Capítulo seis – Seu ciúmes.

“Vocês só podem estar de brincadeira comigo.”

Cisco se manifestou ao entrar na sala de exames com seu relatório em mãos, ganhando a atenção dos dois indivíduos a sua frente.

Barry e Caitlin trocaram um olhar cúmplice repleto de significado, para então voltar sua atenção para o amigo que os encarava com uma expressão quase engraçada em seu rosto sempre tão sorridente.

Cisco, o melhor amigo e companheiro de time que eles tanto respeitavam e adoravam. O cara cheio de manias e ironias, dono de um coração enorme e repleto de pureza e bondade. As vezes ele parecia desconhecer o significado de limites – apesar de toda a sua inteligência –, mas no final seria injusto reclamar.

O mesmo que os olhava exalando ceticismo e deboche, e que eles sabiam que poderiam confiar não importa a situação.

“O que?” Caitlin indagou, assistindo Barry segurar o riso por sua visão periférica.

Oh droga, eles haviam sido descobertos.

“O que? Você ainda pergunta?” Cisco arregalou levemente os olhos em indignação. “Vocês estão agindo como um casal de recém-casados!”

O riso escapou pelos lábios de Barry em um barulho engraçado, que fez com que Caitlin lhe desse uma cotovelada em resposta. Aquela não era a hora e nem o momento para agir como uma criança de cinco anos, certo? Cisco estava ali, e aqueles mesmos olhos que sempre emanavam tanta vida os encaravam de tal forma que deixava claro que não havia como fugir.

Estavam encurralados, e Cisco não admitiria ouvir nada além da verdade.

“Se o Dr. Wells descobre que vocês dois são, tipo…” Ele começou, vacilando o dedo indicador entre eles. “Não sei o que vocês são, mas enfim, ele vai ficar muito bravo, cara.”

Caitlin ajeitou sua postura, sentindo a tensão tomar conta de seus músculos ao se dar conta que o que Cisco falava era verdade. Seu emprego estava em risco ali. Em risco por ela agir como uma adolescente apaixonada pelos cantos do laboratório quando deveria dar o seu melhor em seu trabalho.

A consciência voltava a pesar como uma âncora, afogando-a no mar de bom senso qual era tanto estava evitando todos esses dias. Talvez a realidade fosse mesmo impossível de se despistar.

Ela sentiu os dedos de Barry deslizarem pela palma de sua mão, logo se enlaçando entre os seus como se fossem feitos para estarem ali.

“Não se preocupe, nós vamos conversar com ele.” Barry murmurou, baixo o suficiente para que somente ela pudesse ouvi-lo. “Ele vai entender.”

“Você fala como se fosse algo tão fácil.” A morena suspirou, subindo os olhos amendoados para o melhor amigo que ainda os encarava com um brilho de divertimento nos olhos escuros. “O que foi?”

“Nada.” Ele deu de ombros. “Estou aqui pensando como chama esse ship. Baitlin? SnowAllen? Snowbarry? Sim, Snowbarry. Eu definitivamente estou achando isso o máximo!”

Barry riu, permitindo que o sorriso se alargasse em seu rosto como se um cabide estivesse preso em sua boca. Aquilo vinha acontecendo muito frequentemente nos últimos dias, desde que pela primeira vez em sua vida, ele finalmente havia conhecido o sentimento de ser correspondido.

Caitlin lançou um olhar torto, crispando os lábios na tentativa de conter o mesmo gesto que se iluminava nas feições de seu amado. Refletindo se ainda era muito cedo para dar ao que eles tinha um rótulo, chegando a conclusão de que não só era cedo, como desnecessário.

Ela se sentia feliz só em saber que o coração dele batia da mesma forma descontrolada que o seu, lhe alegrava ver que ela causava nele todas as emoções e reações que ele lhe causava, seja por um pequeno gesto ou algumas poucas palavras.

Nunca imaginou que algum dia se sentiria de tal forma. Jamais passou por sua cabeça que ela seria capaz de nutrir um sentimento complemente fora de seus padrões de compreensão, que algo daquele nível alguma vez a faria agir como uma adolescente novamente, que a faria se sentir viva e completa.

“Vocês tem dez minutos antes que o Dr. Wells venha atrás de você para iniciar seus exames.” Cisco apontou os documentos em suas mãos para os dois, compartilhando um sorriso cúmplice antes de se virar em direção a saída. “Eu não vi nada, eu não sei de nada, eu sou uma criatura ignorante e inocente.”

Barry segurou os dois antebraços de Caitlin, fazendo com que ela se virasse de frente para ele.

“Ele realmente pensa que alguém acredita nisso?”

“Não sei, mas nós temos pouco tempo e depois desses exames eu tenho que voltar para o CCPD.” Ele soltou um suspiro, sentindo as lagoas amendoadas sobre si. “Tempo é ouro, por isso se segura que vou nos levar onde possamos aproveitar cada segundo.”

Caitlin revirou os olhos, incapaz de conter o sorriso que aflorou em seu rosto.

E quando a rajada vento desalinhou os fios de suas madeixas castanhas, ela cerrou os olhos, abrindo-os novamente ao se dar conta que eles estavam na mesma sala que se esconderam no dia em que Blackout invadiu as dependências da Star Labs.

O mesmo dia em que Caitlin segurou sua mão, e lhe deu toda a confiança que precisava para ser o herói que precisava ser. O dia em que ele soube, mais uma vez, de que ela estaria ali por ele. Independente de qualquer perigo ou situação.

“Bela escolha.” Ela quebrou o silêncio, deixando que suas mãos passeassem pelo sweater esverdeado para pousarem sobre o colarinho de sua camisa.

“Obrigada, agora é hora de pagar o pedágio.” O timbre dele era baixo, e escondendo suas íris amendoadas ela pode imaginar o sorriso travesso que tanto adorava se iluminando naquele rosto.

Ela riu ao senti-lo roçar seu nariz no seu, a mão grande e quente sobre a maçã de seu rosto enquanto o polegar deslizava por seus lábios como se quisesse guardar a textura deles sob seu toque.

A distância entre seus corpos era mínima, e já conseguia sentir a respiração calma de Barry em suas bochechas. Ela levou sua mão direita até o rosto do moreno, sentindo o calor de daquela pele emanar sob suas digitais.

“E se eu não pagar?” Ela sorriu abertamente, ao sussurrar sua resposta apenas a alguns centímetros de distância dos lábios rosados de seu companheiro de equipe. “Você sabe, senhor Allen, nem sempre as coisas são como nós queremos.”

Caitlin segurou o rosto dele em suas mãos, mordiscando seu lábio inferior ao se inclinar.

“Você não vai querer ficar em débito comigo, Dra Snow.” Sua resposta foi a última coisa que escapou por aqueles lábios antes que eles se colassem nos dela, atrevidos.

O beijo era calmo, porém repleto de um desejo que o estava incomodando desde o momento em que a viu pela primeira vez naquele dia. O aroma peculiar de morango invadindo seus sentidos como um ladrão sorrateiro, inebriando-o da maneira mais doce e terna. Os dedos se perdendo sob os fios macios dos longos cabelos chocolates, sentindo sua textura macia e familiar.

A frustração logo se transformou em urgência quando a língua de Barry acariciou seu lábio, pedindo passagem. O ritmo aumentava conforme aquele cômodo parecia se tornar cada vez menor, o ar em seus pulmões era escasso e o líbido trazia a sensação de uma corrente elétrica passeando por sua espinha, se alojando na boca de seu estômago como um intruso.

As famosas borboletas criavam ninho em sua barriga, e pela primeira vez em meses, ela não se importava.

A mão direita de Barry deixou seus cabelos para se aventurar por sua cintura, intensificando o toque na tentativa frustrada de sentir sua pele sobre o tecido grosso de sua saia tubinho. O beijo se partiu, e seus lábios agora acariciavam a pele sensível de seu pescoço, fazendo com que ela mordiscasse o lábio inferior.

E bem, ela teria se sucedido em sua tentativa de se conter se o barulho estridente do celular de Barry não tivesse ecoado por todo o cômodo da forma mais escandalosa possível.

Caitlin arregalou levemente as íris amendoadas, receosas de que o mundo lá fora – Dr. Wells e seu querido amigo Cisco, para ser mais exata – se desse conta de que eles estavam escondidos ali, como dois adolescentes que se encontram no quartinho de limpeza da escola para dar um amassos.

Mas é claro que Caitlin Snow não era e nunca foi garota de dar uns “amassos”. Pelo contrário, ela era uma aluna respeitável e de conduta brilhante.

Conduta essa que parecia ter ido pro espaço assim que ela aceitou ficar sozinha com Barry Allen naquele maldito quartinho de dispensa. Suas bochechas queimaram, e ela escondeu seu rosto em suas mãos.

Céus, o que aquele homem estava fazendo com ela?

“É a Iris. Eu tenho que atender.” Caitlin levantou o olhar frustrado para o homem a sua frente, as íris esverdeadas lhe lançando pedidos de desculpa.

Oh não, aquilo definitivamente não estava certo.

Barry saiu pela porta conversando no celular, deixando-a sozinha com sua consciência para lidar. O reflexo em um dos vidros denunciava seus cabelos desgrenhados, sua blusa levemente amassada e a respiração ainda irregular.

Ele não tinha o direito de deixá-la daquela forma para atender um maldito telefone. E muito menos para responder o chamado de Iris como um cachorrinho com o rabo entre as pernas.

As maçãs de seu rosto ainda queimavam, mas ela já não tinha tanta certeza de que era por vergonha.

Sua única certeza após fazer o possível para se tornar um pouco mais apresentável, após ser deixada para trás como uma idiota, era de que Barry Allen estava muito ferrado.

Muito, muito ferrado.