Kate

Já era o meio da manhã. Após a minha conversa com Aiden acabei voltando para o Complexo da Audácia. Claro que essa noite eu não dormi, mas uma noite a menos ou a mais há diferença, pelo menos não para mim. Quando voltei de madrugada dei uma passada na sala de controle, as coisas já tinham começado a se acalmar. O sistema foi reerguido.

Peter tinha pedido para mim cuidar do envio dos guardas para o Complexo da Erudição, conversei com Julian e ele enviou metade dos encarregados da patrulha da cerca para a Erudição. Devido aos inúmeros problemas causados pela derrubada do sistema, Peter me dispensou da iniciação. Hoje Sam estaria por conta própria.

Estava no meu escritório, vendo os relatórios que me enviaram do novo sistema instalado hoje de madrugada. Vejo que em um dos relatórios do sistema há um vídeo de uma das câmeras de segurança do Complexo da Erudição. O horário marcado no canto da tela indica que nesse momento a reunião de hoje de madrugada dos líderes já havia começado. Vejo alguém vestindo preto da Audácia entrando no hall principal, o sujeito vai até um dos computadores que estava ali e começa a digitar algo. Lembro-me de ter visto hoje de madrugada, mas com os inúmeros problemas que havia na cabeça, acabei esquecendo.

Ao terminar de ver toda a gravação, desligo a tela do meu computador e saio da sala. Ao chegar no Fosso, encontro-o conversando com alguns iniciados. A prova de sua desobediência está na cara, seus olhos estão marcados com olheiras enormes.

– Thomas, minha sala, agora! - Falo ao chegar mais perto do grupo.

Thomas sem objeção me segue e subimos juntos até o andar das salas dos líderes. Abro a porta da minha sala e ele entra junto comigo.

– Você pode me explicar o que é seria isso? - Pergunto para ele virando o monitor do meu computador que estava com a gravação.

– Desculpa, Kate! Mas eu sabia como reerguer o sistema da Erudição... - Ele começa a falar mas eu interrompo

– Você não pertence a Erudição! Você é Audácia agora! Facção antes do sangue! - Falo o reaprendendo

– Sobre isso, eu preciso de contar uma coisa - Ele começa

– Estou ouvindo.

– Ontem quando eu fui até o complexo da Erudição, Norton veio falar comigo - Sinto meus músculos ficarem tensos - Quando tinha uns quatorze anos, eu trabalhava como estagiário no laboratório de soros e eu era muito bom. Em um dos meus experimentos criei a arma que Norton queria.

– A arma que identifica e mata DVs - Completo

– Então você sabe que Norton me quer de volta - Fala ele

– Sim, ele mesmo me falou... Mas mesmo assim eu fico feliz que você tenha me contado.

– Norton me deu a chance de eu ajudar ele em vez de ser vítima da minha própria criação. Ele me deu dois dias para me resolver - Ele me fala

– Norton sabe jogar bem esse jogo que ele inventou. Não desconfio que ele sabia que sou uma dos cinco - Falo

– Ele provavelmente sabe, ele sabe que sou Divergente. - Fala ele.

– De qualquer maneira, se ele não sabe o que sou ele irá descobrir - Falo dando a volta na minha mesa, abri uma das gavetas e tirei a caixinha que Norton nos deu na reunião de madrugada e dei para ele.

Ele abriu a caixa e olhou que tinha dentro, examinou a ampola com soro com cuidado. Após longos minutos examinando, fechou a caixa deixando, apenas, a ampola com um soro de coloração azul escura.

– Isso - Apontou para o soro - É uma variação de minha arma. Provavelmente vai descobrir o código do indivíduo que o usar. Também irá matar o indivíduo que for Divergente se for fraco. Se tiver aptidão para duas Facções, por exemplo.

– Qual é a diferença entre esse e a arma original? - Pergunto

– A diferença é que a minha arma é possível testar o DVs e ver o quão poderoso ele é e também quando aplicada em pessoas "normais", apesar no início não acontecer nada ou também pode não acontecer nada com ela em efeito de longo prazo. Mas ela estará sujeita de seu livre arbítrio ser retirado. E por fim em Divergentes com aptidão para três facções ou o indivíduo morre ou vira um escravo sob influência do soro.

– Mas como isso desvenda os códigos?

– Os códigos, no início, era um controle populacional. Mas depois que Jeanine percebeu que podia usá-los para marcar Divergentes e DVs, eles estão ligados ao DNA da pessoa. Cada pessoa tem um DNA diferente, portanto um código diferente. Jeanine descobriu que o DNA dos Divergentes e DVs tem uma diferença, mas não sei qual é. Na verdade nem Norton sabe, de qualquer forma, isso não interessa para ele.

Senti meu rosto formigar. Thomas tinha dado de bandeja o que Norton e os seus seguidores malucos da Erudição precisavam. Queria bater nele por isso. Mas não podia culpa-lo por isso.

– Quero muito bater em você - Falo

– Eu sei, sua cara diz tudo. As vezes sinto assim também em relação a isso.

– Mas o que eu faço em relação a isso? - Pego a ampola de sua mão.

– Não aplique! Por favor não faça isso! O soro não irá matá-la, mas Norton vira atrás de você!

– Norton irá aplicar esse negócio a força se eu não o fizer!

– Eu sei disso... Por acaso a Audácia não tem um laboratório, tem? - Ele pergunta

– Um laboratório como na Erudição não, mas temos um - Falo

– Por que a Audácia teria um laboratório de química? - Pergunta

– Temos um laboratório de criação de armas e também um de criação de munição. Para manipularmos a o conteúdo interno das balas precisamos de um laboratório de química. - Falo

– Se tirarmos os transmissores do soro, não aparecerá seu código para Norton, somente aparecerá que você aplicou o soro e que você supostamente é um indivíduo "normal" - Ele explica

– Você consegue fazer isso? - Pergunto

– Sim, talvez - Fala

– Ótimo! Me encontre aqui de noite.

+++

Após Thomas sair da minha sala, fui para sala ao lado falar com Peter. Ele estava lá, digitando algo em seu computador. Quando bati a porta, ele tirou os olhos do computador.

– O que foi, Kate? - Fala ele

– Eu preciso te dizer uma coisa - Comecei

– Então fale!

– Depois da reunião, Norton conversou comigo. Ele disse que quer um iniciando que foi transferido da Erudição. É o garoto que ficou em segundo lugar nas ultimas colocações, Thomas para ser mais específica.

– Eu sei de quem você está falando. - Ele se levantou da cadeira e parou na minha frente.

– Queria saber o que você acha sobre isso.

– Bom, nós dois sabemos que se aprovarmos isso ou não, Norton terá o iniciando. A Audácia se comprometeu a ajudar a Erudição do jeito que der, você sabe disso!

–Claro que sei! Graças aquele contrato de aliança que você assinou sem mim! - Falei com raiva na voz. Sinto meu rosto esquentar.

– Eu sei que você está brava com isso mas...

– Mas o que Peter? Você não percebe que nós dois somos apenas peças no grande jogo que Norton criou? E agora que ele está mais perto do que nunca para conseguir o que quer, ele fará o que for possível e o impossível! Incluindo me matando! - Falo

– O que você fez? - Ele pergunta

– O que você fez, não é a pergunta apropriada para isso. Seria "O que eu sou?" Eu sou uma dos cinco DVs....

Em um movimento rápido, Peter tapou minha boca com uma das mãos e com a outra colocou encima do nariz e do lábio, sinalizando silêncio. Ele retirou o dedo da frente dos lábios e apontou discretamente para o canto da sala onde havia uma câmera de segurança.

– Eu sei o que você é! Tenho conversado com sua mãe sobre isso, percebi que você estava agindo estranha, concordando com os termos de Norton. Achava que você tinha deixado de ser rebelde mas percebi que você tinha um propósito maior. - Ele falou entre sussurros.

Peter e minha mãe? Conversando na boa? Se estivesse em outra situação até riria mas não consigo rir agora. Então Peter sabia. Não sabia como eu me sentia sobre isso.

– Eu acho que você deixou de ser um pouco mala, Peter - Falo em um tom de voz normal

– Obrigado, eu acho.... Kate, escute: não há muito o que fazer sobre isso. Sabemos que Norton é mais esperto do que nós e precisamos ter cuidado. Não adianta ficar brava comigo, você sabe - Ele fala

Talvez Peter estivesse um pouco errado. Se tivermos um aliado a altura de Norton, talvez conseguiríamos impedir essa chacina. Eu sabia quem poderia ser esse aliado. Mas a aliança com essa pessoa tinha um alto preço junto. Um preço que não sei se estou disposta a pagar.