O terceiro tempo já estava quase no fim, novamente se encontravam na sala da mesma professora do dia anterior, Srta. Adams.

– Pintores renomeados não conseguiram esse reconhecimento tão facilmente – ela dizia -, precisaram estudar muito todo tipo de arte...

O sinal tocou.

– ... continuamos na próxima aula! – disse, enquanto todos se levantavam e iam rumo a “liberdade”.

– Miranda, você guarda um lugar pra gente no refeitório? – pergunta Paul do outro lado da sala juntamente com Oli.

– Ah...claro.

– Valeu gata!

Miranda sorri para ele e fecha a cara para Oliver logo depois.

– Oli – diz Paul, rindo -, você não tem a menor chance de ser perdoado cara.

– Obrigado por me passar um pouco de positividade – responde, dando um soco no braço de Paul -, vou ir conversar com ela agora.

Oli sai em disparada para alcançar a garota, já estava bem próximo.

O refeitório parecia um formigueiro em guerra, para onde qualquer um olhava via os estudantes dormindo debruçados na mesa, outros comendo desesperadamente com medo de o tempo acabar e ter que voltar para as aulas com fome e aqueles que eram os espertos, comendo tranquilamente sentados nos melhores lugares; Miranda estava no meio.

Oli chega ofegante e vai logo de encontro a ela.

– Posso conversar com você só por um minuto? – pergunta com a respiração acelerada.

– Conversar o que? – responde sem olhar para ele.

– É uma coisa muito importante.

– Pra mim também ou só para você? – pergunta o provocando.

– Para os dois!

Cornélia cutuca Miranda e cochicha algo em seu ouvido fazendo-a se levantar.

– Você tem um minuto – diz finalmente.

– É só o que preciso – Oliver suspira aliviado.

Eles caminham até estar a uma certa distância para que ninguém pudesse os ouvir.

– O que é tão importante? – Miranda pergunta quebrando o silêncio.

– Eu... quero te pedir perdão e dizer que eu errei contigo – Oli diz todo envergonhado.

– Jura? Você foi um verdadeiro otário Sr. Oliver esquentadinho!!!

– Eu sei e é por isso que estou aqui – diz nervoso, ele nunca fizera uma coisa dessas antes, Oliver não era de pedir desculpas -, eu... realmente sinto muito.

– Sente mesmo ou é só teatro? – Miranda não estava acreditando nele.

– Miranda, pergunte a todos que estão sentados ali, naquela mesa – ele aponta para onde seus amigos, agora de Miranda também -, quantas vezes pedi perdão para alguém.

– E pra que?

– Pra você ver que estou sendo verdadeiro – ele olha profundamente nos olhos dela -, e que não peço perdão em vão.

– Eu... acredito em você – diz sem pensar em transe por conta do olhar de Oliver.

– Então...

– Eu te perdoo.

– Então posso te pedir uma coisa?

– Se eu puder realizar – “o que está acontecendo comigo?” – pensa.

– Sei que vai parecer loucura e é mais... preciso te mostrar uma coisa – ele diz todo eufórico -, só você entenderá...

– Então mostre!

– Aceite o convite que farei para hoje à noite e saberá.

– Desculpa mas não posso – ela responde rapidamente -, tenho um compromisso.

– Justamente na lua cheia? – pergunta assustado.

– E qual o problema? – diz sem entender o porquê de ele estar tão surpreso.

– Não tem medo?

– Medo de que? – diz dando risadas – Do lobo mal me atacar?

Ela não sabe – pensa.

– Claro que não – responde dando uma risadinha falsa -, só acho perigoso.

– Já me acostumei com a noite e com a flores... - droga! – só com a noite.

Oliver percebe o erro que ela comete – Está dando mais certo do que imaginava – pensa.

– Preciso ir – Miranda sai em direção a mesa dos amigos -, depois a gente se vê.

Antes que Oli pudesse responder o sinal toca – estava dando tudo certo até ali.

– Depois a gente se vê – sussurra com um sorriso de orelha a orelha, voltando com toda aquela massa de pessoas para o campus.

...

As aulas acabaram o mais rápido do que imaginava – já era tempo.

Miranda sai em disparada para o dormitório – preciso ir procurá-lo logo – pensa.

– Ei Miranda me espera!!! – Cornélia grita, correndo.

– Vamos logo!

– Onde vai com tanta pressa garota? – diz Cornélia já ao lado de Miranda.

– Ora, para o dormitório – responde -, tenho um compromisso e pretendo tomar banho e jantar antes de sair.

– Que compromisso você tem em plena terça-feira?

– Eu...preciso fazer uma...hãm...pesquisa – Miranda mentia muito mal.

– Pesquisa...Quer ajuda?

– Não, não obrigada.

– Miranda, se precisar de algumas dicas de como mentir sem ninguém perceber é só pedir – diz Cornélia rindo.

– Minto tão mal assim?

– Pois é gata – diz arqueando as sobrancelhas -, agora me diz, vai se encontrar com o Oli não vai?

– Nãooo, realmente tenho um compromisso mas não com ele.

– Dessa vez não mentiu – diz, olhando seriamente para a garota -, não se preocupe, não vou fazer mais nenhuma pergunta.

As duas continuam o caminho em silêncio absoluto.

...

Depois de ter realizado o que pretendia antes de sair, Miranda pega sua lanterna e vai rumo a floresta. O campus estava totalmente deserto, não havia ninguém perambulando por ali, no relógio marcava exatamente 23h da noite, estava um pouco frio, precisava encontrar o colar rapidamente e dar o fora dali.

Não sabia por onde começar, não tinha a mínima ideia de onde seu colar poderia estar e a floresta era um tanto grande para uma cidade pequena como Scottsdale, a única solução era passar pelo mesmo caminho que fizera na noite passada, quando ela e Clark corriam de alguma coisa.

Assim que adentrou a floresta sentiu um friozinho na barriga, isso não era bom sinal, ou era? A cada passo de Miranda tudo se tornava ainda mais escuro, a única luz que havia ali era de sua lanterna e da lua. Miranda andava calmamente iluminando cada pedacinho de chão, seria difícil acha-lo, tinha muitas folhas e galhos caídos. Já perto do lago, vai direto ao lugar onde esteve sentada com Clark, nada ali também, teria que voltar quando fosse dia.

– Droga! – diz passando os dedos pelos cabelos.

– Está procurando alguma coisa? – uma voz masculina a surpreende.

– Quem está ai?

Um rapaz vestindo jaqueta preta, jeans rasgado e coturno todo surrado sai do meio de algumas sequoias. Oliver.

– O que está fazendo aqui? – Miranda pergunta aliviada por ser ele.

– Sempre venho aqui – diz – e sabia que você também viria, já que perdeu algo.

– Como...? Era você a noite passada!

– Que assustou você e o Clark? Não, não era mas estava aqui quando aconteceu.

– Você... você está me seguindo?

– Não – diz revirando os olhos -, já disse que sempre venho aqui, desde que cheguei.

– E..soube que eu estaria aqui por conta...

– De você ter “mentido”? Exatamente.

Miranda abre a boca para falar mas um barulho a interrompe.

– Miranda, você precisa sair daqui, agora! - Oli diz assustado.

– Porque? Eu... – ela é interrompida novamente pelo mesmo barulho, agora mais perto.

– Eles não querem que eu conte a verdade – Oli sussurra a ela puxando-a -, você é a única pessoa que querem que não saiba de nada.

Eles se escondem atrás de um tronco caído cercado por árvores e arbustos de uma planta estranha.

– Talvez aqui eles não nos encontrem – diz o mais baixo possível -, não fala nada.

Algo se movia onde eles estavam a um minuto atrás, Miranda conseguia ver apenas suas sombras e sentir o cheiro forte de cachorro molhado que exalavam, poderia ser cachorros mas, aqueles eram enormes, pareciam lobos.

Miranda rapidamente se lembra do sonho que tivera, ela olha para Oli com esperança de que ele pudesse entender, estava sério, parecia assustado.

– Oliveeer – uma voz feminina o chama, saindo das sombras juntamente com mais dois lobos cinzentos -, sei que está aqui seu imundo!

A garota parecia ser bonita e a única coisa possível de ver naquele escuro era seus cabelos ruivos escandalosos.

– Sinto seu cheiro e não adianta se esconder – continua -, vamos te achar e acabar com você antes que conte a ela.

Os lobos que acompanhavam a garota continuavam a farejar, Miranda não entendia como ainda não os encontraram, lobos tinham o olfato quatro vezes mais apurados que qualquer humano.

– Você pode se esconder agora com esse seu amuleto mas da próxima não escapa. – ela se vira e sai pelo mesmo lugar de onde aparecera, os lobos a seguem.

Oli fica concentrado, como se estivesse tentando escutar o quão longe já estavam; Miranda já não sentia mais o cheiro de cachorro molhado.

– Estão longe – Oli finalmente diz.

– Quem eram eles? – Miranda pergunta assustada – Tive um sonho onde lobos enormes como aqueles – ela aponta em direção de onde a garota ruiva havia sumido – me atacavam juntamente com uma garota!

– Precisamos conversar sobre o que eles são – ele responde sério.

– Não quero saber de nada! – Miranda sai correndo.

– Espera! Preciso te entregar uma coisa – ele grita, correndo atrás dela.

Miranda o ignora e, quando não escuta ele a gritando mais olha para trás, Oliver sumira.

Ela para observando a espera que ele saía do meio das árvores andando em sua direção. Nada! Silêncio total!

– Mas... como? – ela se questiona pronta para correr novamente, ela pensara que os lobos tivessem voltado.

Ela escuta algo se movendo.

– Oliver é você? – pergunta - Pode sair!

Miranda começa a dar pequenos passos para trás, com medo.

– Oli... por favor, você está me assustando.

Um barulho a assusta e quando se vira para correr dá de cara com um lobo cinzento enorme.

– Droga!

O lobo se parecia com o que tinha visto com a ruiva misteriosa mas, esse não tinha um olhar ameaçador, não queria ataca-la. Ele tinha algo em sua boca e seus olhos verdes chamavam Miranda para se aproximar, ela foi chegando cada vez mais perto, sem medo.

O lobo se abaixou e deixou que ela tocasse nele por um instante, deixou o que tinha em sua boca na mão de Miranda indo embora rapidamente.

– Mas... como é possível? – assustada - ele devolvera seu colar.