Alleine In Die Nacht escrita por Maty


Capítulo 1
Capítulo 1 - Quarto 589




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   O cheiro de álcool daquele lugar me dava náuseas, o vai e vem de pessoas me desesperava. Como era possível que nenhuma delas tinha a resposta que eu procurava? Apertava meu peito com força, ele latejava de dor. Era como se uma parte estivesse sendo arrancada de dentro dele, talvez fosse a outra metade do meu coração que chegava a suas últimas batidas em algum quarto daquele lugar sem cor e repleto de dor e angústia. O ar saia pesado pela minha boca enquanto eu tentava manter o choro dentro de mim.

 

        “Ele está no quarto descansando, mas o estado é crítico. Sei que é difícil, mas vocês têm que ser fortes.”

 

    As palavras do médico ecoavam em minha cabeça. Quanto tempo meu irmão ainda tinha? Eu só queria me divertir, beber um poucoo, ser anônimo por um dia. Esse era o preço que eu devia pagar por uma noite fora em um bar? Pelo meu desejo idiota de ser como todos os outros?!

 

   Senti a dor em meu peito se acentuar ao relembrar do responsável por tudo aquilo. Seu punho arrancando sangue do rosto de Tom, as pessoas ao redor se empurrando para acompanhar a briga de perto.

 

     As lágrimas que lutava para manter aprisionadas em meu corpo finalmente rolaram molhando meu rosto. Fechei os olhos e a única coisa que pareceu se destacar na escuridão que encontrei foi o brilho da faca que aquele homem tirou da calça logo após empurrar Tom contra a mesa. Podia ouvir o barulho provocado por seu corpo ao atingir o chão de madeira.

 

                      “ Proteja seu irmãozinho gay agora! Anda! Reaja!! “

 

     A voz grossa e ameaçadora dele ecoou pelo bar enquanto todas as pessoas, que pareciam eufóricas até segundos atrás, se calavam assustadas com a presença do utensílio laminado. O pânico passou pelo rosto de Tom por poucos segundos antes que ele o escondesse com um sorriso debochado,  mas eu conseguia ver claramente o medo em seus olhos ao procurar por mim através da luz fraca e da fumaça do local.

 

          “ Vai mesmo me atacar com uma  faca? Eu estou desarmado, cara. Sabe como isso se chama? Covardia! Meu irmão continua sendo mais homem que você!! “

 

     Balancei a cabeça e puxei meus cabelos na esperança de arrancar a cena de minha cabeça. Por que ele tinha que responder daquela maneira quando estava tão assustado?! Eu não devia tê-lo deixado beber! È tudo culpa minha... Eu que insisti em sair, eu que o deixei beber, eu que fui um covarde e não tive coragem o bastante para parar a briga.  Permaneci estático de pavor enquanto presenciava o corpo de meu próprio irmão ser perfurado 1, 2, 3, 4 vezes. Os gritos das mulheres em pânico, os pedidos por uma ambulância... E eu continuei parado.

 

-Ele quer ver o irmão... – ouvi o médico sussurrar para minha mãe. Fechei os olhos. Eu realmente era forte o suficiente para isso?

 

-Bill, querido... – minha mãe afagou meus ombros e secou as minhas lágrimas com seu polegar. – Eu sei que é difícil... Mas seu irmão quer ver você. Seja forte, ok? Por ele.  – beijou minha testa.

 

    Permaneci parado por mais alguns instantes. Precisava vê-lo. Uma última vez. Enchi o peito de ar e sequei o restante das lágrimas. Andei pelo corredor, torcia para que a porta do quarto 589 não chegasse nunca, e mesmo assim, poucos segundos depois, lá estava ela. Bem em minha frente.

 

-Finalmente! Achei que tivesse se perdido! – exclamou assim que juntei coragem o bastante para girar a maçaneta. Seu rosto pálido e repleto de dor me causou náuseas e eu respirei fundo antes de andar até sua cama. Sentei na cadeira que descansava ao lado da cama.

 

-Como você pode fazer piadas numa hora dessas?! – exclamei choroso. Afundei meu rosto na colcha áspera do hospital escondendo minhas lágrimas.

 

-Hey... – Tom afagou meus cabelos. Sua voz sempre tão forte e expressiva era suave e levemente rouca. Ele estava fraco. – Tudo vai ficar bem.

 

-Não, não vai ficar tudo bem! – me irritei levantando a cabeça para encará-lo. Minha visão embaçada devido ás lágrimas me impediam de vê-lo com perfeição, mas tinha certeza de que ele também sabia disso. – Não precisava ter me defendido daquela maneira, seu estúpido!!

 

-O cara te chamou de viado! E bastardo! – parecia verdadeiramente indignado. - Só eu tenho permissão para te chamar de bastardo e você sabe disso. - depois de alguns segundos tentou rir, mas a dor o impediu de fazê-lo com a perfeição de antes.

 

-Caralho, Tom!! – exclamei irritado, o sorriso distorcido e dolorido em seu rosto desapareceu. - Eu posso viver com xingamentos! Posso viver com críticas! Posso até mesmo viver em meio a vaias que não me importaria!! Mas... – calei minha boca e senti meu queixo tremer devido á força que fazia para segurar as lágrimas. – Mas eu não posso viver sem você.

 

-Bill, tenha um pouco de orgulho próprio! Se quiser eu posso te emprestar um pouco do meu, o que acha?

 

-Como vai ser sem você? – ignorei suas gracinhas. Sabia que era só a maneira dele de tentar diminuir minha dor. Também sabia que não ia funcionar agora. – Eu nunca aprendi a viver sozinho, Tom... Você sempre esteve ao meu lado, sempre fizemos tudo juntos! Eu não conheço um mundo no qual estou sozinho! – tentava controlar minha voz pelo fato de estarmos em um hospital, mas a cada segundo ela se tornava mais alta, evidenciando o desespero e medo que sentia. – Não quero ficar sozinho!!

 

-Você sabe que nunca vai ficar sozinho, seu idiota! Sempre quando dormir, eu vou estar com você. Sempre que fechar os olhos vai saber que eu continuo te seguindo para todo lugar, como sempre fiz. Mesmo se você não puder me ver... Eu não sei o que é a morte, mas sei que o que nos prende juntos é mais forte do que ela.

 

    Voltei a afundar meu rosto na colcha enquanto chorava. Estava desesperado, tinha medo de seguir em frente. Tinha medo de enfrentar o desconhecido que era viver sem meu irmão gêmeo. O silêncio se apoderou do quarto, e era quebrado somente pelos meus soluços.

 

-Du bist alles was ich bin, und alles was durch meine adern fließt… ( Você é tudo o que sou, e tudo que corre nas minhas veias.. )  – cantarolei baixo. Talvez por que todas as minhas palavras já tivessem se esgotado. Cantar era a única ação que eu ainda parecia ser capaz de processar, mesmo que minha voz saísse abafada e tremida. Tom fechou os olhos e finalmente lágrimas jorraram deles, ele sofria tanto quanto eu. – Ich will da nicht allein sein, lass uns gemeinsam in die Nacht... ( Eu não quero ficar sozinho, vamos ficar juntos na noite... ) – segurei forte em sua mão. Um pedido silencioso para que ele continuasse comigo.

 

-And if our final day has come, let’s pretend to carry on, and if the end has now begun, live on… Live on… ( E se o nosso último dia chegou, vamos fingir que seguimos em frente, e se o fim começou agora, continue vivendo... Continue vivendo... ) - cantarolou em resposta. Nos olhamos por uma fração de segundo antes que com um fraco sorriso ele voltasse a fechar os olhos, a máquina ao lado de sua cama apitando e me avisando que era pela última vez.

 

-Não... Não... Tom! – chamei. Levantei e o chacoalhei na esperança de que ele voltasse a abrir os olhos. – Anda!! Abra os olhos!! Você não pode... – a palavra se recusou a sair de minha boca. – Anda Tom!! Não me deixe sozinho!! Você prometeu!! Prometeu que ficaríamos juntos para sempre!!! – gritava cada vez mais alto e o chacoalhava cada vez mais forte.

 

    A equipe de paramédicos entrou ás pressas no quarto seguido de Gordon e meu pai. Os dois me pegaram pelos braços e me afastaram de Tom, mesmo que eu me contorcesse para permanecer ao lado dele. Eu tinha que fazê-lo voltar... Tinha que fazê-lo abrir os olhos!

 

   Os médicos prepararam o desfibrilador.

 

-Tom!! – continuava chamando por ele em meio ás malditas lágrimas que embaçavam minha visão. Primeiro choque.

 

-Nada. Carregando... – Segundo choque. – Nada. De novo!

 

-Por favor ... – já não tinha forças para gritar. Minhas pernas tremiam e eu era sustentado apenas pelos braços de meus dois pais enquanto do canto de meu olho podia ver minha mãe chorando timidamente da porta. – Não me deixe sozinho... – implorei. Virei de costas e fechei os olhos com força, não podia olhar mais, não conseguia. Sentia meu peito formigar e latejar de dor a cada novo choque que ecoava em meio ao caos que se estabelecera no pequeno quarto. – Abra os olhos, abra os olhos... – sussurrava sozinho.

 

-Hora da morte, 3:17 da manhã.


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Notas finais do capítulo

Fic nova! Espero que gostem!

só pra deixar claro : Nessa fic Tom e Bill são somente irmãos! Nada de incesto ou coisa do gênero.

desculpem se o capítulo ficou grande, mas não tinha como cortar ou resumir ele, então... xP

se ler não custa nada deixar um review, neh?
prometo que ia ficar muito feliz!