Alleine In Die Nacht escrita por Maty


Capítulo 36
Capítulo 36 - Perdão




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    Os papéis estavam assinados, a permissão concedida e neste exato momento Arabella, minha irmãzinha que eu há tanto tempo não via, estava em algum lugar dentro daquela enorme construção arrumando suas malas. Eu tremia inteira e não sabia se era pelo nervosismo ou pela temperatura abaixo de zero.

    Olhei para aquele ser andrógino e estranho parado impacientemente do meu lado. Lembrei-me de tudo que ele havia feito para me trazer até aqui, todas as vezes que bateu na porta de casa, me seguiu até a escola dos meus filhos, supermercados, shoppings... Sorri. Ainda tinha minhas dúvidas se tirar Arabella da clínica antes do tratamento estar completado era uma boa idéia, mas pelo menos eu sabia que ele estaria cuidando bem dela.

-Está nervosa? – perguntou-me sorrindo. Devido ao frio seu nariz estava avermelhado e fumaça saia de sua boca ao falar. Ele ficava encantador dessa maneira. – Por que eu estou muito nervoso.

-Estou com medo. – confessei. – Como acha que ela irá reagir?

-Se fosse você não me preocuparia. O mundo está cheio de pessoas rancorosas que são incapazes de perdoarem quando machucadas, você tem sorte por precisar do perdão de uma das únicas pessoas que eu conheço que está sempre disposta a perdoar não importa o quanto foi machucada.

    Respirei fundo. Arabella era muito risonha quando era criança e eu me perguntava se isso tinha mudado, questionava-me se ela estaria reconhecível aos meus olhos, se eu ainda encontraria aquela mesma pessoa que eu deixei para trás alguns anos atrás. Observei o enorme Audi de Bill, estacionado logo atrás de nós. “ Pelo menos dinheiro não vai faltar. “ pensei, uma preocupação a menos.

    Bill soltou uma pequena exclamação de felicidade quando a porta se abriu e uma Arabella completamente agasalhada com um sobretudo vermelho e um cachecol branco saiu pela porta acompanhada de uma enfermeira. Algo em meu peito pareceu dar uma cambalhota e eu senti como se fosse vomitar. Observei em silêncio enquanto ela se aproximava, Bill deu alguns passos á frente e pegou a mala de sua mão.

-Finalmente... – sussurrou contentíssimo, depois depositou um beijo carinhoso em sua testa. – Vou esperar no carro. – dessa vez ele se dirigiu á mim.

      Mal podia acreditar que era Arabella á minha frente. Não por que ela estava muito diferente, na verdade estava ainda muito parecida desde a última vez que a vira, mas por que eu já tinha me acostumado com a idéia de que nunca a veria novamente. Houve um curto silêncio, eu esfregava minhas mãos nervosamente uma na outra.

-Olá! – Arabella exclamou e para meu espanto sorriu logo após. De todas as reações, essa era a que eu menos esperava. Bill estava certo quando me disse que ela sabia ser imprevisível.

-Oi. – respondi, diferente dela ainda insegura e envergonhada. É difícil encarar nos olhos uma pessoa que machucou tanto.

-Você está diferente.

-Ainda se lembrava do meu rosto? – surpreendi-me. Arabella era uma adolescente com um quadro de atraso mental da última que me viu.

-Pensava todos os dias em você, e quando estava esquecendo-me de como você se parecia eu sonhava com seu rosto e tudo voltava novamente á minha cabeça. – sorriu. – E você? Esqueceu-se de como eu me parecia?

-Nem por um segundo. – novamente ela estava sorrindo. Senti-me aliviada ao constatar que ela continuava sorridente. Arabella sempre teve um sorriso muito bonito. – Não está nem um pouco chateada comigo? – perguntei de certa forma confusa com o jeito que as coisas estavam acontecendo até então, era completamente diferente de como eu imaginava que ia ser. Senti vontade de chorar.

-Por que eu estaria se você voltou?

-Pelo tempo que eu demorei. – Arabella ficou alguns segundos me olhando e então mexeu nos cabelos ondulados, como sempre foram desde quando era bebê.

-Sabe, o Bill também foi abandonado pelo irmão dele, mas o irmão dele nunca mais vai voltar... Das primeiras vezes em que o vi ele chorava de saudade igual eu costumava chorar por você, mas ele perdoou o irmão por tê-lo deixado e parece ser bem mais feliz agora, então por que eu não te perdoaria também? Pelo menos eu ainda posso te ver e conversar com você, isso já me deixa mais feliz do que você pode imaginar.

    E foram essas palavras que fizeram com que eu me questionasse se ela já estava madura o bastante para perdoar ou se ela ainda era uma criança que via tudo de uma maneira simples e inocente demais... Todas as ações de Arabella eram imprevisíveis, confusas e admiráveis ao mesmo tempo.

-Isso quer dizer que você vai querer continuar me vendo e falando comigo?

-O Bill falou que você mora muito longe daqui... – baixou os olhos, como se estivesse chateada. – Se for muito complicado vir até aqui me visitar não tem problema.

    Franzi o cenho com a resposta dela tentando entender como realmente funcionava aquela cabeça. Depois de tê-la abandonado da maneira como eu fiz, ela me perdoou e me recebeu de volta com um sorriso, e agora isso? 

-Eu virei até aqui sempre que puder... Da próxima vez trarei meus filhos para você conhecê-los, o que acha? – Arabella abriu um enorme sorriso. Ficamos em silêncio por alguns segundos novamente. – Eu... Eu posso te abraçar?

    Ela mesma abraçou-me, tinha um abraço carinhoso e frágil. E então eu percebi que eu finalmente estava feliz, que já não havia nada na minha vida que me remoesse diariamente, nada que me desse um motivo para chorar, para sofrer e me condenar. Eu sequei as poucas lágrimas que havia derrubado inconscientemente e observei Arabella de perto por alguns segundos.

-Eu posso não ter nenhuma participação nisso, e tive muito pouco tempo para julgar, mas estou realmente muito orgulhosa da pessoa que você se tornou. – o sorriso de Arabella foi diferente dessa vez, ao invés daquela alegria que normalmente irradiava dessa vez ele transpareceu doçura.  – Você realmente gosta do Bill? Vai ficar bem sozinha aqui fora com ele?

-Ele fugia a noite para ficar comigo, ele beija minha testa e diz que me ama milhares de vezes por dia... O sorriso dele me deixa feliz e o seu abraço mais ainda. Ele fez um anel de papel e pediu para que eu cassasse com ele. Esse é o tipo de homem que o Bill é, e por isso sei que vou ficar mais do que bem sozinha com ele.


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