Sete horas e cinquenta minutos. Lia estava pronta para sair de casa. Não queria se atrasar um segundo sequer.

–Pai, to indo.

–Pra onde?

–Eu e o Dinho marcamos uma conversa, temos uns assuntos pendentes

–Vai levar o carrinho pro outro lado da rua?

–É que ele pediu pra Mel dormir lá hoje, e como lá não tem berço eu vou levar o carrinho.

–Tirou leite?

–Sim senhor.

–Fraldas extras?

–ok

–Os remédios?

–Tá tudo aqui, esqueceu que eu sei cuidar da minha filha?

–Você volta que horas?

–Não sei, mas eu volto...

–Preferia que você não voltasse, se acertasse logo com ele... ia ser melhor pra vocês dois e pra Mel.

–Eu volto pai, pra casa...

–Mas Lia...

–O Dinho fez a escolha dele, e se não fosse pela Mel eu sequer olharia de novo na cara dele, aliás, se não fosse por ela, eu não teria voltado ao Brasil, eu voltei pro bem dela, por ela e só! Tudo o que eu podia fazer pra felicidade, saúde da minha filha eu fiz. E para o bem dela eu não vou aceitar isso que o Dinho quer fazer. Ele quer me deixar como a amante, e minha filha como bastarda!

–Lia, quem sabe não houve um erro de comunicação, uma falha, será que você não entendeu todo errado? Como a Melita vai reagir a crescer vendo os pais brigando?

–Por ela, eu não vou brigar. Tudo o que eu tenho pra falar vou falar hoje, todas as diretas e indiretas, os gritos e as lágrimas, as ironias tudo! Depois de hoje eu e o Dinho seremos muito amigos. E só. Eu já to indo, quero voltar antes desse toró cair.

–Vá com Deus minha filha. Tchau minha neta.

Grossas gotas caíam, anunciando chuva próxima. Nem chovia direito, mas Lia abriu o guarda chuva. A rua vazia, mas parecia cenário desses filmes de furacões americanos. Pequenos redemoinhos de folhas, poeira e papeis se formavam na esquina pela força do vento, que quase virava o guarda chuva. Raios, trovões e relâmpagos se encarregavam de assustar a pequenina, que enchia seus olhos verdes de lágrimas e aninhava-se no colo da mãe.Após um raio rasgar os céus, e um trovão ensurdecedor deixarem até mesmo a Marrentinha assustada, uma voz bem conhecida as chama:

–Lia, você vai pra praia agora?

–Que Fera?

–Não, porque, era melhor você não levar a “Fel”, as ondas estão gigantescas, parece que o mar tomou todas, num tão nem deixando entrar na água de tão perigoso que ta! Acabei de voltar de lá... Mas por que você vai pra praia de noite?

– Primeiro, o nome dela é Mel!!! Que praia garoto?! De onde você tirou que eu vou pra paia?

– Você ta aí com guarda sol...

–É melhor eu ir, por se a pequena ficar mais um segundo exposta a isso ela pode acabar pegando sua inteligência, e fica tranqüilo que eu não a praia não!

Lia saiu deixando Fera falando sozinho. Com pontualidade britânica chegou a casa de Dinho. Foi recepcionada por Alice

–Oi Lia! Gente Essa menina ta a cada dia mais linda! Vem com a vovó vem, meu amor!

–Oi Alice

–Olha, ela ta sorrindo pra mim! Sua banguelinha fofa! Desculpa Lia, nem te deixei entrar!

–Nada, que é isso... só vou precisar de ajuda com o carrinho...

–Deixa que eu ajeito isso! O Dinho ta lá no telhado, vai lá mostrar a Mel o lugar predileto do pai dela!

Com cuidado Lia foi, queria dar um susto no garoto, mas a neném atrapalhou soltando um gritinho ao ver o pai. Dinho correu para abraçar as duas, e tento beijar Lia, que virou o rosto. Pegou sua filha do colo de Lia e tentou desviar um pouco:

–Eu pensei que você não viria!

–Já estou aqui.

–É melhor nós entrarmos, esta começando a chover forte.