As férias de verão haviam terminado e Karly estava sentada em um banco de trem esperando que esse partisse para que pudesse chegar logo em sua casa, que não era nada menos que um internato.
A mãe de Karly dirigia o colégio dando à ela e sua irmã alguns privilégios como por exemplo um quarto só para si, o que é uma sábia decisão, já que se juntassem Karly e Gina em um só quarto por uma hora com certeza as duas botariam fogo no colégio.
-Será que eu poderia me sentar aqui? –um garoto perguntou interrompendo os pensamentos de Karly.
-Claro. –disse ela deixando que o garoto sentasse a sua frente.
Ela não pôde evitar encará-lo por alguns instantes. Ele tinha os cabelos lisos, um pouco rebeldes, e castanhos, suas feições eram charmosas, mas havia solidão e incompreensão em seus olhos.
De repente ele a encara fazendo-a desviar o olhar.
Ele volta a olhar para a janela vendo dois garotos entrando no trem.
-Droga. –diz o garoto misterioso para si mesmo voltando a chamar a atenção de Karly.
-Ali está ele! –diz um garoto que tinha acabado de entrar no trem para o outro.
O garoto misterioso se levanta e vai lentamente até o outro vagão que estava vazio e os garotos correm até ele fechando a porta do vagão.
-Acabou aqui, Connor. –disse um dos garotos.
-Cadê a nossa grana? –perguntou o outro.
-Não está aqui. –responde Connor sério.
-Você sabe o que acontece com aqueles que não pagam as dividas, não sabe Connor? –perguntou um garoto que ia se aproximando lentamente de Connor.
Karly se levantou e pôde ver da janelinha da porta que o garoto que se aproximava de Connor tinha uma faca escondida nas costas.
Karly corre até a porta e abre a porta do vagão gritando.
-Cuidado! –gritou ela –Ele tem uma faca!
Os garotos se viraram para ela surpresos e Connor rapidamente toma posse da faca e aponta essa para um os garotos.
-E você acha que a gente tem medo? –perguntou um deles rindo de Connor.
-É da policia? –disse Karly ao telefone chamando a atenção dos garotos –Tem dois deliquentes aqui no trem...
-Ta, nós estamos indo! –alegou um dos garotos.
-Sabe o que é? –disse Karly –Acho que foi engano, não é meninos?
Os dois, fulos da vida, saem pela porta do vagão e vão até a saída do trem antes que esse pudesse partir.
-Sou Karly Sanders e você? –disse Karly ainda tentando digeri tudo aquilo.
-Connor McKay.
-Essa foi por pouco. –disse Karly para si mesma.
-Não precisava ter ajudado. –disse Connor jogando a faca no chão.
-Ele ia te matar com essa faca.
-Não é como se minha vida valesse a pena viver. –disse ele saindo pela porta do vagão e voltando ao seu assento.
Karly vai atrás e se senta no seu.
-Não acho que isso seja verdade. –disse ela –Afinal quantos anos você tem? 17? 18?
-17.
-Vai ver ainda não descobriu algo que faça sua vida valer a pena.
-Como o que por exemplo?
-Qualquer coisa. –disse ela –Trabalho, amor... Simplesmente qualquer coisa que o deixe feliz.
-E se nada me deixa feliz?
-Algo o deixará feliz nem seja uma única vez em sua vida.
Connor se calou e apenas ficou a fitar Karly, que intrigada sorriu e perguntou: -O que houve?
-Estou tentando decifrar o que a deixa feliz?
-E o que vê? –perguntou ela com um pequeno encabulado sorriso.
-Alguém que assim como eu não sabe o que é ser feliz, mas pior do que eu tenta se enganar achando que sabe ou pior achando que é.
O sorriso de Karly se desfalece.
-Pois me interpretou errado. –disse ela voltando a encarar a janela.
Connor se senta ao lado dela e começa a dizer: -Está vendo aquele casal?
Ele apontava para uma mulher toda enfeitada com mais ou menos 30 anos e um homem de mesma idade que lia umas cartas.
-O que é que tem? –pergunta Karly.
-Quer apostar quanto que aquela carta ele recebeu na adolescência de um amor não concretizado?
-Oi?
-E ela... Bom, ela tenta esconder sua infelicidade na aparência.
-E você simplesmente adivinhou isso tudo de duas pessoas que você nunca viu na vida?
De repente a mulher levanta e segue até o toalete e imediatamente o homem cheira a carta como se assim sentisse o perfume da amada.
Karly encarou Connor incrédula, então se levantou e foi até o toalete, onde encontrou a mulher enfeitada aos prantos.
-Meu Deus, o que houve?
A mulher encara Karly com os olhos vermelhos.
-Me casei com um homem que pensa em um fantasma. –admitiu a mulher.
-E por que continua com ele? –Karly se ouviu perguntar.
-Porque o amo. –disse ela se recompondo e saindo do toalete.
Karly sai do banheiro, voltando ao seu lugar, boquiaberta.
-Connor, o que você é? –pergunta ela.
-Como?
-Como sabia tanto sobre aquelas pessoas?
-Eu as li. –disse ele.
-E como...
-Observando. –disse ele –Quando você cresce em internatos, você aprende a decifrar melhor as pessoas, já que não tem mais nada pra fazer.
-Eu também estudei minha vida toda em um internato e não aprendi isso.
-Porque você se contentou com a imagem e com as mascaras. –disse ele –Não teve coragem de ir mais afundo, de tentar enxergar o que não se vê tão facilmente.
-E você se acha um sabichão. –disse Karly voltando o seu olhar para a janela podendo ver o reflexo de Connor, que tinha um pequeno sorriso nos lábios. Logo, ela não pôde se controlar e sorriu também.
Depois de alguns minutos de silêncio, Karly se virou para Connor e voltou a falar mais uma vez.
-O que você fez àqueles garotos?
-Você não consegue ficar quieta também, não é?
-Não foge e responde a pergunta. –disse ela.
-Divida de jogo.
-É viciado?
-Mais ou menos. –disse ele –Gosto de jogar quando não tenho o que fazer.
-Entendi. –disse ela voltando-se para a janela, mas segundos depois voltou a falar –E então que escola freqüenta?
-Meu deus, você não para mesmo de falar, em? –disse ele se divertindo.
-Ai! Ta bom, eu paro então. –disse ela.
-Duvido.
-Como assim você duvida? –pergunta ela irritada.
-Viu? Estava certo. –disse ele –Não consegue parar de falar.
-Claro que consigo!
-Então para.
-Mas... –ela irritada cruza os braços e se volta para a janela.
-Finalmente. –disse ele provocando –Paz.
-Ah, seu! –disse ela e ele começou a rir –Do que está rindo?
-De você. –disse ele –É tão fácil te irritar.
-Claro que não é!
-Claro que é.
E as crianças discutiram até o final da viagem. Porém uma surpresa os aguardavam. Eles não se veriam livres um do outro tão cedo...