Os Meninos do Orfanato escrita por Beatriz Azevedo, Joh Mettler


Capítulo 9
Tesouro


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a todos pelos comentários que nos motivam a ficar acordadas até mais tarde, a escrever mais e é claro testar coisas diferentes. Espero que notem que o capítulo muda de narrador no meio (eu sou muito distraida e adoraria que alguém me falasse sobre isso se fosse o caso). Obrigada mais uma vez :D



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A cada envelope novo que achavamos minha angustia crescia. O ladrãozinho tinha total certeza sobre o que estava fazendo, eu lhe daria isso. Ele sabia que o relógio teria este efeito em mim e por isso minhas suspeitas de Luke já eram inválidas. Levantei meus olhos para o último destino da gincana. Alguns grupos já descansavam embaixo da sombra da árvore. Andamos até o objeto escondido entre as raizes da árvore e tiramos o último enevlope que vinha com o prémio. "Bom isso foi uma perda de tempo." Falei ignorando as mensagens de parabéns do cartão e olhando para a pequena medalha de participação.

"Completamente... Isso foi desastroso" Luke murmurou jogando a carta no chão. Sentamos silenciosamente esperando pelos próximos grupos. Observei cada rosto o máximo que pude tentando achar pistas, mas o ladrãozinho devia saber como se controlar pois ninguém agia suspeito. A professora deu um rápido discursso e nos lembrou de levar todos os relatórios e trabalho para ela amanhã, antes de sorrir de leve, olhar para o seu relógio e dizer que haviamos acabado a atividade dez minutos mais cedo e que poderiamos passar os dez minutos embaixo da árvore até o próximo sino que anunciar o recesso. "Espero que se comportem." E foi assim. No momento que a professora passou pelas portas que o círculo se formou em volta do herói do orfanato. Eu sentado ao lado dele, obviamente fiquei preso no círculo também. As crianças o enchiam de perguntas e eu notei o quão caustrafóbico era ser notado.

Luke parecia dividir minha opinião sobre o que acontecia e eu olhei mais uma vez em volta. E foi ai. Bem ai, que o menino loiro se manifestou.

"Hey, Mat!" Olhei para cima surpreso de alguém lembrar do meu nome. "Não pude deixar de notar que não está contente com seu 'tesouro'" Ele riu de leve, mas eu permaneci quieto desafiando-o com os olhos. "Ninguém quer que o gênio da casa sinta-se insatisfeito... pensemos..." Ele enfiou a mão no bolso e eu franzi a testa. "Seria este o tesouro que você estava esperando?" Ele tirou meu relógio do bolso, o ouro brilhando com o reflexo do sol que se escondia atrás das nuvéns e eu arregalei os olhos lutando a vontade de levantar e tentar tirar meu relógio de suas mãos imundas. "Luke, viu? eu disse que ele iria pagar!"

"Me devolva o relógio." Falei calmamente. O menino riu novamente. Outras crianças riam com eles e as risadas eram horríveis! Eu sentia meus ouvidos sangrarem e parecia que aos poucos eu diminuia de tamanho na frente daqueles demônios.

Albert olhou para Luke esperando alguma instrução do mesmo. Luke apenas suspirou. Cara de pena estampada em seu rosto. "Sabe, Albert, admiro sua força de vontade em lutar pelo que acha certo, isso obviamente levou um tempo pra ser posto em prática, mas você está lutando pelas causas erradas e da forma errada. Ser um ladrão não é algo bacana, é errado e feio, não me orgulho do que eu era, então... agradeceria se devolvesse o relógio ao seu dono" Albert franziu a testa por um segundo e depois sorriu. Meu pânico crescendo cada vez mais ao ver meu pretençe mais precioso em suas mãos.

"Há! Você é muito humilde." Albert realmente tinha olhos de admiração para Luke. "Mas ele vai pagar queira ou não. Você nunca mereçeu ser tratado daquela maneira." Inclinei a cabeça para o lado quando ele olhou para mim. "É só pedir desculpa, na frente de todos, gênio."

Revirei os olhos. "Desculpa?" Repeti como se não entendesse. A palavra pareçeu ofender o menino de uma forma impossivel e ele jogou meu relógio no chão. Avançei em direção ao relógio, mas a multidão me segurou.

"Putz. Como quiser." Ele ameaçou pisar no meu relógio.

"O coordenador vai saber disso!" Falei tentando me soltar. Olhei em volta. O coordenador, tão temido e severo não estava no meu campo de visão o que me fez questionar a possiblidade de ele não ter ido à gincana ou pior, saber o que estava acontecendo e deixar os meninos destriuirem meu maior bem.

"Saber sobre o que?" Ele levantou a perna com força e pisou no meu relógio. Gritei. "Ops! Foi sem querer." Ele pegou o relógio pela corrente e o colocou na frente do meu nariz. O aparelho agora com o vidro quebrado e as engrenagens paradas balançava lentamente.

"Não dá para se esconder nos braços de pessoas que não estão presentes, dá?" Ele falou sorrindo e fazendo flashes da minha mãe me abraçando como um escudo humano passarem refletidos nos seus olhos claros. Ele sabia. Todos sabiam. Eu estava completamente exposto. As vozes ficaram abafadas e eu só captei um "Desculpe." irônico quando ele pegou minha mão e a estendeu. Observei o metal frio do relógio tocar meus dedos vermelhos de tanto que eu havia os apertado e não pude deixar de comparar a temperatura do aparelho quebrado com o da minha mãe 4 horas depois que seu coração parou de bater. Ele fechou minha mão como se me devolvendo um tesouro e se virou para ir embora. No momento que me soltaram caí no chão e olhei para o relógio asusstado, meus olhos vidrados no vidro quebrado.

"Você passou dos limites Albert" Ouvi Luke gritar, mas o menino já estava longe, ou talvez que estava longe era eu e o mais seguro naquele momento, para todos era que eu permanecesse assim. "Mat... Mat, olhe pra mim, vamos, levante-se, Charlotte pode dar um jeito nisso, venha" Senti um cutucão, mas não encontrei forças para me mexer e mantive-me parado apenas olhando para o relógio que estava novamente pendurado pela corrente que minha mão segurava e continuava sua dança hipnotizante.

"Mat, nós temos que ir" Senti um braço pelo meu pescoço e eu estava de pé quando tudo ficou escuro.

–--------

Enquanto arrastava Mat até o esconderijo, senti ele estremecer e voltar a ficar flácido. Charlotte me ajudou a abrir a porta e passa-lo para o outro cômodo, ajeitou as almofadas no sofá e eu o deitei cuidadosamente antes de arrancar o relógio de suas mãos.

"Charlotte, acha que consegue dar um jeito nisso?", disse apontando para o relógio. Ela o pegou e analisou por um tempo.

"Bom, isso está bem ruim, mas acho que com as peças certas ele fica novinho em folha". Ela alcançou uma caixinha de madeira de dentro da mochila, recolheu os relógios que ainda estavam no chão e os colocou sobre a escrivaninha empoeirada, se sentando a seguir, pensei em observar como ela conseguia consertar tão rapidamente as coisas mas Matthew começou a falar coisas sem sentido e eu me sentei ao seu lado. Depois de alguns segundos, os relógios estavam abertos em cima da mesa e ela mexia as mãos furiosamente sobre eles. Charlotte agarrou uma lupa na gaveta da escrivaninha e a posicionou em cima do quê costumava a ser o relógio de Mat. Em algum momento eu peguei no sono e só acordei quando Charlotte anunciou que havia acabado. Eu me levantei e limpei umas poucas gotas de suor da testa. Fui até a mesa e observei o trabalho de Lotte, o relógio parecia exatamente o mesmo, se não fossem alguns arranhões.

"Ficou ótimo Charlotte, bom trabalho", sussurrei após dar-lhe uns leves tapinhas nas costas, e a observei corar. "Ei, seu preguiçoso", gritei, "levante daí! Mat soluçou um pouco antes de se sentar.

"Eu vou morrer..."

"Ah, pare com esse drama todo", falei rindo, "aqui, os créditos são todos da pequena Lotte", e logo depois joguei o relógio em sua direção. O engomadinho agarrou o relógio no ar e congelou diante de sua visão. Abriu cuidadosamente e observou a engrenagem antes danificada movendo-se um pouco mais devagar.

"Obrigada..." ele sussurrou, ainda sem tirar os olhos do relógio.

"Ah, não tem que agradecer, Mathew... Só tem que ser meu empregado por um mês", anunciou Charlotte entre risos fazendo Mat corar.

"Vou acabar gostando de você?" Ele falou tão baixo que não fazia sentido as palavras saírem de sua boca. "Bom eu estava certo de qualquer modo e finalizando com esse momento de alegria eu deveria voltar para o meu quarto. Boa noite." Ele tirou o chapéu em uma pequena reverência e se virou em direção à porta.

"Algumas coisas nunca mudam", falei, ao mesmo tempo que me jogava no sofá.


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