Abri o armário, peguei um vestido simples que ia até o joelho e tinha uma manga parcialmente curta. Ele era branco e todo rendado. Coloquei um sapato nude com um pequeno salto para ficar o mais discreto possível. Meu cabelo estava solto com alguns cachos nas pontas e minha maquiagem era neutra. Optei por uma gargantilha, um par de brincos e uma pulseira de ouro, para demonstrar riqueza. Eu não ligo muito para isso, mas meus pais sim.

Saí do meu quarto e me deparei com Thiago posicionado na escada, certamente para me levar até a sala de jantar, já que por ordens do meu pai eu preciso ser acompanhada até no banheiro, se for duvidar.

- Boa noite soldado Miller.

- Boa noite alteza. – Ele sorriu. – Permita-me acompanha-la até a sala de jantar.

- Com muito prazer. – Coloquei minha mão sobre seu braço e juntos fomos até o andar de baixo.

Sentei-me no lado direito da imensa mesa que só se enchia quando tínhamos visitas. Meu pai, como sempre, estava sentado na ponta e minha mãe no lado esquerdo.

- Como estão os preparativos para a festa de amanhã? – Perguntou meu pai á minha mãe.

- Estão em perfeito estado. Os convidados irão adorar. – Ela respondeu.

- Que bom, assim fico mais tranquilo. Recebi uma ligação do Reino Unido com a notícia de que a família real já está vindo. Amanhã cedo chegarão ao nosso território.

- Ótimo. Mandarei as criadas arrumarem os quartos de visita e também fazerem um cardápio especial.

- Faça isso, nós precisamos deixar uma boa impressão, afinal não é sempre que a família do noivo da nossa filha vem nos visitar.

- Noivo? – Finalmente me manifestei.

- Mas é claro Ana. – Minha mãe disse. – Amanhã você completa 18 anos, esqueceu? É com essa idade que te apresentamos á população como adulta e futura rainha de Jordânia.

- Mas vocês não tinham comentado comigo sobre um noivo.

- Essa é a tradição. Pensei que você já tivesse estudado sobre as tradições do nosso reino. – Disse meu pai.

- E eu estudei, mas não estava preparada para isso. Como vou me casar com alguém que nem conheço?

- Vocês terão pouco mais de um ano para se conhecerem, pode ficar tranquila. – Minha mãe tentou minimizar meu espanto.

Olhei para Thiago que estava na porta, como se quisesse fugir daquele lugar com ele nesse exato momento, mas ele não podia demonstrar nenhuma reação ou emoção, se alguém desconfiasse da nossa aproximação sua vida correria perigo.

Depois do jantar fui para o meu quarto, coloquei uma camisola e me arrumei para dormir. Quando já estava quase me deitando alguém bate na porta.

-Pode entrar. – Eu disse com um tom de voz um pouco alto, para que a pessoa que estivesse no lado de fora pudesse me ouvir.

Thiago entrou no quarto com cuidado para que ninguém o visse.

- Você precisa ter mais cuidado. – Eu disse. – Se alguém te ver aqui á essa hora será difícil manter nosso segredo.

- Eu sei disso Ana, mas precisava falar com você depois da janta de hoje.

- Eu também. Não quero me casar com ninguém. Eu quero ficar com você. – Corri aos seus braços.

- Ficar com você é tudo que eu mais desejo, mas nós não podemos, existem muitas barreiras que nos separam. Você é a futura rainha de Jordânia e eu sou apenas o guarda do castelo.

- E se nós fugirmos?

- Você acha mesmo que seu pai não nos encontraria? Além do mais a população precisa de você.

- Mas eu não sei se vou conseguir governar tudo isso aqui.

- Eu tenho certeza que você vai. Aliás, você é a nossa única esperança.

- A situação está tão ruim assim? – Perguntei com um tom meio triste.

- Olha Ana, seu pai faz tudo parecer perfeito, ele te mostra só a parte boa do nosso país, mas existe muito além disso. Milhares de pessoas passam fome enquanto outras rasgam dinheiro e jogam no lixo.

- Existe gente que faz isso? – Fiquei incrédula.

- Não. – Ele riu fraco. – Foi só modo de dizer.

- O que mais de ruim existe?

- As pessoas não podem dar sua opinião se ela for contrária ao do rei, pois quem faz isso é perseguida até sua eliminação.

- Eliminação?

- Sim. Elas são presas, ou em casos considerados mais graves ela pode até ser sacrificada até a morte.

- Meu Deus. Meu pai sabe de tudo isso?

- Ana, seu pai manda fazer tudo isso. – Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu consegui segurá-las. – Desculpa ter que te fazer passar por isso, eu não quero causar nenhuma discórdia entre você e sua família, mas se você está se preparando para governar esse país tem o direito de saber como as coisas funcionam.

- Não precisa pedir desculpas. Só precisa me prometer que vai estar ao meu lado por todo esse processo.

- Claro que vou estar. Eu te amo Ana.

Aproximamo-nos e nos beijamos, um beijo calmo e rápido, já que ele precisava ir ao seu devido lugar, antes que desconfiassem de algo.

***

Acordei com medo, pois o meu futuro marido já estaria aqui nessas horas. Minha criada entrou no quarto, assim como todas as manhãs, para preparar meu banho e me ajudar a escolher a roupa ideal.

- Bom dia alteza.

- Bom dia Tati. E você sabe que não precisa me chamar assim, antes de tudo nós somos amigas, esqueceu?

- Desculpa alteza... Quer dizer, Ana. – Nós rimos. – Bom, antes de tudo quero te desejar parabéns, espero que continue sendo sempre humilde como você é. Tenho certeza que você saberá governar muito bem nosso país.

- Obrigada Tati. Eu não estou muito animada com meu aniversário, mas fico feliz em te ter no meu lado em um dia como esse. - Sorri

Tomei meu banho e fui para o closet escolher um vestido. Ela disse que precisava ser um vestido elegante, mas nem tão exagerado, pois precisamos levar em conta o horário. Acabamos escolhendo um vestido azul clarinho que ia até pouco acima do joelho e tinha uma manga longa rendada, já que estava um pouco frio naquele dia. Deixei meus cabelos soltos e fiz uma maquiagem bem leve. Coloquei algumas joias sem nada de pedras, apenas uma correntinha e um brinco simples.

Fui até a sala de estar acompanhada de Tati para conhecer o príncipe e sua família. Cheguei lá e minha mãe veio correndo até mim para me dar os parabéns pelo meu aniversário, logo todos vieram e eu não sabia como reagir. Precisava fingir entusiasmo.

- Parabéns alteza. – Disse o príncipe.

- Obrigada... Alteza. – Rimos fraco.

- Permita-me apresentar minha família. – Concordei. – Esses são meus pais, Elizabeth e Willian, essa é minha irmã Milena e esse sou eu, Rubens Parker.

- Muito prazer. – Sorri para todos. – Bom, meu nome é Luciana Scnheider, ou apenas Ana. Meus pais vocês certamente já conhecem. – Eles concordaram.

- Porque vocês não dão uma volta pelo castelo para se conhecerem melhor? – Sugeriu a rainha Elizabeth.

- É uma boa ideia. – Disse minha mãe.

- Neste caso, peço que para um dos meus guardas os acompanhem. – Concluiu meu pai e temi escolherem Thiago, mas graças a Deus o escolhido foi outro.

Fomos até o jardim conversando sobre assuntos diversos, mas a verdade é que não temos muito assunto, afinal, acabamos de nos conhecer.

- Está ansiosa para a festa de hoje à noite? – Ele me perguntou enquanto sentávamos em um dos bancos que estavam espalhados pelo jardim.

- Estou. – Sorri levemente.

- Você não parece tão entusiasmada.

- É que... Desculpe dizer isso, mas não estou preparada para tudo que vai me acontecer daqui para frente.

- Ou seja, se casar comigo.

- Essa é uma das coisas.

- Sabe, quando eu soube que me casaria eu fiquei assim também, mas aí comecei a pesquisar sobre você e achei que poderíamos nos dar bem.

- Você pesquisou sobre mim? – Ri fraco.

- Aham. Você se incomoda com isso?

- Não, mas o que você descobriu?

- Não muita coisa, pois você não aparece muito na mídia. Apenas vi algumas fotos, e preciso confessar que pessoalmente você é mais linda ainda. – Fiquei envergonhada e agradeci. – Também descobri algumas coisas que você gosta de fazer, como por exemplo, viajar, andar á cavalo, jogar videogame... Eu também gosto de todas essas coisas.

- Há quanto tempo mais ou menos você sabe que é meu noivo?

- Cerca de um mês, e você?

- Na verdade não faz nem 24 horas que descobri que me casaria e só fui saber quem era o noivo quando te vi.

- E eu superei suas expectativas?

- Eu ainda não sei dizer. – Ri fraco.

- Tudo bem... – Sorriu.

Ficamos um tempo em silêncio, um silêncio constrangedor.

- Como você prefere ser chamado? – Perguntei.

- Como assim?

- Sei lá... Rubens, Parker, Rubens Parker...

- Não. – Ele riu. – Pode me chamar de Binho, é como todos os meus amigos me chamam.

- Você tem muitos amigos?

- Sim, mas meu pai nem sonha, por isso peço que guarde segredo.

- Porque é tão secreto?

- Se dependesse dele eu não me aproximava de ninguém, ele tem medo que algo me aconteça.

- Entendo...

- Mas eu não o obedeço. Quase sempre saio do castelo após o jantar para ir á festas com meus amigos.

- Mas você não tem medo do que as pessoas possam te fazer por você ser o príncipe?

- Elas nem sabem quem eu sou. Apenas alguns amigos que me ajudam a esconder minha identidade. Só assim para ter uma vida normal.

- Eu nunca pesei nisso.

- Bom, eu vou passar alguns dias aqui, se você quiser podemos ir á algum lugar escondido.

- Será?

- Você é quem sabe, mas eu não vou ficar trancado no castelo com tanto lugar bonito para ser visitado. – Sorri, afinal, poderia ser uma boa ideia.

Depois de um tempo conversando percebi que o Rubens, ou melhor, o Binho era uma pessoa agradável, mas não é com ele que eu quero passar o resto da minha vida. Infelizmente eu não tenho escolha.