Glamorous escrita por Rock Queen


Capítulo 1
Comeback


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Espero que gostem do primeiro capítulo, desejo uma boa leitura à todos.



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Well, well, well, Upper East Siders.

Vocês podem não saber quem eu sou, mas eu sei quem vocês são. E sei que nesse momento, poucos estarão me lendo pois minha (re)entrada triunfal ainda está por vir. Mas saibam que eu sou os olhos, os ouvidos e a alma desse lugar. Deixei que meus brinquedinhos favoritos tivessem sua alegria e paz por um certo tempo, mas agora, agora eu voltei, pronta pra colocar em dia tudo que eu deixei passar. You know you love me, xoxo.

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Era uma manhã no mínimo quente, para os padrões nova iorquinos. O sol do final de verão era pouco mas aquecia alguns alunos que sonolentos, se jogavam para fora da cama no primeiro dia de aula do ano. Em poucos dias, eles provavelmente voltariam a acordar atrasados, mas o que realmente importava, era o primeiro dia, sempre. O primeiro dia era o mais importante para aquele pequeno-grande círculo de pessoas, também conhecido como Upper East Side. O dia de colocar os novatos em seus lugares, receber e assustar os calouros e continuar subindo no pódium social.

Henry, o mais velho dos três filhos de Charles Bass, CEO de Bass Corporation e Blair Waldorf, estilista renomada, assistia a todo o caos matinal encostado no batente da porta da cozinha, por trás dos óculos escuros que pendiam em seu nariz de traços finos. Um sorriso de canto enfeitava seu rosto, e a camisa entreaberta revelava um pouco da pele bronzeada que adquirira das férias. Observava com certa frieza sua mãe ajeitar a gravata de seu irmão que terminava de tomar café da manhã e ao mesmo tempo, dizer que sua irmã estava linda e dar ordens a Dorota sobre como o paletó de Chuck deveria ser lavado.

– Vamos? – Audrey Bass, a filha do meio do casal Bass se manifestou, chamando a atenção dos dois irmãos. Enquanto terminavam de se ajeitar, ela caminhou até o espelho que ficava na sala de estar. Ao contrário da maioria dos alunos, seu uniforme era perfeitamente alinhado, sem estar um único desarrumado um único centímetro. Ela era assim, perfeccionista (eufemismo). Ajeitou a tiara azul – ganhara de sua madrinha Serena, a qual adorava mimar a ela e seus irmãos – que combinava muito bem com seus olhos e sorriu para seu reflexo no espelho. Quase perfeita.

O caçula do trio, Sebastian Bass, rolou os olhos ao ver sua irmã sorrindo para seu próprio reflexo no espelho, e seu irmão ajeitando os cabelos com extrema preocupação. Talvez ele fosse mesmo a ovelha negra da família, com seus cabelos espetados, olhos escuros como uma noite de inverno, pele pálida e a enorme falta de sex appeal (bem diferente de seus dois irmãos mais velhos). Realmente, ele não era o irmão de sorte, mas podia viver com isso.

E bem vindo ao estilo Bass de vida.

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O verão não deixara nada a desejar para os irmãos Archibald, de fato. Tédio? Apenas entre a pausa entre um cruzeiro pela Europa e uma viagem para a Australia, ou finais de semana em Hamptons e segundas feiras em cidadelas na Itália.

Mas Angelique Archibald estava com saudade de casa, dos pais e acima de tudo: de seu trono de rainha em Manhattan. Um descanso de suas “minions” era ótimo e passar um tempo relaxando também, mas seus ouvidos já estavam necessitando de elogios e seus olhos, do medo nos olhos dos plebeus ao vê-la passar pelos corredores de seu castelo, ou melhor, da Constance Billard School.

– Ei, Dylan! Vai rápido, eu tenho que resolver um monte de coisas com tia Blair sobre a festa de início de ano! – Gritou, com os braços cruzados e parada no pé da escada, esperando o irmão mais novo descer de seu quarto. Já estava pronta há horas, seu uniforme alguns centímetros mais curto que o normal e algumas vezes mais apertado que o necessário e seus cabelos devidamente arrumados para parecer que Angelique apenas penteou os fios casualmente – Dy, estou falando sério!

Dylan Archibald, o filho mais novo do casal Van der Woodsen-Archibald desceu as escadas em espiral da cobertura em que moravam. Passou por sua irmã e lhe plantou um beijo estalado na bochecha, enquanto corria em direção da cozinha para pegar algo para comer no caminho até a escola. Seus cabelos molhados respingavam em sua camisa branca do uniforme, cujas mangas estavam dobradas até os cotovelos. Colocou o celular e a carteira no bolso da calça social – que ele por acaso odiava – e pegou um bolinho de baunilha no meio de todas as iguarias na mesa de café da manhã.

– Vamos lá, sis – Dylan murmurou, com um tom de zombaria tomando sua voz, enquanto alcançava a chave de seu carro – Minhas garotas e seu reinado nos esperam.

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Excusez–moi!

Nenhuma resposta, todos passam reto por ela.

– Alguém pode me ajudar?

Droga. Ninguém sequer olhou para ela.

– Por favor!

Que droga de país, foi o que Beatrice Rousseau concluiu em apenas uma semana na América. As pessoas eram mal educadas e depravadas. Não que na França e nos outros países em que tivesse morado fosse muito diferente, mas aquele conseguia ser pior do que qualquer outro lugar que ela havia visitado.

Encostou as costas em seu armário e suspirou, tentando não perder o controle. Neurose era sua especialidade, mas não, desta vez, ela manteria a calma. Se ficasse mais um pouco agitada, provavelmente seus miolos explodiriam em pedacinhos.

Passou as mãos alvas pelos cabelos ruivos encaracolados e respirou fundo uma vez. Duas. Três vezes. Ela só precisava se acalmar, certo? O que poderia dar errado? Ela estava num país completamente diferente, longe de seus pais, praticamente sozinha e sem nem conseguir se comunicar.

Não que fosse muito de acreditar em pressentimentos, mas tinha quase certeza de que aquele não seria um ano muito bom – e não precisava acreditar em pressentimentos pra isso. Resignada, descolou-se de seu armário e abriu a pequena porta, a fim de pegar o livro de sua primeira aula e tentar achar qual seria a sala.

– Uh... Oi!

Como mágica, materializou-se a seu lado um rapaz de cabelos loiros e olhos azuis. Exatamente como um daqueles surfistas de filmes californianos, que escutam reggae e andam sem camisa em todo o lugar. A pele bronzeada denunciava que o verão do rapaz havia sido bastante ensolarado, ao contrário do dela. Um sorriso enorme enfeitava o rosto do rapaz, que parecia genuinamente feliz em estar na escola novamente.

– Olá...? – Beatrice respondeu devagar, ainda confusa por muitos fatores, o primeiro deles era com certeza o fato de que alguém havia se dignado a falar com ela depois de diversas tentativas desesperadas. O sotaque francês ainda era acentuado em sua voz, o que a vez tossir algumas vezes, envergonhada. O segundo fator que a confundia muito era que... Aquela não era uma escola pra garotas?

– Meu nome é Twister, mas pode me chamar de seu, francesinha. E você, tem nome? – Antes que Bea pudesse responder, o tal Twister puxara a folha de horários de sua mão – Oh, certo. Sua primeira aula de hoje é História – Esticou a mão livre e tirou o livro de História dela de dentro do armário – Me agradeça mais tarde, por falar nisso.

– Te agradecer por chegar de repente, mexer nas minhas coisas e nos sufocar com o seu ego? – Beatrice perguntou com um tom de curiosidade e diversão na voz, enquanto fechava a porta do armário – E que tipo de nome é Twister? Vocês americanos são estranhos.

– Não é um nome, é um apelido – Twister respondeu como se fosse óbvio, e Beatrice se sentiu completamente burra depois disso. Claro, era mais do que óbvio que era um apelido. “Acostumar-se com brincadeiras” fez uma nota mental – Mas não gosto do meu nome, portanto você também não vai saber. E acho que você deveria ir porque a aula começa em... Dois minutos.

– Oh, é... Tá legal – Piscou algumas vezes. Twister era mesmo como o furacão do filme de Hollywood, em menos de três minutos de conversa havia deixado a ruiva completamente confusa. Quando percebeu que ele começara a andar, apressou seus passos para conseguir acompanhá-lo – Essa não é uma escola de garotas?

– É sim - Twister deu de ombros.

– Então...?

– Oh, só estou enrolando um pouco. A escola de garotos é o outro prédio, do outro lado do pátio. Vim fazer uma horinha por aqui, ver se achava alguma gata. Felizmente, cá estamos nós - Ele sorriu, recebendo um olhar de censura da nova conhecida.

– Estuda aqui há muito tempo? - Beatrice perguntou, tentando acompanhar os passos rápidos do garoto.

– É... Mais ou menos – Ele respondeu, com os olhos cerrados. Não tinha uma resposta pronta para isso – Eu estudei aqui por muito tempo, então fui morar com meu pai alguns anos e voltei agora para fazer o último ano aqui. Você veio da França mesmo ou...?

– Cheguei de Versailles há uma semana – Bea respondeu, seguindo o fluxo de alunos e virando a esquerda – Você deve conhecer bastante gente por aqui, estou certa?

– É, é, mais ou menos – Twister repetiu, e Beatrice não demorou a notar o incomodo dele em responder perguntas sobre sua volta a cidade – Todos são bem parecidos, sabe. Ricos, egoístas, mentirosos... Você vai se acostumando depois de um tempo com esse mundo sofrido do Upper East Side – Continuou falando, enquanto guiava Bea para a sala de História. Apontou algumas cadeiras vazias no canto da sala - Boa aula! - Disse antes de voar pelos corredores para o prédio da St. Jude's.

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Audrey tinha um sorriso de orelha a orelha quando o sinal da aula de Ciências Políticas terminou. Pegou seus cadernos, livros e anotações avulsas e as equilibrou com cuidado nos braços, antes de levantar. Deus, como ela tinha sentido falta da escola. Ela simplesmente adorava aquele lugar e não entendia como alguém conseguia desprezar um ambiente tão agradável. Audrey gostava da disposição dos tijolos nas paredes, do pátio amplo, da decoração victoriana, da dinâmica das aulas, das aulas, do ar, do refeitório...

– Ótima redação, Srta. Bass – Sr. Parker, o professor, disse enquanto ela se aproximava da porta – Não vou me arrepender de ter te colocado no Ivy Club.

Oh, o clube da Ivy League! Audrey arregalou os olhos quando ouviu o Sr. Parker dizer que ela estava dentro. Quando chegava-se no junior year, Sr. Parker e o professor de Economia, Sr. Ainsworth, escolhiam um grupo pequeno de alunos cujas notas e qualificações eram acima do normal, para uma orientação incisiva sobre ingresso na Ivy League. Teriam cartas de recomendação, conversas particulares com os reitores... Historicamente, todos que fizeram parte do clube receberam um convite na pré-seleção de alunos. E agora Audrey seria um deles.

– Muito obrigada, Sr. Parker! Eu garanto que não vou decepcionar! – Audrey alargou ainda mais o sorriso, e o velho Sr. Parker deu um riso abafado antes de dispensá-la.

Como se aquele dia pudesse ficar melhor. Audrey marchou para seu armário, guardando ali sua pilha de material, quando Angelique apareceu do seu lado.

– Você está viva?! – Audrey arregalou os olhos ao ver sua prima. Pelo menos ela sempre se referia a Angelique como prima, seus pais eram quase irmãos, mesmo. Os Bass-Archibald eram como essa grande, rica e estranha família.

– Aparentemente – Angelique respondeu rindo, antes que Audrey pulasse em cima dela num abraço estrangulador – Wow, Auds! – Abraçou-a de volta, entre risadas.

– Você sumiu completamente, não atendia o telefone, não respondia mensagens, seus pais me disseram que você viajou de repente! Angie, eu fiquei morrendo de preocupação – Audrey a censurou assim que soltou-se do abraço.

Angelique Archibald e Audrey Bass eram inseparáveis. Se fizéssemos uma adaptação para biologia, diríamos que é uma relação de mutualismo, aquela benéfica para ambos e que mata as duas espécies se quebrada. Por um instante, Angie só conseguia pensar como havia sobrevivido por quase três meses sem sua melhor amiga, e ainda mais do que isso, passando pela turbulenta fase que ela negava dizer que estava acontecendo.

– Foi mal, sweetie – Angelique voltou a si, desculpando-se no tom de que se seu sumiço tivesse sido algo completamente comum – Vamos comer alguma coisa? Eu vou te contando no caminho. Logo depois que as aulas acabaram, meus pais quiseram ir pras Maldivas em cima da hora, tipo, eles me deram uma semana pra fazer as malas.

– Uma semana?! – Audrey perguntou, abismada, enquanto andavam pelos corredores em direção do refeitório. Acenou para sua parceira de laboratório em Química, antes de voltar-se para Angie de novo – Nem o Henry arruma a mala tão rápido assim.

– Exatamente, foi o que eu disse! – Angelique bufou, balançando a cabeça negativamente – Mas enfim. Daí chegamos e você não acredita: Meu pai esqueceu de reservar as suítes presidenciais. Tipo, como? Ele nunca esquece de nada, mas ok, né, ficamos nas vice presidenciais mesmo. Tive que dividir o quarto com o meu irmão, tipo, eca – Fez uma careta, arrancando algumas risada de Audrey – Aí quando estávamos voltando, eles decidiram ir pra Milão e eu não tava muito a fim. Então eu e Dylan resolvemos fazer um cruzeiro que estava saindo de lá do hotel, dois meses pela América do Sul. Enfim, aí você nem imagina, meu celular caiu na água, e eu estava tão chapada o tempo inteniro que esquecia de comprar outro... Enfim, mas aqui estou eu, viva!

Angelique fez uma pose teatral, colocando as mãos na cintura. Audrey, apesar de estar rindo e achando engraçada a jornada de Angelique em suas férias, ela não podia deixar de ficar um tantinho chateada de ter sido deixado praticamente sozinha por três meses.

– Ei, vai ficar brava comigo até quando? – Angelique perguntou, fazendo uma carinha de cachorro caído da mudança enquanto entravam no refeitório.

– Eu não estou brava – Audrey respondeu, rindo levemente, enquanto se aproximava do buffet. Conseguia enxergar de longe o iogurte na grande mesa do lanche matinal, animando-se – E você tinha todo o direito de viajar, oras. É só que foi um saco, e olha que eu nem me importo muito com férias agitadas, você sabe. E... Não dá pra aguentar elas me seguindo quando você sai – Ela abaixou o tom antes de continuar, referindo-se às fiéis seguidoras de Angelique.

A Constance Billard School for Girls ainda funcionava exatamente da mesma forma que anos e anos antes. Você não precisava só do dinheiro, ou só do nome, você precisava do dinheiro, do nome e de um pouco de sorte pra fazer espaço ali.

Angelique e Audrey tinham tudo isso. O nome certo, a conta bancária muito cheia e os ventos soprando pro lado certo. Audrey nunca se importara com isso, esse tipo de espaço – o destaque na pirâmide social – nunca lhe fora muito relevante, ela apenas acabava seguindo o fluxo. Entretanto, para Angelique, tudo aquilo era muito importante. Então, ao contrário de Audrey, Angel usava e abusava das vantagens que tinha, monopolizando o poder e a influência entre a jovem elite de Nova York. E Tracy, Mia e Natalie – três garotas que não tinham o nome, mas tinham o dinheiro – eram como as assistentes pessoais de Angel, essa que recompensava em simplesmente dar a elas um lugar à volta da rainha.

Parecia uma relação de ganho pra todo mundo, não?

– Falando nelas, por onde será que minhas minions estão? – Angelique se perguntou, enquanto colocava alguns pedaços de melão no seu prato – Preciso que alguém marque horário no hairstylist pra mim. Não faço uma hidratação há séculos.

– Você não pode ligar sozinha? – Audrey arqueou uma sobrancelha, pegando o pote de iogurte grego e uma colher de plástico, antes de sair da fila.

– Se eu fizesse, não seria eu. Você tem que aprender a delegar tarefas um pouco mais, Auds, vai ver como a vida fica mais fácil!

Audrey balançou a cabeça negativamente, enquanto as duas caminhavam para o pátio externo. Era grande, arborizado, e melhor de tudo: Era a única área conjunta de alunos da St. Jude’s School for Boys e da Constane Billard School for Girls.

– Ricos, bonitos, importantes e vestindo um blazer azul marinho e calça cáqui. Quero dizer, isso deveria ser um crime – Angelique mordeu o lábio inferior, expressando sua óbvia satisfação em ver os garotos – Tinha esquecido de como eles podem ser uma alegria pro dia e... Oi, Connor! – Acenou para um ruivo, antes de dar uma piscadela para ele. Audrey nem precisou olhar pra trás pra imaginar que ele havia acabado de derreter no lugar.

– Eu soube que Riverside está com garotos interessantes esse ano – Audrey comentou, enquanto sentavam-se à uma das mesas de pedra do pátio e abria seu iogurte.

Riverside? – Angelique fez questão de não esconder o desgosto em pronunciar o nome da outra escola preparatória para garotos do Upper East Side – Sério? Que queda de nível, Auds, Riverside é tipo a Beyoncé deixar o Jay-Z pelo Kanye West, tipo, eca.

Audrey ia responder quando viu ao longe, uma figura loira cruzar o pátio, como se nem tivesse as visto ali. Claro que ela sabia que o garoto havia visto muito bem que elas estavam ali e fizera sua melhor expressão “eu sou bom pra caralho”.

– Como vocês estão? – Audrey perguntou devagar, antes de dar uma colherada no iogurte.

– Não estamos. Não falei com ele desde que aconteceu.

O fatídico térmico de namoro entre Trevor Baizen e Angelique Archibald, o que Audrey listava como o principal motivo para o sumiço de Angel. Por mais que Angelique não admitisse para Audrey e tivesse dito que o namoro já ia de mal a pior mesmo, a Bass sabia que não era bem assim. Sabia que Angel era perdidamente apaixonada pelo grande idiota do Trevor Baizen, mesmo ele sendo um grande idiota que terminou com ela de uma hora pra outra.

– Seu irmão tinha razão – Angelique continuou, dando de ombros – Ele disse que Trevor queria a catapulta pro topo da pirâmide. Odeio quando Henry está cert-

– Angel, minha querida.

As duas estavam tão concentradas na conversa – Angelique em agir como se aquilo não fosse nada e Audrey em fingir que acreditava – que nem perceberam que o assunto em questão havia aparecido na mesa delas.

– Baizen – Angelique sorriu, e Audrey ficou impressionada por um minuto. Ou Angelique realmente não se importava, possibilidade difícil, ou as habilidades de atuar dela realmente não devessem ser questionadas – Mas, tão cedo pedindo pra voltar?

– Você bem que queria, não é? – Trevor sorriu, inclinando-se na direção das duas – Olá, Audrey.

– Trevor – Audrey respondeu, observando-o com seriedade – Precisa de alguma coisa?

– Só da sua amiga aqui. A chave da minha casa, por favor? A ideia de ex namoradas invadindo minha residência e escrevendo “seja meu” com sangue de porco na minha parede me deixa meio assustado.

– Alguma coisa acontecendo por aqui, Trev?

Uma mão pesada foi parar no ombro de Trevor, que respirou fundo e se afastou da mesa. Atrás dele, estavam parados Henry Bass, Dylan Archibald e Evan Lennox, trajando seus uniformes da St. Jude e seus melhores olhares intimidadores na direção de Baizen.

– Wow, Trev, a cocaína afetou seus ouvidos também? Eu perguntei se alguma coisa está acontecendo por aqui – Henry, o dono da primeira pergunta, a repetiu de forma tão amigável quanto, com um sorriso azedo no rosto.

– O que você tá fazendo aqui, Henry? – Trevor perguntou, visivelmente desconfortável e intimidado – Achei que já tivesse caído fora da St. Jude’s.

Dylan parecia muito divertido com toda aquela situação, e sua tentativa de segurar a risada era evidente.

– Não que seja problema seu, mas cá estou eu mais um ano. Então eu recomendo que você vá dar uma voltinha e fique lá até o inferno congelar, estamos entendidos? – Henry intensificou o aperto no ombro de Baizen. O sinal do fim do intervalo tocou, e a movimentação para as salas se iniciou – Jesus, assustar esse cara é muito fácil. Que perdedor. Enfim, vejo vocês depois da aula.

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Quando o sinal tocou, declarando o fim do primeiro dia de aua, Dylan cogitou passar na capela do colégio e deixar um agradecimento especial a Deus. Porque ele sinceramente achou que aquele dia nunca fosse terminar. Os primeiros dias eram sempre mais difíceis, pareciam mais longos e excruciantes do que o normal – e o normal já era demais pra alguém como ele.

Francamente, ele era hiperativo e tinha déficit de atenção. Passar seis horas sentado numa cadeira com um livro na mão era submetê-lo às técnicas de tortura mais intensas.

– Tchau, Sra. Millstone. Tenha um bom dia!

– Oh, tchau, Sr. Archibald! – Sra. Millstone, a velha professora de estudos sociais, exclamou surpresa. Uma despedida tão educada não era comum. Entretanto, o mais novo dos Archibald, em suas inúmeras aulas de etiqueta, havia aprendido que nunca se sai de uma sala sem se despedir de todos que estão nela – Tenha um bom dia você também! – Ela sorriu docemente enquanto ele saía da sala.

Dylan tinha esse efeito. Arrancar os sorrisos doces, suspiros açucarados e comentários cheios de frescuras e fofuras. Algo na sua educação e simpatia natural que simplesmente agradava e muito a qualquer um. Aliás, eram essas que comumente tiravam Dylan – e seus amigos, principalmente Henry – de encrencas.

Já do lado de fora, no pátio entre a Constance e a St. Jude’s, Dylan tomou uma longa lufada de ar, sentindo o cheiro dos pinheiros do jardim e do escapamento dos carros. Uma mistura agradável e que lhe lembrava casa. Com a mochila pendurada em um ombro, saiu pelo portão sorrindo para os colegas de escola, começou a fazer seu caminho para casa.

Todas as crianças da St. Jude’s-Constance faziam mais ou menos o mesmo caminho pra casa. Só havia uma área realmente feita para a elite de Manhattan e sua extensão pequena não permitia que eles pensassem em dezenas de atalhos diferentes. Então era sempre o mesmo caminho, sempre encontrando conhecidos no meio e parando pra uma conversa.

– AJ!

Ah, está aí outra coisa que o lembrava casa. Ou melhor, outra pessoa.

A garota virou-se, com um olhar de censura no rosto. Às vezes ele esquecia o quanto ela odiava o apelido. AJ. A maioria das pessoas não devia nem saber, e quem sabia nem se lembrava, que o nome do meio de Audrey Bass era Joanna. Talvez porque ela nunca dissesse isso pra ninguém e escondesse a sete chaves?

– Dylan!

Convivendo tanto tempo com Audrey, Dylan percebeu que ela tinha um tipo de “Dylan!” para cada situação. Tinha aquele que era o mais comum, pra fazê-lo parar de fazer alguma coisa que a estava irritando. Tinha aquele que era o incerto, quando ela estava procurando por ele. Tinha aquele outro que era quando ela estava cansada demais pra discutir. E tinha esse, que era completamente diferente.

E estranho. Principalmente quando ela enroscou os braços no pescoço dele, abraçando-o.

– Ahn – Dylan sibilou confuso, antes de envolver o pequeno corpo de Audrey em seus braços e enterrar seu rosto na curva do pescoço dela. Assim ele parecia enorme, apesar de ser relativamente baixo – Que é isso, AJ?

– Ah, eu só... Não sei, vocês sumiram e... – Quando Audrey lembrou-se que ainda estava abraçada à Dylan, tratou rapidamente de soltá-lo, desconfortável, e arrumar sua roupa novamente.

Dylan podia contar nos dedos quantas vezes havia sido abraçado por Audrey. Uma quando sua avó havia ficado doente – uma forte pneumonia – e Audrey veio prestar solidariedade. Claro que estava tudo relativamente bem com Lily van de Woodsen e a velha não bateria as botas nem em um milhão de anos, mas Dylan não reclamou quando ela veio abraçá-lo e dizer que podia contar com ela.

Depois, no Natal. Ele não se lembrava muito bem porque, mas ela abraçou.

E ali, no meio da Lexington Avenue depois de ficar exatos três meses sem nem verem a sombra um do outro.

– Desculpa, eu não quis...

– AJ, você me deu um abraço. Não me molestou. Easy there – Dylan brincou, apenas pela diversão do que viria depois. Um forte rubor no rosto de Audrey. Ah, ele vivia por esses momentos para constrangê-la – Mas e aí, eu ganhei até um abraço, foi saudade, é?

– Meu nome é Audrey – Ela corrigiu, como se estivesse se apresentando pela primeira vez pra ele. Dylan rolou os olhos – Eu só estava preocupada com o que podia ter acontecido. Sua irmã não deu notícias e você, bem, como sempre, você foi um irresponsável...

– Meu Deus, como você é chata, AJ – Dylan rolou os olhos, antes de passar um braço pelo ombro dela – Ficou mais chata nessas férias?

– Ai, Dylan, se liga, vai! – Audrey reclamou, desvencilhando-se do braço de Dylan e seguindo Lexington Avenue abaixo, na direção de sua casa. E Dylan sorriu, encarando as costas da garota Bass, antes de apressar o passo para alcançá-la.


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Notas finais do capítulo

A Gossip Girl já aparece super ousada no próximo capítulo! Então, reviews, por favorzinho? Vão me deixar muito feliz. Beijos s2s2