– Sim moça a minha casa foi invadida e minha filha mais nova foi sequestrada... Não! Eles não levaram mais nada, só a minha filha, por favor, venham o mais rápido possível. Obrigado!

O senhor Cantbell desligou o telefone apreensivo.

– O que eles disseram querido?

– A policia não vai demorar, pelo menos foi o que a atendente me garantiu.

Elisa estava inquieta, ela não podia acreditar que deixara sua irmã ser levada debaixo do seu próprio teto, em parte ela se sentia culpada por ter deixado Lucy sozinha, ela não podia simplesmente sentar e esperar que a policia resolvesse tudo. Quanto mais tempo passava, mais Lucy ia se afastando.

– Elisa! Aonde você...?

A senhora Cantbell não teve tempo de completar a pergunta, pois Elisa já tinha saído correndo pela porta.

Elisa havia chegado na floresta e enquanto corria não parava de pensar em Lucy, ela havia prometido que iria protegê-la e não podia falhar. Depois de passar um tempo correndo, Elisa encostou em uma árvore exausta, ela olhava para aquelas árvores, mas não conseguia enxergar direito devido ao fato de ainda estar de noite, as únicas luzes que ela tinha era o brilho da Lua Cheia e um distante ponto brilhante que era a sua casa, graças a luz que provinha dela, Elisa ainda conseguia enxergar claramente tudo a sua volta, mas agora que estava tão distante de casa, ela só conseguia ver algumas silhuetas.

– Droga! Sai tão apressada que me esqueci de pegar a lanterna, como vou achar a Lucy nessa escuridão?

Para piorar ela também começou a sentir muito frio, numa tentativa frustrante de tentar se manter aquecida, ela começou a esfregar os braços contra o corpo e pôs-se a caminhar.

Por mais que chamasse pela irmã, ela não obtinha nenhuma resposta de volta, tudo que ouvia era o barulho dos grilos, das cigarras, o piar das corujas e o som do vento batendo na copa das árvores, alem é claro do estralar de galhos debaixo dos seus pés.

Elisa estava quase se dando por vencida, ela tinha certeza de que não obtivera nenhum progresso ao ver pela terceira vez uma árvore que havia marcado antes para não se perder, ela não fez nada alem de andar em círculos, estava completamente perdida. Ela teve vontade de chorar, porem suas esperanças voltaram quando ao longe viu um clarão bastante convidativo, ela foi se aproximando curiosamente ate chegar numa fogueira acesa, Elisa não sabia quem a havia feito, pois não havia ninguém lá. A fogueira era bastante vigorosa e o fogo estralava com alegria naquela noite escura e fria, Elisa não conseguiu resistir a tentação e aproximou-se dela esticando os braços e esfregando as mãos para se aquecer, milagrosamente ela sentiu as forças se renovarem, quando já estava bem aquecida, pegou um grande galho e queimou a ponta dele no fogo, assim alem de ter algo que iluminasse seu caminho, ela ainda teria o fogo para mantê-la aquecida, era bom demais para ser verdade, foi então que se perguntou se aquela fogueira não havia sido feita pelos seqüestradores de Lucy e decidiu esconder-se e esperar um pouco para ver se alguém aparecia. De repente ela começou a ouvir uma canção muito bonita, era como se milhares de vozes estivessem cantando juntas sem perder o compasso da música, Elisa não entendia o que estava sendo cantado, mas aquela musica animou-lhe o espírito e deu-lhe uma forte sensação de paz. Ela decidiu procurar a origem de tão doces vozes e para sua surpresa encontrou uma menina de costas, usando um vestido branco e uma coroa de flores, seus cabelos estavam soltos e eram loiros e ela tinha mesma idade de Lucy.

– Lucy?

Perguntou com os lábios tremendo e o coração batendo forte, a menina virou-se para ela e sorriu, seus olhos eram verdes claros e ela possuía uma pinta no canto direito do lábio superior, seu rosto era angelical e iluminado, então Elisa percebeu que não era Lucy, ela suspirou desanimada, porem a desanimação logo foi substituída pelas duvidas, quem era aquela menina e o que estava fazendo nesse lugar?

– Desculpe por desapontá-la, eu te fiz achar que era sua irmã, verdade? Desculpe-me não tive a intenção.

Elisa olhou espantada para ela, como sabia sobre Lucy? Quem era aquela menina?

– Sei que você tem muitas duvidas e se eu pudesse respondia todas com o maior prazer, mas não temos muito tempo, você precisa se apressar e alcançar sua irmã.

– É verdade! Você sabe para onde eles foram?

– Sim.

A menina apontou com o dedo a direção.

– Eles não estão muito longe, mas se considerarmos que aquele ser pode se tele transportar, vai ser difícil alcançá-los.

– Eu tenho que correr, preciso salvar Lucy!

Elisa já ia começar a correr quando a menina falou:

– Pare Elisa Cantbell!

E na mesma hora Elisa parou, não de forma espontânea, mas como se suas pernas não pudessem deixar de obedecer o pedido daquela voz que soava tão doce e delicada mas que ao mesmo tempo emanava poder e autoridade. Elisa virou-se ainda mais assombrada para olhá-la.

– Elisa não sai tão apressada como saiu de sua casa por achar que a policia não seria rápida e eficiente o bastante, se não fosse a fogueira você já teria caído desmaiada de exaustidão no meio dessa floresta.

– Co-Como você sabe meu nome e tudo isso sobre mim? A fogueira, foi você quem...?

A menina sorriu e toda vez que ela o fazia tudo a sua volta parecia iluminar seu sorriso era puro e encantador.

– Foi Ele quem abençoou o fogo com Seu Espírito e nos pediu que a guardássemos você não se sentiu mais fortalecida quando esteve se aquecendo nele? Então! Nós achamos que seria a melhor forma de ajudá-la e agora ele irá guiá-la na sua busca.

Ela apontou para a tocha improvisada que Elisa havia criado. Elisa não conseguia conter as lágrimas de emoção.

– Venha aqui pequenina.

Parecia ironia uma criança chamar assim Elisa, porem ela sentia um profundo respeito que emanava da menina, Elisa não conseguia explicar todos aqueles sentimentos, ela apenas sentia e mergulhava neles. A menina colocou as mãos na cabeça de Elisa, ela teve de se ajoelhar para que aquelas pequenas mãos pudessem alcançá-la. A menina falava numa língua que Elisa não conhecia, mas ao ouvir aquelas palavras, ela sentiu algo quente como se um óleo estivesse sendo derramado por seus cabelos e escorresse em sua testa, apesar de sua testa estar completamente seca, ela ainda sentia um cheiro de ervas perfumadas, havia uma nova força em seu espírito, ela sentia força, coragem, sabedoria, discernimento e paz. Assim que terminou de falar, a menina pediu para que Elisa se levantasse.

– Está pronto! Você vai ter uma difícil batalha e muito sofrimento pela frente, mas não temas! Lembre-se de que nós estaremos sempre com você.

– Eu-Eu não sei como agradecer por tudo.

Elisa falava emocionada.

A menina sorriu.

– Vá agora.

Elisa concordou com a cabeça e já ia começar a correr, porem ela lembrou-se de algo que queria perguntar, mas quando virou-se a menina não estava mais lá, Elisa se perguntou se tudo aquilo não passava de um sonho ou uma alucinação pois fora tão estranho aquele encontro, ela ainda pensou em procurar a misteriosa menina, mas era inútil e no momento não valia a pena pois Lucy era algo mais urgente, quando Elisa ia continuar, ela pode perceber algo que não havia notado antes, no lugar em que a menina estava havia uma pena branca no chão.