-O Doutor me ligou. Ele disse que você está bem melhor, que talvez receba alta nos próximos 3 meses no máximo. – mamãe sorriu.

Estavam lá Georg, Gustav, Andreas e ela. Gordon tinha reunião com os pais dos alunos da sua escola de música e não pode vir. Sorri para ela, um pouco culpado com o fato de estar mentindo para o Doutor todo esse tempo. Senti uma pontada de medo de sair daquele lugar e tudo voltar a ser como era antes.

-Vocês... – cocei a parte de trás da minha cabeça um pouco sem graça. – Vocês se lembram daquela menina sobre a qual eu contei? Aquela que tem 19 anos, mas ainda é uma criança?

-Claro que sim, querido. Você sempre fala dela quando me liga. – mamãe sorriu.

-Falo?

-Toda a hora. – Andreas rolou os olhos. – Você só me liga de vez em quando e quando o faz, só fala dela.

-Bem, seja como for, vocês querem vê-la? È que ela não recebe visitas e eu acho que ficaria feliz se eu dissesse que vocês querem conhecê-la.

-Ela é bonita? – Andreas perguntou maliciosamente rindo junto com Georg e Gustav.

-Eu não sei! Seu pervetido... – o empurrei de leve rindo também.

-Estou brincando, franguinho! Seria legal conhecê-la.

-Você parece gostar dela. Bastante. – Georg levantou uma de suas sobrancelhas, enfiando as mãos no bolso e esboçando um enorme sorriso. Senti minhas bochechas queimarem.

-O que?! Não! Ela é minha amiga! – exclamei rapidamente fazendo todos rirem, inclusive minha mãe.

-O Bill está corando! Veja! Suas bochechas estão vermelhas! – Gustav zombou apontando seu dedo indicador para minha cara em meio á risadas.

-Está apaixonado!! – Andreas ria enquanto gritava as mesmas palavras repetidamente.

-Idiotas... – cruzei os braços, os olhando sérios. – Vão querer conhecê-la ou não!? Se forem fazer gracinhas como essas, eu não vou nem me dar ao trabalho de ir chamá-la.

-Estamos brincando. Nós nos comportaremos, papai. – Andreas continuava rindo.

-Palhaço. Me esperem, eu vou chamá-la.

Eles ficaram esperando no jardim enquanto eu corria até seu quarto, onde sabia que ela estava. Arabella nunca sai de seu quarto em dia de visitas, Genevieve disse que é por que ela não gosta de ver que todos recebem visitas menos ela. Talvez por isso eu me sentia tão animado em anunciar que dessa vez ela tinha visitas, sentia um estranho prazer em vê-la feliz. Ao chegar na parte dos dormitórios suspirei aliviado pelo enfermeiro encarregado por tomar conta dos corredores ser Carl. Ele olhou para mim e sorriu.

-E aí, Bill! – estendeu a mão e eu a apertei. – Depois das visitas o que acha de treinar um pouco o violão?! – me arrancou um sorriso ao fingir que tocava um violão invisível.

-Claro! – sorri. – Carl, será eu você podia chamar a Arabella para mim?

-Você sabe que ela não sai em horário de visitas.

-Diga á ela que ela tem visitas! – exclamei animado. Carl arregalou os olhos.

-Sério?! – assenti com a cabeça. Ele se levantou em um pulo e saiu correndo em direção ao quarto dela. Era engraçado, Carl era magro demais e um rosto de adolescente apesar de ter 24 anos, ele corria de maneira desengonçada. Segundos depois ela saiu de lá, segurando o braço direito de Annie, fazendo com que o ursinho ficasse pendurado ao lado de seu corpo. Olhou ao redor confusa. Pela cara de sono, provavelmente estava dormindo.

-Arabella! Aqui! – chamei. Ela olhou para mim e franziu o cenho. – Está pronta para receber suas visitas?

-Eu não tenho visitas.

-Hoje tem! – sorri. – Meus amigos e minha mãe estão aqui. Eles vieram para te conhecer. – tudo bem, isso não era exatamente a verdade, mas decidi que a mentira valia a pena quando os olhos dela se arregalaram e brilharam. Aquilo me deixou em completo êxtase.

-Mas... Mas eu não estou bonita! – murchou alguns centímetros. Eu ri, pela primeira vez Arabella estava preocupada com sua aparência.

-Que besteira! Só seus cabelos que estão um pouco desarrumados. – ri mais ainda quando ela começou a mexer neles tentando penteá-los com seus dedos. – E seus olhos estão inchados de sono. – ela gemeu. – Estou brincando! – baguncei seus cabelos. – Vamos! Eles não podem esperar para sempre.

Arabella pulou e sorriu o caminho inteiro até a porta do jardim, cantarolava a musica de abertura de um de seus desenhos favoritos. Aquele que ela já me obrigou a assistir um monte de vezes. Mas quando chegamos lá ela simplesmente se escondeu atrás de mim, tímida. Espiou por cima de meus ombros e fez uma careta.

-E se eles não gostarem de mim? Ou da Annie? – perguntou preocupada. Rolei os olhos.

-Vamos logo. – reclamei a puxando pela mão. Praticamente a arrastei o caminho inteiro pelo jardim até onde eles estavam. Chegando lá soltei sua mão e a coloquei á minha frente. - Essa é a Arabella. – a apresentei. – E a Annie. – apontei para o ursinho em sua mão. Ela olhou para aquelas 4 pessoas completamente muda. Minha mãe sorriu e a abraçou.

-Olá, Arabella! È um prazer te conhecer, Bill sempre me fala de você. Ele nunca se cansa de falar o quanto você é adorável! – as duas riram e eu novamente senti minhas bochechas corarem. Mães têm o incrível dom de nos envergonhar na frente das pessoas. - Meu nome é Simone, eu sou a mãe dele.

-Olá, Simone. – disse com sua voz fina.

Todos a cumprimentaram e foram muito simpáticos. Faziam perguntas que ela respondia de boa vontade. O tempo passou rápido entre as risadas e brincadeiras. Na hora de se despedir ela abraçou a todos animadamente.

Quando uma criança passa a conhecer uma pessoa a timidez some e ela pode ser quem realmente é, sem vergonha do que eles pensariam. A cada dia que eu passava com Arabella uma nova característica dela chamava a atenção, e mais eu percebia como crianças são melhores que adultos e o quanto eu a admirava por isso. Ela é única.