Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP escrita por Matheus Henrique Martins
Quando estamos voltando para trilha, tem um silencio entre nós dois. Viro-me para olha-lo e Henrique olha ao mesmo tempo. Para minha surpresa, ele ri. E, para mais surpresa ainda, eu rio com ele.
– Em uma escala de coisas esquisitas que eu já vi – Henrique começa a dizer entre risadas. – Essa foi a mais esquisitas de todas.
– Não é? – rio com ele. – Tantos motéis na cidade e eles escolhem fazer na mata – aperto minha barriga. – Isso que é desespero.
Mas então, Henrique para de rir e me olha nos olhos.
– Talvez eles simplesmente não possam fazer na frente dos outros – ele morde o lábio inferior. – Talvez tudo precise ser um segredo entre os dois.
Em algum lugar do cansaço e da tensão, explodo e me viro de costas para ele. Começo a me afastar, sentindo meu rosto mais quente do que nunca.
– Rafa, espera... – ele tenta me acompanhar.
– Não, Henrique – faço um gesto vago com a mão. – Só não faça isso.
– Isso o que?
Não respondo e continuo andando.
– Olha, sinto muito – ele não parece tão sincero. – Mas não é minha culpa que você me afeta tanto.
Com essa fico tão surpreso, ele esta mesmo falando essas palavras? Por conta disso, a ponta de meu pé bate em uma pedra e eu caio de cara no chão.
Sinto uma frustração enquanto vou tirando as folhas de meu cabelo e me viro no chão para encarar Henrique. Ele ainda esta de pé onde estava e parece estar hesitar.
E então, ao encarar meu rosto frustrado, ele começa a rir. Alto. Sua risada ecoa por toda a floresta e faz uma comoção de pombos se assustarem.
Não sei por que, talvez pelo fato de a risada de Henrique ser tão contagiante, mas começo a rir junto também, fazendo ainda mais barulho.
Em meio a espasmos, Henrique vem para me ajudar e oferece a mão. Eu a pego e ele me puxa para cima na sua frente. Ainda estamos rindo quando começo a tirar algumas folhas de meu braço.
– Ainda tem uma aqui – ele tira uma de meu cabelo e afasta um pouco do cabelo de minha testa. Paro de rir com esse gesto.
Ele tira mais algumas perto da minha orelha e sua palma para hesitante na minha bochecha. Seus olhos encontram os meus.
– Você é mesmo um atrapalhado – ele sussurra.
– Sou mesmo – confesso vagamente. – Você nem faz ideia.
– Ah, faço sim – ele sorri e minha respiração para. – Você é tão bobo que às vezes se faz de bobo pra não ter que lidar com isso mais tarde.
Paro de sorrir e vejo que ele também esta fechando a cara. Seus olhos brilham para os meus.
– Por que esta fazendo isso? – pergunto baixinho.
Ele pisca para mim.
– Isso o que?
Fico encarando ele, esperando que ele baixe a guarda e acabe logo com isso. Estou cansado de me sentir confuso ou achar que estou interpretando mal a situação toda.
Estou cansado dele.
– Henrique – volto a respirar calmamente. – Isso é errado.
Ele não responde de imediato e aproxima mais o rosto de mim, pendendo a cabeça um pouco de lado. Se alguém estivesse atrás dele, daquele ângulo, pensaria que estaríamos nos beijando. Mas não é nada disso. Ele só me olha muito de perto.
– Tem certeza que é errado? – sua mão se move para o meu queixo e um de seus dedos tocam meus lábios. – Acha mesmo isso errado?
Meu pulsação esta a mil e tenho certeza que com tanta proximidade ele sabe muito bem disso. Fico congelado, me esquecendo de qualquer coisa na frente dele.
Porém, quando ele avança a mão para a nuca, eu me desperto. Afasto-me e deixo sua mão cair no ar enquanto entro em uma parte de floresta aleatória.
Sinto que ele me segue e escuto alguém murmurar um palavrão baixo. Foi ele?
Deixo isso de lado e continuo fugindo pela floresta. Mas ele não demora a me alcançar.
– Rafa, espera.
– Não, Henrique, não espero – não estou olhando em seus olhos. – Isso é errado e você sabe muito bem disso.
– Não, não sei – ele nega. – Não sei nem do que você esta falando.
Reviro os olhos e corro para um direção diferente. Ele me alcança sem problema nenhum e fico frustrado. Droga de jogador de futebol irritante e metido. E... Bonito.
Desisto quando chegamos a um bosque pequeno e escuro. Olho para o céu e dessa vez tudo esta escuro. Está tudo tão escuro, que quando vou para frente, não vejo nem um palmo.
– Rafa – Henrique me puxa de repente.
– Me larga – guincho.
– Não é isso – ele larga meu braço e aponta com o queixo para frente.
Sigo seu olhar e encaro a queda na nossa frente. Esse é o alto do morro. O precipício. Olho para baixo dele e vejo um bilhão de arvores escuras.
– Uau – olho também a vista da cidade. Realmente consigo ver Vallywood. – Isso é incrível.
– Conseguimos – ele ri e sorri ao meu lado. – Finalmente chegamos aqui.
Eu o olho e ele me olha. Dessa vez suspiro e me afasto da queda, sem muita pressa. Henrique me segue e me viro para ele decidido.
– Você tem namorada – digo em um tom cansativo.
– Eu sei, Rafa – o tom dele espelha o meu. – Eu sei muito bem disso.
Cruzo os braços.
– Se sabe muito bem disso, por que esta flertando comigo?
Dessa vez ele não nega. Apenas me olha com confirmação. Eu sabia que não estava enganado. O tempo inteiro eu senti e desconfiei. E aqui esta ele, admitindo sem mais desculpas.
– Eu não sei, Rafa – ele franze os lábios. – Não sei por que, mas...
– Mas? – encorajo. – Olha, Henrique, vou te perguntar uma coisa e quero que me responde do jeito mais honesto que puder, ok?
Ele apenas espera a pergunta.
– Você é gay?
– Não. – ele solta na hora.
Atiro meus braços para o alto.
– Então por que você fica...
– Mas eu gosto de você – ele me olha atentamente. – Rafa, eu gosto muito de você.
Fico embasbacado e sinto um arrepio da cabeça aos pés.
– Por quê? – só consigo dizer isso.
– Porque você é diferente, Capoci – ele fala num tom firme. – Você é irônico sem ser maldoso. Você não é um poço de gentileza, mas também não é uma caveira mal educada. Você me surpreende a cada palavra que solta. Nunca faz o que eu espero, nunca tem a reação que eu espero que faça. Você não consegue mentir nem mesmo quando tenta porque seu rosto te denuncia. Você é equilibrado, forte e tenta sempre ver uma saída mesmo quando não tem nenhuma.
Meus olhos se enchem de lagrimas, mas estou petrificado demais para limpa-las.
– Quando te pedi para me ajudar com a surpresa da Taffara, eu podia jurar que você ia dizer que não. Mas aí você ficou fazendo perguntas, cavando mais e mais e mais sobre a situação, tentando entender a situação. E, adivinha só, você disse sim!
Balanço minha cabeça com a lembrança.
– As coisas ruins não te fazem desistir e fugir da situação, Rafael Capoci – ele me olha nos olhos. – Elas te impulsionam a encarar os problemas de frente e resolvê-los.
Limpo minhas lágrimas e desvio o olhar intenso dele.
– E é por isso que eu estou me apaixonando por você – seu tom fica mais baixo e eu o olho. – Eu não posso evitar – ele murmura. – Não quando você esta sendo tão você mesmo perto de mim. Não quando você já sabe que isso esta acontecendo.
Ele respira fundo e eu sei que esta perto. Posso ver pela sua postura rígida e preparada que ele vai dize aquelas três palavras que vão acabar com tudo.
Enquanto ele procura coragem, penso em todos. Meus pais; minha mãe já desconfiava, meu pai ouviu a ligação. Lucas e Vick; Lucas sempre vai ficar do meu lado seja lá o que for, Vick vai seguir seu exemplo. Roger; este com toda certeza não vai nem piscar quando souber. Até mesmo o casal Johnson viram desde o começo
Todos eles vão saber.
Saber que Henrique Borges esta apaixonado por Rafael Capoci.
Penso também em Taffara e Rael e em suas expressões desaprovadoras. No ódio que vou ter que lidar daqui para frente.
E então olho Henrique, me perguntando se é isso que eu quero. Se é ele que eu quero. Ele é lindo, eu sempre vi isso. Seus olhos são tão escuros quanto seu cabelo e ele é realmente atraente para mim.
Mas não é só isso.
Ele é engraçado, educado e legal. Apesar de muitas vezes ser insistente demais e se fazer de bobo além da conta, tem algo bom nele que me faz pensar duas vezes se seria tão ruim assim.
Seria tão ruim assim?
Olho seus lábios e ele percebe isso. Engulo em seco e respiro fundo.
– Rafa? – ele me interroga com o olhar.
Estou prestes a ultrapassar o ar que nos distancia, quando, de repente, um borrão verde-claro me surpreende e faz todo o sangue de meu rosto sumir. Ele esta logo atrás de Henrique, arfando como um louco quando nos vê.
Quando encontra meus olhos, começa a respirar com dificuldade e vejo daqui que seu peito esta subindo e descendo de um jeito acelerado e me pergunto como deixei de pensar nessa pessoa o dia inteiro.
Rael.
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