensacional? — Perguntou excitado. Mal via a hora de ir com sua mãe e irmã até o consultório do médico responsável pelos primeiros exames. Mal via a hora de realmente ver o mundo sem precisar tocá-lo.

Mal via a hora de finalmente vê-la. Seu verão particular.

— Claro — Passou uma empolgação fingida, sorte de ele não ser capaz de ver o pior sorriso amarelo que enfeitava seu rosto.

Aliás, não continuaria não vendo por muito tempo.

Ela estava cansada. Cansada do silêncio e da monotonia que tomara conta do lugar. Sabia que todos eles ficariam chateados com a saída da garota cor-de-rosa, mas não pensou que ficariam tão depressivos a ponto de deixar a casa afogar no mais profundo silêncio. E não era aquele confortante, muito pelo contrário, chegava a irritá-la.

O que era irônico por sinal. Uma surda reclamando do silêncio.

Pensou em ir até a casa ao lado, porém não queria ficar perto de Sasuke. Antes era bom ficar ao seu lado, porém não aguentava mais seu silêncio ou a cara de irritação que ele fazia para tudo e qualquer coisa que dissesse.

Sasuke estava insuportável.

Mesmo não querendo admitir, sabia que isso tinha ligação com a partida da garota. Sakura estava certa, deveria ter acabado com aquilo tudo antes de não aguentar mais a presença do garoto. Eles haviam se tornado tóxicos feito a água de um rio sem correnteza.

Não se satisfaziam mais, mal se suportavam.

Mas de nada adiantava assumir sua falha quando o moreno não lhe dava chances de concertar as coisas. Desde que percebera o mau humor de Sasuke atingir limites alarmantes, tentara falar com ele num total de cinco vezes, porém falhou em todas.         

Na primeira vez ele não tivera paciência com todas as pausas que ela tomou, na segunda também, porém da terceira em diante ele alegava que estava ocupado ou que tinha algo melhor para fazer. Sim, como se ficar olhando pela maldita janela do quarto fosse uma coisa de importância máxima.

Quando já pôde sentir a loucura batendo em sua porta, pegou um casaco leve por conta da brisa mais gelada característica do outono e desceu as escadas de sua casa, escapando pela porta da frente sem que ninguém a perguntasse para onde estava indo.

Para ela não havia necessidade em tamanha depressão pela saída de uma garota que vivera sob aquele teto por poucos meses.

Antes que pudesse pensar o bastante para mudar de ideia, chamou o táxi que passava pela rua e deu-lhe um endereço que havia decorado depois que ele mandara uma mensagem a ela uns dias atrás, em caso de necessidade apontou ele.

Chegou até uma casa de fachada amarela que nunca teria associado a ele, muito menos o jardim recheado de flores, que indicava que alguém gastava tempo ali. E, na verdade, esse alguém estava empurrando um carrinho de cortar grama de lá para cá sobre a grama.

Aproveitando-se que ele ainda não a via visto descer do táxi, parou em frente ao muro de cercas brancas, o observando levantar a barra da camiseta em direção ao rosto para capturar as gotículas de suor que escorriam da testa até seus olhos. Aquela cena remexeu algo dentro de si.

Quando ele por fim descobriu a pequena plateia em frente à sua casa, desligou o aparelho barulhento que fazia uma péssima música de fundo à cena, e abriu aquele sorrisinho que ela detestava adorar. Aquele de canto de lábios que a dava vontade de morder seu rosto por inteiro.

— Eu sabia que não devia ter dado meu endereço, mas você implorou tanto, que eu não tive como dizer não — Ela revirou os olhos enquanto o via destruir seu momento. Como alguém podia ser tão irritante e ainda assim capaz de fazê-la se sentir tão incrível ao mesmo tempo? — Eu deveria saber que você não ia esperar uma emergência para vir aqui.

— E quem disse que não é uma emergência? — Rebateu rapidamente, ela o observou erguer uma sobrancelha em desafio. Sua segunda pose irresistível, ele estava jogando pesado contra ela.

— Meu segundo palpite era que você apareceria com uma emergência inventada — Sorriu novamente. Sua primeira pose irresistível — Estou todo a ouvidos aqui.

— Qual era seu primeiro palpite? — Perguntou vendo-o a olhá-la de cima.

— Você nunca irá saber — Cruzou os braços tomando a atenção dela para aquele lugar específico de seu corpo — Infelizmente suas incríveis habilidades não englobam ler mentes ou algo do tipo.

— E como pode afirmar essas coisas com tanta certeza? — Perguntou mais uma vez.

— Não estaria aqui se o fizesse — Rebateu, abrindo o pequeno portão para que ela passasse, o que ela fez, virando para ele logo depois.          

— E fala isso porque você é capaz de ler a minha?

— Melhor do que você faz comigo, aposto — Ela se ergueu em seus pés e alcançou sua orelha.

— Você não tem ideia do que eu posso fazer com você — Sussurrou no pé de seu ouvido. Percebeu-o endurecer o corpo quando seus dentes arranharam sua pele. Ao se afastar, não aguentou segurar a risada ao ver a sua expressão.

— Muito engraçado — Respondeu, passando os dedos onde anteriormente estava sua boca — Não deveria ficar fazendo essas coisas.

— Achei que eu fosse previsível demais — Rebateu enquanto o seguia para dentro.

— Acredite, seria mais fácil se você fosse.

Sentia suas mãos abraçando suas costas enquanto a dela emoldurava o rosto e com a outra segurava firmemente sua camiseta, a essa hora já trocada pelo banho que tomara anteriormente quando pediu para que ela aguardasse.

Karin sentia seus lábios formigarem pela ânsia com a qual o garoto a sua frente os sugava, seus beijos famintos logo migraram para seu pescoço enquanto com as mãos ele a puxava para seu colo, lugar para onde ela prontamente foi, remexendo-se suavemente fazendo com que os dois suspirassem.

Ele chegou a murmurar algo que ela não entendeu, e por isso continuou a ataca-lo com beijos – sentia falta daquilo, de se sentir necessária para alguém, ao contrário do que o outro a fazia sentir -, mas Suigetsu afastou-se, indo para trás conforme apoiava o peso do corpo nas mãos atrás de suas costas. Buscando evitar as consequências futuras de seu ato inconsequente, ela acompanhou seu movimento, inclinando-se para frente, o seguindo, retirou uma das mãos da camiseta masculina e a direcionou para um dos braços dele, o puxando para si, por sobre sua blusa.

Vendo seus planos falharem, o loiro a afastou enquanto exibia seu melhor sorriso debochado de lábios inchados e vermelhos.

— Espera — Com a ponta dos dedos, mais delicadamente do que Karin achou possível, afastou uma pequena mecha de cabelo ruivo que estava em frente ao rosto dela — O que está acontecendo aqui?

 — O que parece? — Perguntou debochada enquanto mordia os lábios, sentindo os próprios lábios inchados. Inclinou o corpo para frente para alcançar a boca dele novamente, porém tudo o que ele permitiu foi um breve roçar antes que se afastasse para trás novamente — O que foi? Não era o que você sempre quis?

Ele a encarou, fechando o sorriso. Ah, sim, estava tudo muito bom para ser verdade.

— O que?! É isso que você pensa que quero com você? Te levar pra cama? — A afastou de si, fazendo-a se sentar ao seu lado. Karin o olhou fixamente, tentando entender o que estava acontecendo.

— Você não quer? — Perguntou, alisando sua blusa, pondo-a no lugar.

— É claro que eu quero, você não faz ideia do que faz comigo — Ele riu sem humor, tendo que respirar fundo algumas vezes enquanto realizava uma contagem para se acalmar — Não tem ideia do quanto o meu próprio corpo me odeia agora. Mas não agora, não assim.

 — O que quer dizer?

— Olha, eu entendo que não deve estar sendo fácil lá na sua casa — Passou os dedos por entre os fios descoloridos, bagunçando-os ainda mais de quando eram os dedos dela que se encontravam ali — Mas não acho que seja uma hora boa para fazer... isso.

Karin parou por alguns segundos para absorver o que ele dissera, assentiu sutilmente e se levantou, saindo do cômodo com Suigetsu logo ao seu encalço.

— Ai, droga, espera — Disse enquanto se apressava em segui-la. Conseguiu segurá-la quando a garota estava quase chegando à porta — Não, não é isso que eu sei que você está pensando agora, sério — Observou os olhos castanhos esquadrinhando seu rosto — Você está certa, em partes.

 — Não entendo você — Riu sem humor — Sempre fez comentários sobre me querer, mas quando eu respondo que sim você me afasta. Me diga o que pensar então, porque estou perdida.

— Eu sei, eu sei — Coçou os fios loiros, tirando-os do rosto — Eu não sei, no começo tudo o que eu pensava era te ter sobre os meus lençóis e seu comportamento asqueroso só era um complemento, nunca me senti assim com uma garota — Sentiu o rosto quente ao dizer as palavras, um comportamento que até ele mesmo estranhou — Mas já não é mais assim. Claro que eu quero ficar com você, dormir com você é a primeira coisa que eu penso assim que eu acordo, porque a sua presença nos meus sonhos é quase que constante, mas as coisas mudaram quando percebi que não era só isso. Claro que ainda acho suas pernas maravilhosas e seus peitos... Bem, estes eu pulo — Riu ao perceber ela revirando os olhos — Fico caçando seus cabelos vermelhos em todo lugar que eu passo, imaginando seu sorriso, fico até cheirando minhas roupas quando percebo que fiquei com o seu cheiro depois de estarmos juntos — Olhou para baixo, encarando os pés constrangido, mas obrigou-se a levantar os olhos — É por isso que eu não quero que isso continue dessa forma, não consigo nem pensar no que vou sentir no caso se você se arrependesse de manhã.

— É tão confiante que eu não me arrependeria assim que acabássemos? — Perguntou rindo, tentando acabar com a sensação estranha que pareceu impregnar no local depois das palavras de Suigetsu.

 — Me deixe pelo menos fantasiar em passar mais de meia hora com você, por favor?

Karin olhou para seus olhos azuis divertidos. Seu rosto ainda estava um pouco vermelho pelo constrangimento, mas ele estava completamente adorável.

— Me desculpe, eu o julguei mal de novo — Ele deu de ombros, como se a pedisse para deixar para lá.

— Tudo bem, eu sei que sou irresistível demais para você — Gargalhou da careta que ela armara e tomou uma de suas mãos, levando-a para o sofá, onde ficaram para assistir uma série qualquer. E deveria ter sido a primeira vez que ele assistira qualquer coisa legendada, porém valera cada segundo.

Não sabia de onde tirara força de vontade para afastá-la antes, seu corpo ardia por deseja-la há tempos e sabia que ela o queria também, não conseguia se lembrar de já ter sido beijado com tamanha intensidade, mas sabia que ela não teria feito isso se não fosse pela situação.

Não sabia como havia o feito, mas estava orgulhoso por ter se controlado. Havia sido sincero, não conseguia imaginar na dor que a garota o provocasse quando se desse conta do que tinham feito. E também queria que ela estivesse com ele consciente de que ele era realmente ele, sem Sasuke na cabeça. Não suportaria ser usado como um objeto qualquer, como um vaso defeituoso que ela descartaria logo


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Notas finais do capítulo

E isso é tudo, pessoal.
Vou tentar não demorar, de verdade. Me sinto muito mal e uma péssima escritora (se é que posso me considerar uma), mas eu realmente passei por uma dificuldade enorme para escrever.
Mas me digam aqui o que acharam do capítulo, se gostaram, se detestaram, o que esperam e tudo mais. Contem-me, adoro conversar com vocês.
Outra coisa, me perguntaram quais são as inspirações que me levaram a escrever a fanfic, bem vou listá-las para caso alguém esteja curioso:
— A serie Switched at birht: indico bastante para quem quer saber mais sobre surdez, a fanfic é bem legal e interessante
— O Livro Maybe Someday (Talvez Um Dia) da Collen Hoover. Sou apaixonada por esse livro e este foi a maior inspiração para a fanfic, quase que uma adaptação. Indico fortemente também S2
— Skins (UK): não que tenha muita semelhança com Just Listen, mas tenho muitas ideias depois de assistir um episódio.
Sobre a mini sessão de mini spoilers, bem, estou um pouco sem ideias sobre o que trazer, então me desculpem de novo TT^TT
#1 O término de Sasuke e Karin está próximo (será que posso ouvir um aleluia?)
#2 Tem um casamento chegando
Até o próximo!
Beijos ;*