Família escrita por Caelum


Capítulo 4
Capítulo IV - Estrela


Notas iniciais do capítulo

*acena alegremente*

Eu disse que estava pensando em escrever sobre o Koushiro e, apenas porque eu amo me contrariar, escrevi sobre a Mimi. E tão rápido, ainda por cima! Duas atualizações no mesmo dia. PROGRESSO, meus caros.

Sinto-me um tanto quanto culpada por causa do tamanho do capítulo do Iori, pois todos menos ele até agora ganharam uma one-shot e na dele eu apenas narrei. Então, eu vou fazer outros capítulos como eu fiz o do dele, para não ficar tão injusto com o menino :v E o número de palavras continua aumentando, aff.

Aproveitem!



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Mimi Tachikawa era uma estrela cadente;

ou era assim que ela se sentia dentro de casa.

Como um dos astros luminosos que ardem na imensidão do cosmos, ela era o centro do pequeno sistema solar dentro daquelas paredes. Era como se Mimi tivesse despencado e atravessado o céu quando nasceu, deixando um rastro púrpuro e dourado pelo caminho antes de pousar suavemente nas mãos de seus pais; e estes, entusiasmados, não conseguiam se desgrudar da estrelinha da sorte que lhes havia sido concedida desde então. Ela havia colorido o horizonte com tanta intensidade e alegria que Satoe e Ketsuke não sabiam o que era o monocromático.

Só tinham olhos pra ela ali.

Fossem os dedos finos de sua mãe trançando as mexas do cabelo cor de caramelo, espalhando grampos floridos e em formato de coração até que ela se cansasse e embaraçasse tudo de novo, ou as danças de valsa improvisadas no centro da sala com seu pai – ela não passava de uma coisinha baixa e de vestidos cheios de babados grandes demais, ela punha os pés em cima dos dele e eles giravam cantando até não aguentarem mais –, havia sempre alguém ali. Mimi sabia que ela iria chegar em casa, para provar, sem sombra de dúvidas, mais uma das receitas excêntricas da mãe. Se eram horríveis? Sempre.

E ela nunca deixava de comer.

“Querida... você pôs morangos no arroz de novo?”

“Mas é claro! Receita mais especial que essa não há! Fiz com tanto amor! Comam, comam!”

“Ah, sim – são nossos preferidos, não é, Mimi-chan?”

Ele piscava e Mimi devolvia a piscadela antes de começarem a jantar.

Eles eram tão barulhentos (e tão... autênticos) – um barulho dedicado a ela, naturalmente. Era uma festa viver, e seus pais frequentemente faziam coisas juntos, como se não soubessem andar sem segurar a mão um do outro e saltitar pelo caminho. Podia uma presença suavizar tanto o coração de alguém e levá-lo à loucura ao mesmo tempo? Ela sabia a resposta. Havia sido por causa relação deles que Mimi agarrava-se com firmeza à prospectiva de se encontrar um romance inquebrável, mágico, flutuante.

A quantidade de programas aos quais ela era arrastada na infância a afetou de tal modo que, na adolescência, cultivou um espírito independente espantoso; e a melhor parte era ter braços para quais voltar depois. O modo como a família Tachikawa tinha pendurado uma pequena placa com o desenho em alto-relevo de cada membro daquele trio na porta de entrada para que todos pudessem ver quando visitassem era uma das mais conhecidas provas daquela união.

“Mimi-chan, como você é amável! Uma princesa!”

Mas eles a enxergavam realmente?

Eles se preocupavam com ela e sua segurança, de uma forma quase excessiva, até, e garantiam que ela tivesse tudo o que desejava e mais (depois de um certo dia de verão, porém, a princesinha deles crescera o que ela deveria ter crescido em quase décadas, e sua ânsia por mimos caiu tão dramaticamente quanto foi a reação deles). Ainda assim, mesmo sendo pais tão bem-intencionados, eram aéreos e desajeitados em um nível que fazia a menina se questionar se eles prestavam atenção nela ou na ideia que haviam construído da filha.

Mimi não queria reinar em castelo algum, afinal de contas. Não mais.

***

[Os anos se passavam e, num ponto, alguma coisa começava – mais uma vez.

E eles voltariam ao começo.]

***

Um dia, ela os encontrou dançando na cozinha.

Não era algo silencioso ou poético; eles giravam, quase caindo, e riam, a mãe ainda com o avental rosa que usava para preparar a janta e ele com as roupas gastas do trabalho. Fazia um tempo que ela não os via fazer algo assim, tão despretensioso e ainda assim tão lindo.

Logo, Mimi prendeu a respiração, esforçando-se para ser o mais sorrateira possível. Intrometer-se naquele momento, ela sabia, não iria constrangê-los, sendo os dois tão abertos sobre o quanto se adoravam. O que determinou a reação dela, de dar meia-volta antes que a vissem, encostar-se à parede e pressionar o ouvido ali foi ter realizado que eles conversavam:

“Você acha mesmo que a Mimi-chan quer isso, querido?”

“Bem,” começou Keisuke, fazendo a esposa dar uma pirueta sob seu braço estendido, “eu estou pensando que ela anda um pouco saudosa demais, sabe? A Mimi-chan sempre gostou muito de lugares novos, e se adaptou muito bem aos Estados Unidos, mas....”

“Mas? O que é isso tudo, amor? Tem alguma coisa incomodando você?”

O homem da casa postou-se mais firme, quase como se temesse a reação dela, mas estivesse preparado para defender sua posição, de pernas trêmulas e tudo:

“Eu acho que deveríamos voltar ao Japão.”

Mimi sentiu o coração disparar.

“Mas, querido!” O grito agudo de Satoe fê-la morder o lábio inferior, nervosa com o que a mãe teria a dizer. “Como faríamos uma coisa dessas? Com aqueles monstros horríveis lá! Você lembra! Ainda tenho pesadelos... Imagina o perigo que ela iria correr e–”, para a surpresa dos outros dois, a mulher parou abruptamente: “...mas se aquele lugar a faria mais feliz do que aqui, eu... acho que poderíamos pensar. Ela gosta daqui, dá pra ver, mas ela tem amigos mais queridos lá. Vamos perguntar para ela o quanto antes! Tudo pela Mimi-chan!”

“Tudo pela Mimi-chan.” Keisuke condordou, e Mimi soltou um ruído estrangulado de carinho. Ela começou a entrar na cozinha para lhes dar o maior abraço do mundo, mas, de repente, a mãe dela gritou que ela tinha esquecido a comida com o fogo ligado e que tudo ia queimar. Um cheiro ruim encheu parte da casa e eles corriam apressados para concertar tudo. Mimi riu e se juntou para ajudá-los, gritando que eles poderiam sempre pedir pizza. Nisso, as dúvidas que ela tinha não cabiam mais dentro dela.

Ela soube que eles iriam a qualquer lugar do mundo por ela,

sem nenhuma estrela que os guiasse além dela mesma.


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Notas finais do capítulo

A realização de que eu estava marcando as falas com travessões nos capítulos anteriores antes e do nada eu usei aspas me atingiu muito violentamente agora, mas vou deixar assim. Brincar com a formatação é divertido. Talvez seja meio irritante para alguns de vocês (?), mas eu me divirto ahehehehe
E VOCÊS SABEM O QUE FOI ISSO? Pois eu digo; FOI MINHA PRIMEIRA REFERÊNCIA À DIGIMON ADVENTURE TRI! *aplausos* Como vocês podem ver no poster que foi lançado, a Mimi está usando o mesmo uniforme que a Sora. Ligando os pontinhos,MIMI IS BACK! E eu totalmente escreverei algo de boas-vindas para ela, um dia, porque ela merece, não acham?
Eu -desconfio- que o próximo capítulo será o do Koushiro, pois já comecei, mas sempre há a possibilidade de nos surpreendermos. Contem-me, vocês tem alguma vontade? Sugestões quanto a isso?

*entra num conversível, põe óculos escuros e uma jaqueta de couro*: agora, se me dão licença, eu vou viver a vida selvagem que eu vivo e ir assistir desenho animado.