Inconfidentes escrita por Leticia Cavaliera


Capítulo 1
Quando se acorda com o pé esquerdo...


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, essa é a primeira vez que tento uma história desse tipo, normalzinha, sem nada sobrenatural ou levado mais pro lado da filosofia, me desculpem qualquer coisa.



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O dia podia ter sido simples.

Sol podia não ter se atrasado para a escola na quinta, podia também ter reparado ainda em casa que, com a pressa, tinha calçado uma meia branca e vermelha listrada e a outra toda branca, não teve tempo de arrumar o cabelo o que significava que eles eram um monte de cachos bagunçados – mas, sinceramente, ela amava os cabelos e os achava bonitos sempre –, podia ter colocado seu livro de matemática na bolsa logo na noite anterior – e o querido professor lhe tinha descontado um pouco da nota. Algo que ela não podia perder, não mais.

Ah, e, é claro, Sol também podia ter escutado Cristina, sua colega, e ter saído da frente quando esta avisou, mas não, é claro que Sol tinha de dar uma de teimosa. E era por isso que naquele exato momento ela estava embaixo de um cara suado e grande.

E como se não bastasse, ele ainda tinha a cara enterrada em seus peitos — por que, obviamente, Sol decidiu virar justo na hora do baque. Ele levantou a cabeça, enfim, e olhou nos olhos de uma morena muito zangada. Era bonito sim, mas ela olhou para baixo e notou que ele usava o uniforme do time da escola, isso foi o suficiente para fazê-la torcer a cara em repulsa, coisa que o garoto não pareceu entender visto que continuava em cima dela.

— Você vai sair de cima de mim ou terei de ligar para o guindaste vir te puxar? — Perguntou azeda.

— Desculpe. — Murmurou, balançou a cabeça parecendo confuso e ela se perguntou, sem brincadeiras, se ele tinha alguma doença mental.

Finalmente se levantou. E, ah, era alto. Parecia ainda maior visto do chão, que era o ponto de vista de Sol, ele estendeu a mão, que ela recusou educadamente e se levantou sozinha, sacodindo a poeira da calça jeans e da camiseta.

— Me desculpe, mesmo. Eu não vi você. — Ele se desculpou de novo e coçou a nuca, parecendo constrangido, Sol quis rir.

— Não diga! — Retrucou ironicamente. — E eu aqui começando a achar que seu passatempo favorito era derrubar meninas por ai. — Ela abaixou e pegou a bolsa no chão.

— Eu já pedi desculpas. — Ele estreitou os olhos, finalmente mostrando alguma reação de verdade e Sol sorriu para si mesma.

— Ok, que seja, está desculpado. — Ela virou e começou a andar para fora do campo, deixando uma Christina aparentemente muito chocada para trás e Sol não entendeu por que. Não ligou e continuou andando com o nariz empinado, mesmo que o joelho doesse um pouco fez questão de não mancar. Era orgulhosa demais para isso. Logo escutou passos atrás de si e imaginou ser Christina.

— Não me lembro de ter visto você na escola antes. — Ah, é claro que não podia ser tão fácil assim se livrar de todo o azar daquele dia. O jogador de futebol tinha de voltar.

— Que coincidência, posso dizer o mesmo de você. — Era um comentário para provocar, sim, mas também era verdade.

— É sério, não lembro nem mesmo de ter tido uma aula com você e eu estudo nessa escola desde sempre. — Que chato, pensou Sol.

— Sorte a minha então, não é? Tive ao menos dois meses de paz antes de esbarrar com você. — Retrucou ainda sem se virar, fez as contas e notou que ainda faltavam pelo menos cinquenta metros até a saída, observou que ele não tinha respondido, mas os passos ainda estavam ali, será que o garoto não se tocava? — Você age que nem um cachorro com fome com todas as garotas que conhece?

O que?! — A voz do garotão parecia chocada. Sol conseguiu a calma para não rir, precisava disso para conseguir o que queria.

— É, sabe... Ficar andando atrás de meninas que não querem sua companhia. Isso é chato. — Ela parecia explicar a uma criança. — Você não tem uma namorada para se preocupar não? — Perguntou frustrada por não ter conseguido chegar à saída e por ele ainda estar atrás dela.

— Ah, então você quer saber se eu tenho namorada? Podia ter perguntado antes, você sabe. — Ele disse parecendo se divertir com a situação, se divertir com a cara de Sol e isso a irritou, irritou muito.

Ela parou e se virou, apenas então notando de verdade a aparência dele. Seus cabelos eram ondulados e pareciam ter vários tons de castanho claro, quase loiro, os olhos pareciam ter a mesma cor do mel, emoldurados por cílios longos, era forte, mas nada exagerado e realmente tão alto quanto parecera antes, rosto quadrado, nariz delgado, lábios grossos e num tom normalmente masculino, tinha a cara do verão e provavelmente era o tipo de garoto que enlouqueceria as garotas da escola.

O que não aconteceria com Sol por três motivos: Primeiro por que ela não era da escola, não realmente; Segundo por que aquele não era o tipo de homem que a atraia; E terceiro por que ele tinha no rosto uma expressão convencida de que ela seria como as outras garotas que deviam babar e morrer por ele, talvez até mesmo elas babassem enquanto morriam por ele – Ou quem sabe morriam de tanto babar, pensou uma parte mais sarcástica dela. Ah, ele não tinha ideia de como estava errado.

— Mas quanto cavalheirismo e sutileza. — Ela pôs a mão no peito fingindo espanto, mesmo que a voz saísse pura ironia. — Não se encontra um Dom Juan desses todos os dias, talvez seja meu dia de sorte. Mas não me acho merecedora de sua tão agradável companhia, então vá procurar alguém por ai com disposição. Agora eu realmente tenho que ir, ao contrário de uns e outros não tenho tempo para desperdiçar correndo atrás de uma bola, ou pior, vendo outras pessoas correrem atrás de uma bola. — Sol balançou a cabeça como se sentisse pena daquelas pessoas e voltou a caminhar para a saída.

– Qual seu nome? — O garoto perguntou, voltando a andar também. — Te deixo em paz se me disser seu nome. — Sol riu para si mesma, como se ele fosse conseguir fazer qualquer tipo de barganha com ela. Era óbvio que não a conhecia, ainda assim ela resolveu brincar, ainda não era proibido se divertir afinal.

— Meu nome é Elinor Dashwood. — Falou parecendo cansada, mas por dentro ria, aquele era o nome da personagem de Razão e Sensibilidade, um dos seus livros favoritos de Jane Austen. Não que ele fosse sab...

— Como no livro? — Ele perguntou parecendo confuso, Sol ficou tão surpresa e virou rápido, acabou esbarrando nele de novo, se afastando em seguida.

— Sim, minha mãe era uma grande fã, foi uma homenagem. — Ela balançou a cabeça. — Já sabe meu nome, agora me deixe em paz. — Assim Sol se virou e recomeçou a andar, primeiro rapidamente caso ele decidisse a seguir de novo e depois devagar vendo que ele não o fazia. Suspirou aliviada e logo estava pensado na próxima aula e no maravilhoso livro de fantasia que estava lendo.

Jonathan olhou Elinor se afastar. Nariz empinado, porte convencido e meias de cores diferentes. Ele ainda conseguia sentir o cheiro dela: Doce, apimentado, marcante e suave, como uma floresta virgem, inexplorada e selvagem. Nunca tinha sentido aquele perfume. Era... Bem, ele não sabia dizer se tinha, ou não, gostado do cheiro. Era aquele tipo que tinha de ser sentido de novo. Os cachos bonitos balançavam e ele gostou de como batiam nas costas dela. Como se lesse seus pensamentos e não quisesse que gostasse de nada, a garota prendeu os cabelos em um coque muito bagunçado e que pendia mais para o lado. Ele se virou e começou a correr para o meio do campo, balançando a cabeça e rindo para si mesmo.

Perguntava-se se ela realmente não sabia quem ele era. Mas quem não sabia quem ele era? Jonathan era um dos grandes astros do time da escola, um dos garotos mais disputados e mais bonitos. Não, definitivamente era impossível não saber quem ele era. Lembrou que ela não perguntou seu nome e, para ele, isso era prova suficiente de que Elinor sabia. Era só olhar para as outras garotas ali presentes, sorrindo e acenando para ele, fazendo de tudo para chamar sua atenção, as garotas com quem ele ficava ali, esperando que ele as escolhesse, e cada uma se achando tão única e mais especial que as outras. Finalmente chegou onde o resto do time estava.

— Jonny, garanhão, já estava dando em cima da novata gostosa? — Com essa pergunta Matheus o recebeu, o resto do time ficou em um silêncio divertido esperando a resposta de Jonathan, que já tinha até esquecido de Elinor.

— Ah, parceiro. Sabe como é... — Jonny respondeu dando de ombros e fazendo uma cara maliciosa.

— Boa sorte com aquela ali. — Disse Carlos com um sorriso desdenhoso no rosto, todos o encararam e Jonathan franziu a testa como quem não entendia. — Eu tenho aula de Criação de Jogos com ela e...

— Essa garota constrói jogos? Tipo, ela é uma garota... — Matheus interrompeu.

— Matheus, cara, ela é uma das melhores da turma. — Carlos falou pausadamente. — Como eu ia dizendo, nós fazemos essa aula juntos e a menina é uma megera das piores. É a garota mais geniosa que eu já conheci, vive em uma relação de amor e ódio com o professor. Muitos garotos pedem ajuda pra ela apenas para tentar se aproximar, ela ajuda, mas enxota todos, quer dizer, quase todos. Costuma conversar com o professor e com alguns dos nerds que também constroem bons jogos. — Ele deu de ombros como se achasse isso muito estranho. — Até eu já fui dispensado por ela.

— Mas você é um merda mesmo, eu não serei dispensado assim tão fácil. — Jonathan disse com um sorriso convencido, sem dizer, obviamente, que ele tinha sido meio que dispensado por ela.

Entretanto Carlos colocando ali, na frente de todos, que ela era um desafio tão grande... Bom, a verdade é que se ele já estava meio interessado antes, agora a caça começava efetivamente. Ficar com muitas garotas fáceis e bonitas te dava certa fama, mas ficar com uma garota bonita e com fama de difícil era ser imortalizado. Era basicamente o mesmo que ser o primeiro homem a chegar ao topo do monte Everest. Algo que só os melhores conseguiam. Por isso algo dentro de Jonathan estalou. Ele iria conseguir aquela garota. Faria de tudo para conseguir. E então ia poder jogar na cara de todos ali.

— Jonny, cara, se não se incomodar eu vou tentar também. — Disse Matheus sorrindo maliciosamente. Jonny deu de ombros, por algum motivo sabia que seu amigo não ia conseguir, tinha dúvidas se ele próprio conseguiria. — Se ela for realmente tão difícil quanto Carlos está dizendo... Bem... Acho que deveria existir um prêmio para quem a conseguisse, não é? — Matheus riu e vários outros concordaram com ele. — Ela é gostosa, não será nenhum sacrifício mesmo.

— Matheus, eu não serei injusto, como já falei com ela hoje vocês podem ser os próximos a tentarem. — Jonathan sorriu e sabia que todos os outros o veriam como um convencido que seria facilmente vencido, já que, na cabeça dos outros, cada um já tinha pegado ela e esfregava isso na cara de Jonny, se ela ficasse com qualquer um ali significava que não era um prêmio bom o suficiente para disputar, se não... Bem, seria divertido.


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Notas finais do capítulo

Então, gente... Podem criticar... Sério, critiquem mesmo, eu quero críticas.Mas me digam se gostaram também... Ok? hahaha'
Beijos de Luz *3*