Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 21
Para Que Servem Os Amigos?




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Quando chegamos na minha casa, estou prestes a subir na varanda, mas então sinto a mão de Rael na minha.

– Ei, Rafa – ele sussurra. – Obrigado, por tudo. Mesmo.

Eu o encaro e solto sua mão no mesmo tempo.

– Não vem com essa – eu o empurro. – Não me agradeça por nada. Hoje você matou alguém e eu vou te detestar pelo resto da minha vida, entendeu?

– Mas... – ele me encara, assustado. – Rafa, eu sinto muito!

– Eu não ligo – sibilo. – Isso não vai trazer o Henrique de volta. Você o empurrou do precipício Rael!

– Foi um acidente! – ele grita de volta. – Ele estava em cima de mim e...

– Você provocou isso – aponto. – Foi você quem nos seguiu até lá em cima, desde o começo!

Ele fica pálido com o que eu digo e então uma coisa acende na minha mente. Eu olho Rael atentamente, ele parece saber que eu sei.

– Espera – ergo a mão no alto. – Ontem... Se você já sabia de tudo – eu balanço a cabeça. – Por que me deixou entrar na sua casa?

Ele engole em seco.

– Por que me perdoou, Rael?

Ele levanta a cabeça, os olhos brilhantes.

– Não perdoei. Eu preparei tudo aquilo pra poder colocar um rastreador no seu celular.

Meu queixo caí enquanto ele pega um dispositivo estranho de dentro do bolso. Ele tem uma telinha e tem uma bola vermelha piscando ao lado de uma seta.

Imagino que o ponto vermelho seja eu.

– Você me rastreou?

Ele dá de ombros.

– Achei que ficaria mais fácil saber onde você está ao invés de ficar te seguindo feito uma barata tonta o tempo inteiro.

– Por quê? – balanço a cabeça.

Ele pende a cabeça para o lado.

– Porque você é meu namorado – ele responde simplesmente. – Eu precisava saber.

Balanço a cabeça e jogo seu aparelho no chão. Ele espatifa, mas não quebra.

– Bom, eu não sou mais.

– Rafa...

– Não – eu o empurro de novo. – Apenas vá embora daqui, Rael. Vá logo embora!

O rosto dele se retorce de dor e ele pega o aparelho antes de sumir dali. Vejo ele se afastar e passo a mão no rosto, sentindo um cansaço repentino.

Viro-me para casa. Vick e Lucas já devem estar no meu quarto.

Mas então eu escuto um som irritante e repetitivo. Parecem palmas. Me viro para o lado e vejo uma silhueta familiar usando um moletom verde.

– Diogo?

Ele esta com os braços cruzados e seu olhar de volta para o meu é frio. Porém o que mais assusta é que ele esta sorrindo de orelha a orelha.

– Bravo – ele ri sem humor. – Realmente, foi fantástico de assistir.

Franzo a testa para ele.

– Do que esta falando?

– Da sua performance – ele faz uma reverencia. – Nunca vi ninguém terminar um relacionamento de forma tão perfeita como você fez.

Fico olhando para ele, sem saber porque estou aqui parado ouvindo o que o babaca do Diogo Barros esta falando.

Reviro os olhos e começo a entrar em casa.

– Eu ouvi tudo – ele diz atrás de mim. – Sei o que você e seu namorado fizeram.

Eu congelo na porta e me viro para encara-lo.

– É melhor arrumar um bom advogado – ele ri. – Porque você não vai se safar dessa tão fácil.

* * *

Quando entro no meu quarto, Lucas e Vick estão sentados na beira da minha cama, como eu havia previsto. Eles notam meu estado nervoso e se levantam.

– Rafa? – Lucas me encara. – Esta tudo bem?

– Não – eu jogo contra a parede e escorrego até o chão. – Não esta nada bem – eu fungo e sinto as lagrimas arderem em meus olhos.

– O que aconteceu? – Vick se senta ao meu lado e não consigo conter de rir ao ver o dejá-vu.

– Foi tudo muito rápido – eu choro e balbucio. – Eu nem consegui fazer nada. Não é de se admirar, também. Mas eu não consegui fazer nada.

– O que foi, Rafa? – Lucas me cutuca. – Você esta me assustando.

Eu o encaro e depois encaro Vick. Ambos parecem tensos.

– O Henrique – eu sussurro. – Ele morreu.

Vick leva a mão a boca e Lucas arregala os olhos ao mesmo tempo.

– Mo... – Vick se interrompe. – Como isso, Rafa?

Lucas engole em seco.

– Ele sofreu um acidente?

Eu dou outra risada sem graça.

– Não – eu olho nos olhos dele. – Rael o matou.

O rosto de Lucas fica mais pálido que o normal. Vick se recosta na parede ao meu lado, os olhos arregalados.

– Nós estávamos no morro atrás da escola – eu começo. – Eu estava conversando com ele. Nós dois estávamos bem próximos. E de repente o Rael chegou. Os dois começaram a brigar – eu solto um soluço involuntário. – Só que o Henrique começa a bater e bater e bater nele e...

– Onde esta o corpo dele? – Lucas me interrompe.

– Lucas?

– Onde esta o corpo dele, Rafa?

Eu engulo em seco.

– Eu não sei – balanço a cabeça. – Ele caiu.

Lucas suspira alto e se recostas nos pés da minha cama.

– Então ele não morreu.

– O que? – guincho. – Ficou louco? Eu o vi caindo? Não tem jeito nenhum de ele ter sobrevivido àquela queda?

– Você viu alguma coisa?

– Estava de noite – eu aponto para fora da janela. – Eu não ia conseguir achar de jeito nenhum.

Lucas passa a mão no rosto.

– Alguém viu vocês? – Vick pergunta, a voz rouca.

– Não – respondo, mas então me lembro. – Porém, alguém mais sabe.

– Quem?

– Diogo.

Os olhos de Vick se arregalam e ela desvia o olhar do meu.

– Como ele ficou sabendo? – Lucas questiona.

– Ele me ouviu falando com o Rael – eu choro. – É só uma questão de tempo até ele correr para a polícia e contar tudo.

Eu encaro o teto e penso em tudo o que aconteceu nessa noite. Todos os acontecimentos esquisitos dessa noite e de todas as vezes em que Henrique aparecia.

Meu estomago se embrulha ao lembrar de seu rosto assustado antes de cair do precipício. Isso me assombra e fico me lembrando de todas as vezes em que ele sorria ou me tocava. Suas ultimas palavras a mim, sua confissão, enche minha mente e sinto uma dor no peito.

Talvez seja melhor eu ser preso. Eu mereço qualquer coisa ruim depois de acabar com a vida de alguém que me fez tão bem nos últimos dias.

– Minha vida acabou – sussurro.

– Não – Vick interrompe meus pensamentos. – Não acabou ainda.

Eu a encaro e vejo que ela esta pensativa, com o celular nas mãos.

– Vick? – Lucas se levanta. – O que esta fazendo?

Ela o encara por um segundo e depois o celular. Segundos depois escutamos uma voz vinda do alto falante:

Vick? – escutamos a voz eletrônica de Diogo.

– Oi, Diogo – ela sorri em meio a lagrimas enquanto responde.

Eu e Lucas nos entreolhamos, mas ela apenas gesticula para que fiquemos quietos.

Você queria falar comigo? – ele pergunta, a voz abafada.

– Sim, sim. Lembra daquela vez que você me disse que eu te devia um encontro?

Diogo demora a responder essa pergunta e Lucas encara Vick de um jeito confuso. Minha garganta se aperta. O que ela esta fazendo?

Lembro, lembro sim – ele responde. – Por quê?

Ela respira fundo antes de continuar.

– Dropcoff, amanha noite, às seis horas – ela diz de repente em um tom malicioso. – Você me busca em casa.

E então ela desliga e nos olha.

– O que foi isso? – pergunto.

– Uma estratégia – ela me olha. – Eu tenho um plano para distrair ele.

Lucas se levanta na hora.

– Vick, não – ele pede. – Você não pode fazer isso.

– Não só posso como vou fazer isso – ela funga e me encara.

– Do que você esta falando? – questiono.

Lucas fica bravo e chuta o pé da cama com raiva. Vick o olha sem entender.

– Será que você não vê? – ele guincha. – Ela vai sair com o Diogo.

– Entendi – faço um gesto com a cabeça. – Eu sei que o Diogo não é tão bonito, mas talvez faça o tipo dela.

– Não é nada disso – ele guincha. – Ela não quer apenas sair com o Diogo. Ela quer sair para fazer ele calar a boca sobre o Henrique.

Encaro Vick na mesma hora e ela apenas desvia o olhar.

– Vick, não – eu olho Lucas. Seu rosto esta cheio de ódio e raiva. – Isso não é preciso.

– É mais do que preciso – ela cruza o quarto e me toca no ombro. – Nós precisamos que ele fique de boca fechada por você.

– Mas isso...

– Mais nada, Rafa – ela me abraça. – Eu vou fazer isso por você.

Fico embasbacado e sem nenhuma reação enquanto ela me abraça. E então olho por sobre o ombro e Lucas esta chorando, em silencio. Ele me olha de volta e conheço muito bem aquela expressão.

É a expressão de um coração partido.


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