Você não sabe nada sobre o meu passado... escrita por TamirisJ


Capítulo 1
Cuido de você até a morte


Notas iniciais do capítulo

Comecei a ler Percy Jackson com aproximadamente 13 anos e acompanho a saga até hoje. Estou gostando bastante da Hazel e do Frank, dois personagens simplesmente maravilhosos que essa saga apresentou. E os shippo mesmo! Esse foi um momento que imaginei desses dois enquanto estão com o Percy no Alaska. Sobre como ficariam juntos e confiariam seus segredos um ao outro.



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Hazel estava no canto da casa que um dia havia sido seu lar.

Podia ver o exército de Gaia sendo conduzido por Alcioneu àquela distância. Dos dois que acabaram com sua vida e a de sua mãe.

Assim que lá entrasse, salvaria Tânatos, e ele olharia para ela e diria: "Obrigado, Hazel! Agora pode voltar comigo para o Mundo Inferior, para ficar toda a eternidade colhendo trigo no Campo de Asfódelos".

Quem sabe conseguiria ir para o Elísio...? Não, impossível. Com certeza, não passaria por julgamento novamente.

"Venha comigo. Você merece uma segunda chance", dissera Nico.

Será que isso incluía um segundo julgamento? Ou somente uma chance de se reabilitar consigo mesma?

O pior era que, apesar do pouco tempo, havia construído uma vida. Tinha um lar - apesar de poucos gostarem dela lá -, amigos - também poucos. Mas ela já havia perdido Sammy. Nova Orleans. Será que suportaria perder Percy e Frank? Apesar de que, se já estivesse morta, não teria o que suportar. Só a eternidade. Esperava que os karpoi não resolvessem aparecer para ajudarem-na a colher o trigo...

O pensamento a fez estremecer. Cupidos para sempre?

Mas, bem, talvez fizesse amizade com eles. Era melhor Percy ou Frank se acostumarem com sua falta. Não havia chance de ficar viva, com ou sem sucesso na missão...

Frank, o nome ecoava na sua cabeça. Seu coração apertava, ansiando por tê-lo perto a protegê-la. Ela sorriu, lembrando que a avó dele o chamara de "brutamontes bobo". Ele era mesmo... Um brutamentos bobo, engraçado, sincero, corajoso, leal, talentoso, líder nato, bonito...

A cada adjetivo seu coração batia mais rápido, e se obrigou a parar.

Não, ela não podia gostar de alguém novamente. Ela perderia tudo em breve. E Frank também não podia se apaixonar por ela. Ele sofreria. O coração de Hazel apertava ainda mais quando pensava em Frank sofrendo...

Hazel se levantou. Era isso, havia decidido. Ela ia falar com Frank sobre isso, assim nenhum dos dois sofreria tanto. Frank já sofrera demais antes de ter uma zumbi na sua vida.

–--

Ela o encontrou sentado de frente para o mar, ao lado de Percy. Os dois conversavam animadamente e Hazel se perguntou de onde tiravam tanta empolgação quando estavam se dirigindo para a morte.

Ela fechou os olhos para tentar se tornar mais corajosa. Sentiu a brisa gelada do mar bater em seu rosto, e só o cheiro do mar já a enjoou.

Foi quando ouviu passos vindo em sua direção e, antes de abrir os olhos, alguém tinha encostado os lábios contra os dela.

O coração dela bateu mais rápida e fortemente do que quando estava enfrentando Gaia na caverna. Sentiu a adrenalina percorrendo o corpo, mas ela não a deixava apreensiva, e sim reconfortada e... feliz.

Foi como se o tempo parasse.

Sentiu o cheiro de Frank. Apesar de estarem completamente sujos, quase piores do que Percy quando chegou ao acampamento, ele tinha um cheiro próprio. Era doce, como ele. Hazel sentiu eletricidade percorrendo por seus membros, como se fosse filha de Júpiter, e quase abraçou o pescoço de Frank para beijá-lo mais, sentir seu cheiro, como se nada mais a preocupasse e aquele fosse o primeiro romântico beijo de muitos.

Mas não, não poderia deixar isso acontecer. Não podia fazer Frank sofrer.

Hazel deu um passo para trás, ligeiramente desencostando seus lábios, aproveitando os últimos momentos - talvez fosse a lembrança mais feliz que tivesse quando pensasse na segunda vida no Mundo Inferior. Quando se separaram, o corpo de Hazel parecia tremer, como que pedindo mais.

Não, Hazel pensou. Não posso deixá-lo sofrer.

Hazel observou Frank, que abria os olhos. Os dois estavam tão próximos que podia sentir o calor da respiração dele - quase tão quente quanto seu próprio corpo.

Os olhos dele brilhavam intensamente, lindos, ansiosos. Então eles tomaram um olhar triste, como que percebendo que Hazel não os queria.

Sim, Frank, eu quero, ela pensou, mas não posso.

O rosto de Frank tornou-se vermelho como o de um pimentão, e ela teve vontade de rir. Mas não o fez - ele não podia ter lembranças boas dela.

– Hazel... - ele começou. - Me desculpe. Mas... - ele olhou para o mar, como se tivesse alguém ali de que ele precisasse de auxílio para continuar. Imaginou ser Percy, transformado em onda. Frank suspirou e continuou. - Mas é que seria agora ou nunca.

O coração de Hazel parecia explodir: de felicidade e medo.

Medo do futuro. Medo do que Frank iria dizer, algo que ela não pudesse rebater e que a faria se entregar nos braços dele. Não faltava muito para isso acontecer.

– Eu... - ele coçou a cabeça. - Eu gosto muito de você, Hazel. Muito mesmo. Você é incrível.

– Frank... - Hazel percebeu, assustada, que estava à beira de lágrimas. Não podia chorar. Tinha que parecer durona. Respirou fundo e continuou. - Você não sabe nada do meu passado. Não sabe. Você iria me repugnar, nunca mais iria querer olhar para minha cara e...

A expressão de Frank tornou-se dura, como se estivesse decidido a não perdê-la. Isso só fazia tudo ficar mais difícil.

– E você não sabe nada sobre o meu.

Hazel se assustou com a resposta. Ele estava com aquele olhar dos jogos de guerra. Determinado e... lindo.

Frank colocou as mãos por baixo do casaco e, de lá, tirou um toco de madeira.

Hazel levantou as sobrancelhas. Por que Frank levaria um toco de madeira consigo?

Sem explicações, ele o colocou na mão de Hazel, olhou nos olhos dela e fechou suas mãos.

– Este toco de madeira é seu. - ele amainou o olhar e, pela primeira vez naquele tempo, pareceu constrangido. - Ele... Ele contém minha vida, Hazel. - Frank fez uma careta, como se ele próprio não acreditasse no que ia falar. - Venho de famílias antigas e... poderosas. Ao que parece, herdei muitos dons. Dons demais para um mortal. Como resultado, o toco de madeira é a minha vida. Assim que ele queimar ou sei lá o que... estarei morto.

Hazel suprimiu um soluço. A vida de Frank dependia de um pedaço de madeira. A vida daquele garoto meigo e gentil. Forte e determinado.

– Frank - disse, horrorizada - Você não merece isso.

Ele pareceu se encolher de vergonha.

Então ela abriu suas mãos, como se pela primeira vez notasse que o toco estava lá.

Ela olhou para ele.

– E por que está dando isso a mim?

O olhar dele pareceu-lhe um tanto piedoso.

– Por que confio em você, Hazel Levesque. Sei que vai cuidar bem de mim. Da minha vida.

Ela estava, realmente, à beira de lágrimas. Sentia a garganta e os olhos queimarem enquanto tentava suprimir choro.

Deuses, ele estava confiando sua vida a ela. Ele. Frank. O garoto pelo qual estava... apaixonada. Ela não podia negar. E tudo estava tão perto de acabar. Ele não podia ter feito isso. Não, não podia. Tinha que acabar com aquilo agora.

– Frank... - se forçou a dizer aquilo bravamente, como se realmente fosse a decisão que ela queria tomar, por pura e espontânea vontade. - Você não pode confiar sua vida a mim. - Tomou um longo suspiro. Era a hora da verdade. Era hora de Frank olhá-la como se fosse um zumbi horrendo, como se nunca tivessem se beijado. Ou mesmo se conhecido. - Não consegui nem cuidar da minha vida, Frank! Nem da primeira e, provavelmente, nem da segunda!

A boca de Frank se abriu instivamente.

– Hazel... - então ele estreitou os olhos como se começasse a compreender. Era agora. - Você veio do Mundo Inferior, certo? Pelas Portas da Morte abertas...

Hazel assentiu levemente, sentindo a primeira lágrima correr pelo seu rosto. Abaixou-o. Um alívio percorreu seu corpo, e ela pareceu se sentir mais leve, por não precisar mais guardar o segredo que tanto a atormentava. Mas o coração estava pesado, sabendo que Frank nunca mais a veria da mesma maneira.

Mas, para a sua surpresa, sentiu uma grande mão acariciar seu rosto e limpar a segunda lágrima que caía.

Ela olhou para ele, perplexa.

– Frank... Pelos deuses, você não me vê como um zumbi ou algo assim?

O olhar de Frank nunca esteve tão intenso, e Hazel não conseguia se desprender. Era como se estivesse hipnotizada, como se apenas ele existisse, nada mais. Nada de morte, profecias, o mundo - apenas ela e Frank. Frank e Hazel...

Sua barriga não parava de girar, a eletricidade voltou, e ela se sentia toda arrepiada.

Como resposta, ele se inclinou e encostou seus lábios nos dela novamente. Dessa vez, foi mais intenso, sem medo, mais demorado. Apenas um selo forte e bem lacrado, mas que significava um acordo dos dois e ninguém mais, sem importar passado ou futuro. Apenas o presente. Ficariam juntos, até o fim.

Frank afastou-se e encostou a testa na de Hazel. Ela se sentiu minúscula, mas extremamente confortada e feliz.

– Hazel - começou, os olhos brilhantes e graves -, não me importa de onde você veio. O que você fez. E não, você não parece um zumbi. Se for, é o zumbi mais lindo do mundo. - ele sorriu. - O que importa é que você é a menina mais especial, inteligente, linda e corajosa que eu conheço.

Então ele se afastou, envergonhado.

– E minha avó disse para eu não te perder. Disse que preciso de uma mulher forte ao meu lado.

Hazel sorriu. Depois, sentiu outras lágrimas chegando.

– Mas, Frank... Não quero fazer você sofrer. Você não merece isso. Merece uma mulher que vai poder te acompanhar por toda a vida. Não alguém que... Pode desaparecer assim que as Portas da Morte forem abertas...

Ele sorriu tristemente.

– Hazel, não sei se percebeu, mas meu pavio é curto. - ele apontou para o toco de madeira. - E eu quero que você cuide dele. Não importa o tempo que for.

– Mas, se eu morrer, provavelmente algo vai acontecer e... Você também vai...

Ele pegou suas mãos, e sua expressão dura e determinada voltou.

– Eu vou andar o mundo inteiro, o reino de Júpiter, Netuno e Plutão, para ter você para sempre, Hazel. Eu não vou te perder.

Era demais para Hazel. Ela não merecia. Não merecia alguém que gostasse tanto dela assim, depois de tudo o que fez.

Hazel não conseguiu mais segurar as lágrimas, que desciam descontroladamente pelo seu rosto. Frank a abraçou.

– Você cuida da minha vida, Hazel?

Ela o encarou. Frank novamente encostou seus lábios nos de Hazel, tentando demonstrar o quanto confiava nela. Só que, dessa vez, ele aprofundara um pouco mais o beijo. Hazel sentia o gosto de baunilha na boca de Frank, e seu perfume... Sua boca macia e forte...

Ela tentou não corresponder - o quão longe esse relacionamento poderia ir? Até às Portas da Morte? -, mas o corpo dela ansiava por Frank.

Completamente.

Perdendo o controle sobre si e deixando-se levar, Hazel colocou os braços ao redor do pescoço de Frank e correspondeu ao beijo com todo o ardor que suprimia. Frank sorriu e aprofundou o beijo, colocando as mãos na cintura de Hazel.

Ela nunca havia se sentido tão viva - nem com Sammy. Era como se ela e Frank compartilhassem do mesmo medo de uma morte frágil e, juntos, poderiam tornar-se fortes.

E esses beijos de Frank, que tornavam tudo mais forte ainda...

Talvez houvesse esperança, ela pensou. Talvez pudessem ficar juntos. Talvez ela não precisasse morrer tão cedo.

Sinceramente, não sabia quanto tempo de vida tinha. Talvez um dia. Era o mais provável. Mas sabia que não iria desistir tão fácil. Por Frank. Por aquele que confiava nela, mais do que tudo.

Relutantemente, Hazel afastou-se, arfando. Frank estava vermelho. Ela colocou seu rosto entre as mãos dela, beijou-o levemente e disse:

– Até a morte, Frank. Cuido de você até a morte.


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Notas finais do capítulo

Achei essa conversa tão fofinha! ♥



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