– Rael? – passo por Henrique e encaro-o dentro da floresta. – O que você esta fazendo aqui?

Ele apenas me devolve um olhar seco e nos olha com uma expressão de que sabe tudo sobre o que está acontecendo aqui.

– Rael – falo em um tom calmo. – Não é nada disso que você esta pensando.

Ele me olha de novo e suas narinas inflam.

– Então é o que? – seu tom carregado de ódio corta a noite como uma faca.

Olho para Henrique, ele olha para Rael com um ar sério e tem os braços cruzados. Volto a olhar para Rael e fico com medo do ódio em sua expressão.

– Eu só estava ajudando ele – explico.

Ele explode em raiva e começa a andar até mim.

– Precisava ajudar aqui em cima? – ele guincha e olha ao redor do bosque. – Nesse lugar?

Meu coração bate forte enquanto o observo. As olheiras estão mais fundas e sua pele esta ainda com uma cor estranha.

Estou prestes a dizer algo, mas Henrique me interrompe logo atrás de mim.

– Estava nos perseguindo, seu esquisitão? – ele pergunta em um tom provocativo. A voz dele me arrepia. Não é a mesma voz que ouvi o dia inteiro.

Rael o fuzila com os olhos.

– Eu não sou esquisitão – ele cerra os dentes.

Henrique começa a rir. Não é a gargalhada contagiante de antes, é uma falsa e repicada.

– É um esquisitão sim – ele o provoca. – Só esquisitões ficam espionando os outros!

Rael inala rapidamente e, de repente, antes que eu possa fazer qualquer coisa, ele esta chegando perto de Henrique.

Os dois se encaram como dois felinos, os queixos erguidos, os braços e as pernas retesadas. Rael o empurra, mas Henrique mal sai do lugar. Henrique o empurra de volta, mas Rael se firma no lugar e o empurra de novo. Henrique ri da fraqueza dele e dessa vez o empurra com mais força. Rael caí no chão com um baque.

– Parem – minha voz quase não sai.

Henrique não escuta e chuta o rosto de Rael. Arfo quando vejo sangue escorrendo de sua boca.

– Para, para com isso! – eu grito e ele me olha. – Para com isso, droga!

Corro até Rael e o faço se sentar. Toco seu rosto e pergunto se ele esta bem.

– Vamos embora daqui – me levanto e ofereço a mão.

Ele não aceita e de repente sou empurrado com tudo no chão. Olho para Henrique, mas ele apenas encara Rael de volta quando ele se levanta.

– Não toca nele! – Rael guincha.

– Vai correr? – ele sorri e desafia. – Vai correr, Rael Coelhinho?

Rael o fuzila com os olhos, mas Henrique parte para cima dele, socando sua barriga. Rael se encolhe e Henrique dá uma rasteira para que ele caía de novo.

– Para! – grito quando vejo que eles estão perto do precipício. – Henrique, para!

Ele me ignora, sem se virar para mim, e se joga em cima de Rael. Rael tenta lutar para se levantar, mas ele joga suas mãos para o lado e o enforca.

Com horror eu encaro Henrique, sem saber bem quem esta na minha frente. E então, em meio ao choque, eu olho seu bolso de trás.

Tem uma garrafa de cerveja enfiada ali. Como se tivesse sido colocada a força por um bêbado. Olho Henrique outra vez e entendo tudo, me lembrando de sentir um cheiro estranho sair de sua boca quando nos vimos no estacionamento.

Quando volto meus olhos para os dois, Henrique esta quase o sufocando e corro na direção dos dois.

– Para! – grito. – Henrique, para!

Mas então, tudo acontece lentamente na minha frente. Meus pés lerdos demais tropeçam e eu apenas olho do chão, sem poder fazer nada a respeito.

Os pés de Rael lutam embaixo de Henrique e conseguem bater em seu peito sólido. As mãos de Henrique são arrancadas do pescoço de Rael e ele vai com tudo para trás, perdendo o equilíbrio.

Seu rosto fica pálido quando ele entende e vê o que esta acontecendo. Suas mãos tateiam inúteis no ar antes de seu corpo cair para trás.

A silhueta de Henrique desaparece quando ele caí do precipício.