Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP escrita por Matheus Henrique Martins
Na manhã seguinte, Vick e Lucas estão sob o meu flanco andando no corredor. Enquanto andamos, estranho o ambiente quieto e normal dos alunos e dos professores. Parece até que nenhum deles sabem que um aluno morreu ontem a noite.
Espera, eles não sabem.
– Você vai ficar bem? – Vick toca meu ombro, antes de entrar em sua sala de espanhol.
Faço que sim com a cabeça e suspiro.
– Obrigado, por tudo mesmo, Vick. Mas olha, você não precisa mesmo sair com aquele idiota hoje.
Ela revira os olhos, mas vejo que suas mãos tremem de leve.
– Não se preocupe comigo – ela sorri. – Eu vou ficar bem. É só um encontro. Acho que posso sobreviver a isso, não posso?
Ela acena para mim e Lucas e nos viramos para o corredor da próxima aula dele.
– Você esta odiando isso, não esta? – questiono.
Ele me olha pelo canto do olho e engole em seco.
– Com todas as minhas forças – ele murmura. – Mas acho que vou ter apenas que lidar com isso, afinal é pro seu bem, Rafa.
Eu balanço a cabeça.
– Você não tem que pensar em mim – eu o cutuco. – Pense na Vick. Ela vai ficar com um cara que ela gosta muito pouco apenas para encobrir a morte de um colega nosso. Não precisa gostar dessa situação toda.
– Não gosto – ele sorri fracamente. – Mas sei que é preciso.
E então ele entra em sua sala e me deixa sozinho no corredor.
Estou prestes a voltar o caminho para minha aula de Inglês, mas então escuto um guincho:
– Rafa?
Viro-me e Taffara esta vindo na minha direção. Meu estomago se revira dentro de mim e faço o que posso para forçar minha voz a sair.
– Oi – eu aceno para ela. – Tudo bem?
Ela balança a cabeça, parecendo nervosa.
– Na verdade, não – ela coça a base do pescoço. – O Henrique não responde nenhuma das minhas ligações.
Faço uma cara de paisagem.
– Sério?
– Sério – ela faz que sim. – Eu já devo ter extrapolado a cota de mensagens da caixa dele, mas nada de ele retornar.
– Hum, que chato isso.
Ela me olha atentamente.
– Achei que como vocês estavam juntos ontem à noite você poderia me dizer alguma coisa ou me jogar alguma luz, sei lá.
– Desculpa, Taffara. Não tenho mesmo ideia de onde ele possa estar.
– Mesmo? – seu tom é carregado de suspeita.
Olho para ela por um segundo, avaliando-a bem. Agora que não usa mais a armadura de Rainha Abelha pra cima de mim posso ver que ela é tão normal quanto a Vick.
E parece mesmo muito preocupada com Henrique. Acho que ela o ama de verdade e isso faz ela ser menos vadia do que é.
O que será que aconteceria se eu dissesse a ela a verdade?
– Rafa – ela sussurra. – O que foi? Você esta me assustando.
Eu respiro bem fundo.
– Eu o mandei embora.
Ela primeiro vai um pouco para trás, como se eu tivesse dado um tapa em seu rosto. Depois, sua testa se franze e ela me olha de cima a baixo, analisando o que eu disse.
– Desculpa, o que disse?
É melhor assim, penso. Se ela souber da verdade, isso vai chamar a atenção até Rael e, tanto ele quanto eu, vamos acabar ferrados.
– Eu o mandei embora – repito com mais firmeza.
Ela retorce o rosto, confusa.
– Não percebeu ainda? – finjo um tom zombeteiro. – Eu nunca fui com a cara dele e nem com a sua. Por que acha que eu aceitei fazer a surpresa de Natal?
– O que você fez? – a voz dela sai rouca.
Dou uma risadinha falsa.
– Tem certeza que quer saber? – digo e a empurro com tudo para passar por ela.
– Escuta – ela me chama antes que eu saia. Me viro para ela lentamente.
– Sim?
Espero que ela chore ou fique ainda mais amedrontada, porém ela não faz nada disso. Tira um batom vermelho de dentro da bolsa e o passa com leveza. Depois ajeita a bolsa sobre o ombro e joga o cabelo por sobre o ombro.
– Não faço ideia do que fez com meu namorado – ela diz enquanto guarda o batom. – Mas esta se metendo com a pessoa errada.
– Estou, é? – tento disfarçar o medo na voz.
Ela sorri e acena com a cabeça.
– E o que você pode fazer?
Taffara passa por mim, empurrando meu ombro e anda pelo corredor. Fico observando até ela parar no meio dele e se virar para mim com um sorriso venenoso.
– Ah, querido – ela da uma risada repicada, que nem Henrique deu na noite passada enquanto brigava com Rael, e ecoa por todo o corredor. – Não diga que eu não te avisei.
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Continua em Breve no Livro 2: Fernando