''Mais uma criança desaparecida.''

Era o que se lia e ouvia em todos os jornais. Ninguém sabia o que estava acontecendo. O porquê e quem era o sequestrador. Todos os pais estavam bastante apreensivos e devido a isto não davam tanta liberdade para os filhos passarem mais tempo fora de casa, afinal, ninguém queria que suas crias fossem as próximas vítimas.

– A polícia ainda não conseguiu encontrar o verdadeiro criminoso, contudo parece que encontraram alguma pista, certo policial Robson?

O repórter vira-se para um policial que estava do lado dele e aproxima o microfone de sua boca para que o som da voz saísse bem audível.

– Sim, é verdade. Nossas patrulhas foram informadas de que houve um possível sequestro nessa casa.- O policial aponta para a casa verde que estava atrás deles. - Em nossas investigações conseguimos encontrar algo que supostamente poderia pertencer ao sequestrador.

O policial retira um saquinho transparente do bolso com um pedaço de pano preto dentro dele.

– O que é isso?

Perguntou o repórter. A câmera deu um zoom no saquinho.

– Isso é um pedaço de tecido e parece pertencer a um terno.

– Quer dizer que o sequestrador usava terno?

– Não podemos tirar conclusões precipitadas, em todo caso, isso será levado para analise em laboratório como prova.

– Hum...certo e a família da vitima?

– Ao que parece este casal tem duas filhas pequenas e uma delas foi levada embora.

– Isso é mesmo terrível! Nenhum pai e mãe merecem passar por um sofrimento desses!

– Sim! É por isso que estamos nos esforçando o máximo possível para pegar o responsável.

– E esperamos que obtenham sucesso, obrigado pela usa atenção policial Robson.

– Disponha.

Agora a câmera focava diretamente para o rosto do repórter.

– Aqui encerro essa entrevista, agora passo a palavra para vocês Luciana e Henrique.

– Muito obrigado Fábio.

Responderam os apresentadores do jornal. O apresentador Henrique segue com a matéria.

– E daqui a pouco em entrevista inédita com a família da vitima e com sua irmã que afirma ter visto o sequestrador levar a irmã. O que sua valiosa informação irá nos trazer? Será que descobriremos a verdadeira identidade do sequestrador? Não perca! É daqui a pouco depois dos nossos comerciais.

– Aff que chatice!

Resmungou uma garota toda esparramada no sofá.

– Elisa! Por favor sente-se direito, assim você vai acabar bagunçando o sofá que eu acabei de arrumar!

– Desculpe mãe.

Elisa aprontou-se a sentar como gente.

– Assim esta melhor! Antes você estava deitada igualzinho ao nosso gato Borris. Hi, hi, hi,hi.

– Ah mãe! Também não é pra tanto...

– Esta vendo o jornal?

– Sim! Parece que eles tem informações sobre o sequestrador.

– Que ótimo! Será que o pegam dessa vez?

– Todos esperam isso.

De repente uma vozinha de criança é ouvida gritando dentro da cozinha.

– Mamãe vem logo! A senhora me prometeu que ía me ajudar a fazer brigadeiro!

– Oh desculpe Lucy eu já estou indo!

A mãe sai da sala e vai em direção a cozinha, mas antes fala com Elisa.

– Eu vou fazer o brigadeiro da sua irmã e depois você me conta o que passou no jornal.

– Ok!

Na TV ainda passavam aqueles comerciais chatos que ninguém se importa. Finalmente o jornal voltou a passar.

– Ah! Até que enfim!

Os jornalistas falam sobre um monte de matérias como esporte, cultura, crimes, politica, corrupção até finalmente irem para a matéria mais importante. A imagem da TV muda para um casal sentado em um sofá, seus rostos e vozes foram distorcidos para não serem reconhecidos e havia uma legenda embaixo. Um entrevistador estava sentado em outro sofá de frente para eles.

– Estou aqui com a família da vitima e primeiramente gostaria de dar todo nosso apoio para este momento de dor que estão passando, porque não é nada fácil, só quem sabe a dor de perder um filho consegue entender melhor o sofrimento de vocês e também gostaria de agradecer por terem concordado em participar dessa entrevista.

– Tudo bem, obrigado pelas palavras de consolo.

Respondeu o pai, a mãe chorava muito e segurava um lencinho de seda para enxugar as lágrimas, ela não tinha condições de falar, por isso, o pai teve que responder as perguntas.

– Quantos anos tem as suas filhas?

– Temos uma de 5 chamada Emily e outra de 6 chamada Lisa. Foi a Emily que foi tirada de nós.

– Entendo. E como eram suas filhas?

– Normais, iam na escolinha, eram saudáveis, brincavam como qualquer outra criança. Elas eram adoráveis, sabe?

– Sim, alguma vez elas já falaram sozinhas com algum estranho?

O pai parou um pouco pra poder pensar melhor.

– Hum não, somos pais muito zelosos e não deixamos nossas filhas sozinhas por aí, principalmente com esse grande número de sequestros, mas...

– Mas?

– Começamos a notar um comportamento estranho nelas, principalmente na Emily, elas quase não falavam conosco e tinham muitos pesadelos a noite e diziam que era um tal de ''senhor Alto'' e que iria leva-las embora e coisas assim, sabe? Achamos que fosse apenas imaginação delas, mas as coisas foram ficando mais estranhas, elas começaram a fazer desenhos de árvores com um homem extremamente alto no meio delas, como esse aqui.

Ele pega um desenho conforme a descrição e mostra ao entrevistador que olha para o desenho um pouco nervoso e depois o desenho foi passado em tela cheia na TV para que os espectadores pudessem vê-lo.

– É meio perturbador.

Falou o entrevistador.

– Sim é sim.

O entrevistador agradece a entrevista e os jornalistas preparam-se para a última e mais importante parte da matéria, a entrevista com a irmã de Emily, Lisa. Mas antes é claro, tiveram que passar os comerciais.

– Ah não! Logo quando tava ficando mais interessante.

Resmungou Elisa.

– O que você tá vendo irmã?

Perguntou uma menininha com as mãos e boca suja de brigadeiro.

– Jornal.

– Ah, que chato! Quero ver desenho!

– O jornal já tá quase acabando Lucy, depois eu coloco seu desenho.

– Promete?

– Prometo!

– Oba! Olha mamãe disse que era pra eu dar esse pratinho de brigadeiro pra você.

– Obrigada!

Elisa pegou o brigadeiro, ainda estava quente. Lucy saiu de lá cantarolando e rodopiando. O jornal havia voltado e dava sequencia com a entrevista com Lisa. Ela estava sentada abraçando um ursinho de pelúcia e dessa vez quem fazia a entrevista era uma mulher.

– Então querida, pode nos contar o que aconteceu com sua irmã?

– S- Sim.

Ela respondeu timidamente.

– Que bom querida! Fico muito feliz, você é uma garotinha bem corajosa!

Lisa pareceu gostar do elogio e foi se sentindo mais confiante.

– O-Obrigada.

– De nada meu bem, agora me diga como sua irmã desapareceu.

– Foi o senhor Alto!

– Senhor Alto?

– Sim! Nós o vimos e ele parecia bem legal, disse que queria cuidar de nós e nos proteger porque esse mundo é muito malvado.

– Foi o senhor Alto quem disse que esse mundo é muito malvado?

– Foi!

– E o que mais ele disse?

– Disse que queria que fossemos com ele para uma Terra de Sonhos e Encantos e que lá também haviam outras crianças para brincar e que viveríamos felizes para sempre e...

Lisa parou de falar.

– Por favor continue flor.

– Eu...eu tinha medo, mas Emily parecia gostar dele, ela o abraçou e segurou na mão dele, o senhor Alto estendeu a outra mão para mim e eu senti que ele estava sorrindo, mas tive medo e fugi, a ultima coisa que vi foi Emily e ele caminhando juntos de mãos dadas em direção a floresta e depois desaparecendo.

– Você fez muito bem em ter fugido, mas por que o fez?

– Mamãe e papai sempre nos disseram para não falar com estranhos, mas o senhor Alto era diferente, ele parecia bem legal, mas eu não me sentia bem perto dele e também não queria ter de deixar a mamãe e o papai.

– Entendo e como é esse senhor Alto?

– Muito alto e com braços e pernas compridos e se veste igual ao papai quando vai trabalhar, mas a parte que mais me dava medo era que ele não tinha rosto.

– Sem rosto?

– Sim! Era branco como um borrão.

– Poderia ser só uma mascara flor.

– Não! Ele não tinha rosto!

– Esta bem flor, fico muito feliz por ter me contado tudo isso, você é de fato uma garotinha corajosa e esperta.

A menina sorriu e começou a brincar com o ursinho. Após o termino da entrevista, os jornalistas despediram-se dos telespectadores e encerraram o jornal.