Os Filhos de Umbra escrita por Rarity


Capítulo 1
Capítulo Um: 1986 - 3234 dias antes


Notas iniciais do capítulo

Se acostumem à notas bem longas, mas como eu estou mais na expectativa do que vocês, não tenho muito o que falar a não ser "Espero que gostem"Dependendo da minha inspiração e dos comentários, quem sabe o próximo não sai ainda semana que vem?



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A madame estava de olhos fechados quando eles chegaram. Embora não conseguisse vê-los, ela podia senti-los.

Logo, todos se acomodaram. Sentaram-se ao redor da mesa, observando a bola de cristal que só mostrava fumaça. A mulher de cabelos cacheados ainda estava de olhos fechados, calma, com as mãos passeando pela bola de cristal fazendo a fumaça se mexer.

Berenice havia saído- como sempre fazia no dia das bruxas, provavelmente para ver a filha. Nesse dia, os espíritos tomavam forma e ficavam mais fortes. Já a Madame, ela contava histórias.....

Para fantasmas.

Quando seus olhos se abriram, ela os viu por um instante. Focou-se no menino de cabelos pretos com um violino, não queria que a imagem dele se dissipasse como das outras vezes.

—Esta noite ouvirão uma história verdadeira que se entrelaça com a minha, cuja moral é que muitas vezes a morte também pode ser injusta. Porém, é melhor deixar o alguém certo contar, alguém como vocês... –ela começou, e sua cabeça tendeu para frente, os cachos castanhos tampando toda a sua face e quando voltou, uma máscara de um chifre e uma boca cobria seu rosto.

“Meu nome é Pedro, mas me chamem de Porta Voz. Nasci e vivi numa cidadezinha do interior chamada Sococó da Ema. Minha infância foi boa, pude fazer amigos que me acompanham até hoje... Porém, o destino brinca conosco. Coisas além do meu entendimento de criança, na época, culminaram na minha morte. Todavia, é a minha história de vida que desejo contar...”

(***)

Capítulo Um: 1986 -3234 dias antes.

Na mesma pedra se encontram,

Conforme o povo traduz,

Quando se nasce - uma estrela,

Quando se morre - uma cruz.

Mas quantos que aqui repousam

Hão de emendar-nos assim:

"Ponham-me a cruz no princípio...

E a luz da estrela no fim!"

Mario Quintana

16 de janeiro de 1986

Acordei com vários cutucões nas minha costas. Que ótima maneira de acordar: cutucões e um colchão duro na barriga. Abri os olhos lentamente, um tanto irritado. Eu só acordava quando o sol acordava!

Leo era o causador dos cutucões. Bufei vendo seus olhos castanhos grandes, sabia que não ia resistir.

—Pepê... Eu fiz uma coisa feia –ele confessou à mim aos sussurros.

—O quê? –sussurrei de volta, ainda sonolento.

—Eu mexi nas ferramentas do papai, e agora ele tá ‘brabo comigo... Você poderia dizer à ele que eu tô pedindo desculpas? –ele pediu, fazendo beicinho.

Aquela criaturinha de cabelos castanhos claros e grandes olhos castanhos me acordou por isso? Suspirei fortemente, coçando os olhos e me senti, disposto a fazer isso por ele, que me abraçou como agradecimento.

—Okay Leo, mas me deve muitas jabuticabas e mangas, mocinho! –brinquei.

Desci da minha pequena e dura cama e fui pro banheiro, onde eu sabia que papai estaria fazendo a “baba”, como eu chamava na época dos meus três aninhos. Encostei no batente da porta, e papai estava mesmo fazendo a barba, com sua blusa folgada xadrez e a calça justa marrom, além das botas de couro.

Que horas eram mesmo? Algo perto de 4:00 da manhã, provavelmente.

—Papai. –chamei.

—Pedro? –ele me respondeu confuso. Sorriu, parou a barba e me chamou para um abraço. As coisas eram difíceis, mas meu pai e minha mãe eram ótimas pessoas. O abracei. –O que está fazendo acordado?

—Leo me acordou. Ele quer te pedir desculpas por ter mexido nas suas coisas. –contei, e meu pai franziu as sobrancelhas.

—E você virou Porta-Voz agora, menino? Ele que tem que ser homem o suficiente para vir aqui pedir! –papai falou. Dei de ombros, ainda com sono. Normalmente eu acordava às 6, duas horas a mais!

—Quebra essa pra ele. –pedi. Leo não me largaria até que papai o desculpasse.

Ele suspirou e me soltou, enquanto voltava a fazer a barba.

—Tudo bem, seu irmão está perdoado. Diga a ele, Porta Voz, para que ele pare de mexer nas minhas coisas, é perigoso. –falou.

—Obrigado, pai. –respondi, enquanto saía. Eu vou voltar a dormir, com certeza. E só acordar com o chamado delicado da minha mãe, para ir com ela e meu irmão entregar as roupas passadas às famílias da cidade que pagavam pelo serviço dela.

E quando me virei para voltar ao quarto, esbarrei em mamãe, que caminhava com uma cesta de roupas.

—Pedro? –questionou. –Vá dormir, querido. Ainda demora mais um pouco para eu terminar todas as roupas, depois te acordo. –ela me deu um beijo na testa. Além de trabalhar no nosso sítio, mamãe ainda passava e lavava roupa para fora. Ninguém nunca pôde falar que minha mãe não era trabalhadora.

Assenti, e fiz o curto caminho pelo corredor de volta ao meu quarto e o de Leo. Tinha duas camas, paredes marrons, um guarda roupa de madeira, uma mesinha, alguns brinquedos usados que nossos primos nos davam e uma janela.

—E aí? –Leo questionou assim que entrei no quarto. Percebi que ele, antes que eu entrasse no quarto, estava fingindo dormir.

—Perdoado. Agora vamos dormir, Leo. –lhe disse.

Um minuto de silêncio.

—Sabe, Pepê, você é o melhor irmão do mundo. –ele falou.

—Sim –respondi –Eu sei. Também adoro você, tampinha.

(**)

Quando mamãe me acordou, no meu horário normal, já estava bem mais “amigável”. Alegre e agitado, como sempre. Papai já havia saído para trabalhar na ferraria, e mamãe mandou que eu e Leo:

Tomássemos banho.

Escovássemos os dentes.

Tomássemos café.

Arrumássemos para ir à cidade

Não necessariamente nessa ordem, mas por aí.

Quando já estávamos alimentados e limpos, mamãe colocou uma bermuda curta em mim e uma blusa xadrez com sapatos pretos. Leo estava com um macacão xadrez e uma blusa branca, com sapatos pretos também. Detalhe: as bermudas da época eram mais curtas que as de hoje, então eu me sentia desconfortável usando aquilo, mostrava minhas finas pernas brancas de criança. Mal podia esperar para usar as calças folgadas e bonitas, como meu pai usava.

Morávamos num sitiozinho até que grande, com várias árvores onde eu e Leo pegávamos frutas, um galinheiro, chiqueiro, estábulo e curral. Não era uma rua com várias casas, mas uma casinha de madeira indicava o pequeno chalé do meu melhor amigo, o Pablo. Era de madeira, rústico, mas estava sempre quente e era muito aconchegante. Tinha uma ampla varanda e um quintal florido.

Eu conheço Pablo desde... sempre. Nosso primeiro encontro ficou esquecido na minha mente, junto com as lembranças de quando comecei a andar, por exemplo. Ele tem a minha idade, quatro meses mais novo que eu, cabelos pretos lisos lambidos no meio e olhos castanho muito escuros –bem diferentes dos da irmã mais nova dele, a Dete. Os olhos dela eram castanho clarinhos, e ela tinha cabelos castanhos cacheados, igual a mãe deles. Pablo puxou o pai, em muito mais que só a aparência.

O pai de Pablo era apaixonado por música, e realmente tinha alguns instrumentos lá, a maioria ele teve que vender com o tempo. Muitas vezes, nesse caminho com mamãe, eu ouvia a música vindo de lá. Porém, nesse dia, Pablo estava “brincando” de jogar uma bolinha no teto e vê-la voltar, parecendo realmente entediado. Quando me viu, saiu correndo e parou do meu lado.

—Bom dia! Como vão? –cumprimentou.

Naquela época, era um crime acordar tarde, como acontece hoje em dia. Do mesmo jeito que nós, crianças, tínhamos mais “liberdade”. Nossas mães não se incomodavam quando passávamos um dia inteiro na rua, brincando, por isso era legal. Desse jeito, Pablo nem avisou a mãe que iria para a cidade conosco, e eu imaginei que ela estivesse cuidando de Dete. Aliás, eu sempre imaginei que ele ficava lá fora nos esperando passar para ir conosco, afinal, já tinha virado um costume.

—Bom dia Pablo. –respondeu mamãe, e eu e Leo repetimos o ato.

—Lembra daquela casa que fica um pouco mais pra cima, Pedro? Lembra dos velhinhos que moravam lá até morrerem? –ele indagou para mim. Assenti. Era uma casa ampla, com uma varanda de dar inveja, e até que era uma casa legal, com paredes vermelhas e uma garagem. Tinha vários coqueiros perto, e de vez em quando eu, Leo e Pablo montávamos uma rede neles, ou simplesmente colhíamos os cocos. –Parece que se mudou gente para lá. Uma mulher, um homem e uma menina da nossa idade. Acho que são parentes dos velhinhos.

Dei de ombros, embora estivesse curioso. Isso era algo muito natural quando se morava em cidade pequena, o povo precisa de algo para comentar que não fosse o preço da comida –que estava absurdo, só pra constar.

—Vamos passar por lá, fica no caminho. Podíamos leva-la para conhecer a cidade, e dar as boas-vindas. –mamãe propôs, e Leo se entusiasmou.

Continuamos nosso caminho, enquanto mamãe levava a pesada cesta de roupas. Queria ajuda-la, mas sabia que não aguentaria carregar aquele peso. Então, me ocupava em distraí-la.

—E aquela? –apontei para outra árvore. Era de tronco baixo, mas grande de copa, com folhas verdes e longas. Mamãe pensou por um momento, para depois falar.

—Abacateiro. –respondeu sorrindo.

—E aquela? –perguntou Pablo.

Era um joguinho, enquanto íamos apontando árvores aleatórias para saber se ela sabia qual era. Ela sempre soube, mamãe amava botânica, na verdade, tudo relacionado à ervas e plantas. Eu esperava que isso a distraísse do peso das roupas.

Logo, chegamos numa curva e vimos uma caminhonete na casa vermelha. Uma menina ajudava um homem a colocar as caixas na varanda, e só quando fui me aproximando pude observá-la.

Tinha cabelos pretos muito lisos e grandes, que caiam no seu rosto enquanto ela tentava tirá-lo. Era branquinha, mas de sobrancelhas muito pretas, um nariz arrebitado e olhos azuis escuros. O rosto era fino assim como a boca. Pequena. Usava uma blusa de bolinhas com uma calça de malha preta com as mesmas bolinhas, e sapatos pretos nos pés. Era pequena demais para as caixas, de modo que quando descarregava uma, precisava desesperadamente parar e tomar fôlego, ao mesmo tempo em que precisava passar a mão na testa para tirar o suor. No momento em que passávamos, o pai dela se aproximou dela com uma garrafinha de água.

—Ainda tem fôlego para me ajudar a organizar a casa? –eu o ouvi brincar, enquanto a menina, sentada na escadinha da varanda, tomava a água desesperada. Ele acenou quando passamos, e se aproximou –Ei, bom dia.

—Bom dia... Se mudou agora para a cidade? –mamãe perguntou, ajeitando o cesto nas mãos.

—Ah, não, eu já morava aqui, nessa casa, com meus pais. Me mudei adulto, saí da cidade, e a casa ficou para mim quando eles morreram. Agora estou voltando, aconteceram perdas recentes que quero esquecer. –ele falou, enquanto tirava o cesto das mãos de mamãe e pegava outra garrafinha de água. –Aceita?

—Sim, obrigada. –mamãe agradeceu, também atacando a água. –Perdas recentes?

Mamãe era curiosa. Que feio, mãe.

O homem ajeitou o chapéu de palha na cabeça, e mandou um olhar nervoso para a menina, que olhava os próprios pés.

—A mãe da Belle morreu de pneumonia há um ano. E agora que me casei de novo, queria dar um novo ambiente para elas.

O semblante de mamãe se encheu de pesar enquanto olhava a menina, que eu sabia, estava ouvindo.

—Belle? É seu nome? –ela perguntou, se aproximando da menina. Ela levantou a cabeça devagar, os olhos azuis mirando minha mãe desconfiada enquanto uma cortina de cabelo estava nos lados da cabeça dela.

—Isabelle. Mas todos me chamam de Belle. –ela respondeu.

—Bem, Belle, eu moro lá embaixo, mas como não tem casas entre nós, acho que somos vizinhas. –ela sorriu. A casa de Pablo era do outro lado da “rua”, então aquilo era mesmo verdade. –O moreno é o Pablo, o maior é o Pedro e o menor é o Leo. Os dois últimos são meus filhos... Estávamos indo para a cidade, entregar essas roupas passadas. Quer vir conosco? Aposto que não conhece a cidade.

Isabelle olhou para o pai, que só sorriu. Parecia dizer com o olhar para que ela fosse se divertir. Ela se levantou e minha mãe pegou o cesto.

—Ótimo, pequena. A trago daqui há pouco, senhor... –mamãe começou, até perceber que não sabia o nome dele.

—Lopes. –ele respondeu. – Otávio Lopes.

(***)

Belle, como passei a chama-la depois de um olhar assustador quando a chamei de “Isabelle”, até que era divertida quando estava disposta. Ela entrou na brincadeira de adivinhar as plantas, e notei que era muito mal nisso, provavelmente por ter sido criada em cidade. Logo, eu, Pablo e minha mãe começamos a ensiná-la a diferenciar cada planta, e ela parecia ser boa ouvinte, e estranhamente interessada.

Passamos pela casinha de Berenice, onde Analícia brincava com a mãe de princesa na varanda. Eu sorri pela cena, Analícia estava tão feliz por receber a atenção da mãe. A loirinha estava com um vestido rosa e uma coroa de papelão, mais um cetro de plástico e quilos de imaginação. Berenice, com um pano de prato amarrado na cintura, parecia servi-la, enquanto as duas riam.

—Quem são? –Belle perguntou, indicando as duas.

—Berenice e a filha, Analícia. –mamãe respondeu, e graças a Deus, Belle não fez mais nenhuma pergunta. Mamãe fez várias perguntas para a pequena menina, que nos contou um pouco da sua curta vida:

1- A mãe dela era índia, mas fugiu da tribo por amor ao pai de Belle, e morreu de pneumonia ano passado [já sabíamos, mas ela contou de novo, nas palavras dela].

2- Eles moravam em São José do Rio Preto antes de voltarem para cá.

3-Belle tem medo de aranhas e de perder as memórias da mãe.

4- O pai dela é marceneiro.

5- O pai dela conheceu a Maria três meses depois da morte da mãe dela, e se casaram no finalzinho do ano anterior.

6- A madrasta dela está tentando engravidar, e o pai dela também está querendo. Belle está preocupada que com outro bebê, o pai não tenha mais tempo para ela.

Isso foi o mais importante, e o que acho que devem saber sobre ela, por ora. Dentre nós, arrisco dizer que a pior infância foi a de Melissa, mas Belle não fica muito atrás.

E então chegamos na cidade. As ruas, já asfaltadas (as principais, pelo menos) e Belle olhava tudo encantada.

—Agora, crianças, iremos na casa de cada um dos meus clientes entregar as roupas. Primeiramente, na casa do seu Aroldo. –mamãe orientou, e continuamos a segui-la, já cientes do caminho.

—Ei –Leo falou para Belle –Olha aquilo! –e apontou para a praça principal da cidade. E do nada, eles começaram a correr para lá.

—LEO! BELLE! –mamãe gritou, e nós saímos atrás deles. Quando chegamos à praça principal, ainda procurando o motivo da correria, vimos aquilo primeiro.

Havia um ônibus de circo passando pela cidade, provavelmente indo para São Paulo. Só que eles decidiram passear pela cidade- provavelmente para se exibir. Então, tinha pessoas fazendo acrobacias com tudo, inclusive vi meu irmão admirando um cara que fazia malabarismo com bolas de fogo, e Leo o olhava admirado.

Belle estava admirando várias bailarinas dançando, parecendo encantada. Então, as acrobatas vieram, e uma em especial, numa roupa de malha preta com uma máscara que tinha uma ponta (como chapéu de bruxa) e mais dois “chifres curvados” para os lados. Belle ficou assustada quando suas bailarinas foram substituídas por aquelas mulheres, e essa veio até Belle, que saiu de lá. Quando conseguimos reunir os dois de novo...

—Nunca mais façam aquilo! É perigoso se perderem naquela muvuca! Olhe para o tamanho de vocês! É para ficarem sempre comigo! –mamãe explicava-exclamava para nós, e vez ou outra Belle e Leo ainda procuravam aquelas figuras.

—Viu as bailarinas? –Belle perguntou para mim, que assenti –Eram lindas, tão delicadas... Quando eu crescer vou ser bailarina também!

—Gosta de balé? –retruquei com outra pergunta.

—Sim! –ela me disse.

—Tem uma escola de balé aqui na cidade, é muito boa. –Pablo completou.

—Vocês acham que meu pai me deixaria entrar nessa escola? –ela nos olha ansiosa.

Eu e ele nos entreolhamos e damos de ombros. Belle continuou com a expressão sonhadora até depois de voltarmos para casa, provavelmente se imaginando fazendo aqueles passos...


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Notas finais do capítulo

Sim, a Bailarina é uma Bailarina, assim como o violinista se tornará um violinista. Esses são, sim os três principais, embora eu inclua a Mel (Viúva) que vai viver atrás da Belle. Próximo capítulo continuará aos três aninhos deles, antes da chegada da Viúva à cidade. Eles só irão à escola aos seis aninhos, a morte da Analícia acontece com eles aos seus 11 aninhos, Mel chega aos 4 aninhos, Sangria e Perna de Pau aos 5. Sim, a Analícia não será tão insuportável agora. Só depois que a Berê começar a fazer os doces e eu matar o pai dela (oppsss). E se vocês gostam da Viúva, não me xinguem muito, a história dela é a mais... Difícil, dura, triste, como preferir chamar -por isso ela é a mais poderosa na minha opinião. COMENTEEEM, quero saber como ficou na opinião de vocês!